História Escolhas - Afogada

     O resto da manhã foi mais tranquilo do que eu esperava. Camila não permitiu que as coisas ficassem mais estranhas depois daquele momento constrangedor. Ela me contou sobre sua última viagem à Paris e prometeu me levar com ela da próxima vez, o que eu não levei muito a sério. Meu celular vibrou algumas vezes capturando a atenção da morena.
     - Acho que o seu namorado está um pouco impaciente. - Brincou me fazendo engasgar com o suco.
     Quando consegui recuperar o fôlego, chequei o celular para confirmar as minhas suspeitas: as mensagens eram da Menzel. Camila me olhava como se esperasse uma continuação do assunto.
     - Sabe, eu não namoro garotos. - Respondi um pouco receosa.
     - Bem, então sua namorada deve estar um pouco impaciente. - Falou rindo enquanto avaliava meu rosto ainda corado depois do pequeno período sem ar.
     Saber que Camila não ligava para a minha sexualidade era um pouco reconfortante, não tinha sido assim com todos. Eu não gostar de garotos foi o motivo que levou o casamento dos meus pais à ruína. Enquanto minha mãe queria me internar numa clínica psiquiátrica meu pai ficou do meu lado, o que gerou uma grande tensão em casa. Quando ela decidiu pedir o divórcio levou com ela Taylor e Chris, nos impedindo de vê-los desde então.
     - Quando você ia me contar que tem uma namorada? - Ela realmente me surpreendeu com aquela pergunta - Quero dizer, já estamos no nosso segundo encontro... - Ela começou a rir.
     - Eu estava esperando pelo quarto ou quinto pelo menos. - Entrei na brincadeira e passamos algum tempo rindo disso.
     - Mas falando sério, eu não tenho namorada, era apenas a Idina...
     - Agora sim eu entendo o que você quis dizer quando falou que vocês duas eram próximas. - Eu não era boa com essas coisas, mas sabia reconhecer quando alguém estava sendo maliciosa e nesse momento Cabello estava obviamente insinuando que havia algo entre eu e Idina. Eu me perguntava se ela conseguia ler mentes ou se era uma detetive realmente muito boa.
     - Não é nada disso... - Tentei negar sem muito sucesso.
     - Fala sério, você está saindo com seu ídolo e não vai se gabar disso? Se eu estivesse saindo com o Ryan Gosling eu faria questão de espalhar isso por aí. - Camila era uma verdadeira comediante. Eu ficava encantada com ela rindo das próprias piadas.
     Mas nesse instante meu telefone tocou e a foto de Idina apareceu na tela fazendo com que Camila me olhasse maliciosamente.
     " - Oi, Idina, algum problema?" - Perguntei nervosa.
     " - Você não respondeu minhas mensagens, pode vir aqui na AMDA?"
     " - Eu meio que estou no meio de uma coisa agora" - Camila balançou os braços freneticamente no ar, em um gesto de negação, fazendo sinal para que eu fosse para onde quer que Idina tivesse me chamado. - "Que andar você está?"
     "Estou na minha sala, terceiro andar." - Ela desligou antes que eu pudesse falar mais alguma coisa.
     - Parece que eu tenho que ir, me desculpa - Eu estava totalmente sem graça - Ela provavelmente quer me dar dicas sobre o papel, deve estar reunindo o elenco.
     - Não precisa se desculpar, você me fez companhia a manhã inteira, já foi muita gentileza sua. - Ela sorriu magnificamente fazendo as borboletas se agitarem furiosamente no meu estômago - Aliás, você quer uma carona? Estou indo para o estúdio, posso passar na AMDA no caminho.
     - Tudo bem, só preciso avisar Dinah antes.
     Me despedi da minha melhor amiga e Camila me levou até a universidade. Senti como se ela não importasse em me entregar de bandeja nos braços de outra mulher. "Afinal o que você estava pensando, Lauren? Camila tem alguns problemas no casamento, mas isso não significa que ela esteja apaixonada por você." Disse a mim mesma para tentar afastar a ideia de que pudesse acontecer algo entre nós.
     Subi até o terceiro andar onde imaginei que Idina estivesse me esperando cercada de outros estudantes. Bati três vezes na porta de madeira com seu nome gravado, poucos professores tinham uma sala como aquela, a maioria dividia umas salas comuns no primeiro andar.
     - Quem é? - Ouvi ela perguntar com a porta ainda fechada.
     - Sou eu, senhorita Menzel, Lauren.
     Então a porta se abriu me trazendo uma visão de tirar o fôlego. Era verdade que eu não estava apaixonada por Idina, mas ela conseguia ser incrivelmente provocante. Seu cabelo caía pelos ombros expostos pelo cropped que usava, deixando seu abdômen definido à mostra, seus lábios estavam pintados num tom de vermelho que me atraía como um ímã.
     - Senhorita Jauregui - Ela me olhou de cima a baixo com um olhar que eu já conhecia - Estava à sua espera.
     Ela me deu espaço para entrar e indicou o caminho para que eu me sentasse na cadeira em frente à sua mesa e virou-se para trancar a porta.
     - Vocês decidiram que papel irão me dar? - Foi a única coisa que fui capaz de dizer antes de sentir o beijo que ela depositou no meu pescoço, minha respiração trancou na hora.
     - Não foi exatamente para isso que eu te chamei aqui - Sussurrou no meu ouvido, em seguida me girou na cadeira e subiu no meu colo, dessa vez tomando meus lábios com urgência, suspirei com o contato e me deixei entregar ao momento. Perdida entre os sentimentos que tinha pela mulher do meu chefe, mas me afogando nos desejos que tinha pela minha professora de técnica vocal.

    Depois de uma de nossas sessões de "aluna-professora", me despedi de Idina com um beijo e saí em direção ao restaurante dos Hansen, já passava do meio dia e eu estava faminta. Chequei novamente o celular e percebi uma mensagem do número de Camila, que tratei de salvar imediatamente, ela tinha enviado há 40 minutos, perguntando se eu estaria livre para almoçar com ela. Meu coração disparou, era um terceiro encontro, pensei divertidamente. Mas resolvi ligar para saber se ela ainda queria almoçar mesmo.
     Depois de alguns toques Camila atendeu e combinamos de nos encontrar no estúdio em meia hora. Meu celular vibrou novamente e li a mensagem da Menzel que dizia "A propósito, você é a Elphaba ;)". Eu quase gritei naquele momento. Era o meu papel dos sonhos e talvez não fosse na Broadway, mas com todos aqueles diretores que estariam na plateia, eu tinha uma chance.