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História Entre as Cortinas (Dramione) - Pequenos Passos


Escrita por: helena_24

Notas do Autor


Oi gente, tudo certo? Queria pedir desculpas pelo atraso. Semana passada foi minha formatura e as coisas se enrolaram um pouco. Provavelmente passarei a postar às segundas feiras, ok? Isso porquê estou trabalhando e meu dia livre em geral é segunda.
MUITO obrigada por todas as visualizações, favoritações e comentários, como sempre digo: nunca imaginei que essa fic pudesse agradar alguém.

Aí vai mais um capítulo <3

Capítulo 5 - Pequenos Passos


 A casa de Harry era curiosamente familiar. Hermione sentia como se já houvesse estado ali, ainda que soubesse que nunca esteve. No entanto a sensação persistia e se aprofundava: os vincos no piso de madeira eram familiares, o cheiro de café preto misturado com mofo era familiar, os galhos das árvores que se enroscavam na janela do quarto de Hermione eram ridiculamente familiares. Em um momento de lucidez, ao longo daquela manhã, Hermione percebeu: a casa era familiar porque era a casa de Harry. Nada no mundo era mais familiar para ela do que o menino que sobreviveu. Ele foi o que lhe restou.

Hermione ainda estava deitada em sua cama quando finalmente entendeu o enigma da familiaridade. Virou-se para a direita, apoiando a cabeça em um dos braços magros, observou a janela até aonde sua visão alcançava. Fazia frio, na noite anterior havia nevado e agora ventava e tudo estava cinza. Seus dias prediletos eram assim: frios, cinzas e pouco convidativos. Alguém poderia supor que todas as suas perdas haviam alterado seu gosto climático, tornado o mesmo soturno e melancólico. Mas Hermione se lembrava muito bem: desde sempre gostará de dias frios, de tempos cinzas. Ponderou que sempre fora melancólica, agora só haviam mais motivos para o ser.

Ouviu duas tímidas batidas na porta e em seguida a voz de Harry soou.

 

- Posso entrar?

 

- Claro, Harry. - A garota se endireitou na cama, se sentando em seguida e passando a mão pelos cabelos. Não tinha a mínima noção de como eles estavam, não havia ainda se levantado. Harry caminhou até ela sorrindo largo, nas mãos trazia duas grossas xícaras que Hermione adivinhou serem de chá, o rapaz se sentou na cama e ofereceu uma delas para a ainda sonolenta amiga.

 

- Bom dia, dormiu bem?

 

- Sim, acredita que dormi a noite toda? Sem pesadelos. - Hermione bebericou o chá para logo em seguida fazer uma careta de desgosto. - Eu odeio canela, Harry Potter. - Riram da forma mais cúmplice possível, ele sabia que ela odiava canela. Ela sabia que ele sabia. Nada no mundo poderia ser mais familiar.

 

Naquela manhã completava uma semana em que eles compartilhavam a mesma casa. Não foi difícil se habituarem um com a presença do outro, o hábito já havia sido construído ao longo da guerra e todos os anos na escola de Hogwarts. No entanto, Harry teve de rapidamente se habituar ao que Hermione havia se tornado: se antes de todas as tragédias ela já era relativamente quieta e fechada, os traumas da morte de seus pais e a depressão haviam tornado-a um ser introvertido e de difícil alcance. Sempre parecia que a garota estava escondendo o que de fato sentia ou pensava. Ela jamais se abria por completo e Harry desconfiava que não o fazia pois não tinha certeza se Hermione seria capaz de se recompor caso deixasse tudo vir a tona. Era como sempre estar a espreita, sempre estar prestes a pisar em ovos. Um suspiro e tudo poderia ir para o espaço.

Mas havia momentos bons: quando ela sorria, ainda que melancolicamente, era um alívio. Havia algo ali a ser salvo ainda. Nos dias menos frios, a garota caminhava pelo vasto gramado da recém adquirida propriedade de Harry, depois de algumas voltas, se sentava entre as grossas raízes de um velho salgueiro e lia romances trouxas por horas a fio. Quando o amigo a encontrava assim, se se esforçasse bastante, era quase capaz de jurar que Hermione seria capaz de se recuperar. Mas então quando a noite caía, geralmente acompanhada por uma garoa fina e persistente, ele podia ouvir o choro da garota, abafado por travesseiros, em uma tentativa inútil de não preocupar ainda mais seu amigo. Alguns dias eram demasiadamente mais difíceis e longos que outros, não haveria de ser de outra maneira.

Hermione estava tentando. Resistia ao ímpeto de cavar alguma espécie de buraco no jardim e nunca mais sair. Seu esforço despontava os primeiros resultados: dormia melhor, sentia fome, conseguia se concentrar naquilo que lia. As noites eram sempre difíceis, entre lembranças e choros doloridos que pareciam as vezes lhe rasgar a garganta afim de sair livremente, ela adormecia em um sono sem sonhos. Hermione nunca sonhava, mas também não tinha pesadelos. Não se lembrava qual fora a última vez em que sonhou algo bom ou ruim. Suspeitava que as poções antidepressivas tinham alguma relação com isso.

 

- Eu vou até o mercado, tenho de comprar algumas coisas. Você me acompanha? - Harry se levantou, ajeitando a camisa enquanto caminhava até a janela.

 

- Eu prefiro ficar. Sabe que hoje me deu vontade de preparar um bolo?

 

- Hermione eu preferia... - O rapaz preferia que Hermione o acompanhasse. Não apenas porque se sentia melhor quando seus olhos podiam acompanhar de perto o que sua amiga fazia ou se estava bem, mas principalmente porque os médicos recomendaram que ela não ficasse sozinha e naquele dia em especial Gina, ou qualquer outro Wesley, não poderia estar lá para compensar sua ausência. Mas o garoto que sobreviveu não pode completar sua frase, interrompido com brusquidão e dureza.

 

- Harry, você não me encontrará morta quando voltar. - Riu sem graça, enquanto aquecia as mãos com a xícara de chá quente.

 

- Não é isso que quis dizer, Mione...

 

- Foi sim e eu compreendo. Mas estou garantindo: estarei viva quando chegar, com bolo pronto e tudo. - Dessa vez Harry foi quem riu. Seria cedo demais para um voto de confiança? Ponderou que provavelmente sim. Mas já havia invadido os desejos e vontades de Hermione das mais variadas formas, não queria agora ter de decidir quando ela sairia de casa para acompanhá-lo ou não. Mais do que tudo Harry se sentia cansado, caminhar até a vila e comprar produtos aleatórios, era antes de tudo uma espécie de válvula de escape momentâneo. Desejava abstrair por algumas horas de toda a tensão que aquela situação produzia e de todos os cuidados que a amiga exigia, sabia que a culpa não era de ninguém, mas ele próprio estava em seu limite. Com um sorriso doce nos lábios ele se aproximou de Hermione, beijou sua testa e se encaminhou para a saída da propriedade.

 

_______________________

 

O bolo era de laranja. Hermione agora provava a calda e seu paladar lhe dizia que a mesma precisava de mais açúcar. Estava orgulhosa de si mesma: naquele dia havia se levantado, tomado banho e lavado os cabelos, o shampoo foi comprado por Gina como uma forma de incentivo e cheirava à camomila. Depois Hermione vestiu um velho suéter caramelo e calça de nylon, velhas meias listradas nos pés descalços que sentiam o gélido do chão de madeira. Logo se aqueceu: o forno preencheu toda a cozinha com calor e perfume. O cheiro de menta se misturava ao de laranja pois a moça também preparava um chá, com pequenas folhas colhidas na parte traseira da casa, utilizada por Harry como uma horta improvisada. O chá desta vez não teria canela.

Pequenos afazeres. Minúsculos passos. Hermione se orgulhava de coisas que antes eram cotidianas. Para vencer o monstro que a corroía dia sim dia não era necessário se envaidecer de miudezas: levantar, ter fome, caminhar. Isso significava não apenas que estava viva mas que possuía pequenos propósitos. Sorriu ao perceber que seu bolo estava pronto, calda também, poderia comê-lo lendo algum livro da crescente biblioteca que idealizava construir na casa de Harry. No entanto, antes que pudesse resgatar o livro que se encontrava no andar superior, ouviu duas batidas na porta. Foi até lá e a abriu.

 

- O que faz aqui?

 

- Me pediram para trazer os ingredientes de suas poções medicinais. - Era ele. Se apoiava no batente da porta, encarando Hermione como quem a desafiava para um duelo. Estava molhado, o que poderia significar que caminhou uma boa parcela do caminho. “Por que diabos esse idiota não aparatou?” A garota pensou, para logo depois ignorar sua crescente curiosidade. Draco ainda a encarava como quem esperava por algo. - Vai pegar as sacolas ou não, Granger?

 

- Entra de uma vez. - Hermione abriu espaço para que o rapaz passasse. Depois se encaminhou para a poltrona mais próxima, o olhando de soslaio. Draco repousou as duas sacolas de papel que trazia consigo em um aparador ao lado da porta. Depois se permitiu observar rapidamente a casa, achando tudo muito modesto e de mal gosto. “Sujeitinhos ridículos”. Se apoiou em uma mesa ao lado de Hermione avaliando a aparência da mesma e constatando uma notável melhora de sua saúde. A casa cheirava a laranjas, no entanto, o aroma de camomila que exalava da garota, ele percebeu, era crescente e forte. Era também curiosamente bom.

De repente Hermione se sentiu desconfortável em suas roupas, se envergonhava de seu desleixo e pouca vaidade. Os cabelos ainda molhados aos poucos ganhavam volume e uma das meias tinha um furo relativamente grande no dedão, notou. Suspirou incomodada com a constância dos olhos de Malfoy em cima de si.

 

- Serei breve, Granger. Como você se sente? - Draco desviou os olhos para uma janela, percebendo que a casa se encontrava no meio do nada, cercada por árvores. Subitamente quis aquela casa para si, se afastar, viver recluso. Desaparecer.

 

- Não é da sua conta... - respondeu de prontidão. Uma espécie de resposta ensaiada, repetida ao longo dos anos em situações onde ambos travaram diálogos. Depois suspirou mais uma vez. Havia prometido para si. Prometido para Harry. Se lembrou da conversa que teve com o amigo e da descoberta sobre os pais de Malfoy. Lembrou que naquela noite chorou e poderia jurar que algumas lágrimas foram destinadas ao pesar de Draco passar pela mesma perda que ela, sentiu também vergonha de ter desejado coisas ruins para ele. E prometeu, prometeu que tentaria. - Me desculpa Malfoy. Sei que está fazendo seu trabalho.

 

O pedido de desculpas queria abarcar muitas outras coisas, no fundo Hermione queria apenas dizer que sentia muito que ele também tivesse perdido os pais, queria dizer que sabia que nenhuma condolência seria suficiente.

 

- Tanto faz, responde as drogas das perguntas para eu dar o fora daqui. - Ele jamais admitiria, mas o pedido de desculpas o pegou desprevenido. Quando Draco Malfoy se sentia desprevenido sua única reação era o cinismo, rudeza e, na pior das hipóteses, violência. Hermione suspirou mais uma vez.

 

- Você quer bolo? - A pergunta não foi doce ou simpática, ainda assim sinalizava uma trégua. De repente Draco percebeu: ela sabia. Talvez ela não soubesse enquanto estava no hospital, mas agora era claro que sabia. E essa repentina mudança só poderia ser fruto disso. Harry Potter ou qualquer outro abriu a boca, provavelmente comemorando que os Malfoy finalmente pagaram por sua parcela de culpa. Pensamentos como este rondavam a cabeça do rapaz, deixando-o imediatamente cego.

 

- Eu não preciso da porra da sua pena Granger. Guarde ela para você ou então enfie aonde quiser. - Draco saiu pela mesma porta que entrou, sem relatório da paciente, sem ensinar as poções, sem saber muito bem para onde iria, quem ou o que seria capaz de refrear aquela onda de sentimentos amargos que o invadiam. Passos largos, uma porta abrindo e fechando com violência, e ele já se encontrava fora da casa. Deixou para trás uma Hermione conformada: algumas coisas nunca haveriam de mudar.  


Notas Finais


Bom gente, é isso! Queria falar três coisas: sei que tem muita fic em que no quinto capítulo o relacionamento dramione já se desenvolveu. Eu realmente não conseguirei fazer isso. Tudo comigo é muito lento e exige muito desenvolvimento, espero que compreendam e que ainda assim consigam gostar da fic :[

A segunda coisa é que estou escrevendo sobre a experiência de ter/ultrapassar um quadro de depressão através de minha experiência pessoal, sei que tem várias formas de sentir, mas infelizmente a gente sempre fala através da nossa experiência né?

Por fim, todo esse capítulo foi escrito enquanto ouvia repetidas vezes a música Youth da banda Daughter. Essa música me lembra demais esse casal e o desenvolvimento do relacionamento entre Hermione e Draco. Me digam quais músicas vocês sempre se lembram de dramione, se quiserem. E comentem, é tão bom saber o que estão achando!

Beijinhos <3


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