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História Equilibrium - Noite animada


Escrita por: Daemone

Capítulo 35 - Noite animada


Acho que a parte da pele morta foi tão chocante que a adaga ficou em segundo plano. Deixei a adaga, minha cama e minhas esperança de sono no quarto e fechei a porta. Pelo que dava para saber, podia literalmente ter um corpo morto animado debaixo da minha cama. 

Puta que pariu, eu só queria dormir um pouquinho. Devia ser a lei do retorno por causa da minha insensibilidade com Alec e Vanessa — Curiosamente, a lei do retorno volta rapidinho quando a vítima sou eu. Os outros? Nah, nem tanto. 

Muito calmamente, andei até o topo da escada de mármore e olhei para o Hall lá embaixo. Felizmente, Mare ainda estava lá, carregando algumas malas. 

— Oi, você pode vir aqui um pouquinho? — As vezes, meu autocontrole é uma coisa linda.

Ela ergueu a meia tonelada de malas. 

— Estou meia ocupada. O que é? 

— Uhm, tem meio que um tornado de pele morta na minha cama. 

As malas dela caíram.

— Você está brincando, não é? Vanessa falou que você adora essas pegadinhas.

— Não — Acho que minha voz saiu um pouco aguda. Ela deixou as malas para trás e subiu a escada correndo. 

Eu é que não iria entrar naquele quarto de novo. Sentei a bunda no primeiro degrau da escala e fiquei observando a coitada abrir a porta, olhar e fechar com tudo. 

— Isso não é pegadinha — Ela parecia um pouco pálida. 

Revirei meus olhos. 

— Não é mesmo. Invoca as criaturas, a casa assombrada é deles. 




 

No fim, todo mundo veio ver. Aparentemente, minitornados de pele morta são atípicos até para descendente de deuses. Que bom, só aceito a melhor qualidade de material para me aterrorizar. 

— Eu estava patrulhando o perímetro — Idia disse — Não acredito que ela mandou uma ameaça interna. 

Sam deu uma risada. 

— Isso não é ameaça, já tá morto — Para provar, ele tentou pegar um "papel-pele" ainda no ar. O treco pegou fogo na mão dele e a criatura deu um pulinho e soltou um ganido. 

Ergui as sobrancelhas, cética. 

— Consigo queimar essas… peles — Alec falou — Mas alguém tem que tirar a adaga daí.

Vanessa virou o pescoço na minha direção. 

— E por que a adaga está aí?

Então, querida, tudo começou quando Trivia decidiu sumir com ela por um tempo. Mas, agora, a praga decidiu devolver a adaga e só os deuses sabem o porquê — E vamos ser sinceros, aquilo tinha a maior cara de cavalo de Tróia, eu nem tinha coragem de encostar na adaga. 

— Eu tirei ela porque fui trocar de roupa — menti — Quando fui abrir as malas, isso aconteceu. 

— Ainda parece suspeito. 

— Vanessa, eu não acho que a Chris iria invocar as peles mortas em cima da cama dela — Layla relembrou — O suspeito aqui é outro. 

— Você tem razão, ela nem é capaz de invocar um ursinho de pelúcia. 

Cogitei enfiar a cara ruiva dela no meio das peles mortas. Já estava me aproximando sorrateiramente por detrás dela quando Alec me encarou. 

— Eu estou conseguindo sentir suas intenções malignas. 

Claramente, não era minha culpa, eu não teria intenções malignas se a irmã dele não fosse o cão. 

— Quem vai tirar a adaga? — Alec perguntou novamente.

— Tira aí, corajoso — Dei meu sorriso mais perverso. 

A criatura estava abrindo a boca para falar alguma desculpa, provavelmente, quando Damien resolveu interromper. 

— Eu tiro, e deuses, vocês são tão infantis. 

A criatura corou quando passou perto de Vanessa para pegar a adaga dos infernos. Uma pausa para glorificar a existência de garotos estupidamente corajosos para impressionar garotas, irmãos e irmãs. 

Bom, não aconteceu nada com a mão dele. Ainda bem, minha noite iria ficar mais aterrorizante se a mão dele caísse podre no colchão. 

Damien tentou entregar a adaga pra mim. Balancei a cabeça. 

— Nem a pau. Monte de pele morta ficou dançando em cima disso. Desinfeta primeiro. 

Alguma coisa na cara dele me dizia qur ele me achava um porre. 

Mas, gente, vamos ser sinceros, só as parcas sabiam quantos microorganismos de defunto ficaram na adaga.

— Idia, acompanha ele pra ver se ele vai desinfetar direitinho — E também para ver se não vai sumir com essa merda. 

Alec estralou os dedos e chamas negras se espalharam pela coluna de papéis e os transformaram em pó. 

— Essas coisas encostaram no colchão também — Apontei. 

Ele suspirou e as chamas cobriram parte do colchão, deixando um sinal de queimado bem extenso.

— Arruinando nossa propriedade — Vanessa sussurrou. 

— Eu não arruinei nada, foi ele que queimou.

Alec já estava parecendo o próprio zumbi que eu estava com medo de estar debaixo da minha cama. Talvez eu devesse devolver os calmantes dele. 

— Você pode ir dormir agora — ele falou. 

Gargalhei. 

— Não vou dormir nesse quarto nem com reza. Essa casa tem um monte de quartos, quero outro. Passou coisa morta nesse colchão. 

— Os outros quartos estão ocupados. Tem 7 pessoas nessa casa. 

— E é só virar o colchão — Vanessa falou. 

Ah, tá. 

— Se é assim, dorme você aqui e eu durmo no seu quarto — Lancei meu melhor olhar desafiador. 

Todo mundo estava encarando a pobre Vanessa.

— Sem problemas — Ela deu os ombros. 



 

Mais tarde, sozinha no quarto, peguei a adaga e rasguei o colchão com ela. Fiz um buraco grande suficiente para cobrir a adaga, coloquei a espuma por cima, passei fita crepe para dar sustentação e coloquei a capa do colchão de novo. Depois, só para garantir, virei o colchão do outro lado. 

Pelo menos a noite, com meu peso em cima do colchão, adaga estava segura. Pensando nisso. Fui tomar banho na paz do senhor. 

É claro que verifiquei o status da adaga novamente depois do banho. Nunca se sabe nesse universo louco. 

Não é surpreendente que tive alguns problemas para dormir. Idia, por outro lado, estava ressonando calmamente do outro lado do travesseiro. E sim, eu pensei na possibilidade dela ser Trivia, mas dormir sozinha — e eu já estava pra lá de acostumada a dormir com a gata — parecia um pouquinho pior depois do episódio de necromancia. 

Tec. Tec. Tec. 

Ah, cacete. 

"São só galhos batendo na janela, vai dormir, Christine"

O dilema é que não tinha árvores perto da casa, isso eu lembrava muito bem. 

Abri os olhos bem lentamente — Uma chance para as Parcas mudarem a cena na minha frente? — e vi um pássaro batendo na janela. Não sendo o bizarro o suficiente, dava para ver um trechinho do crânio do bicho. Enfim, um pássaro defunto. 

Eu realmente devia ter dormido com o abajur desligado. O que os olhos não veem, o coração não sente. 

Sacudi Idia até a criatura acordar. 

— Tem um pássaro defunto batendo na janela!

A alma da felina parecia que não tinha voltado pro corpo ainda. Surpreendente, porque a minha já podia até fazer movimento harmônico simples. 

— Cê não tá sonhando? 

— OLHA A PORRA DA JANELA!— Talvez eu estivesse um pouco exaltada. 

A gata virou a cabeça bem sonolentamente. Só pra me sacanear, a merda do zumbi alado decidiu não fazer aparição. Idia me encarou com um olhar que dizia "tadinha, tá louca". 

— Vai lá na janela ver!

— Cada coisa que tenho que fazer nessa vida…

Ela pulou na estante e olhou pra baixo da janela. 

— Tem nada não. 

— Espera alguns minutos. Eu sei que vi. 

Era de lascar, mas nada do bicho. Em algum dado momento, Idia dormiu na estante mesmo. Desejei que o bicho quebrasse o vidro e caísse na cabeça da gata na próxima aparição. 

Obviamente, qualquer esperança de dormir foi pro ralo mesmo. Depois do cagaço, meu cérebro passou para a fase maligna — aquela que começou a elaborar mil maneiras criativas de torturar Trivia se a capturasse. Eu iria fazer ela comer esse pássaro podre cozido. 

O dilema era a palavra chave. Se. Quis bater a cabeça na parede. Eu nem sabia quem era a criatura, quem dirá capturar. 

Aí comecei a articular. Se Trivia fosse um homem hétero típico que gosta de passar vergonha, daria para colocar um papel escrito "Ado, ado, ado, se o Trivio não assinar é um viado" na geladeira enquanto meu celular gravava no ângulo certo. Mas Trivia era mulher e naturalmente, mais esperta. Teria que ser uma frase mais chamativa. 

"Vai pra puta que pariu"?. Não, era muito ofensivo. E talvez ela nem se inclinasse a respoder embaixo. 

"Por que está fazendo isso comigo?". Nah, parecia muito pamonha. Não é essa a impressão que você quer passar para seus inimigos. 

Aí decidi pelo básico. Um modesto "Oi, Trivia". Conhecendo a praga, era provável que respondesse usando sangue. 

A pior parte foi tirar coragem para levantar da cama e descer. Até pensei em chamar Idia, mas vai que ela era a Trivia? Imaginei os olhinhos dela brilhando no escuro malevolamente enquanto eu descia as escadas. 

"Melhor não", pensei. 

Abri minha mala, achei um caderno e depois gastei outra eternidade caçando caneta. Rabisquei na minha letra mais legível e desci as escadas no escuro mesmo. Lanterna seria bom, mas chamar a atenção, nem tanto. 

Para vocês verem que me esforcei, até andei descalça. Me empenhei em fazer o menor barulho possível. 

Passei as escadas e o hall sem nenhum incidente bizarro, graças aos deuses. 

E céus, como aquela casa ficava assustadora no escuro. As estátuas renascentistas eram elegantes no claro, mas naquele estado, só me davam vontade de chutar para garantir que era mármore mesmo. 

Entrei na sala e vi algo imóvel estirado no sofá. 

Encarei uns dois minutos e aquilo não se movia. 

"Puta que pariu, é um cadáver".

Quando cheguei mais perto, descobri que era só a Vanessa dormindo. A hipócrita não quis dormir na cama que passou pele morta, no fim das contas. 

Andei mais cuidadosamente ainda e enfim cheguei na cozinha. 

E pasme, deu tudo certo. Eles tinham até imã na geladeira, o que facilitou o trabalho. Disfarcei meu celular no meio do armariozinho de xícaras e ainda usei o saco de açúcar para dar a impressão de dedo tocando a tela — Seria lindo ter todo aquele trabalho para a tela desligar. 

E aí voltei para o quarto, conferi a adaga e rezei para ela cair. 




 

No dia seguinte, a primeira coisa que fiz depois de acordar — Acabei dormindo eventualmente depois de tudo aquilo — foi verificar a adaga. 

A propósito, a adaga não estava mais lá. 




 


Notas Finais


Pasmem, não demorei tanto dessa vez. Consigo até ouvir um aleluia tocando no fundo.

E aí, o que estão achando? Alguma teoria sobre o porquê Trivia está brincando de "Tira adaga, bota adaga"?


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