História Enquanto Ele não vem - Welcome!

Se me permite... deixe-me começar pelo começo! *

Nasci em berço cristão. Noventa por cento da minha parentela era cristã, com exceção da minha família. Nenhum de nós havia tomado alguma decisão de se firmar, porém tanto eu como meus primos e minha irmã, fomos ensinados e apresentados na igreja.

Minha avó materna, era professora da escola bíblica das crianças, então nos levava todos os domingos; e sempre quando tinha culto, lá estávamos nós incendiando a igreja, correndo entre os bancos. Mas aos meus cinco anos, ela teve que se mudar da cidade para o sítio, e como era ela que levava eu e minha irmã à igreja, então não tinha quem nos levasse, aí paramos de ir.

Dos meus cinco anos até os nove não há muito que contar, foi uma época sem muita novidade e nada diferente de uma infância qualquer.

Mas aos dez anos eu vi minha vida mudar por completo, mesmo sendo muito nova, eu vi ela mudar radicalmente.

Lembro-me que minha avó estava na cidade, então me levou na igreja. Nesse dia, o ministério de coreografia se apresentou, e foi ali que o Amor me chamou. Virei para a minha avó e disse que queria entrar, e ela me disse que eu deveria vir à igreja com mais freqüência, e assim o fiz. Meus pais me levavam, e meus tios me traziam assim que o culto acabava.

Com o passar do tempo, a líder do ministério viu que eu estava indo frequentemente aos cultos e me deixou entrar, mesmo não sendo batizada e nem nada.

No mesmo ano, em julho, comemoramos o aniversário da igreja, então como de costume todos os ministérios se apresentam, desde as crianças aos mais velhos.

No domingo de noite, viria um pastor de uma cidade vizinha para pregar, e nesse mesmo dia iríamos nos apresentar. E assim foi.

O pastor Jaime, pregou em João três, dezesseis. Ele falou sobre o amor de Deus por nós, e aquilo atingiu meu coração como uma onda. Uma onda. Essa é a expressão ideal! Lembro que durante o apelo, eu não conseguia ficar de pé, chorava tanto que chegava a soluçar. Meu coração queimava, e na época não sabia o que aquilo significa, mas era simplesmente o Amor me encontrando. Era uma sensação indescritível. Naquela noite, Jesus me mostrou o amor e eu não pude rejeitá-lo. Me batizei no mesmo ano, especificamente em treze de dezembro de dois mil e nove, e desde então meus pés seguem esse caminho.

***

Flashback on

– Aline levanta! – minha mãe gritou abrindo a porta do meu quarto com batidas frenéticas  – dia de faxina, sabe disso...

– Mãe, por favor... Fui dormir tarde ontem! – respondi apertando os olhos com força devido à claridade, pois ela havia acabado de abrir as janelas.

– Não mandei ficar assistindo seriado até tarde... Anda! Não vou chamar de novo. – ela disse batendo palma. Definitivamente está estressada. Esperei que saísse do quarto e me levantei com muita dificuldade. Fui dormir eram cinco e meia da manhã, e ela estava certa: seriado.

Fui até o banheiro, fiz minhas higienes matinais, troquei de roupa e fui tomar café com minha irmã, que tinha acabado de levantar também. Todos os dias temos o costume de tomar café da manhã juntas, na verdade é só um pretexto para ficarmos conversando.

Deixe-me te dar uma imagem minha: baixinha, e quando digo baixinha, é baixinha mesmo! Um metro e cinqüenta e quatro de altura. Morena, cabelos castanhos claros compridos, olhos azuis. Ouço todos os dias que sou a cópia da minha mãe.

– Pensa que a festa da formatura vai ficar linda! – minha irmã disse empolgada. Murmurei um “sério? Que legal”. – Uhum, tipo, vai ser lá naquele hotel fazenda...

Minha irmã estava no último ano de faculdade dela, e quanto a mim? Terminei os estudos, mas tenho que esperar ela terminar, pois o curso que eu quero, medicina veterinária, é caro, e meus pais não conseguem bancar as duas ao mesmo tempo.

Eu era magoada com essa situação de ficar parada. Não porque meus pais não podem bancar, mas porque ganhei quatro bolsas só esse ano, e simplesmente eles não me deixaram ir, não querem que eu more sozinha, ou seja, não adiantou nada eu ter me matado de estudar para conseguir bolsa!

– Tenho uma notícia para te dar... – minha mãe disse com um envelope em mãos. Olhei pra ela sem esperar muita coisa, e continuei fazendo meu leite com chocolate. – quer saber ou não?

– Pode falar...

– Você vai embora! – ela disse crispando os lábios. Eu arqueei a sobrancelha a encarando confusa, enquanto minha irmã encarou minha mãe assustada.

– Vamos nos mudar pra onde? – perguntei sem humor.

– Ei, eu não terminei minha faculdade, como vamos embora?! – Lorena, minha irmã, disse indignada.

– Nós – minha mãe gesticulou para ela e minha irmã – não vamos embora, ela vai! – senti meu coração acelerando, meu estômago embrulhando, eu não podia acreditar.

– Oi? Do que tá falando? – questionei colocando o copo de leite em cima da mesa.

– Depois de conversar com seu pai, chegamos à conclusão que a única forma de você estudar, e sem muito gasto, é deixar você estudar na universidade que passou...

– Meu Deus mãe, jura?! – ela assentiu e meus olhos marejaram. Senti uma emoção enorme, como se meu sonho tivesse começado a se realizar. – Jesus, tu é muito doido mesmo! –exclamei enquanto observava minha mãe com uma feição não muito contente.

Não que eu queira sair de casa, não mesmo! Se eu tivesse outra escolha, ficaria, mas eu preciso estudar, preciso ir atrás do meu futuro, e sabia que Jesus tava de acordo com isso. Já batemos altos papos sobre isso, e não foi só uma vez que ele me pegou no colo e disse que os meus sonhos eram dele também, foram várias!

– Eu estou feliz que você vai realizar seu sonho, mas não por você se mudar... – minha mãe disse me encarando. – Tenho tanto medo filha... Você sozinha em outra cidade, estado...

– Mãe, tudo bem ter medo por ser cidade grande etc, mas você sabe que eu não vou fazer nada de errado, não sabe? – ela assentiu – Então...

– Certo! Já compramos seu apartamento, é pertinho da faculdade, compramos passagem, você vai daqui dois dias, e já confirmamos sua vaga... Era pra ser surpresa, mas precisava te contar logo. – ela sorriu sem humor.

– Obrigada, obrigada, obrigada! Eu vou honrar vocês, juro!

Flashback off

E assim cá estou eu, diretamente de Rondônia para Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

Cheguei há duas semanas, já tinha ido atrás das papeladas da faculdade, feito compras do mês etc, estava literalmente instalada. As aulas só começariam daqui duas semanas, então tinha tempo de aproveitar.

– Jesuszinho do céu, cê é muito doido mesmo em! – eu disse enquanto dobrava as roupas que estavam secando no varal. Onde eu morava, as pessoas não tinham a mesma liberdade que eu tenho em Jesus, sabe? Ele é meu melhor amigo, meu amor de verdade, o trato como tal então, tenho intimidade pra dar apelido, pra conversar sobre QUALQUER assunto, literalmente! Jesus é parceiro. Quando morreu por nós, o véu foi rasgado, não há mais barreiras, temos livre acesso a ele, e por causa dele, temos liberdade, entretanto a maioria das pessoas ainda o trata como um Deus distante de nós, tão santo que não podemos estar muito perto, entende? Mas não é assim. O que Jesus mais quer, é que o queremos por perto, e quando digo perto, é tão perto a ponto de ter intimidade como um melhor amigo. E muitas vezes por tratarmos ele como um Deus longe perdemos “a magia” que é ser filho de Deus, perdemos a alegria real desse caminho, e muita gente se afasta por perder isso, e aí ser cristão se torna chato, o que não é verdade. – Cara, como assim? Estamos em Porto Alegre meu amor, só eu e você! – cruzei os braços encostando na parede. Na playlist do meu celular, tocava nossa música: Meu Primeiro Amor da Priscilla Alcântara, e automaticamente senti meus olhos marejarem. Lembrei de quando numa madrugada, eu cantei essa música pra ele, e naquela noite, tornamos essa música nossa, sempre que ela toca, eu lembro de nós. Olhei para minha mão esquerda, e vi nosso anel de compromisso. O anel era dourado, como uma aliança de noivado, e o nome “Jesus” fazia o formato do anel. Meus olhos marejaram ao ouvir os primeiros segundos da introdução da música. Jesus tava presente, ali na minha varanda, conversando comigo. Olhei para o céu, que estava num perfeito tom de azul, e sorri. Não podia vê-lo, mas podia sentir ele sempre comigo. – É você o primeiro que vejo ao amanhecer. É você que me inspira, me alegra e me faz viver... – cantei junto com a canção – Você sabe né Jesuszinho?! É só você...

Fiquei ali conversando com ele até nossa música acabar, e ele me lembrou que hoje era o dia de ir visitar a igreja que escolhemos para ir depois de pesquisar as igrejas que haviam em Porto Alegre. Pesquisei as Batistas tradicionais, de preferência, já que é a igreja que vou desde que me entendo por gente, entretanto... Jesus é doido e às vezes ele muda o comum, então ele simplesmente quer me levar hoje na Bola de Neve Church. Diferente da igreja que eu ia? Muito! Mas Jesus falou: tá falado.

– Jesus! Olha a hora! – exclamei olhando no celular assim que terminei de tomar banho. O culto começa às sete e meia da noite, e eram sete horas em ponto. Dei play novamente na playlist e agora tocava Move do Mercy Me. Enquanto dançava, vesti uma calça de cintura alta preta com uns rasgados no joelho, uma blusa de manga longa com gola role branca, por cima uma jaqueta justa de couro preta, pois estava frio, pelo menos para mim que vim de Rondônia. Calcei meu coturno de salto preto, soltei o cabelo, que antes estava preso em um coque, peguei minha bíblia e saí de casa.

***

A igreja é enorme!

Tem muita gente aqui, e isso me dá uma felicidade inexplicável.

Decidi me sentar não tão no fundo, mas também não muito na frente, fiquei no meio. O culto começou com o ministério de louvor tocando Pedra na Mão do Discopraise, e eu não pude me controlar, e pelo visto o restante do pessoal também não. Pelo que parecia, era uma igreja praticamente só de jovens, já que noventa por cento que estavam ali eram jovens e adolescentes.

– Graça e paz igreja, amém?! – uma garota loira disse assim que acabou a música. A igreja respondeu em uníssono um “amém”. – Amém! Como é bom ver a casa cheia... Aos visitantes, sejam bem-vindos, e sintam-se em casa, até porque aqui é a casa do nosso pai! – O culto seguiu, ela era a dirigente do culto nessa noite. Teve dança algo que me animou muito, já que eu tenho uma história de amor muito grande com a dança, teve teatro, apresentação especial de uma menina e um rapaz, que cantam muito bem por sinal. Eu nunca havia visitado outra igreja, diferente da que eu ia, e me sentido tão em casa.

O ministério de louvor reassumiu a direção, e começaram a cantar Hoje Vai Resplandecer, e literalmente aquele lugar saiu do chão. Todos ali sem exceção pulavam e cantavam loucamente, e quando eu digo loucamente, é loucamente!

– Sabe... – o guitarrista começou a falar assim que acabou a música – Muitas vezes não conseguimos sentir a presença de Deus, e muitas vezes até duvidamos que ele possa nos fazer sentir... – ao fundo da sua ministração, o teclado, a guitarra, o violão, bateria, tocavam em harmonia baixinho, que nos levava a viajar na palavra que era lançada – Mas hoje, nessa noite, nós vamos provar desse amor, vamos provar dessa presença que é real! Que está com a gente todos os dias... Jesus! – ele exclamou bem alto, chamando pelo meu amor – Nós queremos sua presença entre nós, sobre nós e dentro de nós! Seja bem-vindo aqui... – e então os acordes do instrumentos mostraram que a música a ser tocada era Santo Espírito – Não há nada igual, não há nada melhor a que se comparar a esperança viva... Tua presença, Senhor! – fechei meus olhos deixando Jesus me levar pra onde ele quiser através dessa canção. Meus lábios cantavam automaticamente, sem nem minha permissão. Minhas mãos se levantaram em direção ao céu, e comecei a sentir a presença mais que real de Deus arder meu coração, as lágrimas já desciam sem nenhuma pausa. – Santo espírito és bem-vindo aqui! Vem inundar, encher este lugar. É o desejo do meu coração, sermos inundados por tua glória, Senhor... – senti Jesus me abraçar forte, e eu não pude deixar de retribuir esse abraço. – Ele é real, eu posso sentir! Mas só podemos comprovar isso, quando abrimos nosso coração de verdade, e deixamos que ele faça o show dele, porque tudo isso é para ele, sobre ele! – não conseguia abrir meus olhos, mas podia sentir toda a igreja cantando e clamando em uma só voz. – Vamos provar o quão real é a tua presença, vamos provar da sua glória e bondade. Vamos provar o quão real é a tua presença, vamos provar da sua glória e bondade, Senhor...

– Jesuszinho... – sussurrei sorrindo enquanto o refrão ecoava novamente. E mesmo sabendo que aquele lugar estava cheio de pessoas, parecia que só tinha eu e Jesus ali. Eu e ele. Eu e o meu amor. Eu e o meu melhor amigo. – Eu pude provar desse amor um dia, e nunca mais quis te largar. Jesus, eu quero mais você, mais de nós, mais do seu amor, mais dos seus sonhos... Jesus, quero mais dessa loucura de amor, quero muito mais! E não há nada melhor, nada igual que se compare a essa presença doce, que é você... eu te amo.

E há quem diga que ele não existe, pois não se pode ver, mas hoje pela milésima vez, eu constatei sua existência, muito mais ainda. Porém só pode constatar isso, quem abre o coração de verdade e deixa que ele mesmo mostre o quão real ele pode ser, porque uma coisa eu estou bem certa, e quero dizer isso a você que está lendo: Jesus é real!