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História Escarlate - Sebastian Sallow - Amortentia


Escrita por: Handwritten_

Notas do Autor


Ooi!

Espero que gostem e boa leitura!

Capítulo 26 - Amortentia


Fanfic / Fanfiction Escarlate - Sebastian Sallow - Amortentia

“Eu digo que te odeio quando não odeio. Te afasto quando você chega perto demais. É difícil rir quando a piada sou eu, mas eu não consigo fazer isso sozinho. Só você pode me salvar da minha falta de autocontrole. Às vezes, coisas ruins ocupam o lugar onde coisas boas deveriam estar.”

— Good Things Go - Linkin Park

 

Não foi fácil adentrar aquela mina, enfrentar acromântulas gigantes e duendes sem nenhuma sinergia. Eles não conseguiram combinar nem mesmo as coisas simples, como o Protego, coisa que já fizeram várias outras vezes. Estavam descoordenados e confusos. Se bateram mais de uma vez e se perderam em um dos percursos que tomaram dentro do labirinto que Isidora fizera. Foi sorte conseguirem chegar ao final com vida e inteiros, ou quase.

Os machucados já faziam parte de todas as vezes que saiam juntos do castelo. Daquela vez, Scarlett não fez nenhum curativo em Sebastian e ele não fez nela, os dois se viraram sozinhos, cada um em seu canto. Emburrados e desajeitados.

A construção feita por Isidora naquela caverna era ensandecedora. Altas colunas, portas gloriosas, escadarias quase sem fim. Teria sido o máximo aproveitar tudo isso com uma boa companhia, mas eles mal se falaram.

A última parte do tríptico estava no que poderia chamar de casa. Tinha uma cozinha, uma biblioteca enorme e um quarto. Pelas cartas que encontraram, Isidora havia construído tudo aquilo com magia ancestral, aperfeiçoando a cada novo lugar que desvendavam. E quando chegaram no último lugar, a biblioteca, o pedaço de tela estava sobre a mesa e logo ao lado estava a janela-portal que os levaram para a Galeria Subterrânea.

— Faça as honras... — Scarlett murmurou.

Sebastian segurava a tela em rolo. Suspirou longamente, nervoso, as mãos suadas. Esperava encontrar as respostas que precisava ali. Com muito cuidado, encaixou o pedaço central da pintura. Esperava que algo acontecesse, que respostas surgissem.

A expectativa de ambos tinha se tornado palpável.

Atrás deles, uma penseira irrompeu do nada, apesar do tríptico continuar em seu vazio. Havia um brilho de magia ancestral logo acima dela, flutuando. Scarlett olhou para Sebastian, perguntando-se se ele também via aquilo e pela ansiedade que saltava de seus olhos ao fitar Scarlett, ele via. Alguma coisa estava mudando na relação dele com a magia ancestral, se fosse antes, ela tinha certeza que ele não teria visto.

Scarlett tocou aquela gota de magia e ela escorreu como prata para dentro da penseira. Já tinham feito isso antes. Cada um ficou de um lado e, numa contagem silenciosa, mergulharam suas cabeças novamente em Feldcroft de quase trezentos anos atrás.

A memória que viram naquele momento era da própria Isidora Morganach. A versão dela das memórias dos guardiões que viram até ali. Ela sofria demais com o luto do pai e, quando conseguiu remover a dor dele de anos, e ele pode falar novamente, em paz, tudo o que ela estava fazendo ali fez sentido. Puderam ver também Bragbor, o duende de quem Lodgok havia falado, era ele quem estava construindo os repositórios para abrigar toda a dor que ela retirava.

A memória foi sucinta, mas pareceu a confirmação de que Sebastian precisava quando emergiram.

— Eu sabia! Eu sabia que tinha um jeito de ajudar a Anne! O princípio é o mesmo! Se a maldição da Anne a causa dor, e o feitiço de Isidora remove a dor, talvez consigamos reverter a maldição!

Ele estava agitado, não sabia se era paz ou euforia, andava de um lado para o outro, mas Scarlett estava desnorteada no seu lugar. Os olhos fixos no quadro à sua frente, como se ele estivesse lhe contando tudo.

Reconhecia o lugar da última tela.

— Tem algo errado. — Sky quase sussurrou.

— Como assim? Você viu o que ela fez! — Sebastian se exaltou.

— Não com as memórias. Com o retrato. Acho que a Isidora não apareceu porque ela não consegue. — Ela ainda olhava a tela fixadamente.

— Sim? — Sebastian se aproximou, sem entender onde ela queria chegar.

— Já vimos essa imagem antes. Na casa abandonada em Feldcroft. A pintura destruída. Era ela! Por isso ela não consegue aparecer.

— Alguém destruiu uma parte da tela encantada. E daí? Nos encontramos a memória! — Sebastian apontou para a penseira.

— Sim, sim... você tem razão. — Scarlett virou-se para ele, esforçando-se para acompanhar a euforia dele, ainda que parecesse impossível.

— Vimos exatamente o que ela queria. O que os Guardiões estão tentando deturpar. O que ela podia fazer. O que você pode fazer!

Scarlett arregalou os olhos e recuou um passo. Aquilo viera rápido demais.

— Mas eu não sei fazer o que ela fez!

— Então vamos aprender! Podemos consultar a memória, sabemos onde encontrar os livros dela e deve ter algo... Ou talvez... se contarmos sobre Anne, os Guardiões podem nos ensinar, não estamos atrás de curar o mundo, como ela queria, queremos só ajudar Anne.

— Não sei se eles concordariam... — Ela recuou outro passo. — Você viu as mesmas memórias que eu. Eles acreditam que remover a capacidade de sentir dor é um tipo de magia muito complicada e imprevisível. Deve ser feita com extremo cuidado... se é que deve ser feita.

— Se é que deve ser feita? Se não podemos ajudar, para que tudo isso!? Superamos todos os desafios dados. Nosso valor está mais do que provado!

— Lembra do que a professora Fitzgerald disse, não é só porque pode ser feito que deve ser feito.

— E isso que você está pensando ao adiar ajudar a Anne? Que não deve ser feito? — Sebastian questionou, o cenho franzido e a incredulidade pintada em cada uma de suas linhas de expressão.

— Quê? Não! Não quero começar com isso de novo. — Sky choramingou. — Eu não vou colocar a vida da sua irmã em risco. Vamos...

— Ela já está em risco, Scarlett! — Ele gritou, seus olhos estavam reluzindo, como se segurasse o choro.

— E você quer adiantar a morte dela?! — Scarlett aumentou o tom de voz.

— EU QUERO ELA DE VOLTA! — Sebastian gritou ainda mais alto, um berro que ecoou por aquele lugar vazio.

Scarlett recuou ainda mais, encolhendo-se. Seu coração batendo forte no peito, o ar se tornando rarefeito. Odiavam que gritassem com ela daquela forma, odiava se sentir acuada e obrigada a fazer algo que poderia fracassar e receber mais represálias. Eles sequer sabiam o resultado do que Isidora fez, não tinha registro de nada. E se Anne morresse? Se ela ficasse incapacidade de sentir qualquer coisa? Ou pior, e se qualquer coisa que eles tentassem fazer fizesse a maldição piorar o estado dela?

Enfiou os dedos nos cabelos, apertando-os. Era sufocante o peso que ele estava colocando nas costas dela. Não era como se ela estivesse negando ajuda, apenas queria fazer isso da melhor forma que pudesse.

— Precisamos de tempo... qualquer tempo. — o fitou com os olhos chorosos. Sua voz falhava.

— Não temos tempo, Scarlett! — implorou, o tom alto que a fazia tremer.

— Eu não quero que você me odeie para sempre por matar a sua irmã! — Scarlett cuspiu as palavras. Estava sufocada. Fechou os olhos com força, contendo as lágrimas que se acumularam. — Eu vou... eu... eu preciso... preciso de um tempo.

Não conseguia mais ficar ali, perto dele, ouvindo-o gritar, exigindo dela coisas que estavam além do seu alcance. Se Anne morresse por qualquer coisa que ela fizesse... Sabia que ele não tinha limites algum quando a questão era Anne. Ele mostrou isso quando tinham treze anos e estava mostrando agora.

— Scarlett! — Ele gritou quando ela correu para fora dali mais uma vez,

Ela não parou, não olhou para trás. Hiperventilava e seu peito doía. Estava completamente atordoada. Apavorada. Mesmo que estivesse magoada demais com Sebastian naquele momento, não estava pronta para viver com ele a odiando para sempre. Do alto da escada, Scarlett ouviu o estrondo de coisa indo ao chão antes de fechar a porta do relógio e correr para se esconder em sua cama.

Sebastian havia chutado uma pilha de caixas, derrubando todas, querendo gritar. Socou a parede uma vez, duas, três vezes. Os nós de seus dedos doíam, havia sangue acumulado debaixo de sua pele. Ele estava sozinho. Solomon não ligava para Anne, havia aceitado o fim dela e ele não tinha mais a quem recorrer. Os medibruxos tinham desistido, nem mesmo os professores que conheciam os Sallow desde a pequena infância se importavam. Era como se Anne não existisse. E, para completar, sua única esperança também não se importava o suficiente para ajudá-lo.

Sebastian caiu. Não conseguia conter o choro que segurou por todos aqueles meses, que saia em soluços raivosos, deslocando sua caixa torácica e arranhando sua garganta dolorida. Foi como a erupção de um vulcão de sentimentos guardados. A sensação de impotência de todas as vezes que acordava pela amanhã e não via sua irmã na sala comunal; ou ia vê-la em Feldcroft, ou recebia suas cartas com rasuras devido aos rompantes de dor que a atordoavam. Odiava ver seus olhos fundos e cansado, a face adoentada e sem vida. Não aguentava mais passar os dias sem o riso dela ou as broncas que recebia quando ele aprontava demais. Era insuportável não ter sua companhia para invadir a Seção Reservada da biblioteca ou para provocar os grifinórios durante as partidas de quadribol.

Anne era tudo o que sobrou de sua família. Era ela que ainda mantinha viva a lembrança de sua mãe. Sebastian não sabia viver sem Anne por perto. Não... não conseguia conceber a ideia de não ter a irmã com quem dividiu toda a vida, até mesmo o útero. Ele estava aterrorizado como a morte dela estava se tornando uma realidade palpável e seu corpo tinha calafrios com o pensamento que o natal daquele ano poderia ser o último juntos. O fim parecia próximo e... se ela se fosse... Sebastian estaria sozinho.

Ele se encolheu, afundando os dedos no couro cabeludo e puxando os fios com força, ignorando a queimação como forma de autopunição. Se ele tivesse ido com ela naquela noite, isso não teria acontecido. Anne estaria bem. Ele teria a protegido, entrado na frente dela, qualquer coisa que a mantivesse viva e bem. Mas ele não foi.

Até aquele dia, estava menos complicado lidar com o medo de perder sua irmã. Enquanto achava que Scarlett estava do seu lado. Por quê? Por que ela não queria ajudá-lo? Por que ele tinha que estar sempre tão sozinho?

Como a criança que ele ainda era em raros momentos, Sebastian estava abraçado as pernas, balançando seu corpo em busca de qualquer alento. Seu choro era indiscreto, o que era anormal para ele, mas não conseguia controlar. Seus olhos estavam presos no maldito retrato que alimentou sua esperança nos últimos meses. Tinha que ter mais alguma coisa. Ele não poderia desistir. Se ao menos Ominis estivesse falando com ele, poderia insistir sobre a sala secreta de Salazar.

Droga!

Se Isidora, pelo menos, tivesse deixado instruções claras de como usar a magia, ele mesmo faria isso. Seus olhos embaçados se estreitaram. E se... Rapidamente, ele secou as lágrimas, olhando ainda mais fixadamente para o quadro. Teria que funcionar e ele faria aquilo sozinho.

Velozmente, ele se levantou e saiu atrás da Chama de Flu da Torre de Defesa Contra as Artes das Trevas, que não ficava muito longe da entrada da Galeria Subterrânea. Usou o feitiço de desilusão para fugir dos monitores e se jogou nela de uma vez, surgindo em Feldcroft, silenciosa pela madrugada fria. O vento gélido castigava seu rosto molhado, mas nada importava.

Um raio cortou o céu. Iluminado a face de Sebastian em um instante antes do trovão vibrar, ressoando seu ser. O céu estava tomado por densas nuvens e a chuva estava vindo com pressa, a julgar pelo cheiro de terra molhada que era soprada com a ventania.

Um arrepio subiu sua nuca quando ele chegou no aclive onde estivera com Scarlett há semanas. Aconteceu tanta coisa em pouco tempo que pareceu um passado distante, mas ainda havia marcas de sangue em algumas pedras. Outro trovão e a chuva passou a cair por sua cabeça, pesando sua roupa.

Os destroços da casa de Isidora estavam do mesmo jeito que Sebastian e Scarlett deixaram da última vez que estiveram ali. Apressou-se até a entrada da casa, encontrando o quadro queimado e jogado no canto. A luminescência azulada do raio que caiu atrás de si lançou sua sombra nas marcas chamuscadas. Seus olhos estavam tomados por um negrume. Poderia ser pela iluminação escassa, ou pela determinação sombria que pulsava em suas veias. Não iria desistir de Anne. Nada o faria parar.

— Reducio. — sussurrou e o quadro se tornou do tamanho de sua palma.

A escada ao lado ainda estava ali, coberta por visgo do diabo. A ponta de sua varinha brilhou sem que ele precisasse falar uma palavra sequer. Seus passos eram rápidos demais para o visgo recuar, agarrando algumas vezes em seu tornozelo até que ele caísse e rolasse até o final da curta escadaria.

Ainda sentia as dores do último conflito e aquela queda acentuou cada uma delas. Socou o chão, soltando um grunhido, e levantou-se disparando xingamentos em murmúrios raivosos, mas não parou até que chegasse na parede espelhada que havia atravessado com Scarlett. Todas as vezes que passou pelas janelas-portal, estava com ela, ou a tocava, ou tiveracontado com sua magia. Temia não conseguir e estava sentindo-se sem tempo para voltar pelo caminho que viera.

As mãos, trêmulas, tocaram a fria e estranha pedra. Ele via apenas seu reflexo. O cabelo molhado caindo por sua testa, os olhos avermelhados e a derrota que parecia o seguir como uma sombra que o engolia. Sua varinha se apagou. Havia certas coisas que Sebastian não gostaria de fazer sozinho. Estava acostumado demais com a presença de Scarlett e em como ela fazia tudo parecer simples, até as coisas mais absurdas. Bastava olhar para aquele par de esmeraldas e tudo fazia sentido.

Respirou fundo e concentrou-se na magia que sabia haver dentro de si. Era como ter uma víbora enrolada em seu corpo, rastejando sob sua pele, no âmago de sua alma, arrasando as escamas nas entranhas. Porém, não era fria como uma cobra, era quente como veneno. Cheirava a brasa e seu paladar se tonava ferruginoso. O contrário da magia de Scarlett. De alguma forma estranha, elas se completavam e a magia de Sebastian parecia buscar pela dela.

Seus dedos se iluminaram em um vermelho esbranquiçado e, quando Sebastian abriu os olhos, estava na Galeria Subterrânea. Quase pode sentir alívio. Quase.

O quadro foi deixado ao lado do tríptico e usou o feitiço para crescê-lo novamente. Sacudiu os cabelos encharcados e secou a água que pingava de seus cílios longos. Sebastian apertava a varinha em sua destra com tanta força que seus dedos frios doíam. Seu coração batia pesado no peito. A expectativa era sufocante.

Seu pulso se moveu em um movimento horizontal, girando ao mesmo tempo. Sabia que Reparo não seria útil, entretanto, tinha em seu arsenal o feitiço perfeito, aprimorado por muitos anos.

As marcas de queimado sumiram da pintura, desvanecendo lentamente. Havia rasgos na tela que também foram reparados. Seu coração parou de bater e ele sustou a respiração. O retrato da jovem mulher sentada em uma cadeira de espaldar alto estava ali. Sebastian apertou os olhos. Ela piscou algumas vezes, como se estivesse se ajustando à luz, e seus olhos se fixaram no garoto molhado, atravessando-o com um olhar gélido. Então, sem dizer uma palavra, Isidora se levantou e deixou o quadro.

— Espera! — ofegou Sebastian, jogando-se no chão, as mãos agarrando a moldura como se ela pudesse escapar.

— Como conseguiu recuperar o quadro? — A voz familiar de Isidora soou do tríptico, assustando Sebastian.

— É... hum... com um feitiço reparador. — murmurou, ajeitando a postura e passando as mãos em seus cabelos que ainda pingavam por sua nuca. Seus lábios estavam roxos pelo frio e seus dedos pareciam pedra. — Você é Isidora Morganach, não é?

Ela inclinou levemente a cabeça, seus lábios se curvando em um sorriso quase imperceptível de desdém.

— Sim... E você conseguiu seguir meus rastros, consertou meu quadro e me trouxe de volta. — Seus olhos esquadrinharam a Galeria Subterrânea com certo tom de desprezo, como se analisasse algo que já não tinha importância. — Vejo que encontrou o esconderijo dos alunos de Slytherin também. Parece mais abandonado do que na minha época. Era um lugar excelente para treinar feitiços. Fui a primeira corvina a entrar.

Sebastian teria rido, mesmo que ironicamente, se não estivesse tão ansioso. Contudo, ainda era engraçado porque ele não havia descoberto nada. Scarlett encontrou os rastros de Isidora e Ominis que havia contado sobre aquele lugar.

— Não sabia que isso era um esconderijo deles. — murmurou, colocando-se de pé. — Na realidade, quem me contou desse lugar foi o meu amigo, um Gaunt, descendente de Salazar Slytherin. Ninguém usa esse espaço hoje em dia.

— Sei disso. O lugar foi abandonado poucos anos depois que me formei. Quando voltei a Hogwarts, no entanto, precisava de um espaço para... — Ela fez uma pausa, o olhar calculado, como se escolhesse cuidadosamente o que revelar.

— Deixar seus rastros.

— Isso... — Ela ergueu uma das sobrancelhas, estudando Sebastian. — Você não me é estranho. Como descobriu sobre a magia ancestral?

— Não fui eu. — Limpou a garganta. — Bom, não exatamente. Eu não sou como você. Não tenho ligação direta com a magia ancestral.

Ela franziu o cenho, um sorriso sem graça pintado em sua face.

Isidora ergueu uma sobrancelha, um sorriso presunçoso iluminando seu rosto.

— Mas você sabe quem eu sou.

— Eu conheço alguém que tem a mesma habilidade que você. Acabamos entrando nessa juntos. Nos testes dos Guardiões e na busca pelas telas do tríptico que você deixou.

Por um momento, a surpresa atravessou as feições de Isidora, antes de dar lugar a uma expressão pensativa.

— Eles fizeram testes? E deixaram alguém de fora saber dos segredos...? Como as coisas mudam... — balbuciou, não parecia estar falando diretamente com Sebastian, apenas externando seus pensamentos. — Cadê a pessoa que está nessa com você?

— Ela... — Sebastian suspirou, esfregando o rosto, tentando reunir seus pensamentos. — Desistiu. Os Guardiões querem ter certeza de que estão entregando conhecimento para a pessoa certa. Creio que por sua causa. E ela... está do lado deles.

Isidora riu, um som baixo e seco.

— E você não, presumo.

— Eles não parecem me aceitar muito bem. Porque... minha ligação é com a magia dos repositórios.

— Dos repositórios? E nenhuma com a magia ancestral?

— Apenas quando Scarlett usa. — respondeu Sebastian, a voz hesitante, mas com uma faísca de orgulho velado. — Às vezes, consigo controlar a magia dela.

— Intrigante! — Isidora sorriu, o traço de seus lábios ganhando um contorno acentuado. — Você viu minha penseira?

— Sim e por isso restaurei seu quadro. Eu preciso saber como você fez para remover a dor. E preciso saber agora.

Ela inclinou levemente a cabeça, estudando cada movimento, cada inflexão de voz. Ele falava rápido, como se as palavras precisassem correr para acompanhar a intensidade de seu desespero. Havia uma paixão ardente em seus olhos castanhos, uma que Isidora reconhecia bem: a mesma que a impulsionara em sua juventude a desafiar os limites e criar magia que ninguém mais ousava tocar.

— Você parece... desesperado, meu jovem. — disse, o tom que misturava compaixão dúbia demais.

Havia um brilho nos olhos dela, uma satisfação quase cruel ao perceber o quanto ele precisava dela. Sebastian deu um passo à frente, ignorando o desconforto que a presença dela lhe causava.

— E eu estou. Minha irmã foi amaldiçoada e eu preciso dar um jeito de salvá-la. Só você pode me ajudar.

— Só eu? — Isidora arqueou uma sobrancelha, a voz carregada de dúvida provocativa. — Por que pensa isso?

— Anne sente dor. Muita dor... e eu vi o que você fez com o seu pai. Talvez eu consiga fazer com ela...

— Anne...? — Isidora franziu o cenho. — A menina de rosto cheio de sardas e cabelo castanho... Vocês são gêmeos?

— V-você conhece a minha irmã? — Sebastian gaguejou.

— Ela foi a última pessoa com quem falei antes de ter meu quadro destruído. Em minha casa em Feldcroft.

A respiração de Sebastian acelerou. Ele deu mais um passo.

— Seu quadro estava inteiro nesse dia? Você viu quem a amaldiçoou? Que magia usaram?! Por favor, me ajude... — As palavras saíram atropeladas, um pedido desesperado.

— Infelizmente, essas respostas não estão comigo — respondeu ela, calmamente. — Eu vi Anne ser atacada e vi depois alguns bruxos e duendes. Foi um bruxo que destruiu o meu quadro. — Isidora fez uma pausa, observando a reação dele. — Ela me contou sobre você, Sebastian. Vocês haviam discutido naquela noite.

Sebastian cambaleou. Virou-se de costas, pressionando os punhos cerrados contra os lados, o rosto queimando de vergonha.

— E não tem um dia desde então que eu não me arrependa disso... — sussurrou, vacilante, pigarreado após. — Foi uma coisa tão... idiota. Ela estava apenas querendo me ajudar a montar os treinos para o time... e eu fui prepotente demais para aceitar.

— Dói, não dói? Ver alguém que você ama sofrer... — sibilou Isidora. Tinha um fundo de compaixão em seu tom, mas um rancor também.

— Eu não acho que você estava errada. — Sebastian virou-se novamente para o quadro.

— Eu sei que não.

— Você vai me ajudar? — As palavras eram uma súplica, mas havia um fio de desafio na voz de Sebastian, como se ele estivesse testando a lealdade dela.

— Eu gostaria...

— Mas? — Sebastian aproximou-se novamente, o cenho franzido em uma dor quase física.

— Remover uma maldição não é como remover uma emoção. Mesmo que eu te ensine o feitiço, seria apenas um paliativo porque o que causa a dor nela é algo além do emocional.

— Como você sabe? Sequer tentamos! Por favor, Isidora, eu faço qualquer coisa para salvá-la! — Ele rogou.

— Calma! Eu vou ajudá-lo. — Ela ergueu as mãos, como se pedisse para ele respirar. — Precisamos estudar sobre remoção de maldições e eu poderei criar um feitiço.

— Mesmo?

— Sim. E podemos estudar a sua forma de magia para que você possa fazer isso. Mas levará algum tempo...

— Não acha que podemos pular esse tempo? Scarlett controla a magia ancestral, seria mais fácil do que esperar eu aprender.

— Se ela está junto dos Guardiões, ela não vai te ajudar, Sebastian. — respondeu Isidora, com um olhar de desdém mal disfarçado.

— Ela não é assim. Não é como eles. — retrucou Sebastian, firme, mas o nervosismo em sua voz o traiu, ainda que se agrasse a isso para acreditar em suas próprias palavras.

Isidora sorriu e inclinou a cabeça novamente.

— Tem certeza?

 

༻✦༺

 

Depois daquele dia, Sebastian não saiu mais da Galeria Subterrânea. Ia para as aulas e corria para lá, passando até mesmo algumas noites em um sofá que conjurou. No início, Imelda brigou feio com ele na sala comunal, disse que ele estava deixando o time na mão e isso fazia dele um péssimo capitão. Sebastian apenas devolveu o cargo para ela e disse que sairia do time. Tanto ela quanto Ominis estranham demais aquela postura, mas nenhum deles o questionou de fato. Não era como se tivessem tempo ou espaço para fazê-lo se raramente o viam.

Ele havia revirado toda a biblioteca de Isidora, todos os livros que ela indicou sobre o assunto, sugestões de outros que ele teve que invadir a Seção Reservada de novo para conseguir. Ainda assim, nada era uma resposta final para a pesquisa deles.

Existia uma série de maldições que poderiam ter atingido Anne. E cada uma tinha uma forma diferente de lidar. Isidora advertiu que eles não poderiam testar sem ter certeza plena do que estavam fazendo, pois mexer com maldições era perigoso tanto para Anne quanto para eles e não queriam desencadear algo pior nela ou acabar transferindo isso para Sebastian.

No final, Scarlett estava certa em querer apenas agir quando tivesse certeza do que estava fazendo, pena que Sebastian estava vendo isso tarde demais. E agora, além de não ter ajuda, estava sem a companhia que mais queria por perto.

Pouco mais de uma semana se passou desde então. Quase um mês brigado com Scarlett.

Sentia os ventos do precipício do seu limite baterem em seu rosto.

Isidora o expulsou da Galeria Subterrânea naquela terça e disse que não o ajudaria mais com nada se ele não descansasse. Sebastian estava insuportável de se lidar, até mesmo para ela, que era um quadro. A falta de sono e o estresse o deixaram com os nervos à flor da pele. Contra a sua vontade, ele havia ido dormir em sua cama.

Pior das escolhas. Preferia Isidora o chamando de chato do que ter sua mente o aterrorizando com a memória infeliz de Scarlett e Garreth juntos, sozinhos, no Três Vassouras. Estava exausto e sua mente usou isso como fraqueza.

Idiota.

Os professores ainda não estavam deixando os alunos andarem livremente pelas Altas Terras e muitos precisavam repor alguns materiais das aulas de Herbologia e Poções. Então Hogwarts montou grupos de ida ao vilarejo, para o azar de Sebastian. Os sextanistas foram no dia anterior e ele dividiu a carruagem com Ominis, Natty e Poppy, o que não foi tão ruim. Gostava demais de Natty e Poppy era uma boa amiga.

O que estragou toda sua manhã foi entrar no Três Vassouras atrás de uma bebida quente e encontrar Scarlett e Garreth juntos na mesma mesa que ela e Sebastian sentaram na primeira vez que estiveram ali. Seu estômago queimou. Fome? Ciumes? Azia? Inveja? Não fazia diferença, pois quase vomitou do mesmo jeito. Eles riam, gargalhavam. A linguagem corporal de Garreth o enojava, sempre inclinado para cima da sua Scarlett.

E como se não pudesse piorar, quando tentou se afastar, ouviu alguns cinzais conversando sobre ela no andar de cima. Ficou claro demais que Scarlett só não foi interceptada por estar com companhia e por saberem que havia professores por ali, vigiando os alunos. Ao menos para isso a mentira deles serviu de alguma coisa. Ainda assim, a segurança dela estava por um triz.

Bem como a sanidade de Sebastian.

No pesadelo de Sebastian, Garreth convencia Scarlett a subir para uma das salas superiores do Três Vassouras. Quando chegavam ali, ele beijava Scarlett como um... devasso. Um libertino, bastado, filho de uma puta. Sebastian via aquela irritante cabeleira ruiva ser agarrada por ela, como Sky costumava fazer com ele. Não era como se Sebastian fosse uma presença, mas estivesse do alto, sentindo seu estômago embrulhar com a pior cena de todas. Garreth a agarrava, passava a mão em todo o seu corpo e, quando ele iria tirar sua roupa, um grupo de cinzais entrava na sala e levava Scarlett para um lugar que Sebastian não conseguia ir.

No fundo de sua mente confusa, ele sabia que era um pesadelo, que não passava de sua mente perturbada, mas seu coração batia forte, afoito, seu corpo suava e seus olhos apenas se abriram quando Ominis o sacudiu.

— Se você não levantar, vai perder o horário. — Ominis murmurou, afastando-se.

Sebastian grunhiu, passando as mãos na fronte suada e espremeu os olhos para focar no relógio ao lado da cama.

— Por que o despertador não tocou?

— Ele tocou. Incansavelmente. Pensei que tinha deixado para me irritar, mas você começou a falar sozinho e eu vi que estava mesmo apagado. — Ominis vestia sua roupa atrás do biombo, a voz entediada e mansa de quem não queria estar conversando. — Está tomando alguma poção?

Sebastian deitou novamente, fitando o dossel de madeira. O antebraço pousado em sua testa e os olhos reparando nas veias da madeira e seus padrões. Sua mente estava brigando para saber qual parte do seu pesadelo iria perturbá-lo naquele dia. Scarlett sendo levada ou Scarlett sendo agarrada por outro?

— Não. Apenas cansado demais.

— Valeria de alguma coisa eu falar que estou preocupado com você?

Sebastian riu, amargo e sem humor. Eles mal estavam se falando desde a última briga sobre Scarlett. Se Ominis falasse que estava preocupado, soaria como mentira.

— Não.

— Ótimo. — Ele apareceu, sentando-se para calçar suas botinas.

— Mas valeria de algo você me dizer se a Scarlett está bem. — Sua voz estava roufenha, ainda olhava para o teto, ouvindo a movimentação de Ominis.

— Ela está. — disse, ríspido.

— Ominis... — Sebastian bufou e sentou-se na cama. — Eu te disse que estou arrependido do que disse para ela.

— Não é para mim que você deve dizer isso, Sebastian. É para ela. Foi ela quem você fez chorar. Várias vezes. — Ominis pausou, passando as mãos em seu blazer verde do uniforme ao levantar-se. — Eu sempre quis que vocês dois se dessem bem, mas acho que ela chegou em uma péssima hora.

— Ela chegou quando tinha que chegar... — Sebastian colocou os pés para fora da cama, esfregando o rosto e passando os dedos no cabelo desgranhado. — Só é... complicado lidar com tudo isso sozinho e... eu perdi a linha.

— Você sempre perde. Esse é o ponto. — Ominis rumorejou. — Você sempre foi assim, só piorou com as circunstâncias.

— Eu apenas quero minha irmã de volta. Não posso fazer nada se para você é fácil desistir das pessoas. — Sebastian resfolegou.

— Se fosse fácil para mim, não estaríamos tendo essa conversa. — Ele fora direto, seu tom se mantendo baixo, como de costume, porém, carregado.

Sebastian entendeu o que ele quis dizer, mas não acreditou que ainda tinha o amigo por perto, pois se sentia mais sozinho do que nunca. Os dois ficaram em silêncio por quase um minuto, digerindo a tensão palpável ao redor deles. Tinha gosto de fel e não melhorava.

— Valeu por me acordar. — murmurou a contragosto. Odiava aquele clima entre eles.

— Não me agradeça. Não queria ninguém me perguntando sobre você de novo.

— Ótimo. — respondeu, seco.

— Ótimo. — Ominis pegou seu cachecol. — Anne mandou uma carta para você.

Com essas palavras, Ominis saiu do quarto, deixando Sebastian engolido por sua inércia. Foi difícil levantar. Estava frio e ele sentia seus ombros tensos por tantas noites mal dormidas. Muito esforço e ele se arrastou até Noctis, pegando a carta que ela havia deixado no cesto abaixo de seu poleiro. O laço foi desfeito e o pergaminho desenrolado preguiçosamente.

 

“Querido irmão,

Como anda? Faz algum tempo que não recebo suas corujas. Tive que recorrer à Ominis atrás de notícias. Ele me disse que você anda sumido, e que vocês brigaram. E que você também brigou com Scarlett (o que não é novidade). Tem algo acontecendo? Por favor, não suma assim...

Feldcroft está ficando branquinha pela neve e as flores murcharam. As ruas estão mais vazias, então tio Salomon está fazendo compras em outro vilarejo, longe dos apoiadores de Ranrok. Não que seja possível evitá-los ultimamente.

Confesso que está muito deprimente estar trancada o dia todo. Cansei dos livros que tenho aqui e estive brincando com o seu kit de poções. Venha me visitar e traga novos livros, qualquer coisa!

Lembre-se do que mamãe sempre dizia: a amizade é a mais valiosa das coisas que possuímos, elas nos ancoram quando a tempestade tenta nos levar. Seja o que for que aconteceu entre você e Ominis, não deixe que isso os separe.

Com amor,

Da sua entediada irmã gêmea.”

 

Ele seria incapaz de se acostumar com as cartas de Anne, ainda assim, esboçou algo parecido com um sorriso. Sentia falta dela. Sentia tanta falta dela. Dobrou o pedaço de pergaminho e o deixou junto com os outros, notando que Ominis também havia recebido uma carta dela. Olhou para trás para ter certeza de que ele não estava ali e desdobrou o papel.

 

“Amado Ominis,

Também sinto sua falta. Todos os dias. Saudades do seu abraço e da sua voz. Mas já conversamos sobre isso. Não podemos ficar juntos e eu não posso deixar você vir me ver. Não mudarei de ideia. Faço isso para o seu bem.

Sobre Scarlett, eu acho que Sebastian faz bem em mantê-la longe. Ela só vai machucá-lo. E eu não acredito que Sebastian tenha sido o problema, como me disse. Apenas espero que ele fique bem logo. Obrigada por me atualizar.”

 

Ele esboçou um riso ao ler sobre Scarlett ser o problema e não ele. Agradeceria o comentário da irmã antes, quando via sentido em toda aquela merda entre eles dois, mas agora o peso de suas palavras direcionadas à Sky pesava demais.

Continuou para o final da carta, sentindo seu mundo desabar enquanto um enorme relógio crescia atrás de sua cabeça.

 

“E as dores... estão piorando. Tio Solomon aumentou o estoque de poções para que eu possa sair da cama. Por isso digo que é melhor você ficar por aí, quero que se lembre de mim como eu era, e não com gritos e gemidos.

Fique bem.

Com amor,

Anne.”

 

Tic.

              Tac.

                          Tic.

                                     Tac.

                                                  Tic. Tac.

                                    Tic tac.

                   Tictac.

  Tictac.

O tempo corria, tinha pressa e urgia. O ar era arrancado do peito de Sebastian com força bruta. Ele estava perdido, os caminhos acabavam diante de seus olhos. Sentia-se caminhando para o fim sem chance de paradas. No fundo, sabia que Isidora poderia ajudá-lo, mas as pesquisas pareciam durar seculos, como se nada fosse ser solucionado enquanto Anne ainda estivesse entre eles. Sua única alternativa rápida seria Salazar Slytherin. Deveria ter algo por ali. Ele não tinha medo da magia e poderia ter deixado grandes coisas em seu scriptorium. Por essa razão, estava se agarrando de novo à necessidade da ajuda de Ominis.

Respirou fundo. Tinha que se arrumar para a aula. Vestiu-se com a camisa e a calça preta. O colete da mesma cor tinha apenas o brasão da sonserina; amarrou a gravata de listras verdes no pescoço com destreza e vestiu o blazer verde por cima. Jogou o cachecol de sua casa sobre os ombros e enfiou as botinas nos pés com pressa. Acabou por perder o tempo para comer algo, correndo para a Chama de Flu com a bolsa de couro pendurada em seu ombro.

 

༻✦༺

 

— Você leva muito jeito com criaturas. — A voz doce de Poppy soava quente nos ouvidos de Scarlett.

Scarlett tinha corrido para encontrar a professora Howin após a aula de Herbologia para fazer outra tarefa extra. Imelda não teve chance de protestar e acabou sendo arrastada. Em dez minutos, Scarlett conseguiu extrair as penas de Agoureiro sem que a ave reclamasse nada e, com muito cuidado. Ela teve o respeito ao se aproximar e tirar apenas as penas que estavam se soltando. Howin a liberou e Poppy acabou por acompanhá-las na volta ao castelo.

— Tenho algum costume... — Sky deu de ombros, sorrindo afável. — Fiquei sabendo que você consegue encontrar hipogrifos com facilidade.

— Eu? — Poppy riu. — Na realidade, eu só conheço um, o Asa-Altiva.

— Asa-Altiva? — Imelda virou-se com um grande olhar julgador que fez Scarlett repreendê-la silenciosamente.

— Sim. Acho que ele não deve aparecer hoje. As nuvens estão péssimas para voo. — Poppy apertava os olhos para romper a claridade ao olhar o céu.

— Odeio dizer isso, mas você tá certa. Eu voaria, mas os bunda-moles do meu time iriam reclamar. — Imelda bufou.

— Você também é do time? — Sky quis saber.

— Nunca! Eu sou uma grande entusiasta, mas gosto muito do chão. Conheço sobre o clima por conta dos animais mesmo.

— Faz sentido. — Scarlett riu levemente e ajeitou a bolsa no ombro.

— Ainda bem que você não é assim, né, Sky? — Imelda passou o braço pelos ombros da amiga, recebendo um olhar desconfiado.

— Eu já disse que não vou jogar quadribol!

— Mas precisamos de alguém! O idiota do Sebastian largou o time. — Ela chutou uma pedra.

— Sebastian largou o time? Por quê? — Scarlett, sem querer, acabou se preocupando demais.

— Ouvi a Adelaide dizendo que ele só quer saber de ficar sozinho agora. — Poppy murmurou.

— Ele é um babaca, bunda-mole, patético. — Empurrando as portas do castelo, as três bateram as botas na entrada, sacudindo o corpo do frio.

— Eu o acho incrivelmente inteligente. — disse a lufana e as duas outras a encararam no mesmo momento. Havia zero malícia em seu tom, ainda assim o peito de Scarlett queimou. — Fomos juntos a Hogsmeade ontem e ele foi muito educado comigo.

— É porque ninguém ousaria te tratar diferente depois do que você fez com o Septimos no ano passado, né? — Imelda sorriu debochada.

— O que você fez? — Buscando desviar aquela queimação sem sentido, tentou mudar de assunto.

— Septimos tava tentando arrancar os bigodes de um amasso e a Poppy arrancou o cabelo dele. Com. A. Mão.

— Nossa, Imelda! Quando você fala assim, até parece que eu o deixei careca. — Ela pareceu ofendida. — Eu gostaria, mas foi só um pouquinho.

Scarlett acabou por cair na gargalhada. Ela estava gostando de aproximar-se de outras pessoas, principalmente de Poppy e Garreth. Era uma pena a garota não gostar de comer fora da mesa de sua casa. Ela se despediu com um doce sorriso em sua face angelical, seu nariz avermelhado e perfeitinho no rosto. Ela era... linda... Parecia o tipo de garota quem Sebastian se envolveria e isso ascendeu ainda mais o ciúme no peito de Scarlett, ciúme este que ela não deveria sentir.

Scarlett engoliu seco e sorriu para Meldy, que contava algo que sua mente não computou, sequer pareciam palavras. Quando se sentaram à mesa, Ominis cochichou algo para Imelda, que arregalou os olhos e espalmou as mãos na mesa em um barulho seco.

— Eu não acredito... — arfou.

— O quê? Me conta! — Scarlett quase subiu em cima da mesa para se aproximar dos dois.

— Foi a vadia da Violet que esteve atrás dos ataques contra você, coberta pelo Sirius, mas foi ela. A carne na cama, a invasão no quarto, o feitiço cegante, a torta explodindo, até o seu cabelo ruivo!

— Ela o quê? — Scarlett arregalou os olhos e voltou a sentar-se lentamente.

— Desde o dia do feitiço cegante, eu estou pagando alguns primeiranistas para ficarem de olho nela. Parece que ela andou batendo com a língua nos dentes no banheiro dos monitores quando um deles estava voltando da enfermaria. Ela está preparando mais alguma coisa.

— Ha-ha-ha! Mas não vai mesmo! Eu vou quebrar a cara dela! — Imelda se levantou, mas Ominis a puxou para o lugar.

— Você não pode agir assim, Imelda! Decoro, por Merlin! — O garoto suplicou.

— Ele tá certo, vamos agir igual a ela. — Um sorriso viperino brilhou no rosto de Scarlett.

— Sky... eu conheço esse tom... — Ominis torceu a face em desagrado.

— O que quer fazer? — Imelda sorria tão marota quanto a amiga.

— Primeiro, precisamos dos conhecimentos do Garry.

— Que Merlin me proteja de vocês... — Ominis bateu a mão na testa, balançando a cabeça em reprovação. — Desembucha logo o plano e vamos fazer ela nunca mais mexer com você.

Scarlett sorriu contente para o amigo, a língua estralando no céu da boca enquanto sua mente maquinava a mais perversa das coisas. Ominis não era um santo, sabia das coisas que ele tinha feito, mas ele tinha um autocontrole muito maior do que o dos amigos. Por isso, Sky ficou realmente feliz de ver que ele se juntou e não a condenou.

Os três terminaram de comer muito rapidamente. Passaram na mesa da Grifinória e Imelda puxou Garreth pelo cachecol vermelho, como uma coleira, até que saíssem do Grande Salão e rumassem para a sala de Poções antes da turma chegar.

Scarlett coçou o nariz ao passar em frente à sala de Sharp e olhou para os lados, como se procurasse alguém, mas estavam sozinhos. Os planos foram sussurrados na ausência do professor Sharp, que entrou na aula com a sobrancelha erguida em desconfiança para os quatro. Sorriram para o professor como crianças travessas e se dispersaram para suas estações.

Em poucos minutos, a sala estava cheia. Scarlett dividia estação com Sebastian e Natsai. Ominis estava algumas estações distantes, com Imelda e Poppy. Garreth, por sua vez, ficava com Violet e Samantha Dale. Poppy estava na estação atrás de Scarlett com Leander Prewett e Ducan Hobhouse. Tinha apenas mais uma estação livre, onde ficavam Amit e Nerida. Scarlett gostava de prestar atenção como eles estavam separados e em como a turma era reduzida, ao contrário das outras matérias. Talvez o N.O.M de poções fosse realmente complicado. O que significava que o N.I.E.M seria ainda pior.

O Professor Sharp se levantou de sua mesa e foi até o quadro negro com seu passo firme e olhar severo. Ele era muito carrancudo, mas não assustava Sky. Grande parte das pessoas que passam pelo Ministério era assim, ainda mais quando se tratava de um ex-auror.

— Continuemos nossa aula da última semana, onde trabalhamos as partes teóricas das poções do amor. — Ele pegou o giz e anotou em letras grandes no quadro: AMORTENTIA. — Hoje iremos colocar em prática o que aprendemos.

— De todas as poções que poderíamos fazer, vamos fazer porções do amor... — Leander reclamava em um tom baixo na estação ao lado, revirando os olhos. Ele sempre desprezava o que não era obviamente violento.

— Senhor Prewett, gostaria de compartilhar com a turma seu pensamento? — Sharp o questionou.

— Não, senhor. — Leander abaixou a cabeça, anotando algo em seu caderno.

— Resposta correta. — O professor ergueu a cabeça com altivez. — Hoje, vamos explorar uma das poções mais conhecidas e mal compreendidas do nosso mundo, a Amortentia. Alguém pode me dizer qual o diferencial da Amortentia para as outras?

Várias mãos se ergueram e ele apontou para Ducan, no fundo da sala.

— Ela é a mais poderosa. — respondeu, com sua voz fanha.

— Correto, mas incompleto. — replicou o Professor Sharp.

— Senhor? — Scarlett levantou a mão e Sharp anuiu para que ela prosseguisse. — A Amortentia é conhecida como a poção do amor mais poderosa do mundo porque há mais nuances do que apenas “fazer alguém se apaixonar”. Ela cria uma forte obsessão, uma paixonite desenfreada em quem a beber. Há relatos de bruxos que fizeram grandes atrocidades por quem estava apaixonado. Dizem ser tão perigosa quanto a maldição Imperio.

— Correto, senhorita, Callaghan. Dez pontos para a Sonserina. — Sharp acenou com a varinha, e um caldeirão surgiu, flutuando no centro da sala. Havia uma poção brilhante, semelhante a pérolas, emanando vapores que subiam em espirais. — Notem a aparência... Tem um brilho perolado e emite um vapor que sobe de forma muito específica. Essas características são inconfundíveis de uma boa Amortentia.

A turma apressou-se para cercar o caldeirão, todos curiosos. Scarlett olhou para Garreth e os dois sorriram. Foi uma coisa que não passou despercebido por Sebastian e, por algum motivo, aquilo doeu. Ele cruzou o braço e ergueu a cabeça, engolindo seco.

— É importante entender que a Amortentia não cria amor verdadeiro. — A sala ficou em silêncio enquanto ele continuava. — Como dito pela senhorita Callaghan, ela induz uma forte paixão ou, em casos mais extremos, obsessão. Essa paixão pode ser perigosa e deve ser tratada com extrema cautela.

Sharp pausou por um instante. Esperava que seus alunos entendessem o que ele estava falando. Scarlett, no entanto, estava com a cabeça em outro lugar, coçando o nariz mais uma vez e segurando o riso enquanto olhava para Imelda do outro lado. Sharp fechou o caldeirão e eles voltaram para os seus lugares.

— A força do efeito depende do tempo entre a fabricação da poção e a sua ingestão. Quanto mais recente a fabricação, menos potente será. E a duração dos efeitos varia conforme o peso de quem a bebeu e o poder de atração de quem a administrou. Alguém se arrisca a dizer por quê?

Violet levantou a mão, hesitante.

— Porque a poção reage de forma diferente com cada pessoa, e o desejo pode influenciar a magia?

Scarlett abaixou a cabeça quando a ouviu falar. Mordia o lábio inferior e focava em anotar algumas coisas para conter o ímpeto de rir.

— Exatamente! — confirmou o Professor Sharp. — A magia da Amortentia é complexa e se entrelaça com as emoções humanas de maneiras profundas e imprevisíveis. Agora, vamos prepará-la. Certamente cairá no N.I.E.M e este será um exercício não apenas de habilidade, mas de responsabilidade. Abram o livro na página 122.

Os barulhos de cadeiras se arrastando e páginas sendo rapidamente viradas tomaram conta da sala. Scarlett tinha estudado a Amortentia com Garreth há alguns dias, já estava sabendo que aquela aula aconteceria e quis se preparar o máximo que pudesse. Ainda assim, estava tensa. A Amortentia tinha uma peculiaridade que as outras poções do amor não tinham: os ingredientes eram extremamente aleatórios. Tirando os ovos congelados de cinzal e poeira de pérola, os outros ingredientes eram muito particulares do bruxo que a preparava.

Eles teriam um pouco mais de duas horas para prepararem a poção, o que não era muito, mas o suficiente para Sharp analisar como estavam as habilidades deles com o preparo de poções avançadas.

Scarlett levantou-se para ir à prateleira de ingredientes, tentando mentalizar o que esperaria de uma poção do amor. Tinha em mente os ingredientes de outras e tentaria usá-los de base, talvez desse certo.

Sebastian já estava ali, enchendo o braço com frascos, muito focado no que estava fazendo até ser chicoteado pelo perfume floral de Scarlett ao seu lado. Ele respirou muito devagar. Sky o ignorava veementemente. Pegou tudo o que precisava e se afastou sem mesmo olhá-lo, o que foi uma tarefa muito difícil. Porém, tinha prometido a si que iria ser fiel à sua mente, mesmo que seu coração não fosse fiel a ela.

As duas horas de aula passaram correndo. A areia da ampulheta de Sharp parecia correr mais depressa que o normal. Scarlett olhou para os seus amigos e recebeu a positiva, erguendo a mão para entregar sua poção.

— Senhorita Callaghan. — Sharp levantou-se e mancou até a estação de sua aluna. Avaliou os espirais do vapor que subia e a cor perolada. — Devo dizer que estou surpreso. Quais ingredientes usou?

— Ovos congelados de cinzal, pó de pérola... — Rapidamente pegou um dos fracos para confirmar o nome, com medo de errar. — Essência de rosa negra, pétala de narciso gritante, pó de asa de fada e... espinho de acônito.

Sharp pareceu surpreso. Tinha as sobrancelhas erguidas e um leve sorriso no canto de sua boca.

— Mistura interessante. E por que seguiu essa linha com ingredientes tão... incomuns quando tratados do amor?

— Não acho que o amor seja cor de rosa, professor. É perigoso. Até danoso. — As palavras simplesmente escaparam de sua boca e ela quis se esconder no primeiro buraco que encontrasse quando percebeu o que tinha falado.

— Bom... E já que foi a primeira da turma, gostaria que me respondesse qual a última particularidade da Amortentia.

Ela não esperava por aquilo. Arregalou os olhos e pigarreou, se empertigando.

— Hum... A... Amortentia possui um cheiro específico para cada pessoa, a depender daquilo que a atraí. Por isso é uma poção tão particular...

— Correto. Exemplifique. — Sharp colocou os braços atrás do corpo e estufou o peito.

Scarlett aproximou-se do caldeirão. O calor tocando suas bochechas quando se curvou. O líquido não borbulhava, mas movia-se em serpeios sutis.

— Eu... sinto cheiro de... — Aspirou longamente e seu coração saltou. — Floresta de cedro... lareira acessa, livros antigos e... — Seus olhos encontram os de Sebastian, exatamente à sua frente. — chuva...

— Perfeito. — Sharp se afastou. — Alguém mais?

Scarlett afastou-se um passo do caldeirão, coçando o nariz de novo. Aqueles cheiros estavam a perseguindo desde o momento que pisou naquela sala. Agora entendia o motivo e preferia não ter entendido. Apertava a mão com tanta força que suas unhas marcavam a palma. Ouvia alguns cochichos, mas não teve coragem de erguer a cabeça, fitando fixadamente as palavras sem nexo de suas anotações.

Garreth apresentou logo após. Sharp avaliou como uma boa poção e o liberou, mas não antes de o grifinório encher um pequeno frasco e colocar no bolso antes de sair. Ele piscou para Scarlett e saiu da sala em passos largos.

Ela acompanhou a cabeleira ruiva toda sair pela porta e, instintivamente, virou-separa Sebastian, a sua frente. Seu corpo se arrepiou em uma onda. Ele a encarava. Os olhos quentes a tragando de novo. A tensão em sua feição que poderia indicar um milhão de coisas e nada ao mesmo tempo.

Scarlett pegou suas coisas com pressa e saiu quase correndo da sala. Aquele lugar era sufocante.

Ele era sufocante.

Apressou-se para encontrar Garreth no Grande Salão, forçando-se a esquecer tudo o que tinha visto e cheirado naquela aula. Sabia bem demais o que significavam aqueles cheiros e isso a fez querer se rasgar de dentro para fora. Seu coração estava pesado, suas mãos tremiam.

Quando passou por uma das pontes, o vento forte a chicoteou. Uma chuva estava para vir. O cheiro vindo de longe. Não era aquele cheiro que sentiu. Esse era úmido, estava chovendo com frequência, não era uma novidade. O cheiro que sentiu foi de uma chuva de verão, daquelas que vêm de repente, molhando a terra seca e trazendo um calor aconchegante do gramado.

Ela parou na antessala do Grande Salão, atordoada. Imelda e Ominis não demoraram para aparecer, junto aos outros alunos da aula de poções.

— Está tudo bem? Você tá estranha... — Garry tocou o ombro dela.

— E-estou... Estou. — Sky forçou um sorrido. — Vamos nessa.

O plano seria posto em ação.

Imelda sentou-se a frente de Violet, perguntando para Violet sobre o laço dela. Imelda tagarelava e dizia querer um como aquele para prender seus cabelos para os jogos de modo diferente e bonito. Era uma grande mentira, mas Violet precisava só de alguém enchendo seu ego para tecer comentários.

Ominis e Scarlett, então, passaram ao lado dela e Sky esbarrou em suas costas de propósito.

— Você tem problema, garota? — Violet se virou de uma vez. — Tá sempre se batendo nos outros como uma maluca!

— Você não sabe o que é um acidente, não? — Scarlett alimentou a briga.

Imelda estreitou os olhos, quando a atenção de todos se voltou para a histérica, e derramou o conteúdo do frasco de Garreth no copo de Violet.

— Você faz de propósito! — Violet levantou-se.

— Ela estava ajudando um cego a não cair, ou você vê problema nisso também, McDowell? — Ominis tomou a frente.

— Como se alguém fosse acreditar! — A garota desdenhou, raivosa.

— Me poupe, Violet. Não é como se eu quisesse me contaminar com uma qualquer como você. — Scarlett revirou os olhos, completamente debochada.

— Uma o quê?! — Violet arregalou os olhos e bateu o pé.

— MENINAS! — O professor Ronen gritou da mesa dos professores e as duas se afastaram.

Imelda fez sinal positivo para amiga e os três se afastaram em passos rápidos até a mesa da Grifinória, que era mais perto de onde precisavam estar.

— E se ela não beber? — Ominis perguntava baixo.

— Ela já bebeu. — Garreth abriu um sorriso viperino, olhando para a mesa do outro lado do salão, onde Violet entronava sua taça.

— Agora é só esperar...

Os três começaram a comer ali mesmo, junto a Garry, quando Violet levantou-se de uma vez, batendo as palmas na madeira da mesa. Os quatro acompanharam de longe, escondendo as bocas para abafar os risos. Ela caminhava em passos firmes em direção a Arthur Plummly.

Violet parou na frente de Arthur e puxou seu ombro. O garoto, extremamente tímido, arregalou os olhos.

— Arthur Plummly, eu nunca percebi antes, mas agora vejo claramente... Você é a razão do meu coração bater mais forte. — declarou, sua voz ecoando pelo salão que se tornou silencioso de imediato. — Não consigo mais esconder meus sentimentos. Você é tudo para mim!

Com um gesto teatral, ela levou uma mão ao peito e estendeu a outra dramaticamente na direção de Arthur. Ele congelou, o rosto adquirindo um tom de rubor intenso, enquanto os outros alunos explodiam em gargalhadas incontroláveis. Scarlett tentou conter o riso, mas logo se juntou à alegria geral. As amigas de Violet ficaram boquiabertas, e até Sirius deixou escapar uma risada.

— Por Merlin! Isso é embaraçoso demais de se ouvir! — comentou Ominis, apertando as mãos nos ouvidos.

— Cada vez que te vejo, meu coração se enche de alegria. Arthur, por favor, diga que sente o mesmo! — Violet, alheia ao caos que estava causando, continuava sua declaração de amor.

Arthur, ainda em choque, conseguiu balbuciar algumas palavras, mas antes que pudesse responder de forma coerente, a professora Weasley levantou-se rapidamente, pegando Violet pelo braço e a levando para fora do salão.

As risadas cresceram ainda mais, ecoando pelas pedras do castelo como uma onda. O som metálico dos talheres contra os pratos se misturava ao burburinho elevado e exagerado das conversas. Enquanto os professores murmuravam entre si, Sharp parecia visivelmente irritado com a cena. Arthur virou-se para o seu prato. Estava desconcertado, incapaz de discernir se aquilo era uma piada ou algo mais sério, mas nitidamente desconfortável.

Scarlett ria tanto que lágrimas escorriam de seus olhos. Ela e Imelda se debatiam na mesa, a barriga doendo e o ar faltando. Até Ominis, que era mais contido, finalmente cedeu, deixando-se contagiar.

Sebastian estava sentando na mesa da Lufa-Lufa, ao lado de Adelaide e de frente para Poppy quando tudo aconteceu. Era ali que ele se sentava quando não queria estar com as pessoas que menos gostava da Sonserina. Ele estralou a língua no céu da boca e meneou em negação, segurando o riso enquanto via Scarlett gargalhar alto na mesa ao lado.

Seu coração estava estranhamente quente ao vê-la sorrir e extremamente pesado por estar distante. O riso se desvaneceu. Bebeu o suco de abóbora na tentativa de afastar aquela sensação de solidão esquisita que o tomava rapidamente. O copo foi deixado de lado e, sem se despedir, ele rumou para fora do Grande Salão.

— Me surpreende você não estar com eles. — Natty se aproximou.

Sebastian forçou um riso.

— Já faz um tempo que não tenho o luxo de estar com eles.

— Eu percebi. E o porquê...?

Os dois se calaram quando passaram pelo quarteto. Os olhos de Scarlett encontraram o de Sebastian, mas logo fugiram quando ela passou o braço pelo de Ominis, entrando no assunto discorrido ali.

— Eu fui um babaca com quem não deveria e não sei como voltar atrás. — murmurou caminhando para as escadarias.

— Por que vocês, homens, sempre dificultam o simples? Se você se arrepende mesmo, é só pedir desculpas. Ela vai ver que é sincero e vai aceitar.

— Ah... eu duvido. Eu fui muito, muito injusto com ela...

— Mas você gosta dela, não gosta? De verdade. — Natty recebeu um olhar quase que desesperado do amigo. — É, eu sei. Nunca vi você ficar como um coitadinho nos cantos como está agora.

— Coitadinho?! — Sebastian se ofendeu.

Eles param de andar, recostando-se no parapeito da Escadaria, esperando ela terminar de mudar para prosseguirem.

— Desculpa! Mas é! Fico, de certo modo, contente de ver você apaixonado, mas não está mais na hora de você ser o Coitadinho Sallow. Está na hora de você ser O Sebastian Sallow. Vai atrás dela! — Natty o cutucou.

Sebastian sorriu. Não queria, mas sorriu. Gostava tanto de Natsai que queria que ela fosse menos Grifinória para ao menos ter a desculpa de que ela estava na casa errada para tê-la por perto. Abaixou sua cabeça, brincando com os próprios dedões enquanto divagava.

— Eu gostaria de dizer que não estou apaixonado, mas... não consigo mais mentir nem para mim mesmo, quem dirá para você.

— É impossível esconder essa cara de cachorro sem dono quando você a olha.

Sebastian riu e empurrou a amiga levemente.

— Eu nunca esqueci o dia em que a conheci... — Ele continuou a divagar em suas memórias. — Ela usava um vestido verde bem escuro, antigo demais para ser dela e com uma pérola logo abaixo do pescoço. Lembro bem de como o cabelo dela estava. Meio solto e meio preso, você sabe, e tinha uma fita preta que sumia entre os fios. Eu fiquei encantando... E ela não era tímida. Sorriu ao me ver. E que sorriso... — Ele sorriu, saudosista. — Os olhos parecendo duas joias esmeralda que me deixaram sem palavras. Ela me cumprimentou com uma reverência, como se ela fosse uma princesa. Acho... acho que foi ali que eu me apaixonei. Tínhamos treze anos.

— E o que houve? — Natty perguntou, realmente entretida com o assunto.

— Combinamos de trocar cartas e eu disse que apareceria mais vezes para vê-la, mas acabamos brigando e eu fui um babaca. Acho que é de praxe.

— Se você reconhece o padrão, quebre-o. A Sky merece alguém que a trate bem e eu sei que você pode ser essa pessoa. Te conheço desde o meu primeiro dia nessa escola, Sebastian... — Natty tocou seu ombro. — Você sempre foi muito amigável, inteligente e receptivo. — Quando Sebastian sorriu com os elogios, Natsai prosseguiu: — Porém, também era enervado demais, prepotente e arrogante quando era desafiado. Nos tornamos amigos porque eu consigo ver além dessas características, mas você não pode esperar isso de todo mundo. Eu e o Ominis temos mais resiliência que grande parte das pessoas.

— Ele nem tanto... — Suas sobrancelhas se ergueram rapidamente.

— Ele está defendendo a amiga. Não o culpe, eu faria o mesmo.

— E você está tentando me ajudar? — Sebastian a encarou.

Natty riu.

— O que eu tô tentando falar é que gostar de alguém é muito mais complicado... Sei que entende onde quero chegar. Vocês têm uma história de atritos. Não espere que ela aceite ser machucada sem se afastar.

— E o que faz você não se afastar? — Sebastian estava genuinamente abatido.

— Somos amigos. Eu e Ominis estamos numa posição diferente da dela. Se você fala besteira, a gente grita um com o outro, vamos para o Varinhas Cruzadas para um duelo e passou. Se você fala besteira para ela...

— Ela vai se proteger se afastando. — murmurou, esfregando a mão no rosto ao perceber a própria idiotice.

— Você faria o mesmo se estivesse no lugar dela. Se apaixonar é assustador.

Sebastian tornou a encará-la, estreitando os olhos.

— Você fala com muita propriedade, Natsai...

— Isso não vem ao caso. — Ela empurrou levemente o rosto dele para quebrar aquele olhar inquisitivo. — Apenas vá atrás de arrumar sua bagunça e não a perca para o Garreth!

Com um beijo deixado na bochecha de Sebastian, Natty seguiu seu caminho e Sebastian ficou ali, encostado no parapeito.

“Não a perca para o Garreth.”

Até a aula de Poções, ele estava convicto de que tinha a perdido. Seu sonho o perturbava tanto quanto eles trocando olhares e rindo um para o outro. Eles tinham algo que ela e Sebastian nunca tiveram e isso, de fato, doeu. Vinte e seis dias se passaram desde a primeira briga, o dia em que havia agido como um “babaca” com B maiúsculo.

Porém... Ela inadvertidamente expôs muito de si com os cheiros de sua Amortentia. Acabou por revelar muito mais do que ela certamente gostaria e Sebastian se agarraria a isso.

Ele não desistiria dela. Como deveria ter feito antes.


Notas Finais


OOOOOOI!!!!

O aniversário é meu, mas o presente é de vocês! Dois capítulos seguidos e uma capa nova (que eu só ia lançar em janeiro, mas não me aguentei).

Escarlate é um presente para mim, de verdade mesmo, eu estou TÃO feliz com o rumo da história, com vocês, meus queridos leitores, com todo o carinho e tudo mais. Fico muito feliz de estar completando meus 26 anos aqui.

Obrigada por todo retorno que me dão, por todo favorito, e cada comentário que eu fico ansiosa para ler. Eu AMO Escarlate, por isso a escrevo, e amo que tem pessoas que gostam também e aproveitam esse mundinho comigo.

Criei um servidor no Discord justamente para estar pertinho de vocês e estou amando estar lá (entrem gente, juro que somos legais). Estou amando compartilhar todo pensamento intrusivo que tenho e todas as coisinhas. INCLUSIVE AS NOVAS FOTOS DE SCARTIAN!

AHHH! Antes que eu me esqueça, tenho um disclaimer para fazer sobre a profissão dos pais do Sebastian. Eu vi que criei uma confusão, mas já ajeitei e estou deixando aqui também. A MÃE do Sebastian era professora de DCAT e o PAI dele era professor de Runas.

É isso, obrigada, de coração. Esse mês terá muitos presentes para vocês.

Espero que gostem e nos vemos nos comentários,

Kisses!


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