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História Escapar - Morto per la libertà


Escrita por: bellaciaobitch

Notas do Autor


OI GENTEEEE SENTIRAM SAUDADES?
Pois eu tbm tava sentindo mta falta de vcs e não tenho nem desculpa pelo sumiço... mas voltei!
Este estava previsto pra ser o ultimo capitulo de Escapar mas como ficou ENORME e eu tenho amor pelos meus leitores, eu resolvi que vou escrever um prólogo daqui a um tempo, só pra vcs não ficarem muito triste com o final. No entanto, com o fim se aproximando, queria agradecer IMENSAMENTE por todos os puxões de orelha, todos os surtos, os comentários, os likes, as teorias, as parcerias e as histórias. Por todo o carinho e a paciência que vcs tiveram comigo nesse tempo todo de fic. Muita coisa aconteceu desde que postei esse primeiro capitulo e sinto que finalizando escapar será como fechar um ciclo e recomeçar outro. Quem sabe a parte 3 traga novas fics, né não? Por fim, é isto. Agora, vou fazer igual a itziar poliglota nas legendas do instagram dela:
boa leitura | buena lectura | good reading!

Capítulo 25 - Morto per la libertà


Quinta-feira, 23:04.

Apesar da insistência da mãe e os apelos da filha, a inspetora não dormiu. Passou o tempo todo agarrada à Paula, na cama da pequena, enquanto encarava o peito de Marivi subir e descer, na cama ao lado. Por mais cansada que estivesse, não conseguiu pregar os olhos um segundo sequer, sabendo que estava cercada de predadores por todos os lados. A ideia de que àquela altura, não havia ninguém a salvo de fato a deixava inquieta. Nem ela, nem sua família, muito menos Sérgio e os assaltantes estavam seguros.

Ela hesitou ao tirar a arma do coldre para se deitar. De onde estava, conseguia olhar a porta do quarto de hotel e constantemente voltava sua atenção para as sombras dos sentinelas pela fresta de luz no rodapé. E, por um momento, se sentiu mais prisioneira dentro do quarto do que se estivesse sido presa de fato. Com os nervos a flor da pele, ela não demorou muito para saltar da cama quando vislumbrou uma terceira sombra pairando entre a dos seguranças.

“Algum problema?” ela disse abrindo a porta para o clarão do corredor e dando de cara com um Angel esbaforido e descabelado.
“Raquel! Raquel deixe-me falar com você! Eu preciso…”
“A família não está autorizada a receber visitas” disse um dos homens de preto, fazendo as sobrancelhas de Raquel se afundarem numa careta.
“Minha família recebe visitas quando eu quiser que receba” ela disse, estufando o peito “Ou estamos todos encarcerados aqui e eu não sabia?”
“Senhora, são ordens do Coronel, eu não p…”
“Que seja!” Raquel o cortou, levantando as mãos para o ar. “Angel, te encontro em dez minutos no saguão do hotel. Ou serei proibida de sair também?”

Raquel fuzilou o segurança com o olhar e ele pigarreou, claramente desconfortável. Pela visão periférica, ela sentiu o outro trocar o peso do corpo entre os pés, ansioso. Ótimo, ela pensou, dois inexperientes.

"Não, senhora”
“Perfeito” e fechando a porta com o máximo de atitude que conseguia, sem que acordasse sua mãe e sua filha, Raquel voltou para dentro em busca da pistola adormecida no criado mudo.

Quinta-feira, 23:15.

Quando encontrou com Angel novamente, na portaria do Hotel, já estava vestida para batalha, mesmo sem saber o que esperava por ela. A pequena arma, que havia reconquistado recentemente, já sacolejava no coldre do lado esquerdo da cintura, o jeans surrado justo nas coxas e a regata preta lisa lhe caiam como uma luva. Uma inspetora sem distintivo. Ela também sentia os olhos ardendo de cansaço mas o coração acelerado não permitia um segundo sequer de paz.

“Raquel, escute, é Prieto!” Angel despejou tudo de uma vez assim que a viu, meio receoso de ser ouvido.
“Que? Acalme-se Angel, o que tem Prieto?”
“O Ministro da Segurança, ele prometeu uma promoção de cargo a Prieto… por causa do assalto!”
“Angel, nada do que você diz faz sentido…”
“O novo assalto foi completamente armado, Raquel! O presidente quer a cabeça dos assaltante de verdade!” ele pausou sem saber se deveria continuar quando viu os olhos dela se desviando catatônicos para o nada. “Eu lhe disse que iria lhe provar que estava do seu lado, então estou te contando o que descobri. É tudo uma…”

“...Armadilha” Raquel paralisou. Parecia que seu metabolismo havia desacelerado para dar lugar a agilidade de seus pensamentos. Ao seu redor, a visão chegou a ficar turva, os movimentos em câmera lenta e os sons um mero zumbido. Ela só conseguia pensar em…
“Sérgio está em perigo” a inspetora finalmente fixou o olhar, agora alerta e desesperado, para Rúbio e ele apenas assentiu
.“Qual o plano dele?”
“O carregamento de munição das armas para o tiroteio” Angel engoliu em seco, olhando para os lados “Nem todas são de festim. Algumas são de pólvora. Balas de verdade. Acho que são as selecionadas para o professor”

Algo dentro de Raquel se dilacerou e ela sentiu que poderia desmaiar se não estivesse num completo estado de alerta. Respirou fundo, avaliando o que poderia fazer, todas as saídas possíveis que evitariam a chacina em frente à fábrica. Era tarde demais para interceptar as cargas, ja deviam estar todas dentro das armas agora. Jamais conseguiria convencer Prieto de abortar o plano e também seria impossivel distinguir qual dos milhares de homens da operação teria a responsabilidade de matar Sergio. Nada poderia impedir que lhe tirassem a vida ali mesmo. Nada além… dela.

“Eu preciso ir, Angel” ela disse, agarrando a mão do subinspetor. “Minha mãe e Paula…”
“Vá, nada vai acontecer a elas enquanto eu estiver aqui. Eu prometo”
Raquel soltou o ar dos pulmões o máximo que pode, sem que se derramasse em emoção ali mesmo. Abraçou Angel de lado, rápida porém afetuosamente “Me perdoe por tudo, meu amigo.”

Angel sorriu e assentiu, pela primeira vez mais compreensível do que derrotado ou invejoso. Sua missão estava cumprida. Ela tentou sorrir de volta, mas saiu meio torto, quase como uma fera que mostra os caninos sem querer. Raquel já ia partindo quando ele segurou sua mão com firmeza.

“Espere. Você pode precisar disso” e entre os dedos trêmulos dela, ele deixou o reluzente distintivo de inspetor da Polícia Nacional de Madri.

Quinta-feira, 23:46.

Raquel não se lembrava de ter corrido tanto na vida, até aquele momento. Desde que fechou a porta do taxi, preso a quase meia hora no trânsito infernal da cidade, seus pés não se deram o luxo de parar por entre os carros que buzinavam. Ela correu e correu e mal percebeu a falta de ar lhe queimando os pulmões, o coração quase pulando pra fora da boca e o suor escorrendo pelas têmporas. Sequer teve tempo de pensar na missão suicida que estava prestes a executar.

Na verdade, a primeira coisa que ela notou foi a multidão que se unia em marcha pela avenida central: vestindo vermelho, milhares de pessoas com máscaras de Dali caminhavam segurando cartazes, tochas e galões de gasolina. A maioria cantarolava Bella Ciao em murmúrios e a cena sinistra arrepiou os pelos da nuca de Raquel.

Mas ela só desacelerou quando a passeata, a princípio pacífica, começou a se agitar ao adentrar o perímetro da Fábrica Nacional da Moeda. À frente, um corpo de operações especiais da polícia montavam uma forte corrente humana para impedir que a multidão avançasse pelo pátio dianteiro da Fábrica e atingisse as escadarias. Camuflada e presa no meio de tanta gente, Raquel se sentiu perdida e completamente desnorteada. Claustrofóbica, até. Precisava sair dali, precisava chegar até Sérgio e avisar do plano, precisava…

“Espere, ela não é…?” ela escutou alguém dizer mas nem olhou para o encapuzado.

“É ela sim! Ei inspetora!?”

Sentia-se a ponto de desmaiar. As máscaras giravam à sua volta, estava tonta, nauseada e vermelho era tudo o que ela enxergava. Ela sabia que era um ataque de pânico, já tivera muitas vezes para reconhecer, mas pela primeira vez uma multidão despertava seus temores mais profundos... Ou era o medo de perder quem amava? Seus pulmões clamavam por ar e quando Raquel se ergueu na ponta dos pés para respirar, ela o viu.

Sérgio vestia vermelho também, limpando os óculos enquanto examinava a multidão por uma fresta da janela da frente. Pendurado em seu pescoço um rifle enorme que ele com certeza não sabia usar. Ninguém se deu conta dele ali mas, como um farol brilhante na noite cálida, Raquel viu seu mundo torto voltar para a direção certa.

“Preciso passar! Polícia! Me deixem passar” gritou

“A inspetora! Deixem a inspetora passar!” o rapaz atrás dela esbravejou mais alto e Raquel viu as pessoas dando passagem a ela, quase como num mar vermelho se abrindo, a empurrando pra frente. Gritos se cessaram para que ela escutasse, olhos a encorajaram para que ela lutasse, cabeças se curvaram para que a primeira dama da revolução passasse. Sérgio deve ter percebido a movimentação de onde ele estava porque ao ponto que Raquel atingiu a grade humana de policiais, ele já abria as portas blindadas da fábrica.

“Sérgio, vá!” ela gritou “Fuja!” mas ele não escutou no meio de palavras de ordem e cantorias. Continuou parado ali, sem saber exatamente o que fazer. Ao fundo, ela reconheceu Tokio grudada no braço do professor, quase que implorando para que ele voltasse pra dentro.

“Deixe-me passar, sou da polícia!” ela forçou os braços de um dos policiais mas ele continuou em silêncio e a empurrou de volta com uma violência desproporcional que a levou ao chão.

E assim, em poucos minutos, o caos estava formado.

Quinta-feira, 23:58.

Raquel caiu. E como dois pólos de um mesmo imã, Sérgio imediatamente reagiu, indo ao encontro dela no pátio externo com uma urgência no olhar. Os policiais, que tentavam conter a multidão, voltaram suas armas para o chefe da gangue exposto ao ar livre e ele pareceu de repente se lembrar que estava vulnerável porque parou, imóvel, com as mãos erguidas no ar.

A inspetora, em toda sua pequenez e sagacidade, não pensou duas vezes antes de engatinhar entre as pernas dos policiais, passando do bloqueio. Ao fundo, manifestantes aproveitaram a brecha da segurança para correr com suas tochas e em direção à fábrica e os soldados já não sabiam se impediam a multidão ou se miravam bo professor. Os outros assaltantes não demoraram pra perceber que havia algo de muito errado e também saíram para o pátio mascarados, apontando suas armas bravamente para os policiais de forma a proteger o professor. Entre os outros, eles eram quase irreconhecíveis.

Mas Raquel mal se importou com policiais, assaltantes ou civis. Se quer percebeu a Fábrica da Moeda em chamas, exalando uma fumaça negra. Quando voltou a correr, a única coisa que enxergava era Sérgio, a segurança dele, o abraço dele, os beijos dele e…
O barulho de tiro, seguido da dor lancinante no meio das costas.

Sexta-feira, 00:02

Tropeçou de novo, mas dessa vez, os braços de Sérgio a seguraram, como sempre fizeram. Por um instante ninguém se moveu no meio do pequeno inferno que se formou ali. Se quer ousaram respirar. Os policiais se entreolharam enquanto os assaltantes também. Mas Raquel teve medo de olhar para qualquer lugar que não fosse nos olhos dele.

Reparou, enquanto o encarava, que a luz vermelha flamejante que vinha da Fábrica incendiada, lançava uma penumbra sob o corpo do professor que se debruçava sobre ela. Lhe dava um ar fantasmagórico, quase um monstro familiar. E Raquel pensou que se ele fosse uma espécie de anjo da morte, ela morreria de bom grado.

“Não, não, não, não…” ele repetia como uma máquina dando pane enquanto ajeitava a cabeça dela em seu colo.

‪“Sérgio...” ela esticou o braço para alcançar os fios de cabelo bagunçado que agora cresciam na nuca, mas uma dor lancinante próximo a costela a fez parar.‬
‪“AJUDA” ele gritou‬ ‪mas ela sequer deu bola. Se sentia segura ali, como uma calmaria no meio da tempestade. “ELA ESTÁ SANGRANDO”‬

Raquel sentiu pessoas ao seu redor, avançando ferozes e em bando, e por um momento pensou que era o corpo de bombeiros ou a ambulância. Mas os passos desviaram dela e de Sérgio, tão rapidamente que Raquel sentiu uma leve brisa atingir seus cabelos. Primeiro 6 depois 7, 8… até que percebeu que não eram só os assaltantes que contra-atacavam os policiais e pela primeira vez, Raquel teve medo por ela mesma.

‪“Sérgio, preste atenção” ela teve vontade de tossir e sentiu um gosto metálico de sangue na boca. Ele demorou a olhar de volta,  e só obedeceu quando ela apertou a palma da mão dele com uma certa força. “Você precisa sair daqui, eles querem te matar”

“Shhh, você vai ficar bem. Eu vou conseguir um médico logo, vai ficar tudo bem.”

Raquel não respondeu, a visão entrando e saindo de foco. Em vez disso o viu de relances colocando a colocar a máscara de Dalí no rosto e se erguendo. De repente se sentiu sendo carregada nos braços, sua cabeça aninhada no peito dele enquanto corriam sorrateiramente entre os mascarados. Ao fundo, ouviu o cantarolar de Bella Ciao mais forte embalado pelo som de um intenso tiroteio.

“Sérgio, não seja teimoso” ela forçou a dizer‪ entre mais tossidas com gosto de sangue. Certamente a bala atingiu-lhe alguma parte do pulmão. “Você tem que ir sem mim, eu estou machucada. Eles querem te matar!”

Raquel sentiu as mãos dele tremendo ao pararem. Ele a encostou em si, apoiados em algum lugar que ela não conseguiu identificar. Sua visão ficava mais escura a cada segundo e ela só podia confiar na audição. Os sons de tiros ficavam cada vez mais afastados.

“Não importa agora, eu tenho um plano” ele disse pressionando as mãos trêmulas no ferimento ensanguentado no abdômen da inspetora. “Só preciso que você fique comigo”
“É claro que você tem um plano”

Ele sorriu e depositou um beijo rápido nos lábios dela e Raquel sentiu as lágrimas salgadas dele escorrendo pelo rosto. Se não tivesse tomado um tiro, diria que seu coração nunca ficara tão dolorido quanto naquele momento.
“Você me prometeu que ficaria fora de perigo”

“Você também prometeu” ela riu, afastando as lágrimas da bochecha dele. “Acho que nós dois somos péssimos em cumprir promessas”

Sexta-feira, 00:10

O sorriso dele durou pouco: um barulho de gatilho e uma voz metálica de auto-falante o chamou atenção. Depois sirenes, passos rápidos e um helicóptero. Vento batendo no rosto, esvoaçando os cabelos dela.
‪“Solte-a. Mãos para cima”

Mas Raquel estava fraca demais para espichar o pescoço e olhar quem era. Ela só pode ver quando Sérgio alcançou a pistola na cintura dela e a engatilhou da mesma forma que ela o ensinou tantas vezes.

Primeiro ele apontou para onde vinha a voz, mas os dedos tremiam e ele não sabia bem em quem iria atirar. Mudou a mira duas, três vezes. E então fez algo que sugou o ar dos pulmões de Raquel, a consumindo de medo: apontou a arma para a própria cabeça.

Ela franziu a sobrancelha, e voou a mão livre para o braço dele. Tentou balbuciar um “não” mas seu corpo a puxava pra baixo. Mal conseguia manter os olhos abertos enquanto lutava contra a dor e a exaustão que a tomavam. Respirar era cada vez mais difícil mas ela precisava falar, precisava continuar, precisava ser forte. Por ele.

Se limitou a escorregar os dedos até onde o coração de Sérgio martelava e, reunindo seus últimos esforços, sussurrou as únicas palavras que conseguiu pensar, antes de apagar por fim.

“Você não quer escapar?”



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