História Entre ElaEles: Um segredo - Capítulo 07 - Pedidos e Confusões

Era um novo dia, e eu me sentia estranha parada em frente aos portões do colégio. A maioria dos alunos já haviam entrado. Eu apenas estava lá, distraída, pensativa. Lembrando do dia anterior, levei a mão ao quadril. Ainda estava dolorido, mas nada que gelo e gel não resolvesse. Felizmente, Sorah tinha habilidade com massagem.  

            Como pude me distraí tanto a ponto de esquecer de J-Hope e seus saltos animados?

            Além de perder a capacidade de ser invisível, ainda estava ganhando habilidades de como esbarrar, dolorosamente, com os populares. Sim.. dolorosamente não só pelos machucados físicos acometidos por Namjoo e Hoseok, mas de uma forma psicológica. Era torturante não conseguir confiar o suficiente para fazer essas novas “oportunidades”, se tornarem prazerosas.

            Acho que preciso conversar com a senhora Abby sobre tudo isso. Ela era a única que poderia me ajudar com toda essa confusão mental. E também, a única que poderia me convencer a ir para um psicólogo. Eu relutava, mesmo já tendo decidido ir.    

- Precisa de ajuda?

            Me assustei com a voz de Yoongi ao meu lado, parado, e me fitando. Parecia curioso.

- Yoongi.

            Ele sorriu, mais uma vez, me deixando completamente sem graça. Eu compreendia que o fato dele querer se aproximar, era atribuído ao envolvimento entre nossos pais. Contudo, eu precisava de um tempo para saber o quão confiável ele e a mãe eram, antes de pensar em prolongar essa interação repentina entre nos dois.  

– Eu preciso falar com você. – Ele sorriu, claramente satisfeito com alguma coisa. Preferi não perguntar o motivo.  

- Acho que sei o que é. – Disse ele, prepotente, como sempre o achei que fosse.

- Sabe, é? – Perguntei, prevendo que ele não sabia coisa nenhuma.

- Está preocupada com este final de semana na casa do lago do seu pai, e quer conversar sobre essa história de nossos pais juntos. - Soltou.

            Levei alguns segundos para processar o que acabou de dizer. Me dei conta de que Yoongi parecia bem mais desconfortável com isso do que eu. Para ser honesta, eu não estava nem mesmo lembrada disso. E não era como se eu realmente estivesse achando ruim. No fim das contas, seria apenas um dia esquisito, como todos esses últimos dias.

            Talvez ele precisasse conversar mais sobre esse assunto, do que eu. Suspirei. Além disso, depois de pensar bastante sobre o comportamento dele, concluí que estivesse fazendo isso a pedido a Sra. Min Yanna, é claro. Não teria outro motivo.  

- Posso perceber que esteja bastante preocupado com a ideia dos nossos pais juntos, e posso até adivinhar que não gosta nada de ter que dividir sua mãe. Além disso, posso imaginar que ela mesma tenha pedido para que se aproxime de mim. Porém, o que eu tenho pra falar é algo completamente diferente, mas não menos importante. – Cruzei os braços, e notei que havia desmanchado seu sorriso. Antes que ele pudesse interromper, continuei. – As coisas vão começar a mudar entre nossos pais, mas eu quero que saiba que nada entre nós dois vai mudar aqui dentro deste colégio. Você irá continuar a me ignorar e eu farei o mesmo em relação a você. Estamos entendidos, não é? – Sugeri – Preciso de tempo para me acostumar com essa ideia, e acho que você também. – Tentei não soar agressiva. Mas eu não sabia outra forma amena de dizer: “Fica longe de mim, por enquanto.”

            Sua expressão foi de surpreso para curioso, e depois surpreso de novo, em menos de um segundo. Assentiu com a cabeça, pensativo, e olhou para baixo antes de me encarar.

- Não acho que queira se afastar apenas porque precisa se acostumar. Essa não é bem a definição de “se acostumar.” – Disse, sarcástico.

            Ele tinha razão, é claro. Mas eu não esperava que entendesse a minha sugestão. Ele não entenderia.

- Pode concordar e simplesmente seguir seu caminho? – Pedi. Ele sorriu, como quem tinha acabado de descobrir algo.

- Tenho certeza que podemos achar um meio de se acostumar, sem precisarmos nos afastar. Além disso, prometi a minha mãe que cuidaria de você a partir de hoje. – Declarou, me deixando confusa e irritada.

- Você não tem esse direito! – Rebati.

- Vamos ser uma “família”. Mesmo não gostando muito da ideia da minha mãe se casando novamente, não posso ignorar o fato de que ela está feliz e que irei ganhar uma “irmazinha” nesse processo. Logo será minha obrigação cuidar de você. – Explicou.

- Não esperava que fosse se preocupar comigo. – Debochei. Ele pós as mãos no bolso da calça.

- Não estou. É uma obrigação, como falei. E me espere no fim das aulas, vou acompanhá-la até sua casa. – Dizendo isso, entrou no colégio, me deixando perplexa com sua teoria de laços familiares e sua ideia de me acompanhar até em casa.

            Respirei fundo. Eu não iria me preocupar com isso. Não iria surtar por isso. Yoongi não era o tipo que cuidava de alguém. Talvez tivesse dito isso apenas para cumprir a promessa da mãe. No fim das contas, não fará diferença alguma em minha vida. E eu esperava mesmo que não o fizesse. Além disso, seria fácil despistar ele até o fim das aulas. Porque eu não ia a pé pra casa. O motorista sempre me levou. E eu, com toda certeza, não vou dispensá-lo por causa de Yoongi.

            Decidi entrar no colégio, antes que o sinal tocasse. Não queria outra surpresa. Mas nem sempre a vida colaborava, não é mesmo?  

            Um vulto enorme e apressado quase pulou a minha frente, e com um susto, levei as mãos ao peito, na defensiva. Contudo, não foi a altura que havia me assustado, mas o enorme sorriso que se destacava no rosto do indivíduo. Eu queria correr, mas não seria nada educado, é claro, dada a situação do momento.

- Bom dia, Jiwoo!

            A voz arrastada de Hoseok, cantarolando aquele bom dia, era tão apavorante quanto o que eu sabia o que viria a seguir. As vezes eu desejava não saber tanto sobre o comportamento das pessoas. Principalmente o deles. A frustração vinha com antecipação.

- B-bom dia... – Consegui dizer, ainda me recuperando do susto. Não era, exatamente, um bom dia. Me dei conta de que ele havia dito meu nome.

- Me senti muito mal pelo que aconteceu ontem, entãooo... – Ele realmente estava prolongando aquele “então”. – Decidi que, esta semana, irei te ajudar com qualquer coisa que precisar. – Levantou as longas mãos a minha frente. – E vou começar te ajudando a carregar esta mochila e te levando até a sua sala.

            Não tive tempo algum para protestar. Porque ele puxou a mochila para si e pegou na minha mão, me levando corredor a dentro. Seria ainda mais constrangedor se tivesse alunos suficientes prestando atenção para logo se iniciar os boatos.

            O que ele pensa que está fazendo? Puxei a minha mão com cera impaciência.

- Hoseok! – Quase gritei seu nome. Ele me encarou, finalmente, ainda sorrindo. – Não precisa fazer isso! – Tentei pegar minha mochila de volta. Ele impediu.

- Eu insisto! – Voltou a pegar em minha mão. – Ou me sentirei mal pelo resto da minha vida.

            Eu não poderia, ou não conseguiria dizer mais nada. Era um tanto dramático da sua parte pensar tal coisa. O fato dele ter me derrubado ontem, sem querer, não dava o direito a ele de ficar me carregando para todos os lados como um cachorrinho na coleira. Ou, sua namorada recém oficializada. Porque era exatamente isso que parecia.

            Evitei olhar para qualquer lugar que não fosse a porta da minha sala.

            Quando finalizamos as passadas rápidas que mais pareciam uma eternidade, ele finalmente me entregou a mochila.

- Está entregue! – Sua expressão não mudou, desde então. O sorriso era mantido. Analisei a situação. A distância de onde estávamos para a minha sala, não daria nem dez passos. Isso tornava a situação ainda mais patética.

             Pensei em agradecer rápido e entrar, mas estava claro que ele tinha algo mais para falar.

 – No intervalo, virei te buscar para comermos juntos. – Disse, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Algo rotineiro.

- Sinceramente, não precisa disso. – Ajeitei a mochila nos ombros. -  Agradeço pela ajuda. – Pensei em entrar. Ele me barrou com o longo braço apoiado na entrada da sala.

- Ainda sim, virei para comermos juntos. – Afirmou, liberando o espaço antes de ir embora. Ele lembrava muito aqueles homens possessivos de filmes de terror. Confesso que o sorriso enorme colaborava bastante para essa imaginação fértil.

            Eu tinha que admitir... Ele era bem decidido.

            Chocada com a atitude nada conveniente, bufei. Entrei na sala, já ciente de que a cena não passou despercebida pela maioria. E por maioria, eu quis dizer, Jungkook, Tae e Jimin.

            “O que foi?” – Perguntei expressando apenas com o olhar, sem saber se teria intimidade o suficiente para isso. Deram de ombros, alheios as reações um do outro. Suspirei.

            O dia seria longo, pelo visto...

            E então me dei conta de mais uma coisa. O horário da refeição, era dedicado as aulas extras de monitoria com Jimin. O que seria um feliz motivo para não esbarrar em Hoseok, de novo.

            Finalmente alguma coisa nessa confusão toda, estava sendo útil.