História Enganando Boninho - 05

A perna de Sarah tremia enquanto ela aguardava no lounge da prova do líder. Ela estava nervosa, assim como os demais participantes, mas não por causa do desafio que estava por vir. Sua cabeça estava do outro lado da porta, lá no jardim da casa, junto com Juliette.

O segundo beijo havia mexido com ela ainda mais que o primeiro. Sarah gostava de estar em controle, e ser surpreendida por uma ação de Juliette era algo inédito no relacionamento fake delas. Será que a morena estava finalmente entrando no jogo?

Sem dúvida que Juliette estava aprendendo a separar melhor as coisas dentro da casa. Isso tinha ficado claro em suas relações com o Gabinete do Mal, assim como sua aproximação fiel e sincera de Gil e Sarah. Mas a emoção em seus olhos quando as duas se separaram denunciava que o beijo tinha sido mais do que apenas encenação.

Sarah fechou os olhos para tentar acalmar seus pensamentos. As coisas estavam saindo de controle — e não fazia nem 24 horas que o namoro de mentira tinha começado! Se ela for sincera, a aproximação com Juliette havia começado muito antes disso, desde que Bil fora eliminado. O tempo corria estranho dentro daquelas paredes altas da casa mais vigiada do Brasil. Pequenos toques, abraços longos, olhares, elogios… Juliette nunca escondeu sua admiração pela amiga. Será que era mesmo apenas amizade?

Isso não podia estar acontecendo. Justo agora, que Sarah tinha uma missão quase impossível pela frente! Para ser líder, ela precisaria de total concentração. Os homens eram mais rápidos e brutos, então ela precisava usar a esperteza para vencer aquela prova.

Essa era sua estratégia. Esse era seu jogo.

E qualquer confusão em relação a Juliette estava atrapalhando seu objetivo.

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— Eu não acredito! Sarah!

Assim que cruzou as portas de volta para o gramado do BBB, Sarah foi recebida pelo abraço intenso de Juliette, que chorava copiosamente. Sarah retribui, porém foi mais fria. Tudo que ela mais queria era se afundar nos braços da amiga, porém ela precisava ser objetiva agora. Tinha finalmente conquistado a liderança e essa era sua grande chance de virar o jogo.

Nada poderia sair errado.

O grupo se dirigiu à sala de estar, onde receberam as informações de Thiago sobre a nova liderança. Sarah começou a enunciar o nome das pessoas que fariam parte do VIP da semana:

— Gil, meu parzinho.

Juliette sorriu, porém a alegria não chegou a seus olhos. Ela sempre achara linda a amizade entre Gil e Sarah, mas às vezes se sentia excluída com a proximidade entre eles. A morena chegou a achar que o namoro fake a tornaria a número um de Sarah, pelo menos uma vez, mas aparentemente essa mudança de status não foi o bastante. Os olhos verdes de Sarah apresentavam uma frieza que Juliette só via em noites de paredão ou te votação.

— Fiuk. Rodolffo. Caio. 

Nome após nome, Juliette sentiu o sorriso desaparecer do seu rosto. Fiuk? Um cara com quem Sarah mal conversava. Rodolffo e Caio eram aliados importantes, mas eles não eram amigos de verdade dela. Não como Juliette. Ainda mais agora.

E o combinado entre elas? E a aliança que Sarah propusera algumas horas atrás, embaixo do edredom, no silêncio da madrugada?

— Ei, Sarah! E eu? — Juliette não conseguiu se conter e chamou a atenção da loira, despertando risadas em todos os colegas de confinamento.

— Juliette! — disse Sarah em meio a risos constrangidos.

— Ah, bom! Achei que você tinha esquecido.

— Eu não tava te encontrando! Desculpa.

Juliette pegou a pulseira VIP das mãos de Sarah e não disse mais nada. Ela estava magoada e, acima de tudo, confusa. Por que Sarah não tinha escolhido ela primeiro? Ou pelo menos em segundo, antes de Caio, Rodolffo e, principalmente, Fiuk!?

Alguma coisa estava errada. Agora que elas eram “namoradas”, Sarah estava tratando ela pior do que quando eram só amigas.

Enquanto Sarah ganhava abraços e cumprimentos dos colegas, Juliette discretamente foi para o jardim para ficar sozinha.

Esse movimento não passou despercebido por Karol, que cutucou Lumena e cochichou algo no ouvido da amiga.

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— Posso sentar com você? — disse Sarah suavemente ao se aproximar de Juliette, que estava sozinha em um dos sofás da ala externa.

Juliette deu de ombros, mas abriu espaço para a loira. Sarah sentou bem perto dela, com as coxas das duas praticamente grudadas, ainda que houvesse uma almofada inteira sobrando no sofá.

— Você tá chateada comigo?

— O que tu acha? — disse Juliette. — Tu quase me esqueceu na xepa.

Sarah riu, mas Juliette continuou séria.

— Eu te disse, eu só não tava te encontrando. Tinha muita gente ali amontoada e eu tava cansada da prova.

— Sarah, tu não tá entendendo. Eu vim depois do Rodolffo. Do Fiuk! Pense!

— Não foi por ordem de afinidade e você sabe disso. Eles só estavam mais perto.

— O que é que eu sou pra você?

Juliette virou-se para encarar Sarah de frente. O que ela mais queria era ter uma DR com todas as cartas sobre a mesa, mas elas não podiam falar a verdade. Ou então todos descobriram o combinado sobre o namoro fake.

Sarah desviou o olhar, incapaz de estar sobre aquele julgamento de uma pessoa que ela sabia que tinha magoado. Juliette não se deu por vencida e colocou a mão no rosto da loura, virando-a de volta para si.

— Eu mereço uma explicação, tu não acha? Ainda mais depois da nossa conversa de ontem.

Juliette ergueu uma sobrancelha e Sarah soube exatamente do que ela estava falando. O público acharia que foi alguma coisa conversa qualquer, mas Juliette se referia ao pacto que fizeram em segredo.

— Eu fiquei com medo — disse Sarah, soando extremamente sincera.

Juliette se surpreendeu com a resposta. Sarah era sempre tão confiante e decidida, que medo não era uma palavra que combinava com ela. Ela estava se abrindo pela primeira vez.

— Na hora da prova, só conseguia pensar em você — completou, encarando Juliette pela primeira vez.

Juliette acariciou o rosto da namorada, segurando as lágrimas. Tudo que ela mais queria era acabar com aquela distância entre as bocas das duas…

— Como foi injusto a Karol ter te vetado — continuou. Sarah parecia se recompor de um momento de sensibilidade e limpou a garganta antes de continuar.

Juliette não sabia se era só impressão quando a loira se afastou alguns centímetros dela.

— Eu queria ganhar pra vingar isso que ela fez com você.

Juliette concordou com a cabeça e soltou o rosto de Sarah, encolhendo-se no seu canto. Sarah estava jogando novamente. A pequena janela de verdade que ela viu na amiga havia se fechado de vez.

— Você vem pro quarto do líder comigo?

— Com seus amigos Rodolffo e Fiuk? Não, obrigada. Tô bem dormindo no chão.

Sarah deu de ombros, constrangida com os rumos da conversa.

— Você que sabe. Sempre vai ter um lugar pra você.

Juliette sentiu suas entranhas queimarem com a ousadia de Sarah. Ela sabia que estava certa. Sabia que não merecia ser a última escolhida dela, a última em seus pensamentos. De repente, seus olhos se acenderam com uma chama que deixou Sarah assustada. Juliette estava jogando agora. E Sarah era seu alvo.

A morena levantou, se posicionou na frente de Sarah, sentou no seu colo de frente para ela. A parte interna de suas coxas estava grudada na cintura de Sarah, e os centros das duas estavam a centímetros de distância.

Sarah segurou a respiração — ou perdeu o ar. Nem ela sabia muito bem o que estava acontecendo.

Juliette estava séria. Sedutora. Sarah lembrou do que ela confessou na banheira algumas dias atrás: “quando eu paquero, eu fico séria mesmo, de verdade”.

— Quem tem que decidir agora é você, Sarah — disse Juliette num tom mais grave e sensual, se aproximando do ouvido da loira. — Ser você quer essa gente toda no seu quarto, ou se você quer aproveitar essa chance pra dormir comigo sem ninguém por perto.

Sarah estava boquiaberta, os olhos arregalados. Juliette passou perto de sua boca e quase beijou, mas desviou de última hora e se levantou. Sarah sentiu seu corpo gritar quando o frio tomou as partes que estavam em contato com Juliette segundos atrás.

E, com um sorriso satisfeito no rosto, Juliette se afastou.