“Porra, isso dói muito, não vou mentir. Não importa o quanto eu tente, eu sei que não estarei satisfeito. Então, por que tentar ignorá-lo? Eu sangro, cavando mais fundo só para jogar tudo para o alto.”
— Bleed it out - Linkin Park
Sebastian estava cansado. Muito cansado. Fazia dias que não dormia direito, debruçado em todos os estudos com Isidora. Sucumbido por todos os pensamentos sobre Scarlett. Ainda assim, não conseguiu descansar, nem mesmo depois de seu corpo relaxar após um orgasmo perfeito. Estava sonolento, mas sua mente não o deixou mergulhar nos quereres de Morfeu.
Quando estava na aula de poções e ouviu Scarlett dizer os cheiros de sua Amortentia, sabia que a teria de volta, mas não daquele jeito. Não esperou que estaria com ela embrenhada em si daquela forma. O rosto plácido contra seu peitoral. A pele aveludada e despida contra a dele. A respiração tão calma e nenhuma preocupação. Era um sonho. E ele não queria dormir para acordar em algum pesadelo.
Não conseguia nem saber quanto tempo passou olhando cada um dos detalhes dela. Amava seus cílios longos e pretos, suas sobrancelhas finas e a voltinha delicada que seu nariz fazia. Era encantado pelo formato de sua boca e como amava estar bem próximo a ela para ver suas sardas. O cheiro de seu cabelo que subia quando ele os acariciava. Como os seios rosados estavam pressionados em seu tronco, suas mãos finas e delicadas pousadas nele… E mais um milhão de coisas que compunham a sua Sky. Céus! Como cabia tanto sentimento em uma pessoa? Será que era por isso que sentia seu peito pesado e dolorido?
Ou será que era pela impotência de ter sido incapaz de protegê-la? Era como ver seu sonho ser manchado por uma densa sombra que engolia tudo. Sebastian sentia-se no dever de protegê-la daquele dia em diante para que nada jamais a ferisse daquela forma. Tinha esse sentimento mordaz dentro de si. Agudo e definitivo.
— Sky… — A voz veludínea de Sebastian adentrou os ouvidos dela.
Scarlett abriu os olhos muito lentamente. Sentia cócegas em sua bochecha e um lado de seu corpo mais quente que o outro. Parecia que não tinha dormido nada, estava exausta. Sebastian abriu o mais lindo dos sorrisos, dando-lhe a visão do paraíso. Foi impossível não sorrir também.
— Pensei que não ia conseguir te acordar. — Ele ronronava, esfregando a ponta do nariz na bochecha dela, descendo para beijar seu pescoço.
— Dormi sem querer… — Sua voz estava preguiçosa e logo ela fechou os olhos novamente, encolhendo-se em Sebastian. Estava muito frio, mas eles estavam cobertos por um cobertor grosso preto e verde que ela não fazia ideia de onde tinha vindo.
— Eu sei, mas precisamos ir. — Sebastian continuava a roçar seus lábios na pele dela, como um viciado. — Eu não faço ideia de que horas são, mas acho que passamos a noite fora e temos que sair daqui antes dos corredores se tornarem cheios.
Ela abriu os olhos de uma vez. O coração acelerou e Sky se sentou, segurando o edredom diante do corpo completamente nu. O primeiro choque. Ela estava nua. E estava nua porque transou com Sebastian Sallow no scriptorium de Salazar Slytherin depois de usar uma Maldição Imperdoável. Para completar, ela passou a madrugada fora, sem saber para onde a saída os levaria.
Scarlett Callaghan tinha enlouquecido completamente e isso não era uma suposição, era a mais pura verdade. Ela se encolheu, afundando o rosto entre as pernas e os dedos rígidos no couro cabeludo.
— Por Merlim… Nós fizemos isso mesmo? Imelda vai me matar! E tem aula de TCM agora cedo! E nós transamos. — Ela ergueu a cabeça, para olhar o edredom. — E de onde diabos veio esse negócio?!
Sebastian riu, erguendo-se para alcançar os ombros desnudos dela, enchendo-os de beijos. Afastou os cabelos bagunçados e beijou também sua nuca, deliciando-se com a pele dela se eriçando ao toque mais singelo.
— Relaxa, miss Callaghan. Eu não acho que devam ser seis horas ainda, vai dar tempo de você tomar um banho e estar apresentável na aula. E eu tive que transfigurar minha capa para nos cobrir, estava ficando muito frio aqui.
Scarlett abracou as pernas e escondeu a cabeça, choramingando.
— Isso que a gente fez foi errado… — disse contra o tecido que tinha o cheiro forte de Sebastian, assim como todo o seu corpo naquele dia.
— Por que seria? — ergueu uma sobrancelha, passando os dedos nos cabelos dela.
— Porque sim! — O tom agudo de sua voz soou engraçado.
— Arrependida?
— Não! — Prontamente ergueu a cabeça, buscando os olhos de Sebastian. — Mas… o que isso faz da gente?
— Estamos cortejando, para todos os efeitos. — Ele ainda deixava beijos leves em sua pele, agora puxando um pedaço do edredom para beijar a tez logo acima de seus seios.
— CORTEJANDO?! — Scarlett o afastou de uma vez. — Mas meu pai não pode saber!
— Ah, mas ele vai. — Sebastian espreguiçou-se como se estivesse falando a coisa mais trivial do mundo. Levantou-se e foi atrás de sua calça.
— Sebastian! — protestou. Se ele não tivesse dito o maior dos absurdos, ela teria aproveitado melhor a vista de vê-lo nu em sua frente, todos aqueles músculos esculpidos e… Droga! Estava atordoada demais para isso.
— O que foi? — Ele subiu sua calça, afivelando-a na lateral. — Iriei pedir uma reunião formal com ele para pedir a sua mão. E irei informar meu tio sobre isso.
Toda a parcimônia com que ele falava aquelas palavras estava a enervando. Sky arregalou os olhos e se esqueceu de como respirava.
— P-p-pedir minha mão?! Por Merlim…
Sebastian meneou em negação, o seu riso ecoando nas borboletas do estômago de Scarlett. Ele não poderia estar falando sério. Colocou a camisa e aproximou-se de Scarlett com o andar felino que tinha quando estava com os olhos ancorados nela. Os botões ainda abertos, fazendo-a deslizar os olhos por seu tronco definido. A lembrança fresca de tê-lo em cima de si arrepiando sua nuca.
Ele colocou a mão por debaixo do lençol e puxou a perna dela de uma vez, até que Sky estivesse deitada novamente.
— Doce, doce, Sky… — sussurrou bem próximo ao seu rosto — Você achou que eu queria apenas sua virtude? Tsc, tsc, tsc… — A destra dele dedilhou o queixo fino. — Você é minha, Scarlett. — Sua mão desceu até o seio esquerdo dela, apertando-o levemente. — De coração… — Continuou a descida até o meio das pernas dela, onde tocou sua entrada com um dedo apenas, vendo-a estremecer e engasgar-se com um suspiro. — Corpo… E alma. — Tomou seus lábios em um beijo delicado em demasia para o peso de suas palavras. — Exceto se você não quiser.
Sebastian se afastou, ocupando-se em fechar os botões de sua blusa e pegar as roupas dela do chão. Scarlett ficou ofegante por mais um ou dois minutos. Sentia sua mente girar e aquele lugar parecia estar submerso, porque era a única explicação para ela simplesmente não conseguir respirar.
Sebastian terminou de vestir o blazer verde do uniforme, ainda vendo Scarlett agarrada ao edredom que cobria seu corpo.
— Se você não se vestir, vamos nos dar mal.
— Você destruiu minha meia-calça e a minha calcinha… — murmurou.
Um revirar de olhos trivial e Sebastian moveu a mão que segurava a varinha, fazendo a peça se restaurar.
— O nome do feitiço é Reparo, se quiser saber. — ironizou, recebendo o dedo do meio como resposta. Foi impossível não arregalar os olhos em espanto. Nunca tinha visto Scarlett descer naquele nível. — Miss Callaghan… que falta de decoro.
— Vai se ferrar, Sallow! — Ralhou, vestindo as peças de baixo ainda cobertas. Quando ia pegar o espartilho do chão, evitando sair das cobertas por vergonha e por frio, Sebastian pegou a peça primeiro.
— Senhor Sallow para você. Ou “amor”, você pode escolher. — Ele sorriu.
— Eu nunca te chamaria assim. — disse, embasbacada com a audácia.
— Nunca? — Sebastian recuou um passo antes dela alcançar o espartilho. — Nem quando você for a senhora Sallow?
Scarlett não quis sorrir, mas não conseguiu. Os olhos brilharam e falaram muito mais do que sua boca poderia dizer. Sebastian sorriu de volta, indicando com o dedo para ela virar de costas. Scarlett cobriu os seios com as mãos e levantou-se lentamente. Ele foi atencioso em ajeitar a peça diante dos seios dela. Passou a fita de cetim branca nos ilhóses e ajustou o aperto com certo incômodo em sua feição, não entendia aquela necessidade feminina de se apertarem daquela forma.
Pegou a camisa e a ajudou a pôr também. Quando Sky começou a ajeitar o blazer verde, Sebastian tocou seus cabelos. Estavam embaraçados pela noite e isso o fez sorrir. Usou os dedos para desfazer os nós e, atenciosamente, refez a trança de Scarlett como se estivesse fazendo a tarefa mais importante da sua vida. Quando terminou, beijou sua nuca.
— Onde aprendeu a fazer essas coisas? — perguntou, tocando a trança ainda melhor do que a sua.
— Minha mãe se foi muito cedo. Eu aprendi para cuidar da Anne. — Ele deu de ombros, engolindo o pesar que tentou crescer dentro de si.
Sky percebeu e aproximou-se, ficando na ponta dos pés para alcançar os lábios dele.
— Se quiser fazer todos os dias, eu aceito.
— Ah… não sei… — Sebastian fingia pensar, rodeando-a com seus braços. — Esse é um cuidado que eu quero deixar para a minha esposa.
Ela suspirou e afastou-se um passo, desviando o olhar. Não é como se ela não quisesse. Só não tinha pensando naquilo antes, e não conseguia saber como seu pai reagiria. Os Sallow poderiam ser de uma família puro-sangue, mas não tinham o status de um Callaghan, ou um Gaunt, ou os Black.
A única coisa de que ela tinha certeza era que não queria tirar a paz de seus dias naquele momento. Bem como não queria mais ninguém além de Sebastian. Teria como encontrar um meio-termo?
— Não quis te pressionar, Sky… — Tocou o queixo dela, fazendo-a olhá-lo. — Mas falo muito sério em minhas intenções. Sei o peso do que fizemos e eu não fui criado para levar isso levianamente. Também não significa que vamos casar amanhã, temos ainda dois anos em Hogwarts, não há pressa, apenas quero que saiba que eu te respeito.
— Eu sei disso… mas… — Um suspiro pesado lhe escapou, tirando a mão dele de seu rosto para segurá-la. — As coisas em minha família são um pouco complicadas. Não estou dizendo que não quero me casar com você, um dia, só não acho que devemos levar isso tão a sério agora por conta de uma noite…
— Uma noite? — Sebastian ergueu as sobrancelhas. — Foi só uma noite para você?
— Não! Por Merlim, Sebastian! Facilita as coisas! — Umedeceu os lábios, buscando as palavras corretas para prosseguir. — Vamos chegar à maioridade ao menos. Até lá, poderíamos… namorar… apenas…
— Namorar?! Eu já sou maior de idade, Scarlett, isso é coisa de… moleque. — Sebastian pareceu ofendido com a oferta no primeiro momento. Seu pai nunca permitiria que ele namorasse uma garota apenas. Conseguia ouvir sua voz, o repreendendo das ações descabidas. Contudo, ele não tinha mais pai. Diferente de Scarlett que morava com um monstro. Deveria engolir aquele desejo latente de proteção se quisesse mesmo protegê-la. Respirou fundo. Ele não iria pressioná-la a nada depois do que viu na noite passada. — Se são os seus termos, está tudo bem para mim.
Scarlett sorriu e tornou a passar os bracos sobre os ombros dele.
— Eu não me importaria de estar sempre com você, mas lembre-se de que eu tenho família aqui e não quero que meu pai saiba da gente ainda. — pontou, dedilhando seu maxilar.
— Posso segurar a sua mão?
— Quando estivermos entre amigos.
— Te beijar?
— Quando estivermos sozinhos, definitivamente.
— Argh! Tudo bem. — Sebastian revirou os olhos, dando-se por vencido. — Então, você é a minha namorada?
— Não sei, sou? — Ela abriu um largo sorriso.
— Vamos ver. — brincou, arrancando o sorriso dela com um beijo. — Anda logo, miss Callaghan.
Sebastian a soltou, transfigurou o edredom novamente em sua capa e vestiu-se antes de pegar o livro de feitiços de Salazar e rumar para a saída.
— O que você vai fazer com o livro? — Scarlett perguntou, ajeitando o cachecol no pescoço.
— O que faço com todos os outros. Ler, ler e ler. Ter pais professores me deu esse hábito desde muito cedo.
Com todos os pertences em mãos, olhou para o scriptorium mais uma vez. Torcia para conseguir voltar ali outras vezes. Então, tocou a estátua estranha por onde Ominis havia saído e sua suposição se fez correta quando uma escada se revelou até as masmorras, abrindo-se literalmente em frente à sala comunal da Sonserina.
Não tinha ninguém por ali, mas os dois usam o feitiço de Desilusão para descer as escadas. Eram cinco e dez da manhã, ainda horário de ronda dos monitores, mas nenhum estava no hall.
Foi horrível para eles se separarem e voltarem cada um para os seus quartos. Senhor Bigodes semicerrou os olhos para ela quando a viu caminhar nas pontas dos pés até seu guarda-roupa e Vys sacudiu as penas.
Pegou tudo o que precisava para o banho e correu para o banheiro feminino para o banho mais rápido que conseguiu ter. Vestiu outro uniforme e penteou seus cabelos, com preguiça de arrumá-los depois que descobriu que Sebastian fazia isso tão bem. Ainda assim, os ajeitou em um coque bem apertado e agasalhou-se bem para sair para o lado externo do castelo.
— Onde dormiu? — Imelda disparou assim que Scarlett fechou a porta do quarto.
— Que susto! — Sky bufou e jogou sua roupa suja no roupeiro.
— Não me fale que você caiu nos encantos do Senhor Bunda-Mole Sallow de novo!
— Não… — Scarlett pigarreou, pegando seu livro de Trato das Criaturas Magicas e colocando a fera em sua bolsa.
— Você não me engana! — Imelda estreitou os olhos, calcando as luvas grossas.
Sky respirou fundo e deu-se por vencida. Não daria para esconder de Imelda. E quanto mais gente soubesse, menos ela teria que se esconder.
— Promete guardar segredo? — perguntou, temerosa.
— Tenho cara de boca de sacola agora?
— Meldy… É sério!
Ela revirou os olhos e lançou um feitiço silenciador na porta, cruzando os bracos e esperando a informação vir.
— Sem gritar, OK?
— Eu não prometo nada. Nosso acordo me autoriza a te sacudir e gritar no seu ouvido até que você caia na realidade, se necessário.
— Eu estou com o Sebastian. De verdade, dessa vez.
— Por quê? — perguntou de uma vez, mal dando tempo de Scarlett terminar sua frase.
— Por que o quê?
— Você tá com ele por quê? Quero motivos bem explicados e realistas. — Ela continuava com os braços cruzados e expressão extremamente séria.
Scarlett engoliu seco e suspirou.
— Não existem motivos. Só um. Eu o amo.
— Você o quê? — Meldy arregalou os olhos.
— Ontem nós… conversamos… bastante e fomos sinceros sobre algumas coisas. Ele me ama e eu o amo. Não tem muito para onde ir. — Deu de ombros.
— Na verdade, tem sim. Para longe!
— Meldy…
— Tá, tá! Desculpa. Só… — Imelda bufou. — Sei lá… no último mês, você estava tão triste com ele e eu acabei criando raiva dele por isso. Ele ao menos te pediu desculpas?
— Sim. Várias vezes.
— E foi ele que disse que te amava ou você concluiu isso?
— Ele me disse. Com todas as palavras.
— Eu posso protestar?
— Poder pode… eu só não gostaria…
Imelda batia o pé impaciente, mas suspirou, os ombros caindo em derrota.
— Você está feliz?
— Muito! — Ela não conseguiu esconder o sorriso.
— Então, eu estou feliz por você. — Meldy acabou com o espaço entre elas e a abraçou. — Mas se ele te fizer chorar de novo, eu juro que faço ele engolir um balaço!
Sky gargalhou.
— Acho termos justos.
— E como vai fazer com o seu pai? — As duas pegaram seus materiais e saíram do quarto.
— Ele não precisa saber agora… vou deixar apenas entre amigos.
— Espero que Ominis fique de boa…
— É… também espero.
As duas fizeram o desejum rapidamente antes de enfrentar o frio cortante do lado de fora. Scarlett passou os olhos em todos os lugares à procura de Ominis, mas não o viu em lugar algum. Quando a aula começou, teve a certeza de que ele não apareceria.
A professora Howin começou falando sobre os yetis e outras criaturas que viviam na neve. A sala estava com paredes de vidro, como uma estufa, chamando a atenção de Scarlett por tempo suficiente até que percebesse não serem vidros e sim um feitiço para manter o frio do lado de fora.
Sebastian acabou por chegar atrasado, chamando a atenção de toda a sala, e isso incluía Scarlett. Foi muito difícil segurar o ímpeto de sorrir para ele, ou a vontade latente de querer beijá-lo.
— Como ele consegue ficar bonito de qualquer jeito? — Ouviu a voz de Samantha sussurrar para Adelaide. As duas estavam atrás de Scarlett. — Esse cabelo dele molhado pela neve é uma tentação…
De fato, era, mas Scarlett odiou ouvir alguém falando assim dele.
— Você foi muito burra em ter fugido ano passado. — disse Adelaide — Ele beija bem pra caramba.
— Eu pensei que ele insistiria… — Samantha bufou.
— Sebastian não insiste em ninguém. — Adelaide respondeu, o sussurro tão baixo que Scarlett quase não ouviu, mas sua atenção estava totalmente nelas para não captar aquelas palavras que aqueceram seu ego, suprimindo a queimação no estômago pelo ciúme.
Sebastian insistiu nela.
Ele abriu o mais charmoso dos sorrisos para Scarlett ao sentar-se ao seu lado, onde Ominis sentava e deu uma piscadela que encheu o estômago dela de borboletas. Ou pássaros. Pássaros grandes. Sky sorriu e desviou o olhar para voltar para as suas anotações.
Não fora uma aula muito produtiva. Trato das Criaturas Magicas não era a matéria de que Scarlett mais gostava da parte teórica, talvez estivesse ali no mesmo pé da parte teórica de Feitiços. Com Sebastian ao seu lado, toda a sua escassa atenção estava ocupada demais com o foco errado. Eles estavam sempre se olhando, escondendo os sorrisos e segurando a vontade de se tocarem.
Quando a professora Howin encerrou a aula, eles deixaram a manada da turma ir à frente para que pudessem ficar mais à vontade atrás.
— Por que se atrasou? — Scarlett quis saber.
— Estava tentando falar com Ominis. — Sebastian ajeitou o cachecol dela no pescoço e os dois começaram a andar, ouvindo Imelda exprimir um som de nojo ao lado de Scarlett. — Imelda, posso falar com Sky a sós? Prometo ser rápido.
— Eu já sei de vocês, bocozão. — Meldy ralhou.
— E vai ficar com raiva de mim ainda? — Ele ergueu as sobrancelhas em divertimento.
— Não tô com raiva de você por isso, idiota. — Por um segundo, Scarlett achou que Imelda bateria nele, mas ela apenas parou e cravou os pés no chão lamacento. — Você largou o time depois de eu passar semanas montando o início do campeonato contra o time que você escolheu, para início de conversa! Se eu soubesse que você não tinha um pingo de respeito pelo time, eu jamais teria cedido meu lugar de capitã para você!
— Tudo bem, você está certa. — Sebastian suspirou.
Imelda e Scarlett o olharam incrédulas.
— É claro que eu estou certa, Sallow! — Ela não deu o braço a torcer.
— Se você me aceitar de volta no time, prometo fazer valer. Você sabe que eu sou bom, nunca te decepcionei em campo.
— Ah, agora que a Sky te deu trela, você quer voltar para o time? — Imelda cruzou os braços, estava completamente debochada.
— Meldy… Ele está passando por um momento complicado, dá um crédito. — Sky tentou remediar, mas Sebastian a fuzilou naquele momento. Odiava que sentissem pena dele.
— Argh! Uma chance, Sebastian Sallow! — Apontou o dedo para o rosto dele. — E só porque o jogo foi remarcado para a semana que vem e eu não tenho tempo de treinar um novo batedor.
— Combinado. — Sebastian segurou o sorriso e estufou o peito.
Imelda forçou um sorriso cínico e subiu para o castelo em passos largos. Sky riu consigo, meneando em negação e virando-se para Sebastian com os olhos curiosos para o que ele tinha para falar. A neve voltara a cair com mais frequência, salpicando o cabelo deles.
— Você está parecendo um doce coberto de açúcar. — Sebastian sorriu. Não pode aguentar o ímpeto de curvar-se para beijá-la, mesmo que fugazmente. O gelo de seus lábios o arrepiando.
— Não faz isso! — repreendeu-o em um sussurro entredentes.
— Foi mais forte que eu. — Sebastian encolheu-se na capa e tornou a andar. — Ominis não parece muito bem. Digo, ele está bem de saúde, mas estava chateado ainda.
— Acha que ele vai perdoar a gente? — Sky se encolheu.
— Eventualmente, tudo passa. — Suspirou, vendo a fumaça se tornar densa diante de si. — Acho que o melhor a se fazer seria dar um tempo a ele. Ominis gosta tanto de Anne quanto eu e, quando ela estiver de volta, ele nem vai se lembrar do que fizemos.
— Não acho que Anne seja o motivo… Acho que somos nós e o que fizemos…
— Estamos bem. Ele vai ver isso. Só… sei lá… vamos deixar pra trás. — Deu de ombros.
— Você querendo deixar alguma coisa pra trás? — Scarlett ergueu um das sobrancelhas.
— Ele quer que eu dê a minha palavra para algo que eu sei que irei descumprir. Se eu insistir nele agora, poderei perder meu amigo, e não é o que eu quero. — Seu tom estava baixo, quase não rompia os mares de conversas ao redor deles. — E, por mais que meu corpo ainda doa um pouco pelo que fizemos, eu não me arrependo. Fiz por Anne. Por ela, apenas.
Um suspiro soou dela. Sebastian era extremante convicto das coisas que queria, não era uma coisa comum fazê-lo voltar atrás. Não que essa fosse uma preocupação dela, muito pelo contrário. O entendia como ninguém. A perda doía muito mais do que Ominis poderia imaginar e Sebastian a conhecia duas vezes para precisar conhecer uma terceira. Sky não queria que ele sofresse mais e iria ajudá-lo até o fim a salvar Anne.
— Tudo bem. — Scarlett iria empurrar a grande porta do castrelo para entrarem quando ele a parou.
— Tem mais uma coisa que não te disse ontem. — Scarlett o fitou com os enormes olhos verdes brilhando. — Desculpa pela forma que eu te tratei por conta do seu amigo duende.
Foi uma surpresa ouvir aquilo. Não soube o que responder, apenas balançou a cabeça positivamente muito lentamente. Ainda era estranho ver Sebastian pedir desculpas.
— Não que eu esteja a pessoa mais aberta do mundo a aceitar ajuda de um duende, mas você se mostrou certa sobre tudo e irei onde você precisar com esse tal de Lok sei lá o que.
— Lodgok. — Scarlett sorriu.
— Tá, tá! Só não ande com ele por aí sozinha. Me deixa te ajudar, hum? — Ele empurrou a porta para dar passagem para ela antes de tornar a caminhar ao seu lado.
Scarlett anuiu. Estava com o coração quente com aquelas palavras. Para ela, estava tudo bem depois do que ele disse no scriptorium, mas tinha como melhorar, e ele melhorou.
— Preciso encontrar Imelda. Nos vemos no almoço? — Por fim, Sebastian parou antes de adentrar a antessala do Grande Salão. Passou a mão no cabelo de Scarlett para derreter a neve e tornou a ajeitar o cachecol no pescoço dela em um gesto superprotetor de sua parte.
— Sim, senhor Sallow. — Scarlett se sacudiu e afastou a lã do rosto, desajeitando o que ele fez.
— Mas não “amor”? — sussurrou em divertimento e Scarlett o afastou, caminhando para dentro sem olhar para trás. — Até mais tarde, miss Callaghan. — exclamou e ela acenou de costas.
Sky esquadrinhou o Grande Salão, que se enchia aos poucos, a procura da cabeleira loira e bem penteada de Ominis. Ele estava sentado junto a Smile, uma das meninas do seu ano, que comumente andava com Adelaide e Samantha. Scarlett se aproximou e sentou-se ao lado do amigo, dando um tímido sorriso.
— Oi, Omi…
— Oi. — Ele ocupou a boca, fechando o semblante.
— Podemos conversar? — Suas mãos suavam frio e o nervosismo estava aparente em sua voz.
Ominis ficou impassível por alguns segundos. Smile tentava desviar a atenção da conversa, mas não conseguiu.
— Pode me dar licença, Smile? Nos falamos mais tarde, levarei o pergaminho de Aritmancia para você.
— Tudo bem. Até mais. — Ela comprimiu os lábios em uma linha e sorriu.
Ominis se levantou. Sky pensou que ele se afastaria, mas ofereceu seu braço e esperou que ela o segurasse. Ela catou um bolo de caldeirão e caminhou com Ominis até a Sala Precisa; não estava muito a fim de ser interrompida e queria estar num ambiente confortável e longe de olhos curiosos quando falasse tudo o que precisava dizer ao seu melhor amigo.
— O que acha da praia? — perguntou ela.
— Praia? — Franziu o cenho. — Que praia?
— Praia, de praia.
— Ah, sei lá, faz tempo que não vou a uma. — Ominis ajeitou a postura, não parecia muito confortável naquele momento.
— Vamos.
Scarlett segurou a mão de Ominis antes que ele contrariasse ou fizesse mais perguntas. Subiu um lance de escadas e depois mais três degraus quando o clima mudou. Tinha uma brisa salgada e o chão era fofo. Ominis ouvia o quebrar das ondas na areia e sentia o calor do sol na areia branca.
— Você tem uma praia. Na sala precisa.
— Sim… E mais outros dois ambientes diferentes. — Ela tirou os sapatos, a meia calça e toda a roupa de frio que a cobria. Subiu as mangas da blusa branca e respirou fundo, deixando os raios solares penetrarem sua pele.
Ominis suspirou e a acompanhou. Já sentia o suor escorrer por sua testa. Tirou as meias longas e afrouxou a gravata, caminhando em direção ao som do mar enquanto subia suas mangas.
— Eu fiquei só três semanas sem vir aqui e você já tem tudo isso?
— Eu e Deek estamos resgatando algumas criaturas. A sala está apenas ajudando a criar um ambiente confortável para elas. — Deu de ombros, pisando na água fria do mar.
Ominis parou ao seu lado, sentindo a espuma das ondas acariciar seus pés brancos.
— Por que você está fazendo isso? — Ele quis saber.
— Porque eu preciso. — Sky fungou, mexendo os dedos na areia molhada.
— Precisa? Você tem só dezesseis. Salvar criaturas de caçadores não é seu dever. E se você se machucar? E se você morrer?! — Ele se exaltou.
— Não, Omi, eu preciso. Quando se é alguém como eu, algumas coisas precisam ser feitas e eu posso fazê-las.
— Alguém como você? Você já não se provou o suficiente?
— Não estou falando disso. — Ela pausou e suspirou. — Vamos sentar, tenho algumas coisas para te contar…
Ominis retesou. Apertou a varinha na palma e acompanhou Sky para uma sombra onde, então, sentaram-se.
— Só para avisar, tem um grupo de Amassos por aqui, não se assuste.
— Tudo bem, conta. — Ominis contraiu os ombros e manteve a varinha pulsando o brilho avermelhado para não ser pego desprevenido.
Scarlett tomou fôlego, a mente trabalhando a mil para saber por onde começaria.
— Eu tenho uma habilidade rara. Uma ligação com um tipo de magia ancestral muito rara mesmo. Até onde sei, atualmente sou a única, pelo menos por aqui. Eu consigo ver rastros e manipular essa magia, o que acaba por me deixar mais forte do que a maioria.
— Tá… — Ele piscou e fechou os olhos, parecia incomodado com o vento. Deixou o ouvido inclinado para Sky, mexendo na varinha de modo ansioso.
— Eu ainda não a controlo completamente, mas está sendo bom esses pequenos conflitos com os caçadores porque estou treinando bastante.
— A escola tem milhares de bonecos de treino, Scarlett. — disparou.
— Não é a mesma coisa. Não quando existe uma legião de duendes e bruxos das trevas atrás de mim…
— C-omo? — Sua voz falhou.
— Por conta dessa habilidade, Ranrok, o duende que está fazendo essa rebelião, está atrás de mim e todos os que trabalham com ele também. Inclusive Victor Rookwood.
— Victor Rookwood está atrás de você? Scarlett! — Seu tom aumentou — Você precisa contar para o seu pai. Rookwood tem contatos no Ministério e pode chegar até você, temos que fazer alguma coisa!
— Não! Não posso contar para ninguém nada disso, ninguém! Apenas você, o professor Fig e… Sebastian… sabem disso.
— O Sebastian?
— Ele está me ajudando desde setembro, foi assim que nos aproximamos.
— Sebastian sabe disso desde setembro e eu não?! — Ominis pareceu realmente ofendido. — Quem mais sabe? Imelda? Garreth? A Natsai?
— Ninguém além de vocês, eu juro. Realmente não posso contar a ninguém. O Sebastian meio que… possui essa habilidade também.
— É mentira. Eu conheço Sebastian desde o primeiro dia do primeiro ano. Apesar dele ser bom, a magia dele é normal. — Ominis desprezou.
— A dele é diferente da minha, mas ele tem, e estamos passando por testes juntos. E… bom… Eu espero mesmo que entenda… Por favor… Estou te contando tudo isso porque quero que você entenda que não foi do nada e que eu sei onde estou pisando.
— Vocês estão juntos. — concluiu. — Ele me disse quando vocês brigaram, mas você negou.
— Eu estava chateada… Não queria que ninguém soubesse.
— Nem mesmo seu melhor amigo. — Ele riu sem humor algum, virando o rosto para o outro lado.
— Omi… por favor, não fique chateado comigo.
— Não estou chateado, Scarlett, estou desapontado. — Bufou. — Eu sempre disse que você viria até mim quando algo assim acontecesse, que você confiaria em mim, mas não é bem o que aconteceu. Três meses em Hogwarts e você guardando os maiores dos segredos enquanto estava com o meu melhor amigo.
— Eu quis te contar, mas não posso compartilhar nada sobre a magia ancestral e, sobre Sebastian, eu nunca quis que chegássemos onde chegamos, mas… chegamos… e… eu o amo.
— Você o… Uau… — Ominis estralou a língua no céu da boca e respirou fundo. — Isso explica muita coisa sobre o comportamento de vocês. Principalmente sua condescendência aos erros absurdos dele. Talvez o fato de eu ser cego e ter confiado em você tenha me feito não enxergar a verdade.
— Eu te trouxe aqui para contar tudo porque não quero esconder mais nada do meu melhor amigo. — Ela segurou a mão dele, entrelaçando seus mindinhos como faziam quando eram crianças. — E eu juro que não estou te escondendo mais nada.
Ominis ficou quieto por quase um minuto. A tensão entre as sobrancelhas grosas e loiras entregava que ele estava pensando em um milhão de coisas. Ele apertou o mindinho dela e levou sua mão aos lábios, deixando um cálido beijo nos nós de Sky.
— Você é a minha melhor amiga, Sky. Minha irmã, muito mais do que os loucos dos meus irmãos. Minha preocupação com você é genuína.
— Eu sei disso…
— Por isso, não posso deixar de me preocupar com o seu relacionamento com o Sebastian. — Ele completou. — Eu digo isso como alguém que também o ama. Mas… ontem… — Ela pode jurar que ele choraria, mas nenhuma lágrima desceu de seus olhos. — Por favor, não siga o mesmo caminho que ele… Magia das trevas não vale a pena. Nunca.
— Não se preocupe comigo, Omi. De verdade. Eu sei me cuidar quanto a isso. E… sobre ontem… Eu sinto muito pelo que fizemos e sinto muito mesmo pela sua tia… — Sky encostou sua cabeça na dele, fechando os olhos.
— Eu acho que... depois de tudo isso… de certa forma, sou grato por saber o que aconteceu com ela. Obrigado. — Ele fungou e suspirou. — E obrigado por confiar em mim de novo.
— Você é a minha família. — Entrelaçando seus dedos, ela segurou a mão dele com ambas as mãos. As cabeças unidas e os olhos fechados, selando-os numa bolha de carinho terno.
— E você, a minha.
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A primeira sexta-feira de dezembro começou agitada para alguns. Os burburinhos de que haveria jogo estavam rolando soltos, mas Imelda formou o sistema de ingressos perfeito com ingressos azarados para quem espalhasse a data e horário corretos. Foram distribuídos cinquenta ingressos para cada Casa. Estava dando tão certo que Imelda cogitava fechar outro campo fora da escola para que pudessem fazer um campeonato decente. Ganância? Não. Ambição. E quando se tratava de quadribol, muito ainda não era suficiente para ela.
— Mantenha seu namorado focado hoje, por favor. Eu não quero perder para a Grifinória, os termos são muito caros. — Meldy ajeitava a capa grossa no corpo.
— E quis são os termos? — Scarlett pegou sua vassoura nova e caminhou para perto da professora para pegar os exercícios.
— Sigilo dos times, mas falo sério.
— Ah, mas aí é com ele, né?! — Sky limpou as mãos, estreitando os olhos devido à claridade do sol refletido na neve.
— Mas ele está jogando melhor depois que vocês começaram a namorar. Principalmente quando você assiste aos treinos.
— Ele gosta de se achar, só isso. — Sky brincou e Imelda concordou.
Grande parte dos meninos da classe conversava juntos em um grupo e a gargalhada era alta. As duas prefeririam ignorar e seguir para os exercícios de voo. Scarlett queria melhorar para fazer mais aulas com suas amigas e Imelda nunca perderia tempo de voo falando abobrinha.
— Desiste, Weasley, você só vai beijar quando sua mãe arranjar uma coitada pra casar com você. — Ominis zombou.
— Eu não beijei porque não quis e não porque não tenho opção! Ao contrário de vocês, não sou libertino. — Garry cruzou os braços.
— Oh, São Garreth, dai-me sua benção! — Sebastian uniu as mãos em um sinal de oração.
— Vocês estão duvidando? — O grifinório bufou as narinas. Estava coberto de raiva de toda aquela zoação.
— Sim! — Sebastian disparou.
— Amigo, confesso que até eu. — Leander também ria do amigo de casa.
— Vamos fazer uma aposta? — Sebastian apoiou a vassoura no ombro. — Convide qualquer menina do nosso ano, qualquer uma, e se ela aceitar, eu não te encho mais o saco por isso.
— Feito. — Garreth jogou os cabelos ruivos e ondulados para trás.
— Mas tem que conseguir pelo menos um selinho dela! — Ominis completou e Sebastian riu, concordando.
— Vocês vão ver só.
Claro que ele não esperou mais um segundo para cumprir com a aposta. Queria tirar Sebastian de seu pé a todo custo. Tentou com quem achou que seria mais fácil, como Natty, já que eles eram amigos. Subiu na vassoura e aproximou-se dela com uma determinação apreciável.
— Natty!
— Não quero provar suas poções hoje, Garreth. — Natsai esquivou-se, recebendo uma careta de desagrado do amigo.
— Não é isso! É… que… argh! Isso é muito difícil! — falava consigo.
— Devo me assustar? — Natty intercalou o olhar entre ele e Poppy que voava ao seu lado.
— Você… você aceitaria… sair comigo… qualquer dia desses…?
Poppy segurou o riso imediatamente e Natty arregalou os olhos, sem acreditar no que estava ouvindo.
— Mas… você está precisando de ajuda em algo? — educadamente, ela perguntou, nervosa demais com a situação.
Sebastian caiu na gargalhada, alguns metros abaixo, apoiando-se em Ominis para não cair em seu riso espalhafatoso. Ominis não estava diferente. Leander e Duncan também riam e Amit tentava segurar-se.
— Deixa, esquece. — Garreth revirou os olhos. Sentia seu rosto queimar em vergonha, mas não desistiria ainda. — Poppy?
— Garry… é que, na verdade, eu ando meio ocupada… — A doce lufana tentou desconversar.
Aquilo aconteceu de novo com Violet, Samantha, Adelaide e Smile. Todas as quatro negaram prontamente, fazendo com que os rapazes rissem mais ainda. Sebastian sentia sua barriga doer, mas não conseguia deixar de rir da cara das garotas, principalmente por saber que ele nunca passaria por isso.
Ele só engoliu o riso quando viu Garreth voar para perto de Scarlett e Imelda. Seu coração acelerou e sua atenção se voltou completamente para o céu.
— Cala a boca, Prewett! — socou o grifinório que murmurou de dor.
— O que foi? — Ominis perguntou e Sebastian tapou sua boca.
Imelda parou sua manobra no momento em que a cabeleira ruiva de Garreth Weasley se fez presente entre a imensidão branca do céu carregado de nuvens e do chão coberto de neve. Scarlett sorriu gentilmente para ele, calorosa como sempre.
— Oi, Garry!
— O-oi, Sky… — Garreth estava nervos de estar ali. Pensou em chamar Imelda, mas foi como se lesse seus pensamentos ou previsse o futuro humilhante que lhe aconteceria se chamasse logo Imelda Reyes para sair. — S-Sky… é… Você… O que acha de irmos a Dedosdemel qualquer dia desses? Poderíamos passar a tarde em Hogsmeade de novo… O que acha?
Imelda tinha os olhos levemente arregaçados, fitando a amiga ao lado, a vendo ser tomada por um rubor incomum.
— Ah… claro. Quem vai com a gente? — Ela apertou o cabo envernizado da vassoura.
— Hum… seria só nós dois… — Garreth sorriu, estava completamente desconcertado. Coçava a nuca de modo nervoso, vendo nela sua última esperança.
— Ah… — Sky buscou socorro em Imelda, mas ela estava lentamente voando para baixo. — Acho que tudo bem…
A realidade é que Scarlett não sabia como se portar numa situação como aquela. Ela estava ou não com Sebastian? Ele disse que veria se eles estavam namorando… E se tivessem, ela poderia sair com Garry? Não é como se fosse rolar algo. Eles eram amigos e só… Além do mais, ninguém poderia saber de Sebastian e aquilo seria uma boa para não levantar suspeitas.
Garreth sorriu abertamente e afastou-se pelo apito da professora para que todos voltassem ao chão.
A Kogawa passou o último exercício do dia e o dever para a próxima aula sobre as regras do quadribol. O chiado de desagrado foi ouvido. Não poderiam jogar, mas a professora não os faria esquecer nada, pelo visto.
Quando a turma foi dispensada, Garrett virou-se para Sky, ao seu lado, com os olhos verdes brilhando em ansiedade em sua face coberta por sardas.
— Podemos ir amanhã se eu sair inteiro do jogo de hoje?
— Claro. — Scarlett riu. — Você vai se dar bem, só fugir dos balaços.
— Vai torcer por mim? — Ele brincou, arqueando as sobrancelhas.
— Não. Vou torcer para a minha casa. — Scarlett respondeu como se fosse óbvio, porém em um tom leve. — Mas eu espero que você se saia bem, dentro do possível.
— Sky… — Sebastian aproximou-se com o peito estufado e o olhar altivo. Parou ao lado de Scarlett e passou o braço por seu ombro. Ele era como uma cobra naja, marcando território e se tornando ameaçadora. — Weasley.
— Sallow. — Garreth sequer o olhou. — Acho que isso basta, por enquanto. Quem sabe no jogo contra a Corvinal. — Sorriu galanteador para Scarlett, continuando o assunto, e beijou a mão dela sobre a luva grossa. — Até mais tarde.
Sebastian ergueu ambas as sobrancelhas para seu rival em um claro tom de desafio. Seu rosto estava contorcido em desagrado, mesmo que tentasse esconder e, quando Garreth se distanciou, ele virou-se para Scarlett.
— O que o Weasley te disse? Por que ele tava beijando sua mão? E o que ele tava te falando mais cedo na aula?
— E-eu não sei… Ele não me disse nada de mais… — Scarlett cobriu o nariz no cachecol quando o vento gelado soprou sobre eles.
— Sebastian, vamos! Não temos tempo. — Imelda o chamou. Faltavam poucas horas para o jogo.
— Espera. — Sebastian ergueu a destra, enxotando-a. Estava necessitado da resposta de Scarlett para aplicar aquela queimação que fazia suas costas suarem mesmo no frio.
— Sallow, você está por um triz! Anda logo! — Imelda insistiu.
— Pode ir, depois nos falamos. — Sky balbuciou.
— Me responde primeiro. — Seus olhos estavam suplicantes, apesar do tom autoritário.
— Ele me chamou para ir com ele a Dedosdemel apenas. — Sky suspirou, impaciente com a insistência dele. Queria entrar para o castelo logo.
— E você disse o quê?!
— Disse que sim… — Ela se encolheu atrás do cachecol verde, ao par que Sebastian arregalava os olhos e sentia sua boca secar.
— Sebastian. Vamos. Logo. — Imelda agarrou a nuca dele em um aperto forte e o puxou para o campo sem lhe dar chance de protestar o maior dos absurdos que havia ouvido.
Scarlett aceitou sair com Garreth Weasley.
Scarlett. Aceitou. Sair. Com. Garreth Weasley.
Sebastian tinha perdido a aposta e, ainda por cima, perdido ela por Scarlett. E se ela o beijasse? Por que diabos ela aceitou sair com ele? Sentia sua nuca suar no frio. Seu estômago queimava. Garreth Weasley era um grande pé no saco. Sempre atrapalhando e estando onde não deveria estar. Scarlett deveria estar fora do alcance dele e não como uma das opções.
— Deixei o Nott vigiando os professores e, até agora, ninguém denunciou nosso jogo, então estamos bem. — Imelda começou quando entraram todos no vestiário da Sonserina. — Precisamos agora de uma boa estratégia de jogo. Sabemos que a Grifinória tem uma habilidade escrota de se moldar ao jogo dos outros com uma velocidade bizarra, então, temos que dificultar ao máximo a vida deles em campo.
— Deixa isso comigo. — Sebastian desencostou da parede ao fundo. Sua voz estava marcada por uma macabra determinação que fez Imelda estreitar os olhos.
— Você não pode mandar mais ninguém pra enfermaria, ou os professores vão punir todos. — pontuou, firme.
— Fica tranquila. — Sebastian parou diante do quadro negro. — Eu sei que falhei com o time nas últimas semanas, mas isso muda hoje. Vamos fazer os leõezinhos voltarem para a cova.
༻✦༺
♪
A nevasca prevista por Natsai para aquele dia, de fato aconteceu. Seria um jogo difícil, cruel, e os quatorze jogadores não poderiam querer mais esse momento. A Grifinória estava sedenta por revanche após o primeiro jogo depois do Halloween, em que Sebastian mandou o capitão do time para a enfermaria em uma jogada suja. E a Sonserina queria começar o campeonato abrindo o placar positivo, sedentos por uma taça invisível de oblações. Eles seriam o melhor time que Hogwarts já teve.
Amit foi o primeiro a chegar no campo junto a Imelda. Ele seria o juiz, conhecia bem o quadribol, apesar de gostar apenas de ser um expectador, e eles queriam alguém mais imparcial possível. Ela passou para ele o apito que tinha comprado na Giratranco e o baú de bolas que a professora Kogawa deixou convenientemente com ela naquele ano para que ela treinasse.
Os alunos começaram a chegar gradualmente, por várias entradas no campo, todos com o seu ingresso entregue a Scarlett na saída sul, Poppy na saída norte, Samantha na saída leste e Lawrence Davies, da Grifinória, na saída oeste. Cada casa deveria procurar seus correspondentes para entregar os ingressos e ocupar as arquibancadas que estavam enfeitiçadas para que o som não avançasse em direção ao castelo.
Os times estavam em seus vestiários. A adrenalina correndo em suas veias, o nervosismo se acumulando em seus estômagos. Aquele era o primeiro jogo oficial do campeonato. As duas casas rivais. E um jogador com sangue nos olhos em seu canto, ajeitando as proteções em seu corpo em silêncio absoluto.
Sebastian não tinha conseguido conversar com Scarlett sobre Garreth naquele dia. Nem mesmo na aula de Runas Antigas, pois ela havia faltado para ajudar Imelda com os últimos preparativos. Tinha algo o remoendo por dentro, como veneno.
— Chegou a hora. — Ele se levantou e rumou para a saída com o time o acompanhando em passos largos.
A neve caía em um ritmo frenético, cobrindo o campo de Quadribol em uma camada espessa e dificultando a visão dos jogadores. O frio era extremo. Mesmo muito bem agasalhados, tremores ainda corriam por seus corpos com o vento gelado. Quando as portas se abriram e os quatorze jogadores ocuparam o centro do campo, tudo pareceu piorar. A neve caía intensa sobre seus corpos, o gelo se acumulando nos cílios e cabelos.
Os capitães trocaram apertos de mão, porém, não havia nem um pingo de cordialidade entre eles.
— Vai retirar o convite? — Sebastian deu uma última chance a Garreth.
Ele havia intimado o grifinório após o almoço, deixando claro que Scarlett estava fora de cogitação. Garreth riu e esnobou de Sebastian, afirmando que ele deveria cumprir sua parte da aposta.
— Desiste, Sallow. Eu já disse que ela não gosta de você, não precisa ficar magoadinho. — Garreth riu com deboche. — Você vai perder a aposta, e eu vou ganhar duas.
Sebastian deu um riso nasalado que mais pareceu um dragão soltando fumaça pelas narinas. Seus olhos fixos em Garreth, cheios de uma raiva soturna que queimava por dentro. Ainda assim, ele permaneceu em silêncio.
Amit, percebendo a tensão, pigarreou, tentando amenizar a situação e chamou a atenção dos jogadores para o início do jogo.
— Joguem limpo! — gritou ele, colocando o apito entre os lábios e, sem mais demora, liberou o balaço da caixa.
O balaço subiu em uma trajetória vertiginosa, quase como um foguete, passando entre os artilheiros. Com um movimento preciso, Amit lançou a goles ao ar e, ao apitar, o som cortou a nevasca com clareza. Todos os jogadores levantaram voo, deixando rastros ondulantes na neve enquanto se posicionavam.
Natty foi rápida, colidindo propositalmente com Nerida e se apossando da goles, disparando em direção aos aros com impressionante velocidade.
Imelda voou o mais alto que pôde, tentando ter uma visão clara de todo o campo. Do outro lado, Lucan também se mantinha elevado, os olhos atentos varrendo o campo, os pequenos olhos castanhos procurando o pomo como uma águia em caça.
Ela não iria perder para um pirralho.
Sebastian, no entanto, não fez sua análise usual do jogo. Seus olhos estavam presos em Garreth e naquele irritante cabelo ruivo, o sangue fervendo em suas veias com cada provocação ecoando em sua mente. A raiva ofuscando sua concentração. Ele iria levar aquela maldita apostas dos sextanistas para frente e tentaria beijar Scarlett. A sua Scarlett.
Grifinória abriu o jogo de forma rápida, com Nellie e Clarissa trocando passes habilidosos. Elas conseguiram driblar os artilheiros da Sonserina e marcar o primeiro gol, colocando o time vermelho e dourado na frente. Os gritos de comemoração ecoaram pelas arquibancadas, e Leander, o goleiro, ergueu os punhos em comemoração.
— Foca na porra do jogo, Sallow! — Sirius gritou — Eu tô sozinho contra a Onai e o Potter!
— Relaxa aí. — Sebastian fizera desfeita, voando atrás do balaço que dançava no campo.
A goles voltou ao jogo. Nicholas pegou a bola e a lançou dos aros para os braços do seu irmão. Septimos voou na formação que tanto ensaiaram, cercado por seus companheiros. A grifinória entrou na mesma formação, voando ao encontro dos adversários com Garreth centralizado.
Sebastian apertou os dedos ao redor do bastão. O ódio queimava dentro dele, transformando-se em uma determinação fria e calculada. Sem hesitar, rebateu o balaço com toda a força em direção ao artilheiro. A bola de ferro cortou o ar como uma bala, indo diretamente contra Garreth, que precisou desviar bruscamente para não ser atingido, abrindo caminho para Septimos.
Scarlett, enrolada em seu casaco grosso, observava tudo atentamente, seus olhos fixos em Sebastian e seu coração batendo tão forte no peito que doía a costela. Amava assistir aos jogos, mas odiava a tensão que se acumulava em seus músculos quando Sebastian estava em campo. Era a segunda vez que isso acontecia. Quando ele arremessou o balaço em Garreth com toda aquela violência, ela percebeu nas estrelinhas o que estava acontecendo novamente.
— Sebastian rebateu o balaço no Garry e o Septimos conseguiu seguir com a goles, mas a Natty acertou o balaço nele e a Nellie pegou a goles. — Poppy narrava para Ominis, já que Scarlett estava incapaz de falar com as unhas na boca.
Sebastian tentou rebater outro balaço em Garreth, que dessa vez estava à deriva no campo, reajustando sua rota de voo após o segundo gol da Grifinória.
20 x 0.
Garreth desviou e deu um rasante em Sebastian quando avançou em Nerida para roubar a bola, e foi quando Potter viu a oportunidade de tentar derrubar Sebastian. O eco do bastão batendo na bola de ferro foi alto e Sebastian sentiu o golpe em seu supercílio, o desnorteando.
Tudo girou e suas mãos perderam a força. Não demorou para sentir o sangue quente escorrer.
— Cuidado, Sallow! Não vale ir pra enfermaria. A Scar não vai desmarcar o nosso encontro pra ficar com você amanhã. — Garreth alfinetou com a voz carregada de sarcasmo.
“Scar”. A fúria borbulhou dentro de si. Chega de tentar ser bonzinho naquela merda. Iria acabar com as gracinhas daquele bastado de uma vez.
— Quer tempo, Sebastian? — Nerida perguntou e ele negou.
Girou o bastão na mão e voou com velocidade ao encontro do balaço, entrando na frente de Sirius que iria rebatê-lo para jogar a bola novamente em direção de Garreth.
— Porra, Sallow! — Sirius reclamou, mas Sebastian não ficou para ouvir.
Garreth desviou mais uma vez, contudo Sebastian começou uma visível perseguição ao artilheiro. O ruivo ria enquanto desviava dos ataques ofensivos de Sebastian com facilidade, fazendo parecer que estava em um duelo particular apenas com ele.
— Olha o Garreth, todo cheio de si. Sebastian vai acabar caindo na provocação dele — comentou Poppy, sacudindo a cabeça.
Sebastian avançou na direção de Garreth, ignorando totalmente a goles que passava por ele. Os artilheiros da Grifinória marcaram outro gol, deixando o placar em trinta a zero. Scarlett mordeu o lábio inferior, inquieta.
— Ele vai custar o jogo para Sonserina se continuar assim. — murmurou, apertando os dedos e os estralando.
Natty percebeu o que estava acontecendo e, por mais que amasse seu amigo, também amava ganhar e, como vice-capitã, aproveitou o que o batedor principal estava mais preocupado em derrubar Garreth do que proteger seu time, ajustou rapidamente a estratégia do time. Seriam dois artilheiros ao invés de três, mas eles tinham ambos os batedores e Lucan, que já tinha avistado o pomo.
Com apenas um batedor efetivo tentando cobrir o campo inteiro sozinho, Sonserina começou a sofrer. Nerida tentou uma investida rápida para marcar ponto, mas um balaço bem posicionado de Jacob desviou sua rota e ela acabou perdendo a posse da goles para Clarissa, que não hesitou em marcar mais um ponto para Grifinória.
40 x 0.
Os batedores da Grifinória, Natty e Jacob, focaram seus esforços em Imelda. Um balaço lançado por Jacob foi direto para ela, atingindo-a no ombro e a derrubando da vassoura com brutalidade. Scarlett perdeu o ar no campo, os gritos de todas as arquibancadas ressoando e os corpos se curvando enquanto Imelda despencava rumo ao solo branco. Antes que pudesse ser engolida pela neve, Isaac mergulhou rapidamente e a pegou. O peso fez os dois rolarem no chão fofo e cruelmente gélido.
— TEMPO! — Isaac pediu e Amit apitou.
Todos os jogadores voltaram ao chão. Os cabelos esbranquiçados e endurecidos pelo frio cortante, mas suor escorrendo pelas têmporas. Sebastian sacudiu os cabelos e aproximou-se de sua vice-capitã, quando Imelda soltou-se de Isaac e tentou avançar em Natty.
— Qual foi, Reyes! Jogamos limpo! — Natty recuou, erguendo as mãos.
— Mais limpo que o capitão de vocês, que está tentando a todo custo tirar o nosso de campo. — Leander aproximou-se.
— Deixa ele, Leo! — Garreth aproximou-se do sonserino, dando duas batidinhas em seu ombro e abaixando o tom: — É, Sebastian… Eu acho melhor você se acostumar a perder. A Scarlett foi só a primeira.
Sebastian não pensou duas vezes antes de socar a cara sardenta de Garreth. Sirius e Isaac o seguraram para evitar outro avanço, enquanto Natty e Leander seguraram Garreth de descontar.
— VOCÊ VAI SE VER COMIGO, WEASLEY! — berrou.
— CAI DENTRO, SEU MERDA! — Garreth gritou, cuspindo sangue na neve alva.
— Qual o problema de vocês?! — Natty indagou e puxou seu capitão para o mais longe possível.
— Se vocês continuarem, terei que encerar o jogo. — Mesmo nervoso, Amit tentou se impor.
— Não! Já paramos, vamos voltar. — Imelda tomou frente, então virou-se para Sebastian: — Você quer acabar com o Garreth, ou você quer ganhar? — perguntou entredentes, afundando o indicador no peito de Sebastian com força, os olhos brilhando de raiva.
Sebastian cerrou os dentes, os punhos tremendo ao lado do corpo.
— Eu quero os dois.
— Larga de ser idiota e se concentre no jogo! — respondeu Imelda, virando as costas para ele com um olhar de puro desprezo.
Nerida entregou a ela sua vassoura e os jogadores se posicionaram no céu novamente.
— Ele está fora de controle, não está? — disse Poppy, olhando para Sebastian.
— Totalmente! — respondeu Ominis, apertando os lábios. — Isso vai custar caro ao time se ele não se concentrar.
— Sebastian nunca sabe quando parar — exprimiu Sky, mais para si do que para os amigos. Não tirava os olhos de Sebastian, sabendo que, para ele, não era apenas de um jogo. Tratava-se de provar algo para si, para Garreth, e talvez, acima de tudo, para ela. Se soubesse que esse era o resultado, teria negado o pedido de Garreth ou não teria contado a Sebastian.
— Chega, precisamos igualar esse jogo. — Sirius disse para Imelda.
— Faça o que for necessário. — Ela não o olhou, esquadrinhando o campo atrás do pomo.
Com o jogo reiniciado, a tensão no ar estava ainda mais densa. Sebastian ainda sentia o veneno queimar em suas veias, toda a raiva renovada e alimentada. Sirius assobiou e enviou um balaço na direção de Sebastian para que ele jogasse em Clarissa. Ela perdeu a posse da bola para Nerida que conseguiu finalmente abrir o placar.
40 x 10
Black viu uma oportunidade de que precisava. Quando o time se recuperava do gol tomado, ele lançou um balaço certeiro em Potter. Jacob bateu contra a parede de madeira da arquibancada e caiu no chão em um baque oco. Finalmente, tirou um dos batedores de Grifinória do jogo. Alguns alunos correram para socorrê-lo e Jacob saiu andando do campo, o que era uma coisa boa, mas parecia ter quebrado o braço.
— Eu ainda não entendo como isso é permitido. — Scarlett reclamava.
— Não ache ruim, agora estamos com a vantagem, temos que virar esse jogo! VAMOS! — Ominis batia as mãos no parapeito.
Nicholas defendeu um gol espetacular da Grifinória, desviando a goles com um movimento de última hora de sua vassoura. Os artilheiros da Sonserina, liderados por Septimos, aproveitaram a mudança de maré para lançar um feroz contra-ataque. Nerida trombou com Nellie, e tomou a goles, passando ela para Septimos, que rapidamente se lançou em direção ao gol de Grifinória. Natty enviou um balaço na direção dele, que foi defendido por Sebastian e direcionado para cima, e mais um ponto foi marcado.
40 x 20
O grito das arquibancadas da Sonserina ecoou pelo campo, as bandeiras verdes e prateadas tremulando ao vento.
O foco de Garreth voltou a ser o jogo. Não poderia perder de novo. Acenou do alto e pediu a bola que estava com Clarissa. Foi quando Sebastian lançou outro balaço nele. O zunido da bola passando por seu ouvido e o atordoando em raiva. Sebastian não o deixaria jogar e estava claro seu objetivo de mandá-lo de volta à enfermaria. Sem pensar duas vezes, Garreth pegou o bastão de Natty e mandou um balaço direto para Sebastian, arrancando gritos das arquibancadas.
O golpe passou a centímetros do rosto de Sebastian.
— Filho da puta. — Sebastian murmurou entredentes.
Isaac pegou a goles e a corrida rumo aos aros voltou. Sebastian aproximou-se dele em um voo veloz, empareados. O vento gélido chicoteava contra seus ouvidos e seu nariz estava insuportavelmente gelado. Garreth tombou seu corpo no dele, batendo suas cabeças e machucando o nariz de Sebastian. Isaac passou com a bola e marcou o terceiro ponto da Sonserina.
40 x 30
Uma goles passou estridente entre eles, vinda de Natty. Sebastian rangiu os dentes e girou o braço, acertando o ombro de Garreth com força o suficiente para derrubá-lo da vassoura.
Os olhos de Scarlett se arregalaram quando Garreth caiu em espiral em direção ao chão, sendo engolido pela neve.
Isaac, totalmente alheio ao que acontecia, fez o quarto ponto.
40 x 40
Garreth se levantou, segurando o ombro machucado e recusando-se a sair do jogo quando vieram socorrê-lo.
— Usa logo essa merda de feitiço! — berrou para Amit que usou o Episkey e devolveu o ombro dele para o lugar.
Garreth tinha uma teimosia que quase combinava com a de Sebastian. Ambos os lados das arquibancadas gritavam, metade em apoio à ousadia de Garreth, metade em apoio à agressividade de Sebastian.
Amit foi ignorado por todos quando pediu pausa. Garreth voltou aos céus e a goles foi roubada por Clarissa e passada para Garreth. Os corpos se chocando no ar em golpes secos. Clarissa atingiu Septimos com uma cotovelada e Garry marcou o quinto ponto, quando Nicholas quase foi acertado por um balaço de Natty.
50 x 40
Os espectadores mal respiravam quando Imelda se lançou em um mergulho quase vertical, perseguindo o Pomo de Ouro com determinação feroz. A multidão explodiu em gritos.
Lucan chocou seu corpo contra o dela. Os dois pareados diante do pomo. O zunido característico dele soando estridente para os dois apanhadores, apesar dos gritos. Aquela não estava sendo uma tarefa fácil. A neve castigava-os. Os narizes quase congelados e os dedos duros, esticados em direção àquela maldita bolinha dourada.
Scarlett queria arrancar as unhas por tanto nervosismo. Estava focada demais em Sebastian e Garreth quando notou que o jogo estava prestes a ser decido.
— SEBASTIAN, FAÇA ALGUMA COISA! — Ela gritou na arquibancada. Não sabia se ele a ouviria, apenas precisava externar toda a ansiedade que se acumulava em seu corpo.
— VAMOS, SEBASTIAN! — Ominis gritou quando Poppy contou o que estava acontecendo.
— SALLOW! A REYES! — Sirius gritou de sua vassoura, dando tempo de Sebastian apenas erguer a cabeça antes de ter que desviar o balaço que ele jogou em sua direção.
A força que usou para rebater o balaço foi tão grande que o som agudo incomodou a arquibancada ao lado. O balaço teve destino certo. O pequeno grifinório teve que desviar sua rota, mas Imelda fora esperta em saltar de sua vassoura para que o balaço passasse por ela no momento exato em que tinha para alcançar a vassoura novamente.
O som de surpresa da plateia foi alto. Sebastian estava com os olhos arregalados para a companheira de time, assim como todos os outros. Contudo, no instante em que Imelda ergueu a mão, a gritaria rompeu os ventos gélidos.
Imelda Reyes pegou o pomo de ouro.
Toda a Sonserina desceu das arquibancadas em uma correria frenética. Scarlett teve que segurar a vontade de sair correndo para ir com Ominis, que odiava multidões alvoroçadas. Seu coração estava disparado e a euforia tomou conta dela. Aquele foi a tortura mais emocionante que havia visto em toda a sua vida. Ela sentia a enorme vontade de correr até Sebastian e abraçá-lo com força ao mesmo tempo que queria socá-lo.
Os jogadores estavam cercados por alunos de todas as casas. Os rivais se cumprimentando com faíscas centelhando ao redor. Sebastian gabando-se por ter afastado Lucan, mesmo que estivesse com o supercílio sangrando pelo balaço que levou de Potter e o nariz quebrado por conta de Garreth. Ele e Sirius ergueram Imelda nos ombros e todos começaram a gritar o nome dela em uníssono.
Scarlett conseguiu aproximar-se com muita dificuldade, junto a Ominis e Poppy, todos gritando o nome de Imelda.
Sebastian gargalhava, mas assim que viu Scarlett, foi como sentir seu coração parar. A apanhadora voltou ao chão e ele se desvencilhou de toda aquela atenção que pouco lhe importava, só queria conseguir chegar até ela. Recebia tapas nas costas pelos balanços bem rebatidos, principalmente aqueles rebatidos em Garreth e as meninas riam quando conseguiam tocar nos braços dele, dando gritinhos com os sorrisos que ele dava para elas, apesar de seus olhos não conseguirem desviar da única que lhe importava.
Não pensou em mais nada quando finalmente a alcançou. Seu braço rodeou a cintura fina e sua destra segurou na nuca dela, enlaçando-a em um beijo que parou todas as comemorações, puxando a atenção para eles em um novo rompante de gritos.
Scarlett estava estupefata. Mal conseguiu corresponder ao beijo, soltando-se de Sebastian aos poucos. Queria se enfiar nele e esconder-se ao par que queria correr para longe dele. Mais uma vez, Sebastian não estava medindo as consequências de seus atos, mas a resposta daquilo não foi o que Sky esperava. Apesar do olhar torto de Violet e do estranho riso de Sirius, muitos comemoravam, comentando piadinhas como “finalmente”, “estava demorando” e “parabéns pela vitória dupla”.
— P-por que você fez isso? — A voz de Scarlett falhou.
— Porque você é a minha namorada. E agora todos sabem disso. — Ele selou seus lábios mais uma vez.
Nervosamente, Sky se escondeu no abraço de Sebastian e Imelda dispersou todos para uma comemoração no Três Vassouras, antes que algum professor chegasse. Sentia seu coração bater tão forte que o frio pareceu sumir. Ele fizera questão de segurar na mão de Scarlett quando passaram por Garreth, que ainda estava ali com Natty e Lucan — os únicos que comemoraram o relacionamento.
Mesmo com algo gritando dentro de si que aquilo era um problema, a sensação de aconchego que sentiu, a adrenalina de ser exibida como aquela que Sebastian assumia e o calor da vitória em cima de todas aquelas que queriam estar em seu lugar foram mais fortes e velozes para sumir até com seu instinto de sobrevivência mais agudo.
Porque Sebastian era dela e ela era de Sebastian. E todos sabiam disso.
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