Está tudo azul e branco. Eu morri? Esse é o céu? Tento me mexer, mas estou presa. Uma fumaça branca está aos poucos se mostrando, mas acho que ela está saindo, pois está desaparecendo.
Ftchiuuuuu
Um barulho estranho, e a porta se abre, junto com uma tela e uma mulher, que sei que é Solveig.
- Oi, estranha... - A mulher ri tristemente. - Ainda não sei quem você é, mas estou aqui para te dizer o básico. Meu nome é Solveig Stomp, e você está em meu corpo. Se eu for te explicar tudo, o vídeo vai ficar muito longo e eu tenho menos de 2 minutos, então te dou essa simples missão: encontre a sala de comando e ative a Sjel 3. Conto com você. - Ela desliga a câmera e o vídeo muda, agora com apenas uma voz robótica junto com uma tela azul, com o símbolo da Fri Sjel. - Recarregando o dispostivo. - Sinto um forte apito em meu ouvido. - Conectando.
Na tela, que agora está mais perto de mim, aparece a opção: reativar coordenação motora?
Sim.
Uma barrinha começa a ser preenchida na tela, enquanto meu corpo inteiro estremece. As amarras se soltam e eu ponho o pé para fora.
A mesma voz robótica fala, mas dessa vez, dentro de minha mente:
"Doutora Solveig, você hibernou por 51 anos, um ano a mais do que o esperado."
Qual é a data de hoje?
"Estamos em 23 de Dezembro de 2152."
Começo a andar, um pouco rápido, pelo susto psicológico e caio no chão.
"Ande mais devagar até seu corpo se acostumar. Você ficou 51 anos paralisada."
- Obrigada por avisar. - Sussurro, me levantando.
Então eu olho em volta. Milhares de cápsulas, iguais a minha. Cada uma com uma pessoa dentro. Homens, mulheres e crianças. Chego perto de uma e vejo o número 48. 48 anos?
Mas por que eles estão todos criogenados? Afinal, onde eu estou?
Por que você não libera suas memórias, Solveig?
Andei por toda a sala (e é enorme), mas não encontrei nada além de pessoas congeladas e portas trancadas. Não aguento mais andar, é quase como se minhas pernas não respondessem. Me sento no chão e fico olhando as pessoas. É dificil de andar pelo escuro, sendo guiada apenas pelas luzes das cápsulas e...
Ei. Aquela cápsula tá vazia. Vou até ela e dentro tem um nome: Mikaela Henz.
Henz? Que coincidência.
Por que ela não está aqui? Será que ela acordou também? Se sim, então ela descobriu como sair daqui!
Me encho de esperança e começo a correr, até dar de cara com uma porta.
Abrir, penso.
E ela abre!
Uma luz piscando se acende na sala seguinte, dando lugar a uma onda de medo. Está calor aqui, mas não a ponto de suar e querer ficar embaixo de uma piscina. Agradável, eu diria.
Dou um passo e a porta se fecha atrás de mim. Não há muito nessa sala, apenas sofás. Muitos. Sofás. E num cantinho, umas mesinhas e cadeirinhas, cheias de papéis e canetinhas. Me aproximo e começo a mexer, qualquer informação é útil, mesmo que escrita pelas palavras de uma criança.
Mas não encontrei nada além de desenhos mal pintados e marcados com dedinhos melados.
Há duas portas, uma escrita "Ala médica" e outra, no fim do corredor, que não consigo ler. Vou até a mais próxima e tento abrir, mas nada acontece.
Sinto uma coisa estranha. Como se eu não devesse abrir. Uma sensação horrível. Olho pela janelinha, mas não vejo nada. Apenas escuridão e uma luz longe, indicando que tem outra porta. A luz se apaga por meio segundo, como se alguém tivesse passado na frente dela. Me arrepio toda e me afasto.
Não sei se quero continuar nesse lugar.
"Bom dia, Doutora Solveig. São 6:30 da manhã."
Acordo deitada num dos sofás. Eu estava tão cansada que não conseguia mais andar.
Mas me levanto extremamente desperta e feliz. Tá, talvez não tão feliz.
É meio deprimente, está tudo do jeito como fui dormir. Sem luz do sol, sem uma brisa pela manhã, sem passáros cantando. Apenas luzes piscando e cores mortas.
Volto a me movimentar, indo em direção a porta do corredor. Na placa está escrito "Hall".
Abrir.
"Você tem certeza? Nível de energia de 79%."
- Energia...? - Tipo, luz?
Sim.
A porta se abre. Não há mudança de temperatura ou de luminosidade, mas está uma energia sensitiva estranha. Quase como o que eu senti na Ala Médica, mas muito mais fraco.
Nesse Hall tem mais sofás, mesas, mas tem o que mais me chamou atenção: Comida. Um grande compartimento, escrito "ALIMENTOS".
Vou até ele, só agora que percebo o quão faminta estou. Aperto um único botão.
"Quantidade?"
Hmm...
5.
E então... a coisa mais broxante que já vi: 5 pacotinhos pequenos saem de dento da máquina, junto com uma garrafinha de água.
Vejo uma sombra passar pelo meu campo de visão e me jogo no chão. O que foi isso?
Logo escuto passos, vindo em minha direção. Os passos são vazios, inexplicáveis. Como se fosse o movimento dele que fizesse barulho e não o bater de pés. Me guio pelo som. Conforme vai passando pela frente do compartimento, vou andando por trás do mesmo, de modo que não fosse vista.
Engatinho até a porta mais perto, que está aberta, e quando passo por ela, começo a correr. Vou passando por diversas portas, que não abrem, e sinto algo vindo atrás de mim. Os passos me seguindo.
"Aquela na direita, 237!".
Ouço uma voz em minha cabeça e faço o que ela manda.
237, Abrir.
Paro na frente dela e consigo ver uma sombra se aproximando.
237, ABRIR!
Nada. Está mais perto.
ABRIR!
Me concentro na porta e ela abre, entro rapidamente e ela se fecha atrás de mim.
Os passos param e posso ver pela janelinha meu perseguidor: Haul.
É daqui que ele é. Nesse lugar, nessa vida, não sei muito bem o que é isso...
Ele pode me pegar.
Consigo ouvir sua respiração através da porta. Então ele levanta a "mão" e vejo seus dedos: Quatro garras imensas, batendo contra a janela, não para quebrar... mas para me lembrar.
Olho para minha perna num impulso instintivo, mas esse não é meu corpo.
Foi ele que quase arrancou meu pé.
Olhar para ele agora me trás lágrimas: a realidade e os sonhos, se juntam e começam, aos poucos, a fazer sentido.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.