História Erase This - Seus Olhos

Você já me viu sério

Já me viu de porre

Me viu fazendo drama
Por sua desordem
Mas triste, isso eu nunca quis
Que você visse

– PUTA QUE O PARIU! – gritava me apoiando na cama sentindo a água gelada em meus cabelos e o plástico nojento da camisinha grudado em meu braço. – Dá pra você usar essa camisinha no seu pinto Sanders? – joguei a camisinha nos dois que riam descontroladamente e sai do quarto batendo a porta.

Torci os cabelos com a mão enquanto ia descendo pela escada, caminhei direto para a cozinha abrindo a geladeira e pegando a coca de lá de dentro... Virei num gole como de costume e então eu tinha certeza de que poderia cuspir fogo.

A bebida desceu queimando minha língua e garganta e antes que eu pudesse engolir tudo cuspi para fora o líquido e larguei a garrafa em cima da bancada da pia, enfiando a cabeça debaixo da torneira tomando a maior quantidade de água possível.

Depois de quase me afogar por tanta água que tomei me senti um pouco recuperada, no entanto minha garganta estava quente... Muito quente.

Eu sabia que isso só podia ser coisa da Mad. Com toda a raiva possível juntei a garrafa em minhas mãos e fui subindo as escadas, ela me fez beber e eu a faria dormir com a porra da pimenta!

Escancarei a porta num chute e encontrei os dois se separando, ambos com as bocas brancas... Talvez porque se beijavam. Foi então que o ódio se triplicou.

– A Madzinha... Você gosta tanto de bebidas exóticas não é? – indaguei ironicamente me aproximando de sua cama enquanto ela e Matt me observavam confusos – Pois então, já que gosta tanto, não se importaria de ter o cheiro de pimenta impregnado no colchão! – despejei o líquido da garrafa em sua cama uniformemente, e como estava sem lençol, permitiu que o líquido penetrasse ainda mais no colchão... Levantei a garrafa quando o líquido estava quase acabando – Ah! Não posso me esquecer de um lugar! – soltei um sorriso cínico e despejei o resto do líquido em seu travesseiro.

–Anabelle! Você ficou louca? – indagou Mad surpresa.

– Você quem colocou pimenta aqui dentro primeiro! – sorri e arremessei a garrafa em sua direção.

Ouvi buzinas lá embaixo, buzinas conhecidas e logo os gritos eufóricos de Jimmy... Corri para recebê-lo.

– ANA! – exclamou o magrelo que vestia bermudas, chinelo e uma camiseta três vezes maior que seu corpo, ele me pegou pela cintura e rodopiou no ar.

– Jimmy chega! – pedi batendo em seus ombros.

– Ok, ok... Você vem com nós? – perguntou voltando para carro onde estava Johnny e Zacky acenei para os dois.

– Aonde? – perguntei sem entender.

– A Mad não te avisou que a gente vai à praia para beber? – engoli em seco balançando a cabeça negativamente. – Mas você está a fim de ir? – assenti repetidas vezes com os olhos brilhando – Ok, um dos putos te espera aqui.

Voltei correndo para dentro de casa, trombando sem querer com o “casal”, ignorando-os e subindo para o quarto, fechei a porta rápido e fui para o armário pegando o primeiro biquíni que vi...

Ele era verde água, tomara que caia. Vesti uma minissaia jeans e me dirigi ao banheiro, lá amarrei meus cabelos num coque desleixado e contornei os olhos com lápis, mesmo sabendo que estávamos indo para a praia, borrifei uma quantidade moderada de perfume em meu corpo junto a desodorante. Calcei os chinelos brancos e pulei os degraus da escada...

Congelei ao abrir a porta, Brian me esperava encostado à porta do carro, usava uma bermuda qualquer e uma camiseta de banda... Andei hesitante até ele que tragava o cigarro pela metade.

– Oi Belle. – respondi apenas com um aceno de cabeça e fui para o banco do passageiro.

Ele não demorou em entrar no carro e logo deu partida, o idiota devia ter feito questão de me levar... Apoiei a cabeça no banco e virei o corpo para a janela tentando ignorar sua presença. Demorou um tempo para que eu percebesse que ele não dirigia em direção à praia.

– Brian... Onde estamos indo? – perguntei virando para ele

– Logo você verá. – ele tentou colocar a mão sobre a minha, mas num reflexo rápido me virei de costas para o mesmo de novo e fechei os olhos por um longo tempo, tempo demais já que ao abri-los ele parava o carro junto à calçada.

– Que merda é essa Brian? Porque você me trouxe aqui? – perguntei me livrando do cinto e abrindo a porta do carro examinando o local – Onde estamos?

– Na outra ponta da praia. – bufei e sai do carro jogando a porta atrás de mim – Ei! Aonde você vai?

– Vou sair daqui! – exclamei entredentes e sai andando com passos firmes, ele correu me alcançando.

– Belle, por favor, me desculpa por qualquer merda que eu fiz! Perdão, perdão, eu não consigo mais viver nessa situação... – ele me segurava pelos braços e eu o observava atônita não querendo deixar meus olhos molharem de lágrima.

– Não há nada que você possa fazer... – murmurei tentando me soltar e ele segurou mais forte ainda meus braços.

– Há uma coisa, deve haver! – suspirei pesadamente.

– Há sim... – ele me olhou esperançoso – Você me soltar! – tentei me libertar, em vão, de seus braços, mais uma vez.

– Eu não vou te soltar até resolver isso! - parei de relutar e descansei.

– Vai embora me deixa em paz, não consegue entender isso? – perguntei suplicante por mais que todos meus instintos fossem contra isso.

– Você realmente acha que eu vou ficar assistindo nossa amizade ir se acabando aos poucos, e não fazer nada? – joguei a cabeça para trás sentindo seus dedos pressionarem meu braço.

– Amizade? Você acha que ela está se acabando aos poucos... Brian ela já aca... – ele não me permitiu terminar juntando nossos corpos e deixando seu rosto a milímetros dos meus.

– Nunca diga isso Anabelle! Nunca! – ele exclamou com os olhos brilhando em lágrimas ralas e eu sentia seu hálito bater em minha bochecha, baixei o olhar e ele me envolveu num abraço. – Você nunca irá esquecer né? – fiz que “não” com a cabeça e ele me apertou mais contra si.

– Não é algo que eu possa esquecer... – murmurei me afastando dele.

– Tem como você voltar? – perguntou e eu soube exatamente sobre o que ele se referia.

– Porque eu voltaria Brian? Dê-me um bom motivo! – ele sorriu como se soubesse a resposta.

– Por mim. Por mim e pela nossa amizade... Por tudo que já fomos algum dia, e principalmente porque eu... eu te a... – não estava pronta para ouvir aquelas palavras, elas pesavam e provocariam feridas maiores se não fossem cuidadas com o devido carinho.

– Shhh... Chega ok? Eu posso tentar, mas não prometo nada. – admiti ainda segurando seus lábios entre o polegar e o indicador e ele me abraçou forte girando meu corpo pelo ar. – Senti falta disso... – admiti enquanto ele me colocava no chão e sorria para mim.

Ele envolveu sua mão na minha, segurando-a forte quando eu quase hesitei ao toque, lançou-me um dos sorrisos que tanto gostava e de novo eu estava perdida em seus olhos... Voltamos para o carro.

...

Cruzamos a praia lado a lado, recebendo olhares curiosos do grupo que observava nossas risadas exageradas... De repente era como se tudo fosse igual há tempo atrás, tirando o fato de que Mad estava sentada no colo de Matt, aparentemente, bêbada.

Eu ainda tentava me recuperar da ressaca do dia anterior, não tive tempo para sentir as dores no corpo ao acordar com a água gelada, muito menos tempo para dor de cabeça ao virar a coca com pimenta de uma vez só...

Sentamos na rodinha e Brian pegou duas garrafas de cerveja, recusei.

– Olha o que eu trouxe aqui! – murmurou Zacky bêbado arrancando o violão da capa.

– Isso tá quase parecendo um luau. – falei e Brian me olhou divertido.

– Porque quase? – perguntou dando um grande gole em sua bebida.

– Porque eu não estou bêbada, e se eu não estou bêbada, nem vendo duendes não é um luau de verdade... – todos riram e por minutos eu consegui desviar a atenção do casal um pouco mais distante, acontece que meus olhos logo se prenderam aos dois quando eles começaram a se beijar.

– Quer ir ao mar Belle? – perguntou Jimmy como se adivinhasse meus pensamentos, assenti.

Ele passou o braço por meus ombros e era visível o quanto já estava “animado” com a bebida, Jimmy era forte para esse tipo de coisa, mas se já era engraçado sem o álcool no sangue, três garrafas de cerveja o deixavam mais animado engraçado ainda!

– Fez as pazes com o chaminé? – perguntou despreocupado quando nossos pés já atingiam a borda do mar.

– Chaminé?

– É o Brian...

– Acho que sim, mais ou menos... – sorri ruborizada e ele riu.

Andamos mais um pouco até a água bater em suas canelas e em meus joelhos, e ele parou novamente segurando meus ombros e me virando, seus olhos azuis puros transmitiam-me uma calma inovadora.

– Porque você se incomoda tanto com a Mad e o Matt? – perguntou inocentemente, mas ainda assim, sabendo a resposta, parecia que ele queria me ouvir dizer...

Antes que eu pudesse inventar uma resposta convincente alguém me pegou pela cintura e me jogou sobre os ombros... Brian... Ele começou a caminhar para o fundo enquanto eu distribuía socos em suas costas.

– Depois que eu morrer aqui no fundo, você vai sentir minha falta! – exclamei agarrada em seus ombros enquanto ele se movimentava circularmente pelo mar, ele riu e encostou a bochecha na minha sussurrando em meu ouvido:

– Mesmo não estando morta eu senti tua falta. – a voz rouca dele me provocou arrepios e eu cravei as unhas levemente em sua pele, pude ouvir um suspiro escapar de seus lábios.

Descansei minha cabeça em seu ombro, o rosto virado para o pescoço, minhas pernas se enrolaram em sua cintura e seus braços me abraçaram encostando nossos peitos... Podia sentir sua respiração, tanto quanto ele deveria poder ouvir a minha.

Impensadamente colei meus lábios em seu pescoço, sentindo as pequenas gotas salgadas em minha boca, o senti estremecer debaixo de mim e me apertar mais contra seu corpo...

...

– Porra Sullivan! Não consegue nem acender uma fogueira! – ralhou Brian enquanto pegava o isqueiro na mão, Jimmy jogou as pedras, com que tentava conseguir uma faísca, longe.

– Você só fode né? Podia ter me falado que tava com a porra do isqueiro! – Jimmy fez um bico voltando a se sentar enquanto tomava um gole de sua cerveja recém-aberta.

O sol estava se pondo e nós tínhamos decidido prolongar noite na praia, Mad estava mais do que bêbada, dançando em volta de Zacky que tocava qualquer coisa no violão, Matt olhava-a com intensidade... Eu tentava ignorar seus olhares, e estava conseguindo. Johnny estava desmaiado debaixo de uma palmeira.

Brian após acender a fogueira se sentou ao meu lado esparramando as pernas pela areia e fazendo o caminho de minha coluna com a ponta dos dedos, causando-me arrepios... Lancei um olhar repreensivo para ele que me respondeu com um sorriso de canto enquanto bebia mais da cerveja.

Todos estavam extremamente bêbados, eu era a única sóbria entre a cambada e não foi surpresa quando Zacky se levantou, cambaleando e se apoiando em Mad que ria descontroladamente, e começou a gritar:

– EU SOU O REI DESSA PRAIA PORRA! EU SOU! EU SOU! – ele pegou Mad no colo- VAMOS CORRER! UHUL! – ele começou correr com ela nos braços e não demorou muito para eles voarem quando o bolota tropeçou a areia, Mad caiu uns vinte passos a frente dele.

Ele não afetado pelo tombo, pôs-se de pé e virou de costas abaixando as calças mostrando a bunda branca feito papel... Joguei-me para trás rindo descontroladamente, e como se não bastasse, Jimmy resolveu se juntar as loucuras de Baker... Porém esse foi mais radical ficando nu e correndo para o mar... Mad começou a arrancar as roupas querendo imitar, mas Matt a pegou e foi para o fundo do mar com a mesma.

– Não vai querer ir correr nu com eles? – perguntei rindo para Brian que tinha um cigarro entre os dedos.

– Só se você for! – ri de novo e me debrucei por seu corpo tirando o cigarro dele e apagando na areia.

– Estou cansada de sentir essa porra de cheiro de cigarro! – resmunguei voltando a meu lugar e ele me lançou um olhar sugestivo.

– Você não devia ter feito isso... – não tive nem tempo de gritar por socorro, ele me jogou em seus ombros e começou a me levar para o mar gelado.

A noite seria longa, mas eu não me importava, estava com meus amigos... Como tinha sentido falta daquilo... Não havia nada melhor do que a risada escandalosa de Jimmy, os surtos de Zacky... Tudo era melhor ao lado deles!

Os meus olhos sentem a falta dos seus
O meu corpo sente a falta do seu
A minha alma sente a sua falta