Capítulo 1:
Azar
Procurado.
Vivo ou morto.
Aoi.
Recompensa
$900,00
Era o que dizia o cartaz que eu observava enquanto os homens do meu pai terminavam de colocar as bagagens na diligência. Estava um dia extremamente quente e eu sentia o suor escorrer pela minha pele.
Olhei uma última vez para o saloon 'Inseto de fogo' onde eu costumava me divertir nos finais de semana que eram sempre regados a whisky barato e belas mulheres.
Seria mesmo um saco ter de sair da minha zona de conforto e ir me enfiar no meio do mato tudo porque meu pai achava que meu comportamento não era digno de um Takashima.
Eu tinha apenas 18 anos e nenhuma vontade de estudar. Tudo o que eu queria estava ali, naquela cidadezinha simples e pacata abarrotada de mulheres bonitas. Meu pai sustentava meus vícios e aquilo definitivamente era o que eu queria para o resto da vida. Eu realmente amava aquele lugar.
Bufei pela milésima vez naquela tarde. O sol forte começava a me dar dores de cabeça.
- Posso ao menos ver a apresentação das meninas uma última vez? – Perguntei sarcástico assim que meu pai surgiu com mais uma mala.
- Está testando a minha paciência, Kou? – Ele me lançou um olhar mortal e jogou finalmente a última das bagagens na diligência. – Você vai entrar ou eu vou ter que te obrigar?
Só acho que a minha vida não poderia piorar.
AoiHa<3
- Que lugar lindo!
Rose rodopiava na ponta dos pés admirando toda aquela extensão interminável de mato e bois, enquanto eu nem ao menos tinha vontade de sair da diligência.
Toda aquela poeira não era digna de alguém com o meu status.
Era uma ideia ridícula abandonar todo o conforto da cidade e ir se enfiar no meio do mato, mas quem era eu para falar alguma coisa que fosse contra as leis de meu pai? Eu dependia dele, afinal.
Olhei brevemente ao redor, sentindo o delicioso aroma das fezes dos animais que conviviam ali. Desprezível e deplorável. Não acreditava na animação exorbitante de Rosemary ao saber que conviveria em um ambiente que se resumia a mato e gente caipira.
Ser rancheiro definitivamente não era para mim.
Eu era um homem urbano, não via graça alguma em um lugar como aquele. Tudo o que queria naquele momento era um banho quente para tirar toda aquela poeira acumulada e me jogar em uma cama macia.
- O que achou, meu filho? - Meu pai se aproximou com um sorriso escancarado por debaixo do bigode e aquele velho brilho no olhar de quem acaba de realizar um sonho.
O único descontente ali era eu.
- Verde demais. - Resmunguei me freando para não dizer o que realmente vinha em minha cabeça.
- Você se acostuma. Se for explorar não vá muito longe. Há rumores de um famoso bandido escondido por essas bandas.- Deu um tapa em minhas costas e se encaminhou para dentro do casarão.
Era só o que me faltava. Um bandido nas redondezas.
- O que quer fazer primeiro? - Rose se aproximou com as mãos na cintura. Estava usando o vestido azul que combinava com os olhos.
- Preciso de um banho. - Toquei a cintura fina puxando o corpo magro para um abraço confortável.
Rose não era exatamente uma candidata a futura esposa devido a família pobre e vulgar que possuía, mas era sem dúvidas a minha preferida para ocupar a minha cama.
- Um esquilo! - Ela se remexeu entre o abraço.
Olhei para onde ela apontava para encontrar o animalzinho com uma noz na boca. Eu sabia que ela adorava animais fofinhos e na tentativa de impressioná-la eu corri atrás dele.
- Vou pegá-lo para você! - Sorri para ela. - Me espere aqui!
Corri atrapalhado para onde eu achava que o esquilo havia se escondido. Bicho difícil de encontrar.
A certa altura eu me vi em um lugar diferente. Era mais rochoso e cinza do que nas outras partes. Um lugar um tanto triste, mas que me permitia sentir a brisa leve e um cheiro forte de...Tabaco?
- Procurando por isto aqui, docinho?
Virei-me de supetão quase escorregando em uma das tantas pedras que contornavam o lugar. Meus olhos avistaram a poucos metros de distância, um homem de chapéu e roupas terrivelmente imundas.
- Quem é você? - A clássica pergunta de quem se sente acuado.
Um sorriso torto enfeitou a face carrancuda e ele se aproximou alguns passos e eu recuei alguns tantos.
- Não precisa ter medo, docinho. - Ele alisou os pelos do animal que estava em seu ombro e só depois eu percebi que era o safado do esquilo. - Eu sou um homem de bem.
Quando senti o tronco grosso de uma árvore bater em minhas costas vi que estava encurralado.
- Você não deve ser daqui. - Observou minhas roupas com um olhar felino que me incomodou. - Essa pele clara e essas roupas de madame não combinam com este lugar.
Olhei melhor para o rosto com a barba por fazer e a pele levemente queimada pelo sol. Parecia querer me recordar de alguma coisa.
- E então, docinho? - Retirou a minha franja que caia insistente em meus olhos.
Crispei os lábios. Abusado. Que história era aquela de docinho? Ele devia saber que eu não era uma mulher.
- Não sou docinho! - Argui. - E saia da minha frente. Está me contaminando com toda essa sua sujeira. – Não era um bom momento para agir como um macho alfa, mas minha língua era conhecida por não me obedecer.
Os olhos de cor negra me encararam por alguns segundos e naquele momento eu tive a certeza de que já o tinha visto.
- O cartaz! - Me sobressaltei provocando-lhe um olhar mal encarado. - É claro!
- Qual cartaz? - Perguntou sem interesse.
- Tem cartazes com o seu rosto espalhados por toda a cidade. - Quase gritei devido ao meu espanto. Ele era um assaltante e eu uma presa fácil.
O sorriso carrasco se alargou de forma ainda mais cruel e um calafrio me subiu pela espinha
- Fiquei sabendo sobre isso. - Estendeu os braços um de cada lado da minha cabeça de forma ameaçadora. - Não fizeram jus a minha carranca.
Tentei escapar pela tangente, mas fui prontamente interrompido devido a um forte puxão em meu braço esquerdo que me fez reclamar de dor.
- Ficou louco? - Resmunguei tentando inutilmente me soltar.
- É melhor não gritar, docinho. - Senti algo gelado adentrar minha camisa e o barulho característico de uma arma sendo engatilhada.
Tinha todos os xingamentos possíveis para aquele homem nojento, mas era difícil formular qualquer coisa quando se tinha uma arma apontada para o umbigo.
- Vou te levar para um pequeno e divertido passeio, docinho.
Nunca me senti tão sem sorte em toda a minha jovem vida.
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