História Entre Dois Mundos - Primeira Semana

Eu ainda não consegui falar com ninguém sobre o que aconteceu. Sempre que tento, é como se tivesse uma pedra na minha garganta, que me impede de falar. Talvez seja melhor eu manter isso pra mim mesma. 

Prendo meu cabelo num coque alto e visto meu pijama de mangas longas, até por que é inverno e está frio. 

Me viro e dou de cara com o corredor do segundo andar, escuro e frio. Todo mundo já está dormindo. Estou sozinha. Aqui está mais assustador do que o normal. 

Respiro fundo. 

Apago a luz e corro para meu quarto, acendo a luz e fecho a porta. 

Ok. Estou bem. Viva. 

Ridículo fazer isso, eu sei. Mas ando com tanto medo. 

Meu quarto não está menos assustador. Até tenho dúvida se eu deixo a porta fechada ou aberta: para algo sair ou para eu sair. Mas e se algo entrar?

Desligo meu computador e me recuso a olhar o reflexo do monitor.

Apago a luz e corro para minha cama, que fica de frente para a porta. 

Cubro até meu pescoço, tremendo de frio e de medo e aos poucos me aquecendo e ficando mais relaxada.

Mas virada para a parede.

Está frio. Muito. Frio. 

Neve... e só uma fogueira pequena para me esquentar.

Tudo está destruído em minha volta. 

Eu não devia estar aqui. Algo... algo não está certo. 

Tem uma sombra. Se aproximando de mim. 

Me levanto, com medo, mas com segurança.

É uma garota. A cada passo fica mais claro.

Não é qualquer garota. Eu conheço... sou eu.

- Como...? - Digo, gaguejando.

- Não há tempo para conversa. Você está atrasada. 

- Atrasada?

- Era para você ter chegado anos atrás... espera. Quantos anos você tem? - Há confusão em seus olhos.

- 12.

- O quê? Não. Como? Era para você já ter uns 18 anos. Você é muito criança.

- Do que você tá falando?

- Nós podemos esperar mais um tempo. Mas ele vai ir atrás de você. Você precisa me encontrar!

A neve começa a derreter em volta de nós duas e ela desenha um símbolo em minha mão.

Tudo muda. Estou em meu quarto, mas... me vejo. Deitada, em minha cama. Estou no teto. Me observando.

E a porta... está aberta. Ainda é madrugada, ninguém veio no meu quarto.

E está pesado. O lugar, é como se... pesasse em meu peito.

Acordo num pulo. Pego meu celular e vejo a hora: 6 e meia.

Volto a deitar, mas não quero (e não acho que consigo) dormir.

Sinto uma sensação estranha em minha mão, como um formigamento. Olho, mas não tem nada.

Foi só um sonho, Lorena.

Me viro para o lado. E a porta está aberta.

- Tive um sonho estranho hoje. - Me sento à mesa, enquanto minha mãe está na cozinha.

- É?

- Eu estava me olhando dormir. De cima, sabe? Como se fosse uma camêra. Fiquei muito tempo tendo esse sonho. Na verdade... eu já sonho com isso faz 3 dias.

- Não se preocupe filha, é só um sonho.

- Mas é sempre o mesmo. E é tão... real.

- Então pode ser uma viagem astral. Sua alma saiu do seu corpo.

- E ficou parada lá? Me olhando?

- Acho que sim.

- Hum...

- Boa noite, pai.

Ele dá um beijo em minha testa. - Bons sonhos.

Ele sai do quarto e fecha a porta, e a escuridão toma conta do quarto novamente, como todos os outros dias. Quem sabe hoje eu não sonho com isso.

Me cubro até o pescoço e viro para a parede.

E está frio.