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História Entre Medos e Temperos - Capítulo 2 - Decote


Escrita por: SonhosOcultos

Notas do Autor


Olá gente!
Quero que imaginem essa história acontecendo durante as gravações da 7ª temporada em 2020, porém num cenário que o coronavírus nunca existiu. Em 2019 o diretor do MasterChef foi substituído pela Marisa Mestiço e, não sei se todo mundo percebeu, mas a Paola mudou a forma de se vestir por completo, em vários momentos (mas, ainda assim, continua a usarem isso... como aquele vestido HORRORES DE LINDO vermelho aff maria). Isso me levou a pensar alguns aspectos que ela passou/passa em relação ao machismo que ela sofre, em algumas críticas direcionadas a ela, etc, e a forma como o próprio programa se utiliza da visibilidade dela para ganhar ibope. Enfim... resolvi deixar o Pato como diretor nessa história, porque dá mais coerência a forma como ela age e tudo se desenrola.
Sobre o "Gustavo" que aparece como namorado da Ana, vi que ela assumiu o relacionamento em junho de 2020, então tá bem atualizadíssimo, rs.

Boa leitura!

Capítulo 2 - Capítulo 2 - Decote


Capítulo 2  – Decote

 

Ele gostava de acordar cedo. Sempre muito perfumado, escolhia tons escuros para vestir. Orgulhoso de suas tatuagens, Henrique Fogaça deixou sua camisa social preta dobrada até os cotovelos, ajeitou a corrente pendurada na calça, as luvas sem dedos de couro e finalizou com uma jaqueta Peaky Blinders de tons riscados cinzas. Na sua moto, dirigiu-se ao estúdio da Band na manhã seguinte com bom humor, acreditando que aquele seria um ótimo dia, tinha certeza.

Entretanto, apesar da sensação de se sentir igualzinho ao Cillian Murphy e o jeito de bad boy combinar com seu estilo, imediatamente seu coração, empático e sincero, acelerou quando, ao caminhar no corredor dos camarins, escutou uma discussão.

E a razão do seu coração acelerar assim, é porque nunca havia ouvido Paola tão irritada daquela forma. Aproximou-se lentamente da porta aberta, segurando a alça da sua mochila carteiro, e percebeu rosnados em espanhol, seguido imediatamente de Patrício Diaz, o Pato, saindo do camarim com uma expressão irritada.

Com cautela, bateu na porta, vendo-a andando de um lado para o outro com a mão acariciando sua testa que latejava.

- Ei, argentina – ela o olhou com surpresa, mas tinha muita raiva no olhar, suavizando ao perceber que era Fogaça – Que que foi?

- Olha, eu te juro por Deos, que ten días que eu desejo ir embora e nunca mais voltar aqui!

Percebendo sua raiva e frustração, ele pediu licença e colocou sua mochila sobre uma das mesas, aproximando-se dela. Ao notar que Paola queria chorar – de raiva – abraçou-a com carinho.

- O que houve? Por que você tá assim? – ela se afastou com cautela, sempre negando a si mesma receber aquele carinho gratuito.

- Cê acredita que Pato veio conversar comigo sobre as minhas roupas?! Cê acredita nisso?!

- Como assim?

- Veio com um papinho de “o programa tem mais ibope” quando eu uso roupas decotadas. Que ele se reuniu com a equipe de marketing e analisaram a pontuação de cada episódio e perceberam o “incrível” alcance quando me visto “mostrando mais pele”. Olha, Henrique... – ela enfatizou com raiva - ...que eu só não dei um tapa nele porque eu tento ser uma pessoa muito diplomática.

- Cê é loko... ele disse isso?

- Disse. E olha só o figurino para hoje – ela apontou para um conjunto de pantalonas largas pretas e uma blusa de alça única branca que deixaria um dos seus ombros e seu colo completamente exposto.

Henrique, na tentativa de tirar da sua expressão aquele transtorno, lançou uma brincadeira.

- Mas cê vai ficar mó gostosa naquilo!

- HENRIQUE.

- Eu sei, eu sei. Se você não quer usar, não usa pô. Ele vai te obrigar?

-  Não se trata do que ele pode me obrigar, Fogaça! Mas porque ele só tem uma conversa dessas comigo! Ele não te sugere fazer um episódio sem camisa, sugere? Porque eu tenho certeza de que se você aparecesse sem camisa na TV por um único episódio acho que o ibope da temporada inteira e das duas próximas ia para a lua!

Henrique ficou levemente corado e constrangido. Paola não costumava falar do corpo de ninguém, nem muito menos de outros homens, MUITO MENOS dele.

- Cê me acha bonito? – brincou. Ela o fuzilou. – Entendi, entendi. Não usa, caralho. Só isso.

Novamente, quando a assessora de palco surgiu magicamente na porta, tanto Paola como Henrique deram um passo para trás, ainda que fosse involuntário e desimportante.

- Vocês entram em 5 minutos!

Paola soltou um palavrão, mas Henrique suspirou.

- Você vestida de saco de batata fica linda, desencana. Usa o que você quiser, e manda Pato tomar no cu.

Ela riu, pela primeira vez.

- Cê não existe, Henrique.

 

Ela estava usando a maldita blusa. A figurinista do programa apenas argumentou que “não tinham tempo para trocar em menos de 5 minutos”, o que fez Paola ficar o episódio inteiro incomodada, irritada, o que se refletia na forma como ela estava ácida nas suas críticas aos pratos.

O sistema neural límbico – a parte do cérebro que controla as emoções – era uma região muito bem desenvolvida em Paola. Depois de 5 anos de programa e de intensas especulações sobre sua vida pessoal, aprendeu a controlar-se de maneira magistral. Suas mãos evitavam gestos íntimos na frente das câmeras, sempre contorcidas na sua frente. Sua expressão facial de pôquer era perfeita e seus trejeitos rejeitavam, quase imediatamente, qualquer tipo de atitude que pudesse gerar novas fofocas e novos boatos.

Ela estava exausta disso.

Portanto, há 3 anos, Paola estava passando por um processo de enrijecimento, controle e restrição dos seus movimentos. Ela própria não percebia que, por causa da opinião pública, se retraía cada vez mais.

Agora, enquanto estavam julgando os pratos dos participantes e a câmera estava focada em Fogaça, ela levou um novo susto quando o chef bateu na bancada irritado.

- Ô meu, tá olhando para a Paola porquê, porra? – o candidato se tremeu inteiro e arregalou os olhos – Sou eu que tô te julgando agora. Olha para mim.

- Desculpe, chef.

- Não ouvi.

- DESCULPE, CHEF.

- Não é para mim que tem que pedir desculpas não, é pra ela!

O candidato se inclinou para o lado e, tremendo, pediu desculpas. Paola confirmou, mas Jacquin e Ana Paula a olharam com dúvidas.

Depois de Fogaça, o próximo candidato seria avaliado por Paola. Mas Henrique, irritado com a atitude do anterior, continuou fuzilando-o enquanto aguardava a avaliação dos outros.

- Merda, ele encarnou em mim – sussurrou Igor, o participante que era encarado por um chef de cara braba – Ele não tira o olho de mim!

- Você foi olhar para a Paola, bicho. Meu Deus – comentou o outro candidato, Walter.

- Não pode olhar agora?

- VÃO FICAR DE CONVERSINHA AE OU CALAR A BOCA, MANO?

Walter e Igor calaram-se imediatamente.

Assim que a câmera parou de focá-los, Paola cobriu o fone sobre sua roupa e se inclinou na direção de Henrique.

- No precisava de isso.

- Ele tem que te olhar com respeito. É bom para ficar ligado, senão faço ele sentar na graxa.

Ela o fitou com carinho.

 

Pato, que havia ficado o episódio inteiro calado, recebeu a visita de Fogaça no final da gravação daquele dia. O chef foi curto e direto.

- Deixa de ser um imbecil e deixa a Paola, caralho.

O diretor parou a leitura do script do próximo episódio – que seria gravado em Belém do Pará – e o fitou com uma interrogação.

- Hã... que?

- Olha, a Paola é uma puta chef de cozinha, inteligente, dedicada e que se dá o máximo em tudo que faz. Não transforma ela num pedaço de carne, que se ela sair do programa, eu saio também. Fechô?

Sem esperar por uma resposta, deixou-o de boca aberta para se preparar para ir embora. Como, naquele dia, havia preparado uma pequena comemoração de aniversário de Olívia no Sal, estava empolgado para receber todos lá.

Bateu na porta da Paola.

- Cê vai hoje, né? Leva a Fran, vai ter uns brinquedos lá.

- Estou tan cansada e...

As cabeças de Jacquin e Ana Paula surgiram na porta.

- Vai sim, Pôla! Eu vou levar a Rô e os menín, a Ana vai com Gustav. Vamo beber, comer e tomar muito vinho!

- É, amiga, vamos. Não vai ficar em casa assistindo TV com a Fran, né? Pelo amor de Deus.

Indecisa, Paola tinha alguns questionamentos internos. Ir até o Sal, com a possibilidade de ser fotografada, já começava a lhe dar nos nervos. Mas foi o olhar do trio, numa mistura de carinho, felicidade e cachorros pidões, que a fez sorrir.

- Tá... – disse desistindo - ...mas não prometo ficar até o final, certo?

Henrique a beijou na bochecha rapidamente, correndo para terminar os últimos preparativos.

 

Henrique não precisava olhar para trás.

Ela chegou.

Ele sabia intuitivamente.

Quando Paola Carosella chega a qualquer lugar, todas as atenções, todo o ar, se desloca na direção dela. É natural, ela não faz por querer. A forma como seu corpo se movimenta, seus maneirismos, seu sorriso, tudo converge para que o ambiente a torne central.

Se ele tivesse cabelos, sua nuca estaria arrepiada. Mesmo conversando e dando ordens para sua equipe, sentiu esse deslocamento de ar, e teria se virado, se não fosse um par de bracinhos que o agarrou pela cintura por trás.

- Tio Fogaça!

Ele se virou já com um sorriso.

- Oi, Carosellinha. Você está linda! – então seu olhar subiu, lentamente, pelo vestido preto colado e sem mangas que terminava em gola alta e um sorriso – Oi, argentina.

- Nem que eu quisesse desistir, essa niña tem gênio forte, meo deos.

- Igual à mãe.

Fogaça se inclinou para ela, dando beijos educados na sua face. Paola, retraída, aceitou, mas com receio de serem fotografados. Francesca cumprimentou Jacquin, Rô, Ana com abraços e beijos, retirando de Paola um olhar terno e cheio de raios de luz.

- Tio, cadê a Olívia para eu dar o presente dela?

- Tá com a mãe lá no final, perto do pula-pula. Corre! Vai brincar!

- Posso, mamá?

- Vai mi amor.

Vendo a menina correr, Paola não se sentia tão culpada por estar ali sem Jason. A menina precisava brincar e se divertir, então relaxou alcançando um garçom com uísque.

- Uísque, min amigue? Cuidado, em, para o Fogaça não te levar para casa naquela moto macabra – brincou Jacquin – Desde quando cê bebe uísque?

- Desde que comecei a assistir Outlander.

Enquanto conversavam sobre amenidades, Paola percebeu com o canto do olho que Henrique estava irritado com algo que escutou do seu souschef. Ao vê-lo se desculpar com os convidados e entrar na cozinha, seguiu-o imediatamente.

- Qué pasó?

- Meu chef acabou de se acidentar no forno, vai para a emergência. E um dos meus chefs da praça da carne acabou de ligar dizendo que não vem. Puta que pariu, viu? Eu planejei essa porra com meses de antecedência.

- Calma. O que tem pra fazer?

Paola já foi imediatamente enrolando o cabelo e procurando um avental, mas Henrique tocou a base da sua coluna com carinho.

- Não, Paola. Você é convidada, vai ficar com...

- Eu vou te ajudar. Está decidido. – disse incisiva – Agora me diz o que tem para fazer.

Ele se emocionou ao vê-la tirar os brincos. Porra, pensou, que mulher foda do caralho!

- Terminar de tratar os magrets, finalizar os nhoques e...

- Ou seja, trabalho pra caramba.

Quase automaticamente, ela se virou para a praça das carnes, iniciando o trabalho. Henrique, sem pensar duas vezes, colocou sua dólmã e se juntou a ela.

 

Estavam tão concentrados, lado a lado, que não perceberam quando Jacquin se aproximou deles com um sorriso divertido.

- E entón, chef Pôla, que que cê vai apresentar prá nós hoje?

Ela sorriu, entrando na brincadeira.

- Chef, hoje eu vou fazer magret de pato com verdes fritos e una mousseline de mandinhoquinha.

- E você, tatuado?

- Vou fazer o mesmo chef! – riu e brincou Henrique.

- Ah, cês dois vã fazer a mesma cosa non? Que interressan! Isso é uma competición?

Paola e Henrique se olharam com um sorriso e um brilho desafiador.

- Eu vou ganhar, chef! – gritou Fogaça.

- Ah, mas não vai mesmo mi amor!

Riram os três.

 

Paola sorria divertidamente enquanto, ainda na brincadeira, tanto ela quanto Henrique observavam Jacquin, Rô, Ana Paula e Gustavo degustarem os dois pratos. Com muitas risadas, foi decidido que Paola havia ganho por “muito pouco”.

Ela se sentia leve, talvez fosse o uísque. Ou talvez fosse porque sua timidez sempre se deu melhor na cozinha que em eventos sociais. Depois de conseguirem servir todos e tudo estar encaminhado, foi atrás de Fran para checar como ela estava. A menina, para seu encanto, estava mostrando as páginas de um livro ilustrado que deu de presente para Olívia.

- Você é uma boa mãe – disse a voz rouca atrás dela, arrepiando sua nuca e, lentamente, deslizando o braço por sua cintura, como sempre fazia, apesar de estar sempre atento a não seguir esse instinto. Mas estava tão agradecido por ter tido aquela parceira de fé na cozinha que não percebeu a naturalidade do gesto – Obrigado, por hoje.

- No pasa nada.

Controlando, sempre, seus movimentos, Paola varreu a área com o olhar, implorando mentalmente que não houvesse nenhuma pessoa filmando ou fotografando ele tão perto. Estava começando a ficar paranóica. Ao olhar para Henrique, percebeu-o com os olhos cheios d’água, observando sua filha com carinho.

- E você é um bom pai, Fogaça. Veja como ela está feliz.

Apertou seu braço com carinho, passando-lhe toda a doçura daquele momento. Agradeceu em silêncio, então dedicou sua atenção à filha.

Mesmo com todas as dificuldades motoras, segurou-a em seus braços para, juntos, arriscarem o pula-pula. O que Paola não contava, entretanto, era que seu olhar terno e cheios de raios de sol que só demonstrava para a filha, foi capturada por uma câmera na sua diagonal.

 

Ao retornar para sua casa, com Francesca completamente adormecida em seus braços, ela se sentia exausta, mas incrivelmente leve. Com apenas uma das mãos disponíveis, lutou para abrir a porta, acendendo a luz.

E quase deu um grito.

- CARAJO, Jason! Meo Deos que susto! – com o coração acelerado, respirou fundo – Você não vinha só semana que vem?

Mas ele não a recebeu com um sorriso, como sempre. Mordendo os lábios e parecendo inquieto, apenas olhou para a tela em seu celular.

- Beautiful, my love, essa sua foto. É o Fogaça?


Notas Finais


Gente, eu amo as cenas hot e tal, mas eu gosto muito de primeiro desenvolver os personagens e o clima de tensão entre eles que, na minha opinião, tornam as cenas hot muito mais H-O-T porque a gente se envolve emocionalmente com eles.

Espero que gostem!


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