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História Esmeralda - Estático


Escrita por: KwonGee

Capítulo 35 - Estático


Não poderia me encontrar em um lugar melhor para tomar café, o cheiro acentuado de pão de queijo era mais que agradável ao meu olfato. Nem mesmo o burburinho incessante do ambiente era capaz de dispersar o envolvimento criado por duas pessoas bem agasalhadas sentadas em uma mesa com vista privilegiada para a calçada onde as pessoas andavam apressadas. A não ser é claro que uma criatura, classificada como um tanto sem noção em meu íntimo, dividisse suas atuais tarefas entre anotar pedidos e direcionar uma piscadela na direção de um dos clientes. No caso eu. Até tentava ignorar o ato impensado de alguém que claramente era capaz de enxergar minha companhia que adotava constantemente o que podemos classificar como cara de cu, entretanto um risinho atrevido ousou rasgar minha garganta, apenas um empurrãozinho nas gargalhadas que eu até tentei conter.

O franzir de cenho veio ligeiro como resposta as minhas ações e junto dele a cabeça verificando os arredores na busca de irregularidades.

- Que é?

Vale ressaltar que apesar da tipica expressão de poucos amigos, o moreno de cabelos negros estava envolto por um bom humor fora de seus padrões em razão disso acompanhando meus sons engraçados de leve, apenas um sorrisinho no canto dos lábios que me deixou um tanto quanto encantado. Se ele soubesse o quanto era lindo relaxado nunca deixaria de protagonizar tais momentos.

Direcionei minha atenção a Hoseok ao ser questionado mas logo voltei ao garçom que aparentemente gostava de flertar.

Outra piscadela.

Dessa vez o ato atrevido fora testemunhado pelo moreno que virou a cabeça completamente para acompanhar meu olhar. Mordi os lábios apreensivo ao esperar a reação da minha companhia, não era minha intenção fazer o jovem de cabelos tingidos ser pego no flagra.

A indignação ao ato atrevido não demorou a vir.

- Quem esse idiota pensa que é? – bateu as mãos na mesa em posição de quem estava prestes a se levantar e fazer uma besteira. Já podia até visualizar as manchetes nos jornais do dia seguinte:

“Marido ciumento agride funcionário em padaria de bairro de luxo”

- Hoseok! – segurei suas mãos adotando um tom um tanto manhoso na intenção de o convencer de que não era nada demais, não era como se eu fosse retribuir o flerte descarado lançado a um homem claramente comprometido.

- Vou colocar esse descarado no lugar dele.

Não sei explicar muito bem o porquê, mas a voz ameaçadora de Hoseok junto do olho esquerdo que continuava piscando em minha direção me fizeram gargalhar ainda mais. A situação era hilária.

- Está achando engraçado? – o moreno cerrou os olhos para mim balançando a cabeça negativamente desaprovando minha atitude.

Dando de ombros respondi:

- Sim.

Mesmo que no fundo eu esperasse ser atacado com um ódio oriundo de motivos bobos, deixei que apenas a mais pura verdade saísse ainda risonha de meus lábios. Tamanha foi a surpresa que tive ao receber uma resposta em forma de ação, não tive tempo de capturar o exato momento em que ele se levantou de sua cadeira por estar tombando a cabeça para trás, apenas me desorientei por alguns segundos ao sentir o peso em minhas coxas.

- Hoseok... – sussurrei chocado – Estamos em um lugar público – voltei a adverti-lo mesmo amando descobrir um novo lado do meu marido. Nunca passou pela minha cabeça que ele teria esse tipo de resposta para situações onde sente ciúmes.

- E dai? – ele deu de ombros relaxando em meu colo como se os músculos ali presentes fossem uma poltrona confortável.

Analisei as pessoas ao meu redor notando os diversos olhares direcionados a nós, o número aumentando cada vez mais. Piorando ainda mais o meu desconforto provindo da atenção indesejada, alguns celulares surgiram nas mãos dos telespectadores que nem se davam o trabalho de disfarçar a invasão à privacidade alheia. Ás vezes eu me esquecia que Hoseok chamava tanto atenção apenas por ser um Jung, os sites de fofoca agradeceriam aos urubus da padaria. É claro que não consegui controlar minha careta que era uma mistura de raiva e desconforto. Nunca me acostumarei a essas situações.

- Cherry, me faz um carinho vai – encostou a cabeça na minha e buscou minhas mãos as levando até o próprio couro cabeludo.

Desisti de tentar afastá-lo – até porque era o que eu menos desejava na verdade – e me rendi o acariciando. Hoseok fechou os olhos e permaneceu sereno por alguns minutos.

Era a primeira vez que eu o via sendo adorável. Nunca pensei que usaria tal adjetivo para descreve-lo mas mais uma vez estava sendo surpreendido.

- Sabe o que eu estava pensando? – murmurei um “hum” para que ele continuasse, até porque saber o que passava naquela cabeça era impossível – Mesmo estando casados a um tempo, nunca tivemos uma conversa só para nos conhecermos, tipo eu perguntar sobre o seu passado e você questionar qual a minha cor favorita.

E era genuíno. Me lembro de ter o mesmo raciocínio meses atrás enquanto experimentava o terno para o casamento sem saber nada sobre o meu futuro marido, tendo somente certeza de amá-lo cegamente.

- O que quer saber? Pode me perguntar qualquer coisa – perguntei e assegurei em seguida. Mesmo que não fosse verdade.

Ele pensou por um tempo até soltar.

- Gosta de azeitona?

- Odeio – respondi rindo da idiotice do moreno – Não acredito que era isso que queria saber de mim.

- Eu acho bem importante. Agora sei que minha ideia de cobrir o corpo com azeitonas e fazer você tirar todas com a boca não é boa.

Tombei a cabeça para trás gargalhando.

- Nunca foi uma ideia boa. Quem diabos pensa em uma coisa dessas?

- Eu penso.

- Você é doido.

- E você me ama.

- Amo mesmo.

Hoseok fez uma cara convencida e eu nem liguei de admitir que era louco por ele, até porque era a mais pura verdade.

- ‘Ta bom, minha vez – mordi os lábios e pensei no que perguntar. Tinha várias questões a faze-lo mas todas elas pareciam sérias demais e acabariam com o nosso clima descontraído. Deixaria questões como Jisoo e a mãe dele para depois, agora apenas aproveitaria para suprir uma curiosidade que tive ontem.

Encostei a boca em seu ouvido na garantia de que somente nós ouviríamos o que seria verbalizado.

- Já pensou em dar para mim? – afastei o rosto mordendo os lábios e sorrindo sapeca.

Hoseok arregalou minimamente os olhos e engoliu em seco.

- O que exatamente? Sabe que posso te dar várias coisas – se fez de desentendido, esperançoso para mudar o foco da questão. Pena que não seria permitido.

- Sabe do que estou falando... – segurei a cintura fina em meu colo firmemente – Quero te comer – voltei a sussurrar.

- Nem pensar – A resposta a minha ótima ideia rapidamente foi contrariada.

O peso sumiu de minhas pernas e a pessoa que anteriormente ocupava o espaço tão confortavelmente voltou a sua respectiva cadeira, bebericava o café com os olhos levemente arregalados. Talvez, só talvez ele estivesse imaginando como seria se minha proposta fosse concretizada.

- Bom... – comecei pensando em uma maneira de o por contra a parede – Se você não fizer eu vou entrar em greve.

Indignado, ele depositou a xicara na mesa com força.

- Eu já disse que não – “gritou” em um sussurro com o rosto totalmente franzido que refletia o quanto era contrário ao meu desejo – Não é não. Eu nunca vou dar para você.

Desatei a rir das reações que arrancava de Hoseok. A maneira que o mais velho ficou desestabilizado com a proposta era tão hilária quanto toda a situação com o garçom. Não era como se eu realmente estivesse o pressionando a fazer alguma coisa que o mesmo parecia desgostar com todas as forças até porque eu amava ficar por baixo.

- Veremos – estreitei os olhos fingindo estar sendo desafiado pelo de fios escuros. A essa altura ele também percebia o ar da brincadeira e me acompanhava mostrando a fileira perfeita de dentes por mais que ele ainda se mostrasse um pouco apreensivo ao olhar em meus olhos, com medo de encontrar algum resquício de verdade. Que existia. Mas eu deixaria isso para um momento mais propenso.


[...]


Depois de terminarmos de nos alimentar devidamente partimos para um ateliê indicado por Dawon. A Jung estava eufórica com as cerimônias que marcariam o encerramento de nosso curso, assim ela possuía diversas ideias para despejar em nossas cabeças não tão funcionais quanto a dela para o mundo da moda e decoração. Por isso deixaríamos tudo na mão da irmã maluquinha de Hoseok porque no fim das contas ela sempre fazia tudo com extremo cuidado e respeitava nossos gostos pessoais. Nós apenas deixamos que uma costureira tirasse nossas medidas e permitimos o resto para a Jung mais velha.

Enquanto esperava na calçada que Hoseok manobrasse o carro, aproveitei para abrir a janela de conversas com Taehyung e o enviar uma mensagem que meus neurônios que constantemente queimavam com a questão julgavam urgente.


Jungkook:

Conseguiu alguma coisa que possa ajudar com o fim do vídeo?


A verdade era que por mais que um bom tempo tivesse passado e que outros momentos bons viessem preencher minha memória, a culpa sempre estaria lá para receber todas as minhas ações e para abraça-las as contaminando com sua crosta nojenta e suja. Uma parte de mim também era assim. E era por causa dela que eu tinha rejeitado meu marido algumas noites atrás. O ser mais desejável do mundo não tendo todo o tesão correspondido, só mais uma das diversas artimanhas da senhorita culpa que era incessante. A minha única esperança era conseguir me livrar das provas e talvez assim conseguir diminuir pelo menos um por cento do peso em minhas costas.


Taehyung:

Nada.

Desculpa, Kook.


Suspirei derrotado sentindo o elefante em minhas costas engordar mais um quilo. Aparentemente, minhas preces jogadas ao vento nunca são atendidas.

Entrei no carro me esforçando para não mostrar meus verdadeiros sentimentos, tentava sufocar a angústia torcendo para a culpa ir junto de brinde, que dessem as mãos e fossem juntas para o quintos dos infernos acompanhadas de Jung Sunmi. O único problema era que bom ator definitivamente não se encaixava em minha lista de qualidades, essa que eu acredito ser bem escassa.

- O que foi?

Enquanto dirigia Hoseok pousou a mão direita em minha perna mostrando um interesse genuíno pelos meus pensamentos. Era incrível observar o quanto a beleza dele era estonteante, o trânsito era sortudo por ter ele o encarando concentrado e eu mais ainda por ser casado com o Jung.

Eu só devia ter me controlado...

- Não é nada.

Dei de ombros torcendo para que o assunto não se estendesse.

- Está chateado com o lance de eu não querer dar para você né...Olha se você está tão afim disso eu posso até tent...

- HOSEOK!

Ainda consegui gritar ao ver um carro vindo desgovernado ao nosso lado esquerdo. No entanto os reflexos do Jung não o ajudaram a desviar da caminhonete preta que bateu com tudo em nosso automóvel, o impacto fez o nosso carro ir parar na calçada e minha cabeça bater muito fortemente no vidro. O barulho ensurdecedor preencheu meus ouvidos provavelmente por mais minutos do que perdurou, minhas mãos foram pressionar o local impactado e a única coisa que eu conseguia assimilar era a dor latente e o gosto de sangue. Hoseok também.

- Hoseok... – eu sussurrava fazendo um tremendo esforço para abrir os olhos. – Hoseok...

- Droga seu imbecil! – uma voz conhecida ralhou desesperada – Você bateu do lado errado...

- Hoseok meu amor, acorda – podia escutar a mesma voz sendo direcionada ao meu marido.

Ai eu apaguei.


[...]


Tic-tac.

Tic-tac.

Tic-tac.

De onde vinha aquele barulho irritante?

Abri os olhos com dificuldade vendo tudo embaçado nos primeiros segundos. Procurei pelo motivo da minha agonia encontrando um relógio pendurado na parede. Demorou um bom tempo até eu me lembrar o que tinha acontecido e conseguir assimilar o fato com o lugar que eu estava. Hospital.

- Hoseok! – Sentei em um pulo me amaldiçoando por ser tão burro depois da ação que gerou uma pontada na minha cabeça.

- Você acordou – uma voz fina concluiu e eu senti uma presença se aproximando, vendo uma jovem que deduzi ser a enfermeira ao que abri os olhos me recuperando da levantada brusca.

- Vou chamar o doutor Siwon – fez menção de que ia sair, me apressei para para-la a segurando pelos pulsos magros.

- Espera... – minha voz saiu mais grossa do que o habitual – Cadê o meu marido? O Hoseok.

- O doutor Siwon vai te explicar tudo direitinho – sorriu simpática e se retirou do cômodo.

O doutor chegou rapidamente me examinando rapidamente e explicando que uma tomografia já havia sido feita e que estava tudo bem com minha cabeça, eu apenas tinha desmaiado e ganhado uns pontos no corte do lado da cabeça que bati no vidro. O médico me recomendou um remédio para a dor e disse que eu estava liberado. Ouvi toda a sua avaliação ansioso para o fim, a inquietude tomando conta dos meus sentidos fazia com que uma vontade avassaladora de sair correndo do quarto enquanto gritava o nome do meu marido. Eu não prestaria muita atenção nas palavras de Siwon nem se ele dissesse que eu tinha um dano cerebral, eu só conseguia pensar em Hoseok. Eu sempre o colocava na minha frente.

Corri desesperado pelo corredor até achar o quarto de número 23. Abri a porta com tudo ficando aliviado ao ver a cabeleira preta esparramada pelo travesseiro. Não conseguia me lembrar de ter visto nada depois da batida então não tinha a mínima noção do estado de Hoseok, sorri feliz ao ver que ele estava acordado aparentemente bem.

Fui captado pelos olhos felinos e fui em sua direção para o dar um abraço. Abri os braços e ele me olhou com o cenho franzido.

- Quem é você?

A pergunta fez a minha garganta fechar. Meus olhos rapidamente umedeceram e sentia o chão prestes a desmoronar abaixo dos meus pés. Não podia ser...

Ai Hoseok gargalhou.

- Meus Deus, devia ver sua cara – tombou a cabeça para trás rindo. Lancei um olhar de ódio para o mais velho desaprovando suas ações com o balançar negativo de cabeça.

- Eu estava prestes a surtar seu idiota – concretizei minha ideia inicial o abraçando apertado.

- Imagina se você tivesse que me conquistar de novo, Kook? – afastou a franja dos meus olhos e selou nossos lábios.

- Não seria nada fácil – afirmei convicto pensando no quanto Hoseok era uma pessoa difícil de lidar ás vezes – Mas eu com certeza faria.

Sem pensar duas vezes.

Sem desistir.

Nos beijamos ternamente enquanto distribuíamos carícias inocentes um para o outro. Nada é pior do que o medo de acontecer algo ruim as pessoas que você ama, me faz lembrar do tempo em que meu avô vivia com os dias contados por causa do maldito tumor.

- Você está bem?- o perguntei.

No fim, Hoseok tinha uma perna quebrada e uma dor de cabeça. Agradeci por não ser nada grave. A caminhonete desgovernada havia atingindo especialmente a parte de traseira do carro nos livrando de maiores danos. Hoseok me contou que disseram a ele que o motorista havia fugido do local e que a polícia estava atrás dele. Para ser sincero eu não ligava para o condutor ou condutora que não possuía moral para arcar com as consequências provindas muito provavelmente de atos idiotas que poderiam ser evitados. Sabia que seria difícil que a policia encontrasse a pessoa e não tinha muitas esperanças. Só o que importava para mim era que Hoseok estava bem apesar da perna quebrada.

E estávamos juntos.

Era tudo o que importava.


Dear Lord, when I get to heaven

Querido Senhor, quando eu for para o céu

Please let me bring my man

Por favor, deixe-me levar o meu homem

When he comes, tell me that you’ll let him in

Quando ele vir, diga-me que o deixará entrar

Father, tell me if you can

Pai, diga-me se puder

All that grace, all that body

Toda aquela graça, todo aquele corpo

All that face, makes me wanna party

Todo aquele rosto me faz querer festejar

He’s my sun, he makes me shine like diamonds

Ele é meu sol, ele me faz brilhar como diamantes.



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