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História Entre o amor e a amizade (RayEmma) - Temos que sair daqui.


Escrita por: Bianzinz

Notas do Autor


Nossa, esse ficou muito legal, acho que a história está ficando boa.

Capítulo 8 - Temos que sair daqui.


Fanfic / Fanfiction Entre o amor e a amizade (RayEmma) - Temos que sair daqui.

-Lembra que quando abrimos a porta e nos deparamos com a casa de Grace Field?

-Nitidamente. – a morena afirmou.

-Era muito esquisito, já que em alternativa nenhuma, Grace Field não tinha nenhuma conexão com a promessa, tampouco com o Rei Demônio. Então por que fomos parar por lá?

Obviamente era uma pergunta retórica. Emma também havia estranhado esses acontecimentos várias vezes.

-A única resposta que eu encontrei foi: Essa não é a Grace Field house.

-Então estamos em outra instalação?

-Não. Não estamos em lugar nenhum, Emma. Este lugar não existe.

-Quê? Como assim?

-Eu não te contei isso, mas quando eu estava no chão delirando por causa do gás, eu comecei a ser atormentado por um barulho horrível que doía na minha cabeça, e eu não conseguia pensar.

-Que horror...

-Mas isso não é tudo. Um pouco antes de você ter me acordado, eu tive uma visão diferente. Eu delirei, ou sonhei que estava acordado, e você tinha sumido. Eu fui procurar pela casa para ver se eu te achava, mas não te encontrava em lugar nenhum.

-Como você sabe que isso foi uma alucinação?

-Por que quando eu cheguei em um dos quartos, haviam vários dos nossos irmãos nos cumprimentando.  Lannion, Thoma, Rosshi, Cristhie, e vários outros pularam em cima de mim falando que sentiram minha falta. Mas o mais estranho é que Conny também estava lá.

Emma estremeceu um pouco, imaginando onde a história iria seguir a partir dali. Conny fora sua única irmã que a ruiva viu sendo devorada. A partir dali ela prometeu a si mesma que não iria deixar mais ninguém morrer.

-Ela estava vestindo a roupa da remessa, e segurava seu coelhinho. Ela passou por todas as crianças e veio me dar um abraço. ‘Mal posso esperar para conhecer minha família adotiva!’, foi o que ela disse.

A garota engoliu em seco relembrando da pobre Conny que morreu na remessa, sendo que ela estava tão feliz em querer encontrar a sua família.

-Mas a parte mais bizarra foi quando a mama apareceu por trás de mim e me deu um abraço, e disse ‘como você cresceu, Ray.’ Eu a abracei de volta, mas para mim aquilo era como um sonho que eu não estava no controle.

A menina estava em silêncio. O moreno decidiu continuar:

-‘Por que você não volta para casa e vem me ver de verdade?’ Foi aí que eu percebi que algo estava errado. Eu tentei me soltar do abraço, mas ela me agarrou forte, e todas as crianças começaram a subir em mim e puxar minhas pernas.

-Quando eu finalmente consegui sair dos braços da mama, eu vi que todos eles tinham os rostos derretidos e aparecia apenas a caveira. Suas vozes estavam mais lentas e mais graves, e eu não conseguia entender o que estavam falando.

-Mesmo quando eu consegui correr, eles me seguiam e tentaram me derrubar, acho que estavam tentando me matar. Só que você me acordou antes disso.

-Ray... Por que não me contou isso antes? – a garota o olhou preocupada.

-Porque eu só lembrei quando a gente saiu da enfermaria. E foi quando eu descobri que tudo isso era uma mentira Emma.

-Ta bom... Mas eu ainda não entendi.

-As sete paredes é um lugar que não tem forma. É o habitat do Rei dos Demônios, e ele o manipula como bem quiser. Tudo isso que nós estamos vendo, tocando e ouvindo é criação dele, mexendo com as nossas cabeças tentando nos afastar daqui.

-Mas... Por quê?

-Não é qualquer um que pode fazer uma promessa, é um fardo muito grande no destino do planeta. Esse filho da puta está fazendo a gente passar por poucas e boas para ver se somos dignos de criar uma promessa com ele. O que é isso daqui afinal, um puto filme do Thor?!

‘’Hehehehehheheheh! Ele ta pistola... ’’ A garota segurou a risada, para não tentar deixar ele mais bravo ainda.

-Resumindo Emma, tudo isso faz parte de uma realidade paralela aos nossos pensamentos e memórias. Tudo que sentimos, pensamos e lembramos vai estar neste lugar.

-Por isso apareceu a mama e a Conny nas suas alucinações... Você se sentia culpado de ver seus irmãos partindo para a morte e você não podendo fazer nada.

-Sim. Ele está tentando nos assustar para fora daqui, isso tudo é um teste que nós vamos ter que passar.

-Então isso explica como você sabia dos perigos... Mas como você sabia exatamente quando eles iam acontecer?

-Eu conheço o sistema que ele está usando. Nos faz acontecer que tudo está indo bem, tranquilo e depois nos apunhala pelas costas. Como eu disse, ele tem acesso a todas nossas memórias, e ele conhece nosso estilo de lutar. Sempre encaramos nossos inimigos frente a frente, então ele preferiu uma nova abordagem.

-Entendi... Isso faz muito sentido, e encaixa perfeitamente com o que aconteceu até agora. Ele nunca botou um inimigo para nos atacar diretamente, ele sempre tentava se livrar da gente sorrateiramente.

-Então eu fiquei em alerta para qualquer coisa que estivesse acontecendo. Conhecendo os ataques dele, ficava fácil descobrir quando ele vai atacar. Por isso consegui te segurar antes que você se afogasse. E ele não iria usar o truque do gás duas vezes já que nós sabíamos como contra-atacar.

-Mas isso não explica a chave, Ray. Como caralhos você conseguiu aquela chave?

-Apesar de estar tentando fazer a gente sofrer, ele também quer encontrar a gente. Ele sabe quem nós somos e que nós tentaríamos fazer a promessa, tanto que foi ele que te convidou para vir aqui. Aquela chave estava no meu bolso aquele tempo todo, foi o Rei dos Demônios que a colocou lá. Ele queria que nós viéssemos aqui este tempo todo.

-Isso é esquisito... Mas outra pergunta:Eu não lembro de um esgoto com essa aparência e não me recordo de nada disso daqui também. – ela apontou para a água esverdeada e provavelmente o cheiro de bosta que (era incrivelmente real) estava saindo de lá.

-Confesso que essa parte eu ainda não entendi direito. Mas com certeza deve ter algo a ver com nossos pensamentos, ou emoções, sei lá, eu não sei o que esse demônio pensa, mas estou pegando as coisas pouco a pouco.

-Essa é de fato, uma explicação bem certeira e interessante, mas por que diabos você não me falou isso antes?! Era bom saber que eu podia ter sido quase puxada para o inferno!

-Você vai ter que me desculpar por essa, mas tem que entender que se eu te falasse ele iria saber que nós já sabemos, e ia mudar de estratégia. O melhor era só eu seguir em frente sozinho sabendo do segredo e mantendo você segura do meu lado.

-Calma... Então ele está nos observando? – ela chegou mais perto e falou baixinho.

-Muito provavelmente, e não adianta falar baixo, se ele estiver aqui, vai estar de olho em tudo.

-Meu Deus Ray, me desculpa! Eu não sabia... Eu estraguei tudo, não estraguei?

-Sim... Você fudeu com meu plano quando apontou aquela arma para mim, mas eu não te culpo. Você ficou desconfiada e não sabia da verdade, eu estava agindo bastante suspeito. Você agiu certo, eu só estou pistola que agora ele sabe disso e o plano foi por água abaixo.

Merda. Emma havia estragado completamente o plano que Ray havia construído. Se ela não tivesse aberto a boca e agido igual uma maluca, eles provavelmente seguiriam sãos e salvos e a garota iria ter conseguido fazer a promessa. Mas ao invés disso, ela apontou uma arma para seu melhor amigo e o obrigou a revelar sua estratégia, que agora o inimigo conhecia e sabe lá o que ele iria mandar para atacá-los dessa vez. Emma sentia como uma flecha de culpa tivesse atravessado seu coração, e estava a envenenando pouco a pouco.

-Me desculpa! Eu sinto muito, eu continuo estragando tudo! Por culpa minha, agora nós voltamos à estaca zero!

-Realmente, era melhor você ter calado a boca. Mas agora já foi e não tem como mudar o passado. Temos que seguir em frente e continuar tentando. Ele só vai saber nossa estratégia se falarmos, então nada de conversar entre si. Tudo que formos fazer vamos nos comunicar por sinais a partir de agora, e se você perceber algo, não sinalize nem fale, apenas pense. Só faça alguma coisa quando for uma emergência ou se alguém estiver em perigo.

A ruiva concordou com a cabeça. De repente, seu olhar determinado e inocente estava de volta, parecendo que esqueceu completamente do quão culpada ela se sentia. Não importa, agora eles tem um novo plano e conseguem voltar à ativa.

Ela fez uns movimentos com a boca e apontou para a barriga, depois para a mochila que estava atrás da fogueira, cheia de mantimentos. Dava para entender que ela queria ‘’comer’’, e o moreno a olhou com uma cara sarcástica.

-Não precisa ser o tempo todo, imbecil. Se for algo irrelevante como comer ou conversa fiada você pode falar à vontade!

-Ahhhh, você precisa explicar as coisas melhor! Eu tava achando que ia ser aquelas missões silenciosas que a gente fazia no campo de caça!

-Isso não é um filme mudo do cinema. Vem, me passa as sardinhas. – ele estendeu a mão.

-Cala a boca, foi um erro genuíno! Todo humano tem o direito de errar. – a ruiva reclamava enquanto se direcionava para a mochila, pegando os suplementos que ambos haviam trazido do abrigo.

-Eu acho que erro não é o termo certo, eu chamaria de burrice. – ele abriu a lata e começou a comer. Era nojento comer peixe entalado no esgoto quando tinha acabado de sair da água cheia de cocô, mas ele só percebeu isso quando era tarde demais.

-Teu cu! – ahh, a lógica e estruturada expressão que você usa quando fica sem argumentos J. A ruiva pegou um pão francês que estava reservado e bem guardado e comeu. Digamos que o alimento que eles levavam também conhecido como comida de guerra não era uma das melhores, mas ambos já estavam tão acostumados com falta de comida que já não importava mais.

Os dois amigos ficaram um tempo assim, comendo, secando suas roupas e às vezes trocavam algumas palavras, mas nada importante para a continuação do plano. Emma já nem lembrava que estava de sutiã na frente de seu amigo, já que o moreno não parecia se importar, ou ele percebia mas não demonstrava muito. Ray não era muito de ficar envergonhado; ele até havia pensado em tirar a calça e ter ficado só de cueca, já que a ruiva teve coragem de tirar a blusa e não se incomodava mais, mas ele achou que isso ia ir longe demais, então não o fez.

Ao acabarem de comer, os dois esperavam um pouco para que boa parte da água tivesse evaporado para vestir as roupas de novo. Quando estavam todos prontos e arrumados, Ray entregou o fuzil para a garota que havia ficado sem armas após seu arco ter sido levado pelo rio, e ficou com o rifle de sua preferência. Eles se entreolharam antes de continuar. Era o sinal que a partir dali, a comunicação iria ser mínima, nenhum fator importante iria ser revelado e iam seguir pelo caminho silenciosamente, fazendo o que der na telha.

E foi o que aconteceu. Os dois andaram em silêncio por bastante tempo, apenas olhando um para o outro de vez em quando. Não dava para saber o que isso significava fora do contexto, mas na mente de ambos eles não tinham um plano concreto. Tudo o que podiam fazer era continuar andando aleatoriamente esperando que cheguem em algum lugar.

‘’Ray disse que o Rei dos Demônios quer que a gente o encontre para fazer a promessa. Por isto ele deu a chave ao Ray e colocou a escotilha em um lugar óbvio. Então provavelmente não existe caminho certo. Não precisamos seguir uma ordem, direta, esquerda, norte... Se andarmos o suficiente, iremos nos encontrar com ele eventualmente. ’’ Era o que se passava na cabeça da menina. E estava parcialmente certa. Ray parecia ter certeza do caminho que ele estava seguindo anteriormente, mas a verdade é que ele não fazia idéia. Estava apenas andando com consciência que não importa que caminho escolherem, vão chegar em algum lugar. O labirinto era só uma distração para eles ficarem em dúvida. Mas sobre se o Rei dos Demônios os queria lá, ele não tinha certeza. É verdade que a chave apareceu no bolso dele do nada, mas isso não significa exatamente que foi ele que a colocou lá. De acordo com a explicação do Ray, se aquilo era uma realidade coincidente com as memórias dos amigos, talvez a chave tivesse aparecido lá porque ele queria muito que ela aparecesse, e a realidade alterou conforme os pensamentos do garoto. Mas ele preferiu não acreditar nessa possibilidade, porque isso tornaria fácil demais, e o Rei dos Demônios não iria deixar isso simples assim para eles.

‘’E se esse labirinto fosse de verdade? Ele é grande o bastante e você não sabe por onde você veio já que todos os caminhos são reais.’’ O moreno temia enquanto virava a esquerda.Olhou para a ruiva para ver se ela tinha algo em mente, mas parecia que ela não sabia de nada pela expressão inocente. Então ele deduziu que teria que pensar nisso por conta própria. Como não tinha como descobrir se ele não tentasse, decidiu continuar andando, para testar sua hipótese.

Passou alguns minutos. Depois uma hora. Depois duas, e assim foi seguindo, e nenhum dos dois tinha chegado a lugar nenhum. Os dois não sabiam o que fazer, e se entreolharam várias vezes, mas nenhum dizia nada. Era o combinado afinal, eles não podiam deixar que ele soubesse que eles estavam perdidos. Com certeza ao ouvir que eles já tinham descoberto o funcionamento daquele lugar, o Rei dos Demônios mudou sua estratégia e plano de ataque, e os dois poderiam ser pegos de surpresa a qualquer momento, ambos sabiam disso. Por isso estavam atentos a qualquer mudança, qualquer movimento fora do comum, com a postura de defesa e as armas preparadas. Eles não sabiam a estratégia dos inimigos, e a esta altura, estavam preparados para qualquer coisa.

Andaram por mais algumas horas. Mas nada. O labirinto parecia infinito. Sem um relógio e percepção de hora, os amigos já não faziam idéia de quanto tempo estavam ali, andando... O barulho do seu caminhar e do riacho correndo já era recorrente demais. Ray e Emma começaram a sentir dor nas pernas por causa da longa caminhada.

‘’Há quanto tempo estamos andando? Emma está ficando cansada; eu não vou aguentar por muito tempo também. Isso é mau, este labirinto não tem fim!’’ ‘’E se... Como isso é uma realidade paralela, talvez o labirinto não tenha fim mesmo. Talvez esses metros estejam sendo criados conforme andamos, (igual o mundo não renderizado do filme Coraline, tem uma parte em que ela sai da casa e vai para a floresta e fica tudo branco, depois ela volta pra casa e percebe que deu a volta ao mundo) e isso vai continuar para sempre. Como uma colcha sendo costurada conforme eles vão andando, sem fim, sem começo, infinito. Droga, nesse ritmo nunca conseguiremos chegar a tempo de salvar o Norman... Mas na pior das possibilidades a gente não vai conseguir sair daqui de jeito nenhum. ’’ ‘’Preciso pensar em algo... O que teve de diferente desde que chegamos aqui? O caminho continua a mesma coisa, igual e do mesmo tamanho de todos os túneis. A água ainda corre na mesma velocidade e frequência, o cheiro continua o mesmo, e os barulhos também não mudaram. ’’ ‘’Mas o mais estranho é que haviam se passado horas e o Rei dos Demônios não havia tentado atacá-los de jeito nenhum. E de pensar que ele iria mudar seus planos quando soube que nós descobrimos a lógica dele... Mas até agora nada.’’ ‘’Isso está estranho... Ele normalmente não espera para nos atacar. Ele cria uma oportunidade falsa e nos atacar enquanto estivermos distraídos, ou nos pegar de surpresa em um momento importuno. Mas até agora ele não fez nada. Isso é um truque? Estamos sendo atacados neste momento? Ou já fomos atacados?’’ ‘’Então o plano dele é nos deixar aqui vagando sem rumo para sempre? Parabéns, imbecil que genial da sua parte. Ao invés de se livrar dos gados de corte que estão te incomodando, você apenas ignora eles e o solta em um loop sem fim. Mas se for esse o caso e ele ficou bravo por nós termos descoberto o seu plano, então estamos ferrados. Na teoria este lugar está paralelo à nossa cabeça, mas ele é realmente o dono do lugar. Não iremos a lugar nenhum se ele não quiser, somos malditos bonecos de neve presos em seu globo de cristal! Não podemos ficar aqui para sempre, temos que quebrar o ciclo! ‘’

Ray pensava isso enquanto enlouquecia por dentro. O Rei dos Demônios estava o fazendo de bobo por ter conseguido desvendar seu plano genial e graças a isso, estão presos em um loop temporal. Ele não conseguia raciocinar assim sob pressão, precisava de um tempo.

-Ei, Emma. Vamos fazer uma pausa pra descansar. – era uma boa oportunidade também para eles relaxarem um pouco. Estavam andando faz horas, e o moreno havia consumido bastante energia em suas habilidades físicas e cerebrais. A ruiva também parecia que podia aproveitar um bom descanso.

-Você que sabe. – ela falou em dúvida sobre o que tinha em mente. Já que ele havia parado de andar pela primeira vez em horas, o garoto devia ter pensando em um plano. ‘’Finalmente!’’ ela imaginou, já que nesse tempo todo, a menina não tinha nenhuma idéia do que fazer.

-Estamos caminhando faz um tempo, vamos comer para recuperarmos energia. – o rapaz se sentou no chão, apanhou sua mochila e pegou alguns grãos que haviam sobrado, jogou tudo na boca de uma vez, e nem mastigou. Emma sentou-se ao seu lado e abriu a sua mochila em busca de algo que possa encher-te o estômago.

O moreno bebeu água de uma garrafa que havia em um bolso, e quando a água estava quase acabando ele ofereceu à ruiva. Ela bebeu também, acabando com a terceira garrafa que eles haviam trazido. Sobraram apenas mais duas.

-Meus suplementos já acabaram. – ele complementou, olhando para o vazio no interior do bolso da sua mochila, em que havia apenas alguns grãos e um pão pequeno e velho.

-Então use os meus. Ainda tenho bastante. – ela levantou a mochila para o alcance do garoto, e abriu um bocado, mostrando o bolso cheio de alimentos de várias variedades, dando a entender que ele podia pegar qualquer um.

-Não precisa, eu já comi. – ele apontou para a mochila vazia dele.

-Vamos Ray, não seja minimalista! Pegue o que quiser, comida é o que não vai faltar.

-Acho melhor não. Vai que acontece alguma coisa e temos que dividir a comida para não morrermos?

-Ray, mas nada vai-! – ela começou falando o que pensava, mas depois de rever a situação em que estava, decidiu continuar a falar, mas baixinho – Nada vai acontecer. Se eles quisessem nos roubar já teriam feito isso faz tempo!

-Nunca se sabe o que vai acontecer. E além disso eu já te disse, falar baixo não vai adiantar nada, esse cara tem ouvidos em todo lugar.

-Eu sei, desculpa. Foi apenas um momento de emoção. – ela estendeu um sanduíche bem improvisado e ruinzinho para o garoto, mas ainda foi de coração.

Ele rejeitou e empurrou de leve a comida para ela, dando a dizer que ela quem deveria comê-lo. Mas a garota ficou irritada com a cena.

-Ray se você não for comer, eu também não vou! – ela ameaçou guardar o sanduíche já preparado na mochila, mas ele suspirou provocado, e agarrou o sanduíche da mão dela. A ruiva emitiu um sorriso de orelha a orelha e se sentiu orgulhosa pela sua conquista.

-Ta bom, mas só porque eu não quero que você caia morta nesse chão em algum momento desses.

-Eu não vou cair dura no chão, você tem que confiar mais em mim.

-O que seria de você sem mim, em... – ele deu uma mordidona no sanduíche. Emma pegou uma receita simples e nutritiva que Gilda fez para ela antes de partir: era um tuppaware de massa de milho com flocos de aveia e grãos de trigo. Soa bem ruim, e é mesmo, mas era muito nutricional, e nesse momento, os amigos não se preocupavam com o gosto da comida, desde que seja comida.

-Xaiba que eu fikaria muto bem xem você! – Emma disse de boca cheia.

-To vendo. Não consegue nem comer sem fazer bagunça você é praticamente um bebê. – ele aproximou-se dela e passou a mão em sua bocheca, tirando as migalhas da comida que ela havia esparramado pra todo lugar. – que desperdício de comida...

A menina engoliu a comida sem quase mastigar, na pressa que ela tava de responder o comentário maldoso do rapaz. – Que pena que você não pode ver o dedo que eu estou te mostrando agora.

O moreno soltou uma risada de leve, e continuou comendo. Emma parou de mastigar ao ouvir o som dele rindo, era muito raro Ray dar risada de alguma coisa, principalmente de algo que ela falou. A menos que ela tenha feito alguma burrice e ele estava rindo pra tirar sarro dela.

-Raynaldo, isso que saiu da sua boca foi uma risada? Ou foi o barulho de você sendo um babaca, eu ainda não aprendi a diferenciar.

-Não fique se achando, eu rio da sua cara o tempo todo.

-Sim, mas isso é quando você ri de propósito para me debochar, mas essa risada de agora foi natural e tranquila, e você não tava rindo de mim, estava rindo comigo!

-Parabéns, você conseguiu me fazer rir pela primeira vez em dezoito anos, quer um prêmio?

-Eu já tenho um prêmio! – ela levantou os braços em completa vitória. Fazer o emo chato rir era com certeza uma realização digna de créditos, e Emma era a merecedora máxima. Em busca de sua recompensa, ela pulou no torso do menino para um abraço, mas ele a recusou no último momento, a fazendo cair em seu colo. Ela inflou as bochechas, mas não de raiva, de arrependimento e constrangimento da situação esquisita que ela havia se metido. Com a cabeça no colo do rapaz, e o corpo virado de lado, ela pensava o porquê que ela apenas não comemorou sua vitória quieta e sozinha no seu canto, mas sua necessidade de contato humano falou mais alto.

Mas estranhamente, o garoto não estranhou o avanço repentino da ruiva, ele apenas colocou sua mão na cabeça dela e afagou algumas vezes, como se tivesse acariciando um cachorro, mas mais gentil.

‘’Merda, eu não acabei de comer, mas agora eu não quero mais levantar daqui! ‘’ ela imaginou, esse cenário era de uma chance em um milhão, o moreno sempre ou quase sempre rejeitava as tentativas de contato humano da garota, mas dessa vez ele havia permitido e ela não ia perder essa oportunidade.

-Não importa quantas horas ou dias eu fique aqui, se tem uma coisa que eu não vou me acostumar é esse cheiro. – ela tentou mudar de assunto.

-Pois é, o que eu não daria para tomar um banho agora... – ele complementou.

Por mais fora do normal que isso pareça, a situação não estava estranha entre os dois, muito pelo contrário, estava muito natural e suave. Emma se aconchegava e aproveitara a ternura do torso do garoto e Ray afagava sua cabeça devagarzinho, enquanto acabava seu sanduíche. Era uma boa oportunidade para ele repensar seu plano.

Ambos ficaram quietos por algum tempo. Emma conseguia sentir a barriga do rapaz contraindo e relaxando, inspirando e expirando, e era uma sensação tão calma e tão tranquila que ela podia dormir ali. Ray brincava com os seus cabelos e afagava sua cabeça devagarzinho, o que dava ainda mais sono.

-Eu podia dormir aqui... – ela sussurrou.

-Infelizmente não temos o luxo de dormir, temos apenas cinco dias para fazer a promessa e voltar.

-Ahhh... – Emma suspirou. – você tem razão, quantos dias já se passaram?

-Um, ou dois. Dois e meio, no máximo. Mas acho que não é tudo isso.

-Não dormimos durante esse tempo todo, eh... – ela respirava calmamente igual um filhote de cachorro dormindo.

-Você está ficando com sono?

-Não, então eu posso definitivamente ficar de guarda se você quiser dormir.

-Não precisa, eu também não estou com sono.

-Então... Qual é o plano?

-Plano?

-Ah, eu sei que eu não devia falar que tem um plano, mas você não me chamou aqui para nada, né? Você deve ter pensado em algo.

-Emma, não tem nenhum plano.

-Sim, sim eu sei, perdão, não tem nenhum plano, mas se tiver algo que você queira fazer, me da um sinal ou uma cutucadinha assim, só pra eu pegar a ideia. – ela ironizou.

-Emma, é sério, eu não tenho nenhum plano.

-Nenhum... Nenhum mesmo tem certeza? – ela cutucou a barriga dele, insinuando alguma coisa.

-Tenho, eu não consegui pensar em nada.

-Pera pera pera lá! – ela se levantou em indignação. – então por que paramos de andar?

-Você também já deve ter notado que não importa quantos quilômetros caminhemos, não vamos chegar a lugar algum.

-Você ainda não respondeu minha pergunta.

-Eu parei porque continuar caminhando não vai adiantar em nada, vamos só desmaiar de cansaço uma hora, e daí iríamos ser mortos pelos demônios aqui em baixo.

-Então você não pensou em nada? Ray você é o cara dos planos, você não pode ficar sem um plano!

-Você bota muita responsabilidade em cima de mim, por acaso você pensou em alguma coisa?

A ruiva ficou quieta e desviou seu olhar. Depois esticou o beiço, mas ainda não fez contato visual com o rapaz.

-Vou aceitar isso como um não. Se você não está satisfeita, bole um plano você mesma! Já disse que não tem muito o que eu fazer aqui.

-Então durante todo esse tempo você ficou pensando no quê?!

-No plano né caralho! Mas não é tão simples quanto você pensa, o que você sugere fazer, em?? Se tiver uma resposta melhor estou todo a ouvidos!

Emma inflou as bochechas e saiu do colo dele por pura birra. Não virou para olhar pra cara dele, pois estava muito irritada. Depois desse tempo todo, tudo que eles conseguiram alcançar foi nada, e isso a enfurecia, mesmo não sendo culpa do rapaz. Ele estava fazendo o seu melhor, e estavam sem dormir e tomar banho faz dias, comendo apenas o necessário, mas ainda sim ela não conseguia não sentir raiva dele.

-Não precisa me xingar assim, eu estou no mesmo barco que o seu, só estou dizendo que-

-EU SEI O QUE VOCÊ ESTÁ DIZENDO! Mas você fala como se fosse fácil para eu bolar uma saída assim do nada! Eu não sou um Deus, Emma! – ele gritou bem na cara dela.

-Tá bom! Obviamente isso não vai funcionar então! Já entendi!

-Sim, acho melhor nós darmos um tempo.

-Tem razão... Vamos nos sentar, descansar um pouco mais e...

-Não Emma. Dar um tempo entre eu e você. Estou falando para nos separarmos.

A ruiva olhou chocada para ele. Então ia ser assim. Ele a ia descartar a partir do momento em que não precisasse mais dela, a partir do momento em que as coisas começaram a ficar difíceis, ela já era peso morto, e o rapaz iria começar a fazer tudo sozinho. ‘’Então é isso que eu sou pra você, Ray. ’’ ‘’Nada mais do que um fardo. ‘’

-Ótimo! Você fica no seu canto e eu fico no meu, por mim, que a gente nunca mais se encontre de novo! – ela berrou para ele cheia de raiva, pegou suas coisas na pressa e começou a andar na direção oposta.

-Isso. Divirta-se perambulando por ai sem ter a mínima idéia do que fazer! Tenta não morrer nos primeiros dez minutos! – ele botou as duas mãos em formato de cone na boca dele para gritar bem alto, assim tendo certeza que a ruiva o tinha ouvido.

Ela ainda de costas levantou o braço e mostrou o dedo do meio para ele, depois continuou andando, furiosa. Ray estava pouco se lixando. Ou era isso que ele queria que ela pensasse, mas na realidade, ele estava todo quebrado também, e o fato que não conseguia pensar em nada enfurecia ele mesmo e isso o deixava inseguro. Por isso doeu tanto quando a ruiva confirmou a incapacidade dele.

Ele começou a arrumar as próprias coisas e levantou, seguindo a direção Norte e a garota Sul.Foi neste momento que ambos se separaram.

‘’Vai ser melhor assim, pode ter certeza. ‘’ ‘’Sem a Emma atrapalhando o meu caminho eu consigo descobrir uma maneira de escapar daqui e fazer a promessa. ‘’ Ou nem isso. Tudo que o rapaz queria era voltar para casa, tanto que ele nem se importava com a ruiva mais. Era um estresse sob pressão, em um ambiente aberto em que qualquer coisa poderia sair do nada e o atacar, e agora ficaria mais difícil já que ele era só um. Mas continuava dizendo a si mesmo que sem a Emma as coisas ficariam mais fáceis, para tentar amolecer a situação.

‘’Tenho certeza que ele não esperava essa separação nossa. Isso da uma vantagem para mim, já que muda um pouco os planos dele. Agora posso quebrar o ciclo e sair daqui! ‘’ Após pensar nessa frase, o garoto parou de andar. Teve uma sensação de déjà vu de repente, vindo de seu interior. Foi quando a idéia veio para sua cabeça: ‘’Quebrar o ciclo! É isso! ‘’

Ele virou e começou a correr pelo caminho que veio, com esperança que ainda pudesse alcançá-la. Após alguns minutos ele avistou aquela antena laranja que só existia em uma pessoa em todas as 7 bilhões de pessoas no planeta.

-Emma! Eu descobri!

-O que?! Você achou um jeito de escapar daqui?

-Sim, mas você precisa confiar em mim. Promete que vai fazer o que eu disser?

-Prometo qualquer coisa.

-Segura minha mão. Não solta.

Ela obedeceu, temendo o que iria acontecer depois. Mas o garoto só se aproximou do rio do esgoto, que corria sempre para frente, desaparecendo no horizonte.

-Respira fundo! – ele falou antes de inspirar o máximo de ar que pode e pular na água. A garota que estava segurando na mão dele, não teve escolha a não ser fazer o mesmo, e ambos caíram naquela água agitada, suja e fedida. Emma lembrou que a primeira coisa que ela sentiu, foi o susto que tomou quando Ray a puxou para a baixo naquele rio que ela quase havia se afogado horas atrás. Ela mexia os braços constantemente e arfava por ar várias vezes, já que era muito difícil nadar em uma correnteza. Emma engoliu água algumas vezes sem querer, e isso causou muito nojo, porque com certeza toda aquela água, mesmo sendo fruto da cabeça dela, ainda tinha gosto de água que passou por pelo menos o cocô de milhares de pessoas.

Emma se lembrou de ser arrastada por uma correnteza e um medo horrível de ser puxada por algum bicho de novo. Dessa vez, não sabia se Ray podia ajudá-la. Mas ao invés disso, o que aconteceu foi que ela foi levada por muitos metros pela correnteza, até chegar em um ponto que ela simplesmente começou a cair para baixo. A água descia e a garota conseguia sentir o vento forte rasgando sua pele enquanto caia ao que pareciam mil km por hora. Ela gritou enquanto caía, o que qualquer pessoa normal faria, até finalmente mergulhar em um lago grande.

O impacto foi forte, mas dessa vez ela conseguiu subir para respirar. Ela subiu e boiou na água, toda encharcada, mas não era correnteza, parecia ser um depositório. Ela ofegou por ar, e depois de estar mais calma decidiu dar uma olhada ao seu redor.

Emma havia caído de uma gigantesca cachoeira que subia lá em cima, até o horizonte. Não conseguiu ver mais, por causa da luz do sol, mas ela havia caído por uma altura de mais de cem metros, e a cachoeira aterrissava em um lago pequeno no meio do deserto. Isso mesmo, depois da cachoeira, tudo que a menina conseguia ver ao seu redor era areia e o sol forte. Mas isso não importava! Eles haviam escapado daquele bendito esgoto, finalmente! Agora ambos estavam um passo mais perto de fazer a promessa com ele.

-Ray, você conseguiu! Seus cálculos estavam certos, nós escapamos! Estamos livres agora!

-Ray? Ela se virou procurando o amigo, mas ele não respondeu. O barulho da cachoeira era o único ao ser ouvido, então a ruiva mergulhou para ver se ele não havia desmaiado enquanto caia, mas nenhum sinal dele.

Ray não estava lá.


Notas Finais


Esse eu fiz mais rápido pq é final de semana né? kkkk, mas infelizmente minhas aulas presenciais voltaram, e agora com as provas e aulas eu não vou mais ter tanto tempo para escrever, e vai demorar para lançar os próximos capítulos, sinto muito... Mas eu fiz esse um pouco maior para compensar!


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