História Entre ElaEles: Um segredo - Capítulo 01 - 12h00Min Daquela Sexta-Feira

— (...) No fim da aula, deixarei a lista dos alunos que considero inteiramente capazes para monitorar aulas extras até o fim do verão. Aqueles que realmente estiverem precisando, devem iniciar a monitoria. – A professora Nora manifestava sua animação com a brilhante ideia. – É o novo projeto estudantil que o diretor Bang-Ssi está promovendo. Vamos todos colaborar!

            Para ser honesta, ser obrigada a participar de aulas extras para promover interações entre os alunos, não era nada divertido como ela parecia fazer ser. O reitor Bang-Ssi deve está bastante desesperado por prestígio em redes escolares.

            Esperava imensamente não está nesta lista. Minhas notas era boas o suficientes, mas não acreditava que pudesse está mesmo na lista daquela professora. E não era como se eu não fosse notada por ela. Muito pelo contrário.

            Por outro lado, tínhamos o Jeon Jungkook. Sempre o primeiro da classe e quase sempre, melhor em tudo. Tirando Cálculos. Porque, por incrível que pareça, o 4D era realmente muito bom nessa matéria.

 - (...) Não acredito que vou perder tempo tendo aulas extras. – Ouvi Jimin comentar os cochichos com Jungkook, que ria.

— Os testes vocacionais serão realizados no fim do ano. É importante termos mais conhecimentos. – O moreno disse, ainda rindo.

— Você ta parecendo Namjoo! – Jimin ralhou, revirando os olhos.

            Dei um mínimo sorriso. Eles estava completamente certo. Namjoo, como monitor do terceiro ano e chefe dos monitores, estava sempre repetindo essas mesmas palavras durante todos os eventos. Todos já estavam acostumados com o discurso repetitivo.

— Eu estou com dificuldade em literatura. – Ouvi 4D cochichar para os amigos. – Espero que tenha tempo livre para mim, Kookie. – Sugeriu.

— Vou anotar. – O moreno riu, fazendo ares de negação.

            Minha atenção foi interrompido com o sinal do intervalo. E a lista já estava presa no quadro branco. Não me dei ao trabalho de olhar. Continuei no fundo da sala, esperando que todos saísse para fazer minha própria refeição. Ali mesmo e sozinha.

            Enquanto retirava a refeição da minha mochila, percebendo que todos já estavam de saída, me assustei com uma tossidela ao meu lado.

            Nem bem me virei para saber de quem se tratava, fui praticamente encurralada em minha própria carteira.

— Oi! – A voz rouca e grave de Taehyung inibiu a minha respiração. Nem preciso dizer que meus olhos ardiam com a aproximação repentina.

— O-o que você ta fazendo? – Gaguejei, surpresa. Ele sorriu, se desculpando ao se afastar um pouco. Continuava calado. Bufei. – O que quer?

            Não lembra mais quando comecei a me sentir tão mal-humorada, a ponto de parecer mal-educada. Mas com Taehyung, havia um motivo bem mais significativo. Ele podia ser uma verdadeira ameaça ambulante se soubesse...

— Porque sempre almoça sozinha aqui na sala? – Perguntou ele, ignorando completamente a minha pergunta. Como se fizéssemos isso a anos. Suspirei.

— Porque quer saber? – Coloquei de volta a refeição na bolsa, pronta para sair dali o quanto antes.

— Desculpa se te assustei, é que eu estava curioso sobre você. – Disse por fim e o encarei, confusa.

— Curioso...? – Ergui a sobrancelha, quase em deboche. – Sobre mim?

— É – Sorriu. – Você está sempre andando por aí, sozinha. Na verdade, não é a primeira vez que percebo isso. – Ele alargou ainda mais o sorriso, e muito provavelmente, pelo motivo de que eu estava corada. Podia sentir. – Aluna especial...

— Não sei do que está falando. – Pensei em tentar sair da sala, mas ele me impediu.

            Eu não queria ter que lembrar deste apelido. Deste antigo apelido.

— Eu não sou louco, eu sei... – Ele fez um ar pensativo. – Bom, talvez eu seja um pouco louco, mas desta vez eu sei o que eu... – Não esperei que finalizasse a frase. Consegui desviar o caminho saí daquela sala, sem antes ouvir. – Não pode se esconder pra sempre!

            Eu poderia esperar tudo de Taehyung. Mas, pela primeira vez, estava com medo do significado daquele alerta final. O que ele queria dizer com isso?

            Coisas assim, só contribuíam ainda mais para a minha desconfiança e meu afastamento. Ele saberia sobre mim? Teria tido algum conhecimento de quem eu sou?  

            Era irônico ser Taehyung, novamente, o primeiro a conversar comigo. Ele sempre estava lá, e ainda sim, era como se não estivesse. Não fez diferença, e não faria agora. Ele era o 4D, não tinha porque me preocupar.. tinha?

            Na verdade, eu tinha sim!

            Caminhei em passos largos até a sala de música. Aquela hora, não haveria ninguém utilizando a sala. Um esconderijo perfeito, tendo em vista as grossas paredes anti-ruídos.

— Não acredito que ele disse isso. – Iniciei um monólogo. Como se fosse a coisa mais normal do mundo. – O que eu poderia esperar?

            Analisei minha situação e suspirei em um daqueles bancos de madeira extenso. Eu estava falando sozinha. Resmungando, pra ser mais sincera. Estava me escondendo em uma sala de música com Anti-ruídos, na hora da refeição.

            Até meus pensamentos produziam ecos naquela sala. Era quase uma trilha sonora de uma filme dramático.

            Suspirei.

— Eu preciso de ajuda... – Soltei essa frase, antes de ouvir alguns passos próximo a mim.

— Na verdade, acho que eu preciso de mais ajuda do que você. – Me assustei com aquela voz aguda e suave, quase ao meu lado. O quanto eu ando distraída a ponto de nem mesmo perceber essas aproximações? Estava perdendo minha habilidades de observação. – Te assustei?

            Park Jimin ergueu a sobrancelha. Tinhas as mãos para trás e um sorriso divertido no rosto. Eu poderia entender facilmente porque May está sempre suspirando a cada passo do platinado.

— A May suspirar por mim é o motivo de você precisar de ajuda? – Jimin tinha a expressão confusa em seu rosto, e odiei o fato de ter pensado alto novamente. Porque eu não tinha filtro na boca?

            Acho que lembrei um outro motivo para me afastar das pessoas.

— O que quer? – Pensei em ignorar o diálogo. Jimin estava me saindo igual ao 4D. Já era o segundo a conversar comigo neste mesmo dia.O que era irônico, mais uma vez.  

— Eu preciso de ajuda com cálculos. Vi o seu nome na lista da professora Nora. Na verdade, você e Jungkook estão bem em destaque, sempre. – Disse, com um sorriso meigo.

            Desconfiei que estivesse fazendo alguma piada com isso, mas ignorei. Eu ainda não sabia o que dizer. Não esperava que Park Jimin estivesse interessado em pedir minha ajuda. Onde eu sempre deixava tão claro o meu afastamento.

            Afinal, Jungkook era o seu melhor amigo, não era? E Taehyung era muito melhor em calculo do que eu.

— Olha, não sei de onde tirou a ideia de que eu posso ser útil. – Voltei a recolocar a refeição em minha bolsa. – Jungkook é muito bom em tudo, e Taehyung é o melhor da classe em cálculos. – Dei de ombros. – São seus amigos, não são?

— Sim, claro, mas aparentemente, apenas vocês dois estão na lista. Kookie e você. – Jimin deu de ombros.

            Estava bem claro, pra mim, que ele não havia me escolhido como primeira opção, e eu não estava surpresa por isso. Pelo menos ele não parecia está se aproveitando de algo.

— Sabe o que é estranho? A maioria nem sequer chegou a cogitar você como uma opção. Quer dizer... Você está sempre lá, não é? Sempre teve uma das melhores notas. Mas nunca interage... – Jimin parecia recordar.  

— O que quer dizer com isso? – Perguntei, curiosa, o interrompendo.

— Que eu ficaria feliz se fosse minha monitora em cálculos. – Sorriu ainda mais,desconversando. – Eu sei que Kookie é muito sobrecarregado com atividades extras. Então não vai me ajudar muito.

— Porque não faz que nem a maioria e procura alunos de anos avançados? Você também tem amigos por lá, não é? – Tentava argumentar. Na realidade, eu estava com medo de continuar aquela interação. Jamais fui boa em fazer amizade, e não era como se a partir daqui, eu e Jimin fossemos trocar números e confidências. Isso não era uma possibilidade.

— Taehyung estava certo.. – Jimin soltou um riso anasalado. – Você parece ser bem difícil.

            Por alguma razão, aquele comentário me deixou irritada. Ofendida. “O que ele pensa que está fazendo? Se estiverem de alguma brincadeira idiota, eu não respondo por meus atos.”

— Posso lhe assegurar que não estou de joguinho nenhum. – Cruzou as mãos em desculpa. – Foi um comentário infeliz. – Mais uma vez, me recriminei por ter pensado em voz alta.

— Procure seus amigos. – Era pra ser minha última palavra antes de sair. Mas Jimin me impediu.

— Por favor, Jiwoo – Tocou em meu braço, mas percebeu que não seria uma boa ideia. – Eu realmente preciso de ajuda. Prometo que será apenas isso. – Fez expressão de piedade.

            Eu poderia achar graça naquela cena, se não estivesse acontecendo comigo. Ponderei sobre o seu pedido. De um jeito ou de outro, eu ainda estava naquela bendita lista da professora Nora, e eu não poderia ignorar essa “obrigação”. Quantos mais me pediriam ajuda? Assim ficaria difícil me manter longe.

— Está bem. – Suspirei. – Mas com uma condição. – Sugeri. Ele assentiu. – Nos falaremos apenas nas aulas extras. Além disso, nada de ficar me seguindo por aí ou tentar alguma coisa. Eu realmente quero continuar na minha. 

— Vai ser bem estranho isso... – Interrompi Jimin, que se calou.

— Prometa. – Pedi.

— Prometo.

— Ótimo! – Dei um meio sorriso. – Começaremos na próxima segundo, na biblioteca, durante a refeição. – Ele iria protestar novamente, mas não lhe dei tempo. Saí a passos largos, pronta para mais uma tentativa de comer. Eu estava realmente com fome.

            Decidi, por fim, que não havia outro ambiente tranquilo, se não a escadaria de emergência. Mas eu estava falando a do telhado, porque, muito provavelmente, a escadaria térrea estava ocupada por casais que iam contra a lei de relacionamentos do colégio. A lei não proibia namoro, é claro. Mas também não permitia que os casais andassem agarrados uns nos outros para todos os lado. Seria uma “agressão sexual” aos olhos do reitor e de todo o colégio.

            Sentei no topo da escadaria, e não hesitei em pegar meu precioso sanduíche de atum e inciar a mastigação, antes que alguma coisa atrapalhe, novamente.

            Comecei a pensar em tudo que tinha acontecido naquele mesmo dia. Como, da noite pro dia, o 4D resolveu vir falar comigo, e em seguida, influência Park Jimin a fazer o mesmo? Porque ele simplesmente não deixou pra lá, como vem fazendo com todas as atividades extras que o colégio vem divulgando para promover qualificação ao ensino? Ele nunca foi de começar algo e terminar mesmo - Exceto as aulas de teatro.

            O que teria mudado?

            Meus porquês foram interrompidos por uma som de canto. Isso mesmo. Alguém estava cantando, e eu nem mesmo estava perto da sala de música. Deduzi que o som vinha do próprio telhado.

            Parece que mais alguém estava se escondendo naquele dia.

            Me levantei um pouco, ainda com o alimento em mãos. Subi o degrau que faltava para caminhar um pouco até a grade que protegia de possíveis quedas, caso alguém decidisse andar por ali. Haviam muitos jarros de flores e variados modelos de plantas. Lembrei que o clube de jardinagem usava essa área para suas atividades.

            Caminhei muito lentamente, apenas o suficiente para notar a sombra do suposto cantor. Estava claro pra mim que era um homem. Um homem com uma das vozes mais belas que eu já tinha visto. Na tentativa de enxergar melhor por entre as folhes enormes de uma planta, acabei chutando o vaso que a mantinha, deixando cair no chão, e assustando quem quer que estivesse cantando.

            Droga! Eu tinha mesmo que sair dali. Por mais que a curiosidade falasse mais alto.

            Na tentativa de voltar para onde eu estava, ouvi alguém chamando, e fiquei surpresa por ser a voz e Jungkook.

— Jiwoo?!

— Me desculpa. – Falei, sem olhar para trás e continuando o meu caminho. Porém, os passos ficaram mais próximos, e notei que corria em minha direção, até empatar a minha passagem.

— Estava ouvindo todo esse tempo?! – A pergunta era um tanto quanto desesperada. Fiquei confusa.

— Na verdade, eu só estava procurando um lugar para ficar. – Tentei me esquivar dele, mas foi em vão.

— Não foi isso que perguntei. – Estava um pouco sério.

— Não se preocupe. Eu não falarei nada pra ninguém, porque não tem ninguém pra falar... – Ele parecia aliviado. – Sou a esquisita, lembra? – Argumentei, e ele corou por um instante, parecendo entender. Não me dei ao trabalho de continuar a explicação.

— Lembro. – Ele disse em um sussurro, e por mais que eu soubesse que tinha ido por escolha minha,  eu me sentia ofendida.

            Sem dizer mais nada, peguei a minha mochila e saí daquela escadaria. Eu não me importei de comer no caminho até a sala. O dia tinha sido completamente estranho e com bastante “estimulo desconfiativo”, se é que essa palavra existia.

            Depois que todos estavam acomodados em sala de aula, evitei olhar na direção dos três seres que tornaram meu dia completamente diferente. Por fim, tivemos a última aula vaga, e preferi passar o resto daquela hora enfurnada na biblioteca. Longe de tudo e todos.

            Não seria a primeira vez.  

            E mais uma vez, aquele pensamento: “O que teria mudado?”