História Erase This - My Heart Is Broken

3 semanas depois…

As semanas passaram mais rápido do que eu pensava, eu passei a viver no modo automático, algo semelhante como da época em que tinha perdido o bebê, todos estavam preocupados comigo, mas Anabelle mantinha o controle da situação.

    Os objetos perfurocortantes foram escondidos e as garrafas de bebidas para o lixo, mas no fundo eles não precisavam se preocupar tanto, pois até meu comportamento autodestrutivo tinha desaparecido. Sinceramente não sabia nem como estava conseguindo acordar todos os dias, era como se estivesse processando eternamente tudo que havia acontecido. 

    Foi Belle que conseguiu conversar e arrumar um acordo com mamãe, a mulher ficou feliz por optarmos em morar com ela, mas ficou mais do que preocupada com o motivo. Felizmente não precisei participar de nenhuma discussão, ou escutar algum sermão, minha irmã estava tomando todos os partidos e eu seria pra sempre grata. 

    Ficou acertado que eu iria embora mais cedo, com mamãe, isso porque havia decidido desistir da escola por esse ano, minhas notas já estavam ruins e não queria ter que me arriscar a trombar com Matthew por mais alguns meses. Anabelle conseguiu convencer facilmente a mulher, argumentando que seria muito melhor para nós começarmos na mesma sala na nova escola, pois eu perderia esse ano letivo e ficaria atrasada, ou seja na mesma série que ela. 

    No entanto para concordar com tudo isso mamãe impôs algumas regras e entre elas seria que eu deveria comparecer nas duas consultas semanais com o terapeuta em Londres, além disso, precisaria escolher algum curso para não ficar totalmente desocupada durante os dois meses que seguiria sozinha, enquanto Ana estaria aqui em HB para terminar a série na escola. 

    Eu concordava com tudo, sem nem ao menos titubear, naquele momento qualquer coisa que sugerissem iria aceitar, isso porque na minha cabeça tudo passava como um borrão branco, como se estivesse vivendo paralela na realidade, anestesiada pela quantidade de acontecimentos que me cercava. 

    Nos dias que seguiram recebi visitas recorrentes dos meninos, que foram muito bem instruídos pela minha irmã controladora a não me fornecer qualquer informação sobre Matt, e sinceramente, estava grata por isso. Já era tortura suficiente abrir a janela do quarto e me deparar com a casa dele bem em frente, trazia a tona lembranças todo os dias. Como resultado, passava muito tempo em qualquer cômodo da casa que não fosse aquele. 

    Por incrível que pareça todas as vezes que observei a rua ele nunca estava, o que para mim era um sinal, demonstrando que estava tomando a decisão certa, pois sabia que se o visse por pelo menos uma fração de segundo, perderia a coragem e desistiria de todo o plano. 

    Enfim poderia deixar de me preocupar, pois o embarque para Londres estava agendado para o dia seguinte bem cedo, Anabelle e Brian nos deixariam no aeroporto, meu pai chegaria só depois do final de semana para tomar conta da caçula durante os meses seguintes. 

    Mamãe estava correndo contra o tempo, empacotando tudo e resolvendo assuntos da empresa, ela corria frenética pela casa sem largar do telefone. A única coisa que precisava era embalar minhas coisas também. 

Fitava meu quarto a horas, pensando no que iria levar, mas a cada minuto só tinha mais certeza de que queria realmente deixar tudo para trás, pois até minhas próprias roupas lembravam a Matt e ao seu cheiro, parecia que ele estava de fato impregnado em mim. Os pôsteres na parede, as garrafas de bebida vazias no canto do quarto, até mesmo o relógio despertador quebrado na mesinha ao lado da cama, tudo lembrava ele, pois cada pedaço daquele lugar tinha tido uma história com Matthew.

    Cai na cama, resignada, não tinha como levar qualquer coisa de HB, precisava me livrar de qualquer memória dele. Isso me levou instantaneamente a segurar o colar que ainda rodeava meu pescoço, um dos primeiros presentes que ele havia me dado, o pingente de meia caveira, que ele possuía igual. Lágrimas grossas se acumularam em meus olhos. 

    E pela milésima vez na semana estava chorando… Algo que já tinha se tornado recorrente, porque toda maldita hora lembrava de algo que me levava a lamentar. Mamãe nem se abalava mais ao me ver nesse estado, não porque ela não se importava, mas porque sabia que não havia nada que pudesse fazer para melhorar a situação.

- Ei posso entrar? - me apoiei nos cotovelos para ver Anabelle apoiada no batente da porta, apenas acenei positivamente com a cabeça - Você nem começou a embalar suas coisas… - iniciou antes de se sentar ao meu lado na cama. 

- Acho que eu não vou levar nada daqui Belle. - afirmei ainda rodando a pequena caveira entre os dedos - Tudo me lembra ele, não posso seguir em frente levando pedaços do Matthew junto comigo pra Londres. - conclui e tomei impulso para ficar sentada. 

- Até as calcinhas? - perguntou com um sorriso no rosto, tentando fazer piada, o que deu certo, pois acabei soltando um riso fraco - É, o caso é mais grave do que eu pensava. - terminou pensativa e eu a empurrei, fazendo cair da cama - Ai! Isso doeu 

- Isso é pra você ser menos presunçosa. - acrescentei rindo da situação, enquanto ela levantava - Você pode falar com a mamãe sobre eu não querer levar nada? Porque isso significa ter que gastar dinheiro com roupas, e muitas outras coisas quando chegarmos em Londres… não sei se ela vai gostar da ideia. 

- Mad agora nós vamos ter outra vida, você sabe disso né? O que significa poder comprar um guarda-roupa inteiro novinho e um motorista particular… - ela girava empolgada no quarto, no fundo sabia que a garota estava fingindo muito bem as emoções - Mamãe agora vai assumir a riqueza igual nosso pai, então com certeza ela não vai ficar brava em comprar tudo novo pra você! - em seu rosto havia um largo sorriso. 

- Você sabe que eu nunca vou poder te agradecer adequadamente né? - e era verdade, pois sabia que ela estava abdicando de toda a sua vida e sonhos apenas por minha causa. 

- Cala a boca, já te disse mil vezes, você nunca precisa me agradecer. - respondeu antes de me sufocar em um abraço apertado. 

- Ok meninas, tem espaço pra mais um nesse abraço? - Jimmy nos olhava próximo a porta e nos afastamos para que ele entrasse no meio - Caramba eu vou sentir muita falta disso. - comentou ainda sem nos largar, meu coração se apertou, triste com a situação. 

- Brian já está aí? - Belle perguntou animada quando nos separamos. 

- Sim, está lá embaixo ajudando sua mãe com algumas coisas… - no mesmo minuto Belle saiu em disparada, de encontro ao namorado, não a julgo por que eu com certeza teria feito o mesmo. 

- Esses dois estão cada vez mais grudados. - comentei com Jimmy, enquanto nos ajeitamos na cama, os dois deitados de barriga para cima. 

- Sim… vai ser foda quando… - ele parou, provavelmente repensando se deveria mesmo terminar a frase, mas eu sabia exatamente do que se tratava. 

- Não queria que ela passasse por isso sabe, já falei pra Belle ir para L.A ficar com nosso pai, assim estaria mais perto do Brian.. de vocês… - iniciei, o sentimento de culpa pairando sobre mim. 

- Ela nunca vai aceitar isso, você sabe, a ideia já está enfiada na cabeça dela, e vai até o fim com isso, é o jeito da Belle… você não tem que se sentir culpada por isso, tenho certeza que ela está fazendo tudo na melhor das intenções. - ele virou o corpo para me encarar e eu fiquei mais próxima, apoiando a cabeça em seu braço - Eles vão dar um jeito no fim, isso não é problema seu Mad… A Ana está tomando essa decisão porque quer, ninguém a está obrigando, muito menos você. - imediatamente sorri para ele, Jimmy sabia exatamente o que dizer para acalmar alguém. 

- Mas eu não consigo evitar de pensar que se não fosse por mim ela não teria que mudar a vida toda dela. - argumentei ainda insatisfeita e ele me puxou para um abraço, beijando o topo da minha cabeça. 

- Para de pensar essas besteiras ok? Anabelle é sua irmã, ela não está fazendo nenhuma caridade ou muito menos sendo obrigada a se mudar para a Europa. Ela escolheu isso, assim como você. - concluiu por fim e eu desisti de rebater, relaxando em seus braços. 

- Jimmy eu preciso saber uma coisa… - iniciei ainda sem nos soltar. 

- Eu sei o que você vai perguntar e não posso responder Mad, a Belle me mata. - rebateu antes mesmo que eu pudesse finalizar, sai de seu aperto o encarando com o meu ar mais piedoso. 

- Rev vou embora amanhã, por favor, preciso saber se ele está bem apenas… - implorei o encarando. 

    Era verdade que as últimas semanas sem notícias do garoto tinha sido a melhor opção para meu estado, mas agora há poucas horas de ir embora tudo que meu coração precisava era saber dele. 

- Tá bom… - cedeu, antes de soltar um suspiro - Se você contar pra Belle e ela vier brigar comigo eu juro que…

- Prometo que não vou dizer nada! - exclamei empolgada o interrompendo. 

- Que seja... - ele revirou os olhos e voltou para posição inicial, deitado de barriga para cima - Ele está indo na medida do possível… - houve uma longa pausa antes dele decidir se deveria continuar - Ok, ele está tão mal quanto você Mad, um verdadeiro caco. - as palavras me atingiram como um soco no estômago, eu imaginava que estaria mal, mas pensá-lo naquele estado doía - Nós estamos cuidando dele, então ele não se mete em confusões ou fica mais bêbado do que o normal… Mas ele está muito quieto, não dá pra saber o que passa direito dentro da cabeça do ogro. - terminou, por fim, e só então percebi que chorava novamente, afundei o rosto na lateral do corpo de Jimmy - Tá vendo, que merda! Eu não devia ter falado nada! - resmungou bravo, antes de me puxar para um abraço novamente. 

- Eu tenho medo de estar tomando a decisão errada. - afirmei baixinho. 

- Mad, você nunca vai saber se não fizer… Além disso, acredito que na atual situação não existe uma alternativa muito melhor, acho que um tempo separado vai ser bom para os dois colocarem as ideias no lugar. - respirei fundo, me tranquilizando diante da sua informação. 

- Você é um amigo maravilhoso sabia? - nos separei para vê-lo sorrir orgulhoso - Vou sentir muita saudade Jimmy. 

- Eu também Madzinha. - mais uma vez ele me sufocou entre seus braços - Bom agora você vai tomar um banho e ficar bem bonita, porque os meninos vão vir aqui pra pequena festa de despedida, nós vamos comprar um montão de pizza e cerveja. - nos separamos e ele se levantou. 

- Tudo bem, eu só vou fazer uma coisinha antes e já entrarei para o banho. - ele assentiu antes de desaparecer para fora. 

    Num salto sai da cama e fui em direção a mochila escolar aposentada, lá de dentro tirei algumas folhas em branco e uma caneta, além de um caderno para usar como apoio. Sentei-me no banquinho embaixo da janela, olhei para a casa conhecida em minha frente, inspirei uma grande quantidade de ar e coloquei a caneta sobre o papel.. as palavras saiam rápidas. 

   Olá, bom não sei por onde começar… É estranho escrever para você quando tudo que eu queria era estar nos seus braços… Mas preciso te fazer entender que essa é a melhor decisão para nós agora. 

    Matthew, você foi o primeiro amor da minha vida e hoje não consigo me imaginar sem você, dói ter que te deixar para trás, assim como tudo que construímos juntos. Mas você melhor do que eu, sabe o quão danificados estamos, não há como reconstruir, passar uma borracha e apagar tudo o que aconteceu… Simplesmente estamos muito quebrados para isso. 

    Quero que você saiba, que hoje consigo te entender um pouco melhor e talvez começo a compreender os motivos que te levaram a me trair daquela maneira…. Eu te perdoo Matthew, mas não o suficiente para retomarmos, pois tanto eu quanto você sabemos que não daria certo. 

    Vou embora, porque continuar a viver em HB sem você é insuportável, até estar no meu próprio quarto te escrevendo isso, é de fato incômodo. Pois você conseguiu cumprir o seu papel direitinho, se impregnando em cada pedaço que envolve meu ser. 

    Estou indo embora, porque nós precisamos de recomeços Matthew, e dessa vez têm que ser longe um do outro, pois nos magoamos demais para poder simplesmente ignorar e fingir que nada aconteceu. Acho que mais do que nunca, precisamos aprender a ser independentes e enfim lidar com as nossas dores sozinhos. 

    Talvez você não entenda minha decisão, mas saiba que ela sobretudo é pensando no nosso bem, porque mais do que tudo, eu desejo que você seja imensamente feliz, mesmo que seja longe de mim. 

    Então eu te peço Matt, por favor, siga em frente, viva como nunca, aproveite cada momento intensamente… Prometo que farei o mesmo por você. 

    Termino esta carta pedindo desculpas por não me despedir pessoalmente, mas você sabe que se eu fizesse isso não teria coragem de ir embora… Espero que você entenda Matthew, tudo isso eu faço por ainda ter grande amor por você. 

Seja feliz Matthew Sanders, sempre vou te amar. 

    As lágrimas já estavam secas em meu rosto, pois tinha chorado o tempo todo enquanto escrevia, só consegui me acalmar o suficiente no final. Peguei o envelope amassado que tinha achado entre meus materiais, ele não era bonito ou sofistificado o suficiente, mas serviria, dobrei a carta e coloquei dentro dele, depois tirei com dificuldade o colar que enfeitava meu pescoço dando o mesmo destino da carta para ele. 

    Não fazia mais sentido usar aquele adereço, pois eu não era mais a metade de Matt… não era mais nada dele.... Essa afirmação me fez chorar novamente, e antes que me perdesse o controle larguei a carta sobre o banquinho em que antes estava sentada. 

Segui para o banheiro, um banho quente ajudaria a relaxar, e depois ter a companhia dos meninos pelo resto da noite com certeza iria acalmar meus nervos. Estava ansiosa pela viagem amanhã e não num sentido bom.