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História Entre amor e vingança - A melodia da alma


Escrita por: RobertaDragneel

Notas do Autor


Foi um dos capítulos que eu mais amei fazer, vão entender pela parte do piano.

Capítulo 14 - A melodia da alma


Fanfic / Fanfiction Entre amor e vingança - A melodia da alma

Tem coisa pior do que arrumar a casa? Principalmente quando se tem uma casa de dois andares e três quartos. Comecei a limpeza pela cozinha, demorei duas horas, se não me engano. Depois, arrumei a sala com cuidado para não quebrar a coleção de globos de neve do meu pai que estava na estante. Ele realmente ama essas coisas. Isso me lembra como sinto falta da neve. O verão começou à poucas semanas, acho que terei um bom tempo de espera.

A sala estava brilhante depois da minha limpeza, deu muito trabalho. Resolvi descansar um pouco, sentando no braço do sofá. O celular em meu bolso toca, vejo quem está me ligando. Era a Miku. Supiro pesadamente pensando se realmente devo atender. Escolhi me afastar dela mas acho que não posso, ela é a minha melhor amiga. Com esses pensamentos atendo a ligação.

- Alô. – Digo secamente.

- Sakura! Pensei que não atenderia mas estou feliz que atendeu! – Miku diz animada. – Quero tanto conversar com você, sinto falta de como éramos antigamente. Podemos nos encontrar hoje à noite? Pode ser na sua casa. – Ela diz esperançosa.

Fico pensando se realmente era uma boa escolha continuar a amizade com a Miku. Estou me envolvendo em coisas erradas, eu planejo matar pessoas! E se algo acontecer com ela? Eu não me perdoaria. Porém, pensando bem, ninguém sabe que sou eu a culpada pela morte de Dylan Hall, então tudo bem. Respiro fundo respondendo a pergunta da garota.

- Sim, nos vemos às sete então. – Meu tom de voz continuo frio, então desligo o celular.

Depois continuei a limpar a casa. Não foi tão trabalhoso arrumar o meu quarto, sempre o deixava o mais limpo possível. Agora só faltava os banheiros e o quarto do meu pai. Fui logo para o quarto dele, era o mais perto. Um quarto enorme, cama de casal, móveis de madeira e um retrato dele e da minha mãe na cômoda ao lado da cama. Me aproximei em passos lentos, peguei o retrato deles e a ponta dos meus dedos correram pela imagem da bela mulher de cabelos compridos. Dizem que sou parecida com ela pois nosso olhar e cabelo eram iguais. Queria ter passado mais tempo ao seu lado, mãe.

Batidas lentas na porta me fazem sair dos meus pensamentos. Rapidamente desço as escadas e abro a porta. Lá estava o indiano, me encarando com as mãos dentro do moletom cinza. Eu apenas o olhava confusa, não entendia o motivo dele estar aqui às nove da manhã, no final de semana. Ele ficava me encarando, deve ser por causa da minha roupa. Estou usando uma calça legging preta, uma blusa curta da mesma cor e um par de tênis preto. Meu cabelo estava preso em um simples rabo de cavalo, algumas mechas soltas perto do rosto.

Kiran parece que estava correndo, o seu moletom combinava com a calça. O cabelo estava um pouco molhado. É, estava correndo. Ele fica me encarando, esperando alguma palavra minha mas eu estava paralisada. Olhando fixamente para seus olhos. O que eles têm de tão especial assim?

- Bom dia, Sakura. – Ele diz inclinando o corpo, fazendo uma breve reverência.

- Bom... dia. – Falo tentando parecer o mais fria possível. – O que faz aqui?

- Vim te mostrar as informações que eu consegui sobre... – Ele sussurra o mais baixo que pode. – “Aquilo...”

- Ah, sim, “aquilo”. – Entendi que ele se referia ao próximo desgraçado que eu iria matar. Dei alguns passos para o lado, permitindo que ele entrasse na casa.

- Dia de faxina? – Pergunta curioso.

- Sim.

- Quer ajuda?

- Não. – Desvio o olhar e logo vou até a cozinha. O indiano faz o mesmo e senta numa cadeira de costas para a janela. – O que descobriu?

- Nome, endereço, família. Essas coisas. – Fala tirando um pequeno envelope do bolso do moletom. – Estou pensando em uma forma de causar uma morte natural, porém não é tão fácil assim. O nosso próximo alvo já está fora do Japão.

- Espera! Isso significa outra viagem? – Faço careta enojada.

- Ora, não gosta de viajar comigo? – Kiran diz fazendo biquinho.

- Não. – Suspiro.

Eu e Kiran nos aproximamos nessa primavera, apenas uma aproximação de ideias. Ele me ensinou muito sobre a cultura indiana e eu o ensinei sobre a cultura japonesa. Nos encontramos no intervalo para conversar sobre nossos planos, ambos os planos que me forçaram a ser amigável com ele. Não consigo tocá-lo apesar de tudo. Ele me traz péssimas lembranças, continuo presa ao passado. Ele sabe o meu limite e sempre senta longe de mim, me olhando com uma expressão distante. Me parece triste. Eu queria que tudo isso de vingança acabasse logo, assim não teria nenhuma ligação com o Kiran.

Ligação...

-... até porque eu não tive culpa se... – Kiran falava achando que eu o ouvia. Depois ele balança a mão na frente do meu rosto. – Terra para Sakura.

- Hum?! – Saio dos meus pensamentos. Ele apenas suspira.

- Acho que não é um bom momento para falar do nosso plano. – Ele fala se levantando e guardando o envelope no bolso.

- Por que? – Falo um pouco irritada.

- Você não está pronta, ainda. – Kiran sorri. – Tente se concentrar mais e achar a paz em seu interior. Estamos lidando com coisas sérias e perigosas, preciso de sua total colaboração.

- Estou colaborando totalmente! – Sinto vontade de batê-lo mas depois percebo que ele está certo. Estou muito distraída esses dias.

- O que falta ser limpo na casa? Quero ajudar. – O moreno fala abrindo um largo sorriso e ignorando o meu "mini surto de raiva".

- Hein? Ficou maluco?

- Ora, eu preciso gastar calorias. Vamos, Sakura, me diz o que eu tenho que fazer. – Ele praticamente implora.

- Seu estranho... – Resmungo baixo e logo o mostro onde fica os banheiros. – Falta os dois banheiros, você dá conta?

- Claro! – Fala animado.

A limpeza, graças ao Kiran, acabou mais rápido do que eu planejava. Consegui limpar o quarto do meu pai, logo ele chegaria de uma reunião da empresa. Íamos almoçar fora e tentar colocar os papos em dia. Eu me afastei dele sem motivo, preciso compensar de alguma forma. O indiano estalava as costas, analisa a casa satisfeito com o seu estado. Eu queria agradecer pelo seu trabalho mas parecia algo difícil para mim. Apenas fico o observando com uma expressão neutra, encostada na parede da sala.

- Então... – Digo tentando puxar assunto.

- Ah, é mesmo. Eu preciso ir. – Fala abrindo a porta, eu vou até ele. – Se cuida, Sakura.

- Tchau... – Falo fechando a porta lentamente. Apoio ambas as mãos em sua madeira fria, encostando a minha testa nela. Suspiro baixo, pensando se a forma que estou agindo é realmente a correta.

Olhei para o relógio, quase doze horas. Fui tomar um banho para relaxar, troquei de roupa vestindo uma calça jeans simples, uma camisa azul de manga comprida. Prendi o meu cabelo, estava gostando de deixa-lo assim. Descobri que incomodava o Kiran, não sei o porquê.

Meu pai chegou tirando a gravata, analisou a casa abrindo um largo sorriso. Ele me agradeceu pela limpeza, apenas acenei positivamente com a cabeça. Em meia hora ele já estava pronto, fomos logo para o carro. Um dust preto, bem brilhante pois havia sido lavado ontem. Eu me sentei na frente apertando firmemente o cinto, ele sentou ao meu lado e logo ligou o carro.

A viagem foi um completo silêncio, ainda não conseguimos conversar naturalmente. Eu fiquei com meu cotovelo apoiado na porta, o olhar fixo na janela. A paisagem passava tão rápido, mal pude identificar os outros carros que passavam ao meu lado. Fechei os olhos imaginando como seria a minha vingança. O que o Kiran planejou? Outro envenenamento? Não, seria muito óbvio. Talvez ele usasse um método mais convencional.

Agora que estou pensando, por que ele quer tanto me ajudar? Se meter em assassinatos não é algo para qualquer um. Ele deve ter algum motivo maior, só não quer me contar. Respiro fundo tentando entrar em sua mente e compreender as suas ações, mas tudo foi em vão. Penso também naquelas missões em buscas das pedras mágicas ou sei lá o que sejam. O desgraçado ainda não me disse para onde vamos dessa vez, espero que seja um lugar com menos areia possível. Depois da experiência no Egito, pretendo evitar praias por enquanto.

Mal me dou conta que o carro já havia parado, meu pai fechava a porta dele. Logo tiro o cinto do meu corpo e saio do carro. Olho para o restaurante à nossa frente, já comi aqui. Eu costumava ir com meus pais, a mamãe adorava a comida desse lugar. Ela sempre gostou de lugares simples e com comida simples também. Entramos e procuramos uma mesa ao lado da enorme janela de vidro que cobria o local. Ao encontrar a mesa, o meu pai pediu o cardápio para nós dois.

- Hum... Macarrão com molho de requeijão e maionese. – Ele fala lambendo os lábios e depois olha para mim. A garçonete anota o pedido e me encara. Sorria gentilmente para mim.

- Lasanha de quatro queijos. – Digo entrando o cardápio para a garçonete. Ela se reverencia e sai andando. Desvio a atenção para o meu pai, engolindo seco tentando achar um assunto adequado para aquele momento. – Então... como foi no trabalho?

- Foi cansativo, tive uma longa reunião. Esses executivos são difíceis de negociar. – Meu pai fala suspirando mas logo abria um sorriso. – E como foi o seu dia?

- Tranquilo... – Digo olhando para o lado, acabo me lembrando do telefonema e então volto a encará-lo. -  A Miku vai lá pra casa hoje à noite.

Ele abre um largo sorriso, parecia feliz com essa notícia. Provavelmente pensou que eu estava voltando ao normal, grande ilusão. Só quero saber qual o propósito da Miku em encher o meu saco logo nesse momento. A comida chega alguns minutos depois, realmente gosto da eficiência desse lugar. Comemos em silêncio, eu não me senti muito bem em puxar assunto. Lembrei daquele dia, o meu estômago embrulhou e desisti de comer o resto.

- Você está bem? – Ele pergunta preocupado, faço “sim” com a cabeça. – Sabe, acho que você deveria ir a um psicólogo. O que você passou não foi fác-...

- NÃO FALA DISSO! – Digo gritando para ele, percebo que todos no restaurante nos encaravam. Abaixo a cabeça fechando os punhos com força.

- Desculpe...

E foi assim que terminou o meu almoço produtivo. O resto do dia foi um completo tédio, resolvi estudar esse final de semana. Não posso deixar que minha vingança atrapalhe o meu desenvolvimento escolar. É algo perigoso demais.

Miku chegou pontualmente em minha casa, tentou me abraçar mas eu apenas desviei olhando para o chão. Ela forçou um sorriso e nos direcionamos para o meu quarto. A alegria dessa menina nunca acaba? Miku me contou várias fofocas do colégio, não me interessei por nenhuma mas então ela tocou o nome de um certo loiro, acabei olhando-a surpresa.

- Você... Você sabe sobre o Yatori? – Pergunto receosa com sua resposta.

- Todos do colégio sabem que ele gosta muito de você. Várias meninas dão em cima do Yatori mas ele só ignora, diz que já há uma garota no coração dele. – Miku fala me encarando.

Sinto o meu coração disparar, devo estar corada. O Yatori ainda gosta de mim e eu... eu o odeio. Isso, eu odeio. Mas como lidar com essa situação? Miku percebe a minha alteração de humor, sinto ela tocar de leve a minha mão. Penso em recuar mas ao olhar em seus olhos, não consigo. Ela me encara com muito carinho e percebo que está preocupada comigo.

- Ainda gosta dele, certo? – Miku diz, tento falar algo mas ela é mais rápida. – Não negue para o seu coração, não pode esconder um sentimento como esse. Se quer estar com ele, esteja. Não se permita pular de um abismo, você não está sozinha.

Mal você sabe que já pulei de um abismo. – Penso suspirando baixo. Apenas aceno positivamente com a cabeça.

Ela continua a falar animadamente sobre o colégio, menos quando se tratava das aulas de história. Percebi que ela é como eu, odiamos história. Se bem que esses dias eu venho gostando da matéria, graças ao idiota do Kiran.

Kiran...

O que será que ele está fazendo agora? Estudando para as provas ou procurando formas de matar alguém? Nunca saberei... É tão difícil entrar naquela cabeça. Somente quando o olho nos olhos posso sentir uma pontada de sofrimento, queria saber de onde vem tanta dor. Espera, eu não ligo! Ele só serve para executar a minha vingança. Só isso.

Falei pouco com a Miku, sempre que ela tentava fugir do assunto que fossem as aulas, eu cortava. Não quero desabafar nem nada do tipo. Estou “bem”. Ela foi para casa duas horas depois, antes de sair olhou para mim. Me abraçou tão rápido que mal tive tempo para esquivar, apenas fiquei surpresa com sua atitude. A danadinha saiu correndo e pulando vitoriosa pelo seu feito.

O domingo foi um completo tédio, não sou de estudar nos finais de semana mas preciso repor todo o assunto perdido enquanto estive afastada do colégio. Senti o celular vibrar, eram 10 da noite, fui ver de quem era a mensagem. Era do Kiran, me questionei como ele conseguiu o meu número. Na mensagem estava escrito:” Vou te ligar”. Fui entender melhor quando ele realmente me ligou. Quase derrubei o telefone pelo susto, pensei que Kiran estivesse brincando. Sinto um leve nervosismo para atender, não compreendo o porquê. Apenas atendo tentando parecer a mais calma possível.

- Como conseguiu o meu número?

- Isso não importa. Podemos nos encontrar hoje? – Ele fala calmo.

- Hoje? – Fico incrédula, olho para o relógio e depois respiro fundo.- Está maluco? São mais de 10 horas!

- É importante, me espere na frente da sua casa em 10 minutos. Te aguardo ansiosamente. – E então desliga. Jogo o celular na cama querendo quebrar a cara do indiano.

Contudo, ninguém me ligaria esse horário se não fosse algo importante. Como não quis tirar o meu pijama, apenas visto um longo casaco por cima. Desço as escadas em silêncio, ainda bem que meu pai dorme cedo. Saio de casa e fico esperando Kiran chegar. Ele parece com sua Lamborghini veneno preta, sempre me surpreendo ao ver esse carro.

Kiran abaixa o vidro, movimentando a mão para que eu entrasse. Entrei no carro e fechei a porta olhando-o friamente.

- Conte logo.

- Calma... – Ele ri baixo e me olha de cima a baixo, engulo seco nervosa. – Fiquei muito animado vendo como matar a nossa próxima vítima, precisava de falar pessoalmente.

- Então fale... – Reviro os olhos.

- Mas antes, aconselho fazer aulas de jiu jitsu. – Diz calmo.

- Hein? Jiu jitsu? Por que? – Pergunto muito confusa.

- Porque o nosso alvo é faixa preta em jiu jitsu.

- Vamos tentar ataca-lo de forma física? – Fico surpresa ao pensar em bater em alguém até a morte. – E ainda mais, com alguém com nível alto de jiu jitsu.

- Não mas acho bom estarmos preparados para tudo. E o nível mais alto em jiu jitsu é a faixa vermelha. Vai ser fácil derrubá-lo.

Às vezes me questiono qual o conceito de “fácil” para o Kiran. Bater em um faixa preta em jiu jitsu é uma missão impossível para mim. Fico olhando fixamente para seus olhos tentando compreender como ele consegue ser tão simples e tão complexo ao mesmo tempo. Não consigo manter o contato visual por muito tempo, olho baixa meus próprios pés rapidamente.

- Sabe lutar...?

- Sei um pouco de boxe, judô, jiu jitsu, aikido e kendo. – Ele fala sorrindo. Não deixo de ficar boquiaberta. Como alguém sabe tudo isso?

- Mas... Mas... Como?

- Meus pais sempre se preocuparam com a educação espiritual dos seus filhos. Ele acreditavam que esses estilos de lutas marciais iriam me ajudar.

É estranho conhecer o Kiran, ele mal fala de si mesmo. – Continuo a olhar para os meus pés. – Sério que veio até aqui para falar só isso?

- Sim. – Sorri.

-...

- E também para falar que te desejo boas provas amanhã. Por causa dessa semana pré- prova não poderemos manter contato. – Ele disse, senti uma pontada de tristeza no tom de sua voz.

Ainda bem. – Suspiro e percebo que ele estica a mão até mim.

Eu fico paralisada, vendo a sua mão se aproximar do meu rosto. Ele ia me tocar, sinto as lembranças daqueles dias voltarem. O meu corpo treme, Kiran percebe isso e recua a mão. O moreno encara o horizonte colocando ambas as mãos no volante, respira fundo e sorria como sempre, de forma natural.

- Durma bem.

- Ok... – Digo saindo do carro. Entro em casa sem olhar para trás, fecho a porta  e caio lentamente sentada no chão. Meu corpo ainda tremia. Por quanto tempo estarei presa nessa maldição?

Senti o meu corpo fraco, subi as escadas com dificuldade e logo me joguei na cama. Passei longos minutos pensando no que acabou de acontecer, até que o sono chegou. Sonhei com uma brisa em meu rosto, talvez seja a praia.

Acordei com o barulho irritante do meu despertador, odeio esse toque mas é o único capaz de me acordar. Depois de um longo banho, estava pronta para encarar a semana de provas.

Ao chegar no colégio, sentei no meu lugar habitual. Abria a mochila pegando os “equipamentos” necessários para a prova de biologia. Estudei detalhadamente o assunto, espero ir bem. Ouvi passos se aproximarem de mim, ergui a cabeça para ver quem era. O Yatori para na minha frente, seus olhos azuis fixos no meu. Meu coração acelerou e eu engoli seco. Ele se ajoelhou diante da minha cadeira, sorriu de forma gentil.

- Bom dia, Sakura. Sei que se sairá bem nas provas. Confio em você. – Diz sem tirar os olhos de mim, apenas se levantou e foi para o seu lugar.

Eu fiquei lá paralisada, sem saber como reagir. Senti raiva de mim mesma por me mostrar tão frágil nesse momento, eu deveria socar a cara dele mas não consegui. Por que eu não consigo te bater?

Tentei fazer a prova com o máximo de concentração possível, por sorte sinto que fui bem. Se o meu desempenho fosse insatisfatório, bateria com toda força em Yatori pois a culpa foi dele. Ao terminar a prova, fui para o pátio mordendo um sanduíche natural. Sentei em um banco afastado de todos e fiquei observando a árvore que me proporcionava uma sombra agradável. Seus galhos estava sem as belas cerejeiras, efeito do verão. Sem perceber, já havia acabado o sanduíche.

Olhei para o lado e avistei um certo moreno, ele ia em minha direção logo abrindo um sorriso ao me ver. Porém, vejo um corpo aparecer na minha frente. Ao olhar para cima percebo que era o Yatori, fiquei surpresa. Ele se abaixa para voltar a me encarar, como antes da prova.

- Como foi a prova? – Ele pergunta com sua voz gentil de sempre.

- O que faz aqui?! Saia! – Digo me levantando, me afasto desviando o olhar.

- Calma, eu só me preocupo com você, como sempre. – Yatori se aproxima de mim em passos lentos, eu continuo a recuar até que minhas costas batem no muro do pátio.

- Eu disse “saia”! – Continuei com a minha voz autoritária, já que não podia recuar.

- Não posso... Não antes de te ver sorrir como antigamente. – O loiro fala aproximando a sua mão de mim. Iria alisar o meu rosto, eu estava assustada. Não queria ser tocada, o meu corpo voltou a tremer. Não quero isso!

Uma sombra enorme apareceu entre nós, um braço musculoso e moreno surgiu na frente. A mão do Kiran bateu contra do Yatori, os olhos do indianos estavam sérios e frios. Ele ficou na minha frente enquanto eu estava encolhida com as mãos no peito. Minha respiração ofegante foi o único som naquele momento.

- Ela disse “saia”. – A voz do Kiran estava irreconhecível, pelo seu tom autoritário.

- Eu não ia machuca-la. – Yatori disse tentando estar ao mesmo nível do moreno mas foi em vão. Então, ele recua aos poucos.

- Acho que já a machucou demais. – O indiano dava alguns passos em direção ao loiro, esse apenas me olha e sorri sem jeito.

- Desculpa, desculpa mesmo... – Sussurra e sai do pátio o mais rápido que pode.

- Ufa... Ainda bem que ele foi embora, não é Sakura? – Kiran se vira para mim sorrindo naturalmente.

Contudo, seu sorriso some ao ver a minha expressão. Eu estava completamente assustada, não sei como estava de pé. Os meus olhos arregalados, a respiração ainda pesada e encarava o rapaz na minha frente muito assustada. Kiran parecia preocupado, se aproxima mais de mim e eu fecho com força os olhos. Nada acontece. Abro os olhos e vejo que ele está distante, ainda me olhando preocupado.

- Irei pegar um pouco d'água... – Ele fala forçando um sorriso, dando as costas e andando até o bebedouro.

{ Colocar a música das notas finais - Victor's Piano Solo }

Eu passei o resto dia evitando os dois, era o melhor para mim. Não sei como olhar nos olhos de Yatori depois da aproximação dele e também não sei como encarar o Kiran depois da forma como ele me defendeu. O sinal tocou, guardei minhas coisas na mochila e sai da sala. Espero não ver nenhum deles dois. Estava andando pelos corredores de cabeça baixa, passei pela sala de música até que ouvi algo. Uma música tão calma e triste, senti uma forte dor no peito só de ouvir. Dei alguns passos para trás e olhei pela janela da porta, ficando na ponta dos pés.

Era o Kiran tocando o piano da sala de música. A música era conhecida, eu devo ter escutado em algum filme. Apenas me deixei ser levada por aquela melodia, fechei lentamente os olhos. Senti com se nada existisse naquele momento. Eu estava em um campo cheio de flores, flores mortas e então eu andava, elas iam sendo amassadas pelos meus passos. A brisa gelada me fazia arrepiar por completo. Joguei o meu corpo naquele campo de flores mortas, a dor de meu corpo sumiu com o pó das flores. Por que sinto o meu coração bater tão rápido ?

Abria aos poucos a porta, eu entrei e fechei a mesma sem fazer nenhum barulho. Meus olhos ainda estavam fechados, continuei andando para frente. Passo por passo, sem pressa. O Kiran estava tão envolto na música, não percebeu a minha aproximação.

As flores... Elas estão sumindo aos poucos, eu também quero sumir. Quero murchar como essas flores e ir para bem longe daqui. Talvez só assim a minha dor acabe. Por favor, me deixe morrer.

Eu preciso acabar com toda essa dor, ela é mais forte do que eu. Mais forte do que eu posso aguentar. Por que o destino foi tão malvado comigo? Por que eu não posso ter um romance normal? Eu só queria amar e ser amada. Agora o meu coração está cheio de ódio, dor e rancor. Uma garota que tinha muito o que viver e aproveitar, atualmente vive para ver pessoas sofrer. Que monstro eu me tornei? Será que um dia isso vai acabar?

A música diminuiu um pouco, de repente, logo voltei a si. Um par de olhos cor de mel me encaram, uma expressão triste e distante. Engoli seco, nunca tinha o visto com esse olhar. Ele continuou a tocar, sentiu como se essa melodia fosse feita para mim. Mesmo que não quisesse estar próxima dele, sentei-me ao seu lado voltando a fechar os olhos. Não quero que essa música acabe. Nunca.

Ligação...

Há uma forte ligação entre mim e a música, é como se conversássemos. Voltei a abrir os olhos ao sentir que logo aquele momento acabaria. Desviei a minha atenção para o moreno que tocava ao meu lado. Seus dedos tocavam suavemente as teclas, parecia que ele nasceu para isso. Nunca ouvi algo tão belo e perfeito na minha vida. Como uma música nos afeta tanto? 

A cabeça de Kiran balançava levemente conforme o ritmo da melodia, ele agora estava de olhos fechados. Talvez estivesse entregue ao momento como eu. Talvez quisesse sumir também... Por que? Você não tem motivos para sofrer. Mas lembro que todos temos nossas feridas, o problema é que nem todos demonstram... Creio que essa seja a solução, não o problema.

Ele termina de tocar pressionando os dedos com certa força nas teclas, seus olhos voltam a ficar abertos. Kiran estava encarando as teclas do piano, ambos tinham um diálogo silencioso ao qual eu não conseguia participar. Respirei fundo e ergui a mão, um dedo tocou de leve uma tecla e fez um barulho agudo naquela sala. O indiano voltou a me encarar, sua expressão estava calma. Acho que tocar para mim o deixou melhor.

- Bela música, nunca ouvi algo assim. – Sussurro tão baixo, o silêncio estava bom. – Onde aprendeu a tocar?

- Obrigado. – Ele diz abrindo um leve sorriso, um sorriso tão reluzente e sincero que pude ver como o mesmo estava feliz apesar de ter tocado algo tão melancólico. – Aprendi desde pequeno, minha mãe adorava me ouvir tocar piano para ela. – Seu tom de voz era tão sereno.

- Eu adoraria ouvir mais vezes. – Digo sem querer, acabo corando um pouco.

- Sempre vou tocar para você, só pedir, Sakura.  – Kiran sussurra com seu rosto um pouco próximo ao meu. Eu paro de respirar nesse momento.

Não consigo ouvir nada além de sua respiração, ele para de se aproximar. Lembrou do que aconteceu no pátio e ontem à noite, por isso voltou a se afastar. Não queria me ver sofrendo nem lembrando de coisas que eu não queria. Nunca imaginei que ele se importasse tanto comigo.

Kiran se levantou, caminhou para longe do piano e eu apenas fiz o mesmo. Ao sair da sala de música, o moreno fechou a porta e a trancou. Seu corpo virou em direção à mim, ele diz com um leve sorriso:

- Vou entregar as chaves no conselho estudantil e depois acho que vou comprar algumas coisas para o jantar. Pode ir sozinha para casa? – Ele diz de forma carinhosa, sinto que ele queria me acompanhar mas havia um forte sentimento o impedindo.

- Posso... – Digo dando alguns passos para trás. Precisava ir logo para casa, a dor no meu peito só aumentou e eu não sei explicar exatamente a causa dessa imensa dor, nesse momento.

- Vá com cuidado, qualquer coisa é só me ligar. – O indiano diz dando as costas para mim e andando.

- Tudo bem... – Eu sussurro, nem sei se ele ouviu. Apenas dei as costas e segui o meu caminho.

Kiran POV´s ON

Eu sai do colégio, fui para a praça da cidade e sentei em um banco. Fiquei admirando o crepúsculo em silêncio. Lentamente, levei a mão ao peito e a fechei com força. Não queria que o Yatori a fizesse sorrir, ele não seria capaz de tal coisa.

Ele só vai lhe trazer dor, eu quero te fazer sorrir. Quero que você volte a ser feliz. Serei o amigo que você merece. Sempre estarei ao seu lado.

Suspirei, fiquei perdido em pensamentos e mal notei que o tempo passou. Estava tão escuro, havia pouca iluminação naquela praça. Apenas olhei o céu, a lua estava tão bela. Senti um vazio no peito mas não compreendo o motivo. Por que tenho me sentido tão estranho esses dias?

Kiran POV´S OFF

Depois de dar um abraço de boa noite no meu pai, resolvi ir logo para o meu quarto. Antes de me jogar na cama, caminhei até a varanda e apoiei ambas as mãos na mesma. 

A brisa estava tão fria, tremi um pouco. Mesmo sendo verão, a noite continua fria demais. Meu olhar ficou fixo na lua, ela estava tão linda. Podia ficar encarando sua beleza por horas sem cansar, porém tinha que dormir. Mais provas amanhã e nos outros dias.

 Coloquei a mão sobre o coração, essa lua combina tanto com a melodia que o Kiran tocou. Será que ele também pensa isso? Quem sabe...

Me joguei com tudo na cama, virei de canto abraçando os próprios joelhos. Tentei fortemente dormir o mais rápido possível, pensei naquela música e então uma paz tomou conta de mim. Acabei adormecendo mais rápido do que imaginei. Sonhei que estava usando um longo vestido branco, estava dançando entre as flores mortas. A luz da lua deixou a minha pele em um tom azulado, eu girava e girava sem cansar. Até que senti algo me tocar no ombro, virei rapidamente para trás querendo identificar quem era. E então acordei. 


Notas Finais


Para aqueles que querem saber qual música eu me referi no capítulo acima, mando o link:

https://youtu.be/a7ouDfay0Ug

Aconselho escutarem essa música bem no momento recomendado da fanfic, ficará bem melhor e irá lhes ajuda a compreender o que a personagem está passando.


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