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História Erro - Proximidade


Escrita por: biagw

Capítulo 7 - Proximidade


 Ainda era bem cedo, mas o sol brilhante indicava que o dia seria um pouco menos frio e escuro que o anterior. A luz entrava pelas janelas, passando pelas cortinas claras e iluminando bem o ambiente. A sala era pequena, mas bem arrumada e com um estilo bem único e marcante. Alguns porta-retratos espalhados pela estante deixavam o egocentrismo de seu dono à vista – ou amor próprio, como ele preferia chamar. Observando bem, era estranho não ver mais nenhum rosto entre as fotografias além daquele do único morador do espaço.

 Yibo já tinha reparado em cada foto e em cada centímetro do cômodo, afinal, não tinha muito mais pra fazer. Naquele momento se distraia com o celular, rindo baixo das piadas que via pelas redes ou se atentando a notícias que poderia ser importantes. Tinha acordado bem cedo, talvez pela claridade a que não estava acostumado, talvez pelo ambiente estranho ou talvez pela posição estranha em que havia passado a noite.

 Não sabia muito bem como havia assumido aquela posição, na verdade. Se lembrava de ter começado a dormir sentado já que seria impossível tirar Xiao Zhan de cima de suas pernas, mas não se lembrava de quando ou como haviam se entrelaçado daquela forma. Xiao não estava mais sobre suas pernas, mas sim em seu tronco, estrategicamente deitado de forma que seu braço machucado não o atrapalhasse, e com a cabeça encostada entre o ombro e o pescoço do mais novo. Por mais que supor que haviam dormido com tamanha proximidade fosse um tanto constrangedor, Yibo tinha que assumir que era mais confortável que continuar sentado.

 E, enquanto ele estava acordado há alguns longos minutos, Xiao não parecia ter previsão pra acordar. Dormia feito um anjo, com a respiração calma e a perfeição de seu rosto ainda mais perceptível. Aquela era a primeira vez em que Yibo verdadeiramente parava para encará-lo de perto e perceber seus detalhes. Era realmente bonito, devia admitir. Tinha traços tão bem definidos e delicados, qualquer um daria elogios à sua beleza.

 Distraído das mensagens que recebia no celular, Yibo pensava em qual seria a reação do mais velho quando acordasse e percebesse a situação em que estavam. Mal ele sabia bem como reagir. Poderia ser algo bem desconfortável, mas na verdade não era tanto. Não tinham intimidade o suficiente pra chegar àquele momento caso ambos estivessem sóbrios, mas também não era um total estranho, nem uma pessoa que precisaria necessariamente afastar. Tinha acontecido e não tinha porque brigar por isso, não era tão grave no final.

 Ele se ocupava em tentar usar o telefone sem se mexer muito pra que o outro não acordasse e, na tentativa de alcançar o aparelho, seu braço direito acabava cercando Xiao Zhan deitado em seu peito. Yibo riu, estavam estranhamente próximos demais, numa cena que só teriam se estivessem num bom relacionamento, algo como namorados. O que não era realidade e por isso tornava tudo cômico. Ele não era do tipo que se sentiria envergonhado por isso, então nada impedia que continuasse lá, cercando o mais velho com seu braço enquanto mexia no celular fazendo o mínimo de movimentos possíveis.

 Várias mensagens chegaram de uma vez e Yibo só pode sorrir ao notar que eram de Li, questionando em desespero a razão de seu sumiço por tantas horas. Tinha se esquecido por completo que combinara com a garota de ajuda-la a arrumar algumas coisas pra um trabalho dela da faculdade. Bom, ainda não teria como sair, então teve que negar a ajuda que já tinha prometido e se justificar aproveitando para irritá-la um pouco de propósito. Yibo sabia dos ciúmes bobos e desconfianças que Li tinha especialmente sobre Xiao Zhan, e não pode deixar a oportunidade passar. Seu pequeno, mas existente, lado sapeca teve a ideia de provocar a garota com uma fotografia. Posicionou o celular de forma estratégica na mão esquerda, deixando que a direita caísse levemente sobre o ombro de Xiao e enviou o registro à ciumenta amiga – que, por mais pegajosa que fosse, realmente não tinha nenhum outro sentimento em relação a ele.

 Teve que segurar a gargalhada ao receber as respostas confusas, surpresas e desacreditadas de Li. Várias delas seguidas, pedindo alguma explicação para a romântica cena que havia acabado de ver. Yibo pensou em contar sobre sua verdadeira justificativa, mas abandonou a ideia assim que sentiu Xiao Zhan se mexendo por entre seus braços. Demorou alguns segundos, mas logo ele acordou de vez. A principio não totalmente, mas seus olhos se abriram devagar enquanto ele resmungava sobre a luz que invadia a sala ou sobre a ressaca que fazia sua cabeça ainda doer um pouco.

 Depois do breve momento de reclamações em que Xiao finalmente se percebeu acordado foi que ele notou que algo ali estava errado. Primeiro porque não estava no quarto, segundo porque seu suposto travesseiro se mexia e, por último, porque algum perfume era forte por ali e com certeza não era o seu. Como se demorasse pra juntar todos os pontos, sua reação não foi imediata, ele apenas se afastou um pouco antes de encarar o mais novo de vez e arregalar os olhos em total surpresa pelo que via.

 O grito de susto que Xiao soltou fez com que Yibo sorrisse largamente e os dois quase caíram juntos do sofá com sua super reação. Por mais que ele fosse o ‘culpado’ pela situação era óbvio que não se lembrava de ter feito metade das coisas que fizera sob o efeito do álcool. O espanto em seu rosto dividia espaço com a expressão envergonhada que tornava suas bochechas rosadas e fazia seu olhar desviar pela sala fugindo dos olhos do mais novo. A cabeça ainda doía um pouco, mas a dor era até esquecida por causa do desconcerto que a cena proporcionava.

“Fique calmo, você não fez nada de errado, nem de muito assustador” – Yibo cortou o silêncio, imaginando que talvez o outro estivesse preocupado com as próprias atitudes na noite anterior – “Só não me deixou ir embora e dormiu por aqui”

 Xiao Zhan assentiu devagar, sem saber como responder e extremamente envergonhado. Praguejou mentalmente contra si por ter passado dos limites e bebido mais que o necessário e por ter forçado aquela cena desagradável. Bem, talvez desagradável não fosse a palavra já que não podia dizer que a noite havia sido péssima, pelo contrário, conseguiu dormir bem melhor do que normalmente dormiria num dia de ressaca. E ter companhia também não era ruim.

“Me desculpe” – numa voz que quase não saiu ele tentou parecer despreocupado, mas seu coração estava acelerado com tantas novas informações. Se levantou do sofá com pressa pra fugir do que havia aprontado e viu os óculos sobre a mesinha, imaginando que tinham tido a conversa necessária. Bom, pelo menos seu objetivo inicial tinha sido cumprido.

 Xiao saiu e Yibo não o seguiu, nem respondeu. Percebeu que ele estava fugindo da situação e apenas sorriu, sabia que essa seria a reação de qualquer bêbado que aprontou mais do que devia. O mais novo se levantou em seguida, espreguiçando e percebendo que a posição desfavorável no sofá tinha lhe causado algumas dores musculares – menos do que imaginara, no entanto. Foi até a cozinha, pensando em preparar algo pro café da manhã, já que era o visitante e não poderia ficar apenas observando o trabalho do outro.

 Era sábado então não precisavam se preocupar sobre trabalho ou faculdade e isso fazia com que ele não estivesse apressado pra ir embora. Podiam passar mais um tempinho por ali, não podiam? Xiao sequer o havia convidado ou pedido por sua companhia mas, de alguma forma, Yibo sentia que deveria ficar. Além do mais, preparar algo deveria ser difícil ao dono do apartamento que contava só com o braço esquerdo, não custava ajuda-lo naquela refeição.

 Xiao Zhan demorou tempo suficiente pra voltar à sala pra que Yibo terminasse de preparar todo o café. Ele encarou a mesa pronta com surpresa, mas também gratidão, não podendo conter um pequeno sorriso que escapava por seus lábios. A verdade era que morava sozinho a anos e, mesmo que isso não tivesse sido problema por um longo tempo, começava a se sentir solitário pelos últimos meses e isso o entristecia. Fazia um bom tempo em que não preparava u, bom café da manhã, por exemplo, que apenas comia porcarias ou pedia algo pronto. A mesa cheia e o ar tranquilo de Yibo traziam sentimentos bons à tona e, embora não soubesse como lidar com eles, Xiao estava feliz por senti-los.

 Quem diria, agressor e vítima juntos, num calmo café da manhã. Seria estranho e inimaginável se não fossem pelas circunstâncias.

 O que Xiao não imaginava era que Yibo também precisava de sua companhia e estava feliz com ela. Assim como ele, morava sozinho fazia um tempo, tendo Li como amiga próxima, mas sentindo falta de alguém. Sua irmã mais nova com certeza era uma pessoa importante e com quem se preocupava, mas ela tinha a própria vida, amigos e família. Eram meio-irmãos, na verdade. Yibo podia não ter a mesma sensação de solidão, nem assumir pra si mesmo que precisava de alguém, mas, no fundo, esperava por uma companhia.

“Você fez tudo isso?” – Xiao interrompeu o silêncio, com os olhos brilhantes e o sorriso leve. Yibo assentiu, sentando-se na mesa e apontando pra que ele o seguisse – “Obrigado, não precisava se preocupar com isso”

“Eu gosto de cozinhar” – retrucou, despreocupado e já aproveitando para atacar os pratos que havia preparado. Xiao Zhan sentou-se em sua frente e o silêncio pairou mais uma vez, estava bem claro que o assunto terem ‘passado a noite juntos’ era proibido e não apareceria. O mais velho se aliviava por não ser cobrado nem xingado pelo que tinha feito, Yibo fingia não saber de nada – “Aquele quadro é seu?” – depois do longo silêncio, Yibo apontou a uma tela grande que ocupava a parede da sala. A pintura tinha traços leves e revelava uma bela paisagem noturna de cores fortes e aparência mágica. Xiao assentiu tímido e satisfeito.

 Ao mesmo tempo sentiu-se um tanto deprimido. Primeiro por se lembrar que ficaria ainda um longo tempo longe da pintura e depois porque aquele quadro em específico lhe trazia sentimentos nostálgicos. Estava ali na parede havia tanto tempo que não tinha mais sua atenção e seu significado se perdia, talvez devesse tirá-lo dali e substitui-lo por algum mais recente e menos emotivo.

“E você?” – Xiao aproveitou o momento pra iniciar alguma conversa que não tivesse um clima tenso. Se conheciam fazia alguns dias, partilhavam momentos romanticamente estranhos, mas ainda sabiam o mínimo um sobre o outro – “Faz o que?”

“Tenho uma matrícula trancada na universidade e alguns empregos de meio período” – sorriu, disfarçando o sentimento de fracasso que sentia sobre si mesmo. Em sua visão, Xiao Zhan parecia bem sucedido, com um bom apartamento, num curso ‘chique’ e com grandes talentos, estava num nível acima do seu – “Eu comecei a cursar música, mas...”

“Música?” – Xiao o interrompeu, num sorriso encantado. Tudo que vinha das artes o encantava e era bom saber que dividiam tal gosto. Yibo assentiu, desanimado – “Por que parou?”

“Por vários motivos” – suspirou e comeu um pouco antes de pensar em como resumiria a confusão em que sua vida andava nos últimos meses – “Eu não tinha tempo pra me dedicar e trabalhar ao mesmo tempo” – resumiu, sem tocar nos detalhes. A história seria muito longa se os detalhes aparecessem, era melhor ignorá-los por enquanto. Tentou parecer indiferente e Xiao apenas assentiu em silêncio, sem graça de continuar perguntando sobre o tópico – “Mas talvez eu volte um dia”

“Eu achei que fizesse algo ligado à moto” – o mais velho sorriu fraco, querendo espantar o tom triste que a conversa tinha tomado, e recebeu o sorriso de Yibo em troca

“É, de certa forma...” – seu sorriso aumentou um pouco, aquela era uma parte que gostava de mencionar. Amava a música, mas provavelmente amava ainda mais as corridas e a adrenalina provocada por elas. Não estava exatamente num nível profissional, mas se considerava quase isso – “É um hobbie, digamos”

 Xiao Zhan sorriu de leve e os dois continuaram aproveitando do café e de conversas aleatórias sobre assuntos não importantes de suas vidas. Aquela provavelmente era a primeira vez em um longo tempo em que tinham alguma companhia durante a manhã e isso os deixava animados, sem que sequer se lembrassem das circunstancias que fizeram com que se conhecessem. E sorriam sem perceber, contando extasiados sobre suas rotinas, coisas bobas do cotidiano e curiosidades inúteis de suas infâncias. Também era a primeira vez em que conversavam casualmente sem falar sobre problemas, agressões ou dívidas.

 Mesmo tendo acabado, continuaram na mesa, conversando enquanto o tempo passava sem que percebessem. Até que foram interrompidos pelo celular de Xiao Zhan que tocava sem parar. O mais velho se levantou e sua expressão de total alegria sumiu no mesmo instante em que leu o nome brilhando na tela. Disfarçou e foi atender a ligação em seu quarto, longe do olhar de seu inesperado hóspede. Yibo não seria invasivo a ponto de perguntar e menos ainda segui-lo pra descobrir o porquê do pânico em seus olhos, então apenas esperou na sala pra que pudesse se despedir e ir embora em seguida.

 Enquanto esperava, relembrava a breve conversa que tiveram na noite anterior e ria sozinho, encarando a nova armação do óculos sobre a mesinha da sala e o pequeno envelope com algumas notas perto do capacete de sua moto também por ali. Xiao Zhan demorou um tempo pra voltar, como se a conversa fosse bem importante e, quando reapareceu na sala, Yibo teve que desistir da ideia de se despedir imediatamente. A expressão dele tinha mudado por completo e os olhos vermelhos deduravam um choro recente.

 Nenhum dos dois soube como agir naquele momento. Yibo sabia que algo de errado havia acontecido, mas tinha medo de perguntar, enquanto Xiao queria guardar segredo e explodir ao mesmo tempo. O clima brilhante que cercara a manhã toda tinha claramente se perdido e, mesmo em silêncio, o mais velho parecia clamar por ajuda.

“Posso perguntar o que houve?” – Yibo se aproximou um pouco, confuso e preocupado. Não sabia por que estava preocupado daquela forma, mas estava. Dessa vez as lágrimas não eram sua culpa mas, mesmo assim, sentia que deveria dar um jeito nelas. Xiao Zhan desviou o olhar por alguns segundos, sem saber o que responder. Era um assunto que nunca tinha abrido a ninguém e talvez aquela pessoa em sua frente não fosse íntima o suficiente pra descobrir os problemas de sua vida. Ou talvez não devesse preocupa-lo com coisas pessoais

“Foi...” – as palavras estavam entaladas como um restante de choro que não saiu. Ele suspirou tentando pensar melhor e reencontrar coragem, mas ainda se sentia envergonhado por estar passando aquilo na frente de Yibo. No entanto, o assunto corroía seu coração e o inquietava, já tinha sido guardado por tanto tempo, talvez precisasse dividi-lo antes que o consumisse por completo. Encarou o mais novo parado em sua frente com um olhar que não julgava sua situação nem tentava força-lo a dizer nada e se sentiu um pouco mais encorajado – “Posso falar com você sobre algo?”


Notas Finais


Olá!

Desculpem o misterio aq no final ksksks teoricamente eu ia continuar contando, mas o capitulo ficaria mto comprido e demoraria mais pra aualziar, entao achei melhor ficar pro proximo

Beijinhos e até logo ;)


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