When we were young we used to say
That you only hear the music when your heart begins to break
Now we are the kids from yesterday
Ergui-me na ponta dos pés, segurando na estante para colocar um porta-retratos na última prateleira, após deixá-lo intacto no local uma caixa atingiu minha cabeça ,levando-me para o chão. Gritei um “Ai” pelo impacto e em seguida resmunguei de dor fechando os olhos fortemente.
– O que aconteceu agora Anabelle? – minha irmã perguntou enquanto se escorava no batente da porta.
– Essa merda caiu na minha cabeça, seu “amor” não presta nem para guardar uma caixa direito! – reclamei enquanto a observava rir de leve, negando com cabeça. Finalmente olhei para a caixa aberta no chão, onde várias fotos tinham sido espalhadas.
– Deixe de ser ranzinza, parece uma velha rabugenta. – a ignorei somente porque estava presa na primeira foto que admirava, éramos nós duas, em frente a nossa antiga casa em Huntington Beach.
– Vem ver Mad! – ergui a foto para ela, e a mesma se aproximou por trás, tirando o pedaço de papel envelhecido de minha mão.
– Quase não me lembrava dessa foto. – comentou, controlando a emoção.
– Foi nessa época que conhecemos os meninos... – falei, seguido de um suspiro, e peguei outra das inúmeras fotos em minhas mãos.
– É e que época. – ela disse desgostosa, jogando a foto de novo na caixa e saindo do quarto.
Eu e Madson brincávamos no jardim de nossa casa, tinha acabado de completar meus 11 anos semanas atrás e Mad se vangloriava com seus 12. Não éramos garotas típicas do bairro que se juntavam num chá de bonecas, nós jogávamos futebol americano e baseball. Apesar de eu preferir baseball porque não me deixava com os cabelos tão bagunçados.
A tarde estava só começando, portanto nos aquecíamos arremessando a bola de futebol de um lado para o outro, era engraçado ver aquela bola oval voando no ar. Mas isso já estava começando a entediar, e acabamos por nos jogar na grama espessa depois de estarmos mortas de cansaço.
– Mad está ouvindo essa música? – perguntei ofegante ouvindo um rock pesado ao longe.
– Que música Belle? Pirou? – ela se apoiou nos cotovelos e eu pulei ficando de pé seguindo o som da música.
– Vem de lá. – apontei para a casa na frente da nossa vendo a garagem com uma pequena abertura e pés se movimentando por trás dela.
– É mesmo, vamos lá. – Madson saiu na minha frente, como sempre, querendo explorar novos cantos.
– Ei me espera! – gritei correndo atrás dela.
Madson bateu na porta da garagem, não recebeu resposta, então bateu de novo só que mais forte e mesmo assim de nada adiantou, o som ensurdecedor de rock impedia que eles a ouvissem. Assim, ela disparou um chute contra a porta que tremeu e eles pararam a música, obviamente assustados.
Ergueram a porta da garagem e apareceram quatro garotos, todos tinham os cabelos cortados para cima, um tinha o cabelo castanho e olhos igualmente castanhos também, o outro tinha a mesma cor de cabelo, porém olhos verdes. Mais atrás outro garoto de olhos claros, mas cabelos loiros e ao lado dele um menino de olhos verdes e cabelos pretos. Sorrimos e o mais alto que segurava uma guitarra olhou Mad de cima a baixo, sussurrando algo para o outro ao seu lado.
– Oi eu sou a Anabelle! E essa é minha irmã Madson! – exclamei enquanto continuava a sorrir.
– Hei! Sou Jimmy, esse é Zacky, e esses dois aqui Matthew e Brian. – o garoto loiro saiu dos fundos pondo-se na frente de todos e estendendo a mão para que eu o cumprimenta-se, assim o fiz.
– Vocês gostam de rock? – perguntou Zacky apontando para nossas camisetas de banda.
– Claro né bobão, ou você acha que eu uso essa camiseta porque sou idiota? – minha irmã nada educada respondeu e os garotos zoaram o garoto – Ér desculpe, não quis ser grossa... Mas então, ouvimos o som de vocês, será que podíamos ficar aqui e ouvir? – ela perguntou enquanto jogava os cabelos castanhos para trás.
– Podem sim! – exclamou Jimmy enquanto os outros dois garotos continuavam quietos.
Eles voltaram para seus lugares e começaram um cover do Pantera, percebi que Mad não tirava os olhos de Matthew, o mesmo estava concentrado demais na música, assim não pode perceber os olhos castanhos esverdeados dela nele.
Minha irmã era o patinho feio na nossa turma de escola, tinha os cabelos curtos e castanhos, e usava aparelho ortodôntico. Apesar de já ter os seios desenvolvidos, isso não chamava atenção já que ela os escondia debaixo de camisetas largas.
Eu era apenas a “pirralha” era assim que me chamavam pelo menos, uma criancinha fofa de olhos verdes cabelo castanho escuro e uma pequena pinta na ponta do nariz. Não era um patinho feio como minha irmã, mas também não era o objeto sexual da imaginação de nenhum garoto.... ainda.
Depois de mais duas músicas eles pararam de tocar e eu os aplaudi pulando no caixote velho enquanto os grandalhões viravam os olhos, apenas Jimmy entrou na minha comemoração e piscou um dos olhos para mim como se brincasse comigo. Madson continuava com os olhos obcecados em Matt, com certeza minha irmã precisaria de tratamentos para se desintoxicar do menino.
– Vocês ensaiam todo dia? – perguntei enquanto eles se sentavam em outros caixotes, e Brian acendia um cigarro.
– Sim. Vocês são novas por aqui né? – perguntou Brian enquanto soltava uma fumaça longa pela boca.
– Somos nos mudamos há uma semana. – respondi e lancei um olhar para Mad que nem sequer se preocupava em disfarçar os olhares para o garoto dos olhos verdes.
– Quantos anos você tem Anabelle? - o mesmo perguntou.
– Tenho 11, me chame de Belle ou Ana só. – sorri.
– Dá vontade de apertar suas bochechas Ana. – Jimmy disse rindo e eu virei os olhos.
– E a Madson não fala, dá pra perceber. – Zacky murmurou olhando para minha irmã e a mesma desviou o olhar de Matt.
– Matthew não fala também. – ela respondeu mostrando a língua.
– Já vi que a garota é perigosa, cuidado em gente a menininha jorra veneno. – ele disse olhando para ela e fazendo uma careta.
– A Mad não é quieta assim, acho que ela não está bem. – murmurei e ela virou para mim com os olhos faiscando.
– E você não cansa de ser irritante né pequena Anabelle! – só podia estar de tpm conclui comigo mesma enquanto os meninos caiam na risada.
– Eu não sou irritante. – rebati fazendo um beicinho – Eu sou? – perguntei para os outros e eles olharam para Mad como se pedissem socorro.
– Ainda não. – Matthew respondeu por todos revelando seus dentes brancos.
Embarcamos numa conversa qualquer, enquanto Madson continuava alheia a qualquer palavra que falávamos, apenas rebatendo rispidamente quando alguém a zoava, essa não era minha irmã. Alguma coisa havia de errado.
Pouco tempo depois ouvi o barulho do motor do carro da mamãe se aproximando, e sai da garagem puxando Madson pelo braço avisando aos meninos que voltaríamos no dia seguinte, eles acenaram ao longe.
– O que foi aquilo Mad? Você não tirou os olhos de Matt, parecia que estava em outro lugar. – perguntei me enfiando para debaixo das cobertas, desligando a luz do abajur.
– Ah não me encha o saco Ana! – ela disse entredentes enquanto se virava ao lado oposto ao meu.
– Tudo bem sua chata! Você ainda vai vim querer brincar comigo e eu vou falar pra você não me encher o saco! - virei de costas para ela também.
Alguma coisa havia acontecido quando ela viu aquele garoto, Mad sempre foi chata, mas não a esse ponto. E eu iria descobrir, nem que fosse a última coisa que eu fizesse, minha curiosidade poderia custar a amizade dela, mas ainda sim valia a pena tentar. Cai no sono.
Cause you only live forever in the light you make
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