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História Entre Rosas e Diamantes - Último dia na cidade


Escrita por: BelieveBeHappy

Capítulo 2 - Último dia na cidade


            Um novo dia começou, o som batia contra o seu rosto pela fresta de uma janela aberta. Sentia a queima sobre seu rosto e suspirou querendo dormir mais, contudo seu despertador o consumia e estressava.

            O quarto pouco espaçoso de um apartamento juntado as custas com o dinheiro que tinha. Sua cama de casal não tinha foro ou pernas, apenas um colchão jogado no chão, havia dois travesseiros, um sendo abraçado pelo garoto rosa e outro abaixo dos seus desorganizados fios. Além da cama, jazia a pouco centímetros dessa, uma pequena e torta escrivaninha, sobre está alguns papeis de conta ainda não pagas e alguns lápis.  E em sua contra ponta uma mochila com roupas aleatórias jogadas para o lado de fora.

            Ele se levantou de modo preguiçoso. Suas roupas rasgadas e velhas cobriam parte da sua pele nacarado. Em passos curtos e tontos ele saiu do quarto, caminhando em direção do banheiro. Bocejava a cada segundo prometendo a si mesmo que tentaria juntar dinheiro dali para frente.

            Antes de chegar lá, passou pela porta do quarto de Nora. Uma garota com seus dose anos, pele escura como a da mãe e cabelos encaracolados como o do pai. Ela havia sido chamada de mal presságio por muitos, já que como diamante rosa, sua decisão de ter Steven, não havia sido em uma boa hora.

            Lars abriu meramente a porta e observou a garota dormindo. Diferente do seu, além do aumento de espaço, Nora havia decorado o quarto com as cores das diamantes, que ela não conhecia, Lars acreditava que ela havia feito de modo inconsciente. A cama era rosa, com diversas flores, a escrivaninha era amarela, o espelho azul e o armário branco, a única coisa que não seguia as cores eram o tapete velho de um desenho que ela gostava.      

            Por alguns segundos, Lars desviou seu olhar para a escrivaninha, sobre a mesa, em um travesseiro roxeado, havia a peça de diamante rosa. Após a morte de Steven, a pedra havia se tornado sem brilho e vazia. O garoto estava certo, assim que a joia foi aproximada de Nora, o bebê que tinha seus dias contatos recebeu uma carga de energia e vida, porém, ela e o diamante nunca se fundiram.

            Tentando se esquecer daquilo, ele fechou a porta e se encaminhou ao banheiro. Retirou suas roupas rasgadas e entrou no chuveiro velho que o apartamento tinha. Deixou a água cair sobre o seu rosto enquanto suspirava baixo.

            Como todos os dias, aquele seria cansativo e provavelmente voltaria para casa se sentindo acabado. Queria poder ter uma pausa, mas fora de Beach City ele era apenas um garoto sem nome e desconhecido.

            Ah, suas relações. O garoto rosa não tem amigos, era isso. Sua eternidade lhe provava isso, a cada amizade, pessoa e ser que se aproximava, era como assistir a morte lenta de quem ama. Nora era a única pessoa que tinha contato, um laço contra a vontade.

            Após sair do seu banho curto, já que a água quente era contada, se caminhou até o espelho. Estava na hora da transformação, passar um quilo de maquiagens sobre o rosto para esconder a sua, nada natural, pele rosa. Se não fosse pelo, impossível de pintar, cabelo rosa, seria como alguém normal, como Steven queria.

            Sentiu sua pele pesar assim que terminou com a maquiagem. Odiava ter que esconder aquilo, se lembrava de quando estava no espaço, as coisas eram mais simples. Apenas quem conseguia enfrentar as batalhas diárias, poderiam viver.

            Pegou as roupas limpas que tinha sobre a privada e as puxou contra seu corpo. Uma camisa listrada do estabelecimento alimentício que trabalhava, uma calça jeans escura e rasgada, seus tênis pretos e sua jaqueta de couro. Se encarou no espelho lembrando dos tempos que trabalhava no Big rosquinhas com Sandie.

            Saiu do banheiro e viu Nora o esperando na porta com um sorriso largo:

-Abraço de bom dia! – ela gritou abrindo os braços.

            Lars se abaixou e fez como ela pedia, era assim todos os dias, ela tinha sentimentos fortes de afeto e, como Steven, demostrava com facilidade. Assim que a soltou se levantou indo em direção a cozinha:

-Vá se trocar – comentou de costa arrumando o café da amanhã.

-Tudo bem! – ela comentou animada, correu até o banheiro com sua camisola azulada, muito similar as roupas que Connie usava.

            Lars encarou a pia, não havia muita comida e sabia que não tinha comprado nada durante a semana. Suspirou fundo procurando entre as caixas vazias que preenchiam o armário, por sorte, bem no fundo jazia uma de cereais, não eram doces como o que preferia, mas no momento não havia muitas escolhas.

            O pegou e colocou na mesa, logo pegou uma garrafa de leite e se sentou, colocando um pouco em uma tigela, deixando ao lado uma igual para Nora.

            Em alguns segundos a garota saiu do banheiro com um sorriso no rosto e um vestido azul na saia que ia até os joelhos e amarelo na parte do peito. Ela estava descalça e rodopiava até a mesa:

-O que acha? – ela questionou esperando um elogio enquanto apertava as próprias bochechas.

-Fofa como sempre – Lars sorriu para ela, voltando para a comida em seguida.

-Awnt! – ela pronunciou com uma mão no rosto e a outra fazendo um aceno fraco, fingia um constrangimento antes de sentar e atacar o resto do cereal.

-Não esqueça do diamante – o garoto rosa a lembrou assim que terminou seu prato.

-Não é como se eu esquecesse sempre – ela apertou o rosto enquanto corava com a memória dela caída no chão com falta de ar por causa que havia esquecido o diamante.

-Na minha conta atual, foram dez – ele virou para ela pegando sua tigela vazia – apenas nessa cidade.

-Eu sei... – ela brincou com um cereal que havia caído na mesa – a gente vai... se mudar de novo?

-Você sabe que eu também não queria das últimas vezes – ele respondeu com um suspiro.

-Eu sei...

            Nós últimos anos eles se mudavam, sempre após alguém descobrir sobre Lars. Algumas vezes quando batiam o carro contra ele e mesmo com um corte em sua cabeça não havia sangue e ele levantava na hora ou quando ele sem perceber começava a andar sobre a água. Em todos os casos permanecer na cidade era como pedir para ser encontrado.

            Após o café, eles saíram de casa. A rua não estava muito cheia e nem vazia, poucas pessoas caminhavam com seus casacos pesados pelo frio da cidade. Nora andava alguns passos a frente, dava pequenos pulos enquanto cantarolava algo baixo.

            Ele observou o caminho, era tão incomum sair de casa, mesmo que fizesse isso todos os dias. Não era como andar na praia em que vivia, ou deslizar pelo espaço, era estranho, as ruas, as pessoas. Todos eram tão vazios.

            A escola de Nora, paredes amarelas e muros altos, algumas árvores em volta com um aspecto estranho, e portas de metais. Pessoas, pais adultos, deixando seus filhos contra a vontade, e caminhando hesitante para o trabalho. Crianças, querendo correr em direção ao parque ou colados aos pais desde que nasceram.

            Lars encarou a entrada e deu um tapinha nas costas de Nora:

-Vai, vaza – brincou vendo-a rir e correr para dentro da escola.

            Agradeceu mentalmente por Nora ser uma criança fácil de lidar, mal conseguia imaginar ter que cuidar de uma cria grudenta e chorosa.  Assistiu ela entrar e abraçar, todos, os colegas de turma e depois alguns funcionários. Quando o portal se fechou ele se virou e caminhou para a direção oposta.

            A rua que se dirigia estava cheia de pessoas, do mais diversos tipos, todos apressados por ser uma rua comercial e os trabalhadores afoitos pelo dia inicial da semana. Ele suspirou pegando seu walkman, obviamente recebendo alguns olhares incertos, pela iguaria antiquada.

            O objeto era um aparelho de reproduzir música com fones de alumínio e borracha. O que chamava a atenção era a grande caixa azulada acoplada para se colocar a fita cassete. Lars não diria que gostava daquele objeto, ainda mais conhecendo as suas limitações.

            O principal limite que o irritava era que todas as músicas que poderia ouvir eram as dos anos 80. Não que fossem ruins, o rock de Guns n’ rose, ou a músicas suaves de Michel Jackson, sem esquecer de Bom Jovi, Queen e Elton John. O problema era o simples que fato que em pleno 2105 ele estivesse usando algo de 1980. Ele realmente havia se perdido no passado.

            Chegou à loja de fast food, tinha seu principal alimento vendível sendo os cachorros quentes e empanados, uma loja que gostava do estilo dos anos 2000, mantendo diversos alimentos da época, como se fosse um vintage moderno.

            Encarou o balcão com a velha e conhecida maquina registradora, se sentia um palhaço a frente desta, já que, era feito apenas para decoração. O serviço ocorria de modo virtual, a sua presença ali era apenas para o bom dia e entrega, o que também era tão monótono quanto, sendo que muitos clientes pediam entregas pelos drones da empresa.

            Cada segundo passava e sua mente devaneava sobre o passado, em alguns momentos deixava-se pensar sobre o presente, mas nunca sobre o futuro. Passara sua vida anterior pensando sempre no futuro, nos outros, enquanto perdia a si mesmo, até morrer e perceber o que tanto evitava.

            Pedidos saíam das cozinhas vazias, pessoas passavam apresadas pelas portas. Minutos se passavam, o horário continuava a se alterar no relógio. Qual era a lógica? Esperava sobre o balcão pensando, ele não tinha sonhos, apenas obrigações.

            Assim que o toque final soou, sabia que era hora de ir, o trabalho de meio período que havia conseguido havia terminado, agora iria buscar Nora e ir para o trabalho que passava o resto da tarde e parte da noite acordado.

            Caminhou pelas ruas ignorando as pessoas falantes aos seus telefones. Observava alguns deslizando com skates magnéticos e algumas guardinhas correndo de um lado para o outro. A cidade havia retirado grande partes dos robôs utilizados em serviços públicos pela escassez de trabalho que a época estava envolvida.

            Virou as ruas e seguiu seu caminho em direção a escola de Nora. Estava calmo e por um momento se deixou respirar fundo. Tentaria se mudar logo para uma cidade próxima, arrumar um emprego melhor que desse para pagar o aluguel sem ter que pular alguns dias de comida, parecia uma boa ideia.

            Quando chegou a frente da escola dela, viu a garota circulada por outras duas meninas e uns três garotos, Lars pensou que eram amigos delas, mas conforme a cena se avançava percebia que a garota chorava enquanto os outros riam.  

            Correu até a cena com um temor em seu peito se questionando mentalmente sobre o que acontecia. Contudo antes que conseguisse chegar perto o suficiente, puxaram o cabelo dela e cortaram uma parte, que em seguida foi empurrada e jogada contra o chão.

            A cada passo que dava para tentar a ajudar via um brilho forte se formar na mochila dela, pediu mentalmente para que aquilo não acontecesse, lembrava como os poderes de Steven funcionavam, sabia que se não fizesse nada as coisas poderiam piorar. Sabia que não poderia gritar, o berro seria o mesmo que criar um portal para um local desconhecido em segundos, não ajudaria em nada.

            Assim que chegou próximo as crianças, elas encaravam a mochila assustada, onde havia um escudo rosa com espinhos em seu centro. Nora tinha uma coloração semi rosada, mas seus olhos brilhavam com um branco forte.

            O escudo voou até o braço dela e ela se levantou se preparando para pular contra os idiotas que haviam empurrado ela. Porém Lars havia conseguido ficar a tempo entre ela e as crianças, Nora não conseguiu se parar e o encarou com medo.

            Seu escudo bateu contra o corpo de Lars que o fez voar contra o muro, quebrando parte dele. O garoto tossiu e viu o escudo sumir do seu peito, sua roupa estava rasgada e sua pele rosa totalmente curada do dano que havia sofrido.

            Nora se levantou e pegou a mochila hesitante, estava assustada consigo mesma e correu para longe deles. Lars se levantou e foi atrás dela, por ela ter pernas curtas não havia conseguido ir muito longe. O garoto rosa segurou o braço dela e se abaixou a encarando, ele suspirou cansado e apertou os ombros dela de leve:

-Ta tudo bem? – assim que questionou aquilo, ela começou a chorar escandalosamente com lágrimas que quase ocupavam todo seu rosto.

-E-eu... não sei! – gritou esfregando o rosto.

-Respira fundo – pediu olhando ao redor.

-O que foi aquilo?! – ela questionou assustada abraçando o próprio corpo.

-Algo que eu não te contei – soltou o ar que tinha preso pela boca e se levantou – precisamos ir antes que nos sigam.

-Para onde vamos? – ela questionou segurando a mão dele.

-Beach City.

 



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