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História Escapar - Ángulos del juego


Escrita por: bellaciaobitch

Capítulo 12 - Ángulos del juego


A lua já brilhava no céu quando Raquel acordou. Ela se espreguiçou, dengosa como um gato, e apalpou o lado oposto da cama. Vazio. Não tinha a mínima noção do quanto tempo havia dormido e se sentou, ainda perdida na realidade, escaneando com olhos espremidos o quarto escuro.

Depois de quase vinte dias dormindo e acordando juntos, tinha se acostumado a despertar com o calor do corpo de Sérgio aninhando o dela. Era normal encontrá-lo imediatamente, dormindo com um braço sobre sua cintura, lendo um livro ao seu lado ou pairando sobre ela enquanto a observava dormir. Até em noites ruins em que os pesadelos traumáticos atormentavam o sono de Raquel, ele estava lá para buscar um copo d'água e assegurar que tudo estava bem - mesmo que não estivesse - para que ela pudesse dormir aliviada.

Mas, na inconstância de um relacionamento de fugitivos, Raquel duvidou que contar com a presença dele todas as noites ao seu lado fosse um hábito saudável. Porque, quando não o viu, sentiu o desespero cutucar-lhe a calma, bem na boca do estômago.

Jogou as pernas para fora da cama e só então notou que ainda estava nua. Acendeu a luz fraca do abajur e colocou a calcinha e a camiseta que ele havia jogado no chão, antes de sair do quarto. Pelo corredor, o viu de costas para o sofá, encarando a janela da sala. Falava baixinho no telefone, uma mão enterrada no bolso da calça, e não pareceu perceber a presença dela quando Raquel caminhou na ponta dos pés e o abraçou por trás.

“Ligo depois” ele disse no aparelho ao se sobressaltar com a sua presença e desligou a ligação imediatamente.

“Parecia importante” ela comentou sem pretensão. “Desculpe se estraguei sua reunião de negócios”

Ele riu, descansando as mãos nas dela e a sentiu depositando um beijo em suas costas. “Nada que não possa esperar”

“Sonhei com Paula” Raquel soltou do nada e Sérgio franziu as sobrancelhas, encarando o próprio reflexo na janela. Mas ela riu, num tom divertido “ela brincava de fazer castelos de areia na sala de casa e tínhamos que dar uma boa bronca por que estava arranhando todo o piso”

“Tínhamos?” ele perguntou

“Sim, você estava lá” ela apoiou o queixo nas costas dele e sorriu com a imagem do sonho atrás das pupilas. “E era um padrasto melhor do que Alberto jamais conseguiria como pai. Sinto tanto a falta dela.”

“Raquel, sobre isso…” ele se soltou dos braços dela e quando se virou, seu sorriso tinha sumido. “Precisamos conversar”

Por coincidência ou destino, - algo que Raquel nunca iria entender - Sérgio não conseguiu completar a fala. A campainha soou como uma sinfonia pela casa, delicada como o canto de um anjo. Mas Raquel bufou, sabendo que a promessa da conversa com Sérgio iria perturbar sua curiosidade a noite toda.

Ele se afastou para abrir a porta enquanto ela continuou parada na sala, sem mexer um músculo.

“Ai, ai, ai, professor” a voz femenina de Nairobi soou do lado de fora “quem te vê assim, todo sedutor sem camisa, nem imagina que costumava a usar aqueles pijamas cafonas na época do assalto!”

Ela gargalhou junto com uma voz masculina e Raquel supôs que Helsinki estivesse com ela. Sérgio continuou em silêncio e Raquel desejou ver sua expressão, mas a porta entreaberta escondia seu rosto.

“Está sozinho?” a morena perguntou e Sérgio finalmente abriu a porta completamente, de forma que os dois tivessem a visão da inspetora inclinada no braço do sofá, com as coxas completamente a mostra e braços cruzados. Helsinki pigarreou e o sorriso de Nairobi aumentou.

“Ah” ela disse por fim, entrando no apartamento sem ser convidada e Raquel precisou se relembrar que aquele flat era de Nairobi e que ela era a verdadeira intrusa ali. “Inspetora, nem nos meus sonhos mais loucos imaginei que a veria assim tão… semi-nua…”

“É muito bonita” Helsinki ofereceu um sorriso e Raquel acenou de volta.

“É estranho, isso sim” Nairobi discordou “Quase como imaginar papai e mamãe transando. Mas fico feliz que estejam...”

“Eu colocaria uma roupa limpa, se tivesse uma” Raquel interrompeu e lançou um olhar acusatório para Sérgio que pigarreou constrangido. “Imagino que tenham vindo nos buscar para jantar?”

“Sim, a limusine está esperando lá embaixo” Helsinki disse e Sérgio riu sozinho. “Porque não me espanto com o fato de vocês terem algo tão exuberante quanto uma limusine?”

“Como você acha que a alta sociedade vai à baladas em Dubai?” a morena levantou uma sobrancelha “Se não tem uma limo, você não é ninguém nessa cidade!”

“Eu vou trocar de roupa, cinco minutos” Raquel anunciou quando os três começaram a conversar, sentindo que seria o melhor momento para fugir dali. Ela sentiu os olhos de Sérgio a acompanharem até sair do cômodo.

“Ah, demore o tempo que precisar!” disse Nairobi e Raquel se assustou quando não percebeu nenhuma ironia em seu tom.

***

A saia lápis e blusa simples, que Raquel usou dias atrás para conhecer a avó de Sérgio, não era nem um pouco apropriada para o glamuroso restaurante que Nairobi queria jantar. Então, decidiram comer alguma coisa em um dos bares de Helsinki que mais parecia uma gruta.

Era escuro, mas as paredes feitas de pedra cinza-chumbo brilhavam como diamantes refletindo a luz fraca. O bar principal de mógno era adornado por luzes de led verde e pichações elaboradas em grafite colorido. Cabeças de animais empalhados, se intercalavam entre quadros vintage e garrafas de bebida nas prateleiras de vidro. O cheiro de nicotina encheu os pulmões de Raquel e ela imediatamente reconheceu Rolling Stones tocando nas caixas de som.

Pensou e como sua versão mais nova amaria aquele lugar, com seus coturnos pretos e jeans rasgados. Sorriu. Sentia-se estranhamente confortável.

“Grécia?” Sérgio perguntou e finalmente atraiu a atenção de Raquel para a conversa, o prato com uma comida típica esfriando na frente dela. Ele tinha um pequeno pedaço de papel em mãos, adornado com uma fita azul. O convite estava extremamente amassado de muitas mãos que o manusearam e a inspetora se inclinou para espiar dentro.

“Eu preferia casar em paris, mas acho que também é um bom destino” Helsinki disse mordiscando um pedaço de carne.

“Denver sempre foi um romântico” Nairobi comentou “ele quer que seja inesquecível com Mônica”

“Com certeza será” Raquel tomou um gole de sua cerveja “ouvi dizer que Santorini é linda na primavera”

Silêncio. Olhos desviaram dos dela e Raquel começou a se sentir incomodada com o constrangimento que surgia no ar toda vez que ela se pronunciava. Franziu a testa. Algo estava errado.

“O que está havendo?” ela perguntou, colocando o copo de novo na mesa.

“Porque não jogamos uma partida de sinuca?!” Nairobi sugeriu numa animação forçada, já se levantando. Raquel observou irritada enquanto os homens a seguiam, e segurou o braço de Sérgio com força antes que ele se afastasse.

“Você prometeu não esconder nada de mim” ela sibilou entre dentes, raiva começando a se formar dentro de si.

“Não estou escondendo” ele respondeu olhando em volta “Mas aqui não é um bom lugar, Raquel. Pode chamar atenção. Só jogue um pouco de sinuca e finja que está tudo bem, sim? Quanto mais rápido acabar, mais rápido chegaremos em casa para conversar”  

Ela o deixou ir mas não afugentou a ira dentro de si. Veio a calhar para despertar seu lado competitivo, e reavivar suas habilidades na sinuca. Eliminou Helsinki e Nairobi logo de cara, os deixando pra traz no placar da pontuação e empatando com Sérgio. Assim seguiu um jogo épico com sangue nos olhos e sentia que precisava derrotá-lo naquela partida, como se sua dignidade dependesse daquilo.

“Parece que a inspetora é vai destruir você Professor” Helsinki uivou em animação quando Raquel acertou mais uma difícil jogada, uma bola verde bola devidamente encaçapada.

“Eu sempre soube que ela era uma competidora a altura” ele respondeu, se inclinando para acertar o taco na bola branca. Lançou um olhar intenso pra ela e Raquel abriu um sorriso sexy enquanto passava o giz em seu taco. Sérgio quis prensá-la contra a mesa de sinuca e transar com ela ali mesmo.

Quando perceberam, o bar inteiro havia parado para olhar os dois jogando, o clima competitivo misturado com tesão pairando entre eles. O placar continuava acirrado e a cada jogada, Raquel debruçava-se sobre a mesa, empinando a lombar para que ele tivesse uma boa visão. Ou para que ao menos se distraísse.

Mas a Sinuca não é um jogo puramente estratégico, como o Xadrez, que Sérgio poderia ganhar até de olhos fechados. Era calculado, sim, mas precisava também de atenção, do movimento correto, a angulação certa entre bola e taco e, claro, mira. Algo que a inspetora tinha de sobra. Por isso riu da cara de bobo dele quando ela acertou uma tacada cheia, encaçapando mais de duas bolas e ganhando o jogo.

Helsinki esbravejou de alegria e oferecendo aos clientes uma rodada de cerveja por conta da casa enquanto Sérgio circulava a mesa, para substituir o sorriso satisfeito dela com um beijo.

“Bela partida, inspetora” ele brincou, envolvendo os braços na cintura dela.

“Obrigada, professor” Raquel respondeu, abraçando-o de volta.

Com o queixo apoiado no ombro dele, ela tinha se permitido esquecer de sua complicada situação de fugitiva, incluindo o princípio de discussão que tiveram momentos antes, sobre ele esconder coisas dela. Mas nem o sentimento de paz que só os braços dele proporcionavam evitou seu sorriso de sumir, o pânico arregalando os olhos enquanto encarava a TV no fundo do bar. Na tela, seu ex-marido era algemado na porta da casa dela em Madri, enquanto Paula chorava agarrada às pernas da avó.


Notas Finais


Oi moreees! Será que vem treta por aí? Deixem seus comentários e me digam o que mais gostaram no capítulo de hoje! E como sempre muito obrigada pelo feedback nos capítulos anteriores. Nem sempre da pra responder todo mundo mas saibam que vcs todos são lindos e eu sou muito grata de verdade! Enfim, beijos e até semana que vem! <3


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