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História Ends of the Earth - A Little Help From My Friends


Escrita por: carol24torres

Notas do Autor


desculpa a demora galera, estava trabalhando na fic pra fazer isso direito

Capítulo 12 - A Little Help From My Friends


Fanfic / Fanfiction Ends of the Earth - A Little Help From My Friends

Na manhã de terça-feira espero meu horário para falar com a orientadora pedagógica.

Francine não era uma profissional ruim, ela simplesmente era ruim por não ser uma profissional em nada. A escola a contratou após uma pesquisa sobre ajuda psicológica para adolescentes, o que na teoria nos daria suporte para impedir que os alunos chegassem a querer cometer uma chacina na hora do intervalo, mas na prática só nos faz alimentar essa ideia.

Francine é, portanto, uma freira com uma boa recomendação.

O horário já passou e a sala dela ainda está ocupada, o que eu acho fantástico pelo simples fato de estar perdendo 1) uma aula de educação física no campo de futebol e 2) uma discussão sobre o valor da vida e a presença de Deus.

A porta finalmente se abre às 8:25 da manhã, e ela está com a mão na maçaneta educadamente expulsando Brandon de lá.

Francine sorri ao me ver e me pede para entrar, Brandon acena com a cabeça e sai andando com a mão no bolso e a mochila pendente em um ombro. Não sabia se éramos oficialmente amigos, e principalmente como devíamos nos cumprimentar. Contato visual e um aceno pareciam de bom tamanho para um relacionamento indeterminado.

Me sento na cadeira e espero que ela comece com a sua ladainha.

-Bom dia, Audrey- ela sorri

-Bom dia.

-Como vai?

-Bem- minto, obviamente, apesar de ainda estava nervosa por conta do que ouvi noite passada sobre a polícia e o reconhecimento facial e talvez precisar, de fato, um suporte emocional.

-Que bom- ela mostra os dentes e prepara um bloco de anotações. Realmente me pergunto se ela não cansa de ser simpática.- Prazer, meu nome é Francine, é sua primeira advertência, certo?

Assinto.

-Ótimo, posso fazer umas perguntas? Ou gostaria de me falar um pouco de você?

Tenho certo medo em falar coisas pessoais pra esse povo da escola, medo de que meus problemas cheguem aos meus pais, de preocupa-los, medo de assustar a freira, de que eu tenha um diagnóstico ruim, mas ao mesmo tempo medo de não ter diagnóstico nenhum, e principalmente, medo de que não haja solução para ele. Então decido deixar que ela faça as perguntas.

-Prossiga- digo

-Muito bem, me desculpe, mas serei bem direta, estamos sem tempo e preciso de algumas informações- ela me encara para ver se eu tinha algum problema com aquilo, mas eu achava ótimo- você tem problemas com sono?

-Não- Nada realmente importante.

-Com comida?

-Bom... eu não como muito, mas sempre fui assim então..- isso era verdade.

-Certo, com o seu corpo?

-Como assim?

-Se sente satisfeita com o seu corpo?

-.. Pode-se dizer que sim.- tirando a curvinha no meu nariz, a coluna mal posicionada e o pequeno problema com a floresta de pelos nas minhas pernas eu gostava de mim mesma.

-Problemas de ansiedade?

Adoraria dizer não, mas é impossível ignorar uma prova de física no segundo ano quando eu havia estudado tanto que paralisei quando o primeiro resultado não bateu com nenhuma alternativa, e nenhum exercício dava certo a partir dali, e eu comecei a chorar tentando manter o silêncio para não atrapalhar os outros, e quando o tempo estava quase esgotado passei tudo à caneta em pleno desespero rezando para não fazer xixi na calça. Então sim.

-Sim- respondo.

-Já procurou ajuda profissional alguma vez?- ela diz verificando minha pasta pra ver se tinha relatórios médicos.

-Não- Para ser sincera minha mãe já havia me perguntado se eu queria um psicólogo, mas eu tinha uns cinco anos e meus problemas não passavam de cair e ralar o joelho. Desde que meus problemas reais começaram eu fico tentando me convencer de que o que se passa na minha cabeça não é nada, e talvez não seja. Mas é a dúvida. Pior que ter um diagnóstico ruim é não saber se você se encaixa em qualquer diagnóstico, já que uma vez inserida começam tratamentos e procedimentos padrão e uma possibilidade de melhora. Mas se eu não tivesse nenhuma doença de verdade... Bom, então eu mesma teria que descobrir uma solução para parar com sabe-lá-Deus-o-que que rola na minha cabeça. Sozinha, comigo mesma. Não vai prestar.

Um psicólogo de verdade pode ter a solução, nem que ela se encontre em uma cápsula branca que tenho que engolir diariamente. Mas psicólogos são caros. Que beleza... eu não devia ser assim, eu devia ser normal, evitaria despesas.

É, Francine, eu realmente queria ter as bolas para pedir ajuda.

-Suas notas parecem estar normais, por outro lado.

-É- mas não ignore as notas vermelhas, sei que elas estão aí, e sei que é pra elas que as universidades vão olhar.

-Você namora, ou possui algum relacionamento com alguém?

-Não- quem dera. A minha versão imaginária está fazendo uma bola de chiclete enquanto bota os pés na mesa dizendo “Isso é uma coisa que você pergunta pra todo mundo?”

-Algum motivo especial?

Na verdade sim, moça, motivo número 1: com todo esse processo de globalização, que supostamente serve pra facilitar os relacionamentos, eu realmente perdi a esperança de encontrar alguém que queira mais que um nude. Motivo número 2: ninguém, nem eu mesma, me namoraria pela minha cota de preocupações desnecessária e meu drama convencional. Motivo número 3: eu tenho mais o que fazer. Ela responde na minha cabeça.

-Não.- respondo.

-Ok. Algum hobby que gostaria de compartilhar? Algo que te deixa feliz?- ok acho que essas perguntas não estão no script.

-Gosto de escrever.

-Interessante!- ela se empolga- escreve sobre o que?

-Poemas, histórias que geralmente não tem um final- porque eu desisto no meio- romances idiotas.

-Quem sabe um dia eu não poderia ler um deles.

Não. Não. Não não não não não. Definitivamente não. Ela cospe o chiclete.

-Acho que não...- engulo em seco.

-Ah, tudo bem, não quero te pressionar- Francine parece meio incomodada.- poderia me dizer porque você escreve?

-... Ah...- resolvo ser sincera- é um jeito de organizar os pensamentos. De contar histórias que nunca aconteceriam comigo.

Ela me manda um olhar compreensivo, sinto como se tivesse que falar mais alguma coisa.

-... Acho que às vezes é difícil medir tudo que está na minha cabeça, as vezes preciso olhar para os meus problemas para saber resolve-los... e sei lá... que ao mesmo tempo, a escrita torna meus pensamentos reais... eu não consigo falar o que eu penso, mas eu posso escrever sobre eles, basicamente acho que eu tenho uma voz quando eu escrevo.

Algo que eu não falo é que um dia, eu espero, pretendo publicar alguma coisa, um dia eu vou conseguir terminar uma história, e vou compartilha-la com o mundo. Também não digo, mas talvez esse seja o meu sonho: escrever para inspirar os outros; deixar a minha marca no mundo, só pra provar que eu existi por um momento, e que esse foi o motivo.

-Acha que isso tem algum impacto significativo na sua vida?

-... Na verdade é algo que eu faço... por que eu gosto de fazer. Não tem que significar alguma coisa.- ainda.

-Suas notas de redação são ótimas.

Ah, isso. A Eu interior acaba de rolar os olhos. E dou a resposta mais cética que consigo pensar pra me livrar daquele papo sem pé nem cabeça.

-Se você treina organizar a sua cabeça, é mais fácil controlar as suas ideias, é mais fácil colocá-las no papel.- digo, mas penso nos outros bilhões de autores que ao menos sabem criar uma história com começo, meio e fim.

-Certo, agora vamos focar no motivo da sua vinda?- funcionou, aleluia.

-Sim- afinal, é pra isso que eu estou perdendo aula.

-Quer me explicar o que aconteceu?

-O fotógrafo me falou para fechar o sorriso.

-Por que acha que ele fez isso?

-Porque meu dente estava quebrado- DUH.

-... Não passou pela sua cabeça que talvez ele quisesse ajudar?

Oi? Minha eu interior acaba de dar um tiro na própria cabeça.

-Na verdade não.

-Ele pode ter falado para você parar de sorrir para evitar que fosse vítima de comentários ofensivos.

-Aham, certo- cruzo os braços, encostada na cadeira. Então ele queria evitar que todos fossem idiotas comigo... sendo um idiota?

-Compreende meu ponto de vista?

-... Talvez?- sussurro.

-O que quero dizer é que...

Paro de ouvir. Quero tanto vazar dali. Pego meu celular discretamente e digito uma mensagem para Brandon.

-S.O.S.

Olho de novo para o horário e não tenho dúvida. Enviar.

Ele responde depois de poucos segundos:

-Espere o sinal.

... Que? O sinal da aula? Olho para o relógio, ainda tenho uns bons minutos com a freira e ela já está desviando o fato do fotógrafo ter sido um belo filho da puta para o assunto do amor ao próximo.

É aí que o alarme de incêndio toca. Garoto inteligente.

-Oh- ela finalmente cala a boca- bom, procedimento padrão.

Ela se levanta normalmente com toda a calma do universo como se já soubesse que nada estava acontecendo.

Ela sai na frente tagarelando sobre como aquela situação era interessante. Me certifico de manter uma distância de ao menos três metros entre nós para não ser envolvida naquele papo.

Ao passar pela sala de projeções sinto uma mão envolver a minha e sou puxada para dentro daquele cubículo.

A luz está apagada e eu não sei quem está lá dentro comigo apesar das minhas suspeitas.

-Bela tática- admito

-Valeu- Brandon abre uma fresta na persiana fechada e posso ver seus olhos castanhos esverdeados.- É, ela nem notou que você sumiu.

Ele solta a persiana e entramos novamente naquele breu.

-Obrigada por me tirar de lá- agradeço tentando identificar onde ele está.

-Não foi nada.

-... Por que estava na sala dela, hoje mais cedo?

-Hum, semana passada foi bem tumultuada... e digamos que eu descontei toda a minha raiva na coisa errada.

-Por favor me diga que não matou alguém, caso contrário eu vou sair agora dessa sala.

-Não matei ninguém, prometo

-Dupla negativa, estou fora daqui- digo e posso sentir que bufou uma risadinha

-E você? Cometeu que tipo de crime?

-Xinguei aquele fotógrafo nojento.

-Ah, isso indica claramente que você deve ser domada pela igreja.

-Pois é.- rio- obrigada por ter atrasado a minha visita de qualquer jeito.

-De nada... Ah, preciso te perguntar um negócio, descobriu alguma coisa no celular do Rod?- ele pergunta.

-Não consegui abrir, tem uma senha de seis dígitos.- tiro o meu celular do bolso e ligo a lanterna, apontando-a para Brandon.

-Oi pra você também- ele aperta os olhos por conta da luz.

-Quer dar uma olhada?

-Se é que vou conseguir ver alguma coisa depois disso.

-Mas descobri que estamos encrencados caso eles concluam o reconhecimento facial das câmeras na casa dos Swanson.

-E o que faremos a respeito?

-Isso é uma ótima pergunta.

Quando acho o celular de Rodrick na mochila desligo a lanterna e abro a tela bloqueada.

-Deixe-me ver- ele pede.

Entrego o telefone.

-Ah ótimo- ele fala- são apenas números. Já tentou a data de nascimento dele?

-Já.

-Hm...- ele analisa o celular com cuidado.- espera ai....- ele sussurra.

-O que foi?

-Está em modo avião.

-Não está recebendo nenhuma mensagem, tá, e daí?

-Mais do que isso... não é localizável- ele olha pra mim como se estivéssemos perto de encontrá-lo.

-... Acha que o Rod não queria que ele fosse encontrado?- digo igualmente empolgada

-Provavelmente... quer dizer, deve ser por isso que estava enfiado no armário dele.

-Espera... isso é bom pra nossa investigação e tal, mas uma hora vamos ter que desativar esse troço, pra ver o que tem aí dentro.

-É- ele suspira-... Acho que vamos ter que fazer isso em rede pública.

-Mas a polícia vem atrás de nós de qualquer jeito, não podemos simplesmente brotar em algum lugar com isso a mostra, podemos? Eles já devem ter a nossa cara no sistema por causa daquela porcaria de câmera.

-Temos que pensar em algum lugar que não tenha câmeras de vigilância dessa vez, fora isso podemos passar despercebidos.

Trocamos olhares, e apesar de eu estar com um pouco de medo de fazer tudo isso, estávamos animados com a ideia de achar o Rod, e por algum motivo, estar rodeada de pessoas como Christine e Brandon- e até Stuart, confesso- me fazia acreditar que estava segura.

-Eu não sei você mas estou me sentindo dentro de um episódio de CSI- digo.

-"Não poderia concordar mais"

Rio.

 

Um tempo depois o sinal toca e posso ouvir o fluxo de alunos lá fora.

-Tenho que ir.- digo a ele- prova de química.

-Boa sorte.

Sorrio e penso que vou mesmo precisar. Abro a porta, logo me misturo naquela corrente até me sentir diluída.

A prova de química em si foi um desastre, como já esperava, porém, mesmo tendo imaginado que eu iria mal, não planejei um ataque de ansiedade. Tentei disfarçar meus olhos marejados, mas uma lágrima escorreu e antes que eu pudesse enxugá-la, sinto a mão do professor no meu ombro. Respiro fundo para me conter. Ele encara o meu rosto com aquele olhar compreensivo e tenho vergonha de mim mesma. Preciso lembrar ao menos alguma coisa.

Mais uma vez estou aqui, chorando por causa de uma nota imbecil, mais uma vez falhando e agindo de forma patética em público. Ótimo. É aí que Brandon invade minha cabeça, "a mudança só acontece se você quer que ela aconteça"; admito que aquele massacre que acabara de acontecer foi minha culpa... Mas eu não estudei por um motivo, e é isso em que eu preciso focar; eu escolhi, eu tenho prioridades.

A aula de geografia passou devagar, e para me distrair da merda em que me meti, penso em combinações de números que desbloqueiem o telefone de Rodrick.

-Bonnie- a chamo

-Oi?

-Ainda lembra das fórmulas de análise combinatória?

-Hm, não porque?

-Nada...- minto. Queria saber quantas vezes eu teria que chutar até acertar aquela senha.

-Ok.

Volto para a realidade e percebo que não estamos debatendo sobre a Guerra Fria como deveríamos estar fazendo em aula, e sim estamos envolvidos em uma discussão sobre sexualidade.

-O que está acontecendo?

-Ele trouxe uma notícia polêmica.- ela diz se referindo ao professor.

-Ah ótimo...

-Temos que aceitar que vamos ter que estudar a matéria pelo livro.

-Pois é.- uma dúvida surge na minha cabeça- Tanta discussão e ainda assim vamos sair do ensino médio sabendo mais sobre a reprodução das plantas do que sobre a nossa.

-Hahaha, aham, como se esse povo precisasse de aulas sobre sexo.

-Tá, muita gente não precisa de aulas teóricas porque já tiveram aulas práticas, mas e o resto?- tento não rir com a risada dela.

-Compreendo e respeito sua compaixão pelos virgens.

Olhamos para o professor discutindo com um aluno sobre algo totalmente fora do tema da aula.

-Quer marcar um dia para estudar Guerra Fria?- ela pergunta.

-Fechado.


Notas Finais


Obrigada por ler, se ninguém te disse isso hoje, eu digo: eu te amo


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