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História Entre anjos e mais anjos - Agonia


Escrita por: heskindahood

Capítulo 4 - Agonia


Michael podia ser um louco telepata que via auras, mas não era burro.

Luke não ficou surpreso ao ver Clifford balançando a cabeça negativamente antes de sair da visão do loiro, resolvendo voltar a dormir. Ambos, principalmente Hemmings, reconheciam que seria muito estupidez sair para falar com um estranho às duas da manhã.

O rapaz sem aura, porém, não ligou muito.

Sabia que ainda encontraria o pequeno Mike varias e varias vezes.

Ele mesmo garantiria isso, afinal.

 

[. . .]

 

Toda segunda de manhã, Michael pedia para morrer.

Os dias úteis da semana eram um verdadeiro pesadelo para o pobre telepata de cabelo vermelho, tendo a absoluta certeza de que um dia acabaria por explodir com as diversas vozes que ecoavam em sua cabeça enquanto estava na faculdade.

Era com isso em mente que o rapaz tomava cerca de três comprimidos para dor todos os dias antes de seguir para o seu inferno na terra, mantendo em mente que era ali que pagava por todos os seus pecados e, dessa forma, não conheceria a Ira de Lucifer quando morresse.

Aquele era um pensamento sarcástico que Michael tinha, arranjando motivos para se divertir e rir de si mesmo em meio a própria dor. As vezes se considerava um Chandler Bing da vida, por mais que estivesse bem distante da realidade do seu personagem favorito de Friends.

Michael já sentia a irritação presente em seu corpo quando se aproximou do estacionamento da faculdade, o fluxo de adolescentes aumentando gradativamente enquanto ele caminhava até o campus; os pensamentos das pessoas eram diferentes e aleatórios, além de sua vista doer ao ser capaz de enxergar tantas cores juntas, algumas se misturando nos grandes grupos de amigos.

As cores que mais se destacavam, porém, eram vermelho, verde escuro, amarelo brilhante e preto. Nada que realmente surpreendesse Michael, o loiro sabia muito bem como as pessoas daquele local eram tóxicas.

O volume dos pensamentos alheios foi aumentando e aumentando até um ponto em que Michael quase correu para chegar na sala, dez minutos mais cedo do que deveria. Por algum motivo, tudo estava mais alto naquele dia e o colorido queria gritar de desespero, não apenas pelo barulho em sua cabeça, mas pelo conteúdo dele.

Era tanta falsidade, tanto ciúmes, inveja, tanta crueldade. Como as pessoas podiam ser daquele jeito?

Sentou-se em qualquer uma das bancas, pôs a mochila sobre a mesa e deitou a cabeça na mesma, vestindo o capuz para tentar bloquear o máximo de sons possíveis. Sua mente viajou por tudo o que conseguia pensar; Alfred, seus poucos amigos que veria no dia seguinte, a ideia para um jogo online que havia tido semana passada mas que não estava com cabeça para evoluí-la até então.

Levantou a cabeça, no entanto, confuso quando tudo ficou silencioso, apenas o som de algumas pessoas conversando no corredor podendo ser ouvido. Mike ficou realmente assustado; no sábado ele havia deixado de ouvir o pensamento de uma única pessoa, agora, porém, ele deixara de ouvir o pensamento de cerca de três mil estudantes e professores.

Seus olhos arderem e ele não soube dizer se era por puro alívio ou agonia, insano para saber que porra estava acontecendo. Sentia que estava enlouquecendo aos poucos e não podia fazer nada para conter aquilo, apenas sentaria dentro de sua própria cabeça e veria tudo pegar fogo.

Em um mês ele estaria em um hospício, talvez.

Deslizou as mãos pelo rosto, as arrastando até o cabelo, puxando os fios com certa força quando sentiu a primeira lágrima escorrer. Era impossível descrever a agonia que ele sentia no momento; queria berrar, gritar com todas as suas forças até perder a voz.

Exausto de tudo si mesmo, voltou a descansar o rosto sobre a bolsa, chorando silenciosamente enquanto ouvia a porta ser aberta algumas vezes, as vozes dos estudantes indicando que a sala estava começando a lotar.

As vozes, não os pensamentos.

Porra.

Vinte minutos foram o suficiente para que Michael se acalmasse, parasse de chorar e finalmente levantasse o rosto. Ainda não escutava pensamento algum e o professor já estava falando há um bom tempo, sem ter capturado a atenção de Mike até então.

Tudo bem, Mike, você vai ficar bem. Só preste atenção na aula, você precisa se sair bem nas provas dessa matéria, foi o que Michael pensou.

Mas é claro que as coisas não acabariam tão simplesmente naquela manhã.

Nada nunca acabaria de forma simples na vida de Michael Clifford.

E foi por isso que ele precisou respirar fundo ao sentir um olhar queimando em suas costas, virando a cabeça superficialmente apenas para confirmar o óbvio.

O rapaz loiro sem aura, Luke Hemmings, estava atrás de si.

Em pé.

E ninguém parecia notar a presença dele.



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