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História Esperançar - Pausa


Escrita por: _hobisunshine

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 13 - Pausa


 

Quando você anda na rua sem olhar para os lados, é isso que acontece. Um carro te acerta. O acidente não foi tão grave, mas ainda assim precisei ser levado ao hospital e fazer uma série de exames.

Meus pais ficaram preocupados, é claro, mas também ouvi uma bronca daquelas. Os médicos disseram que ia precisar ficar um dia ou dois em observação depois de ter o braço imobilizado. Isso mesmo, quebrei um osso.

O remédio que usaram para me sedar foi tão forte que dormi por longas horas. Ouvi minha mãe falando ao telefone, avisando minha avó sobre o ocorrido e pedindo para ela me fazer companhia.

É claro, eles estariam ocupados demais com o trabalho para se prestarem a perder três dias em um hospital.

Estava acordado o tempo inteiro, mas continuei de olhos fechados fingindo dormir. Quando eles deixaram o quarto, mais uma conversa se iniciou.

— O que você vai fazer? — Seokjin perguntou baixinho.

— Eu não sei. Na verdade, não faço a mínima ideia — era a voz de Hoseok, e ele parecia cansado. — Só não quero pensar nisso agora, tudo que quero é que ele acorde logo, e fique bem.

— Ele vai ficar bem. Os médicos disseram que não foi nada grave.

— Não foi grave, mas ele está numa cama de hospital. Eu... — ele murmurou mais algumas coisas que não fui capaz de ouvir. —... aquele imbecil.

  Fechei os olhos com mais força e alguém saiu batendo a porta do quarto, provavelmente Hoseok, e decidi me manter quieto. Em algum momento acabei dormindo outra vez.

  De manhã uma voz me acordou mais novamente, mas era a voz doce da minha avó, ela parecia falar ao telefone. Abri os olhos lentamente e foi difícil me acostumar à claridade.

Meus olhos ficaram abertos em fenda, e via a parede branca a minha frente, e a minha avó de costas para mim com o celular na orelha.

Tentei levantar o braço, mas ele parecia tão pesado; estava engessado. Por um momento quase esqueci o que tinha acontecido. Meu corpo todo doía, e dessa vez não só parecia, como fui atropelado.

— Vovó? — a minha voz saiu rouca, e a garganta reclamou.

— Oh, meu filho — ela virou rapidamente para mim, com o celular ainda na orelha. — Sim. Ele acordou — falou para a pessoa do outro lado da linha e nem se deu ao trabalho de despedir antes de desligar, como se aquilo fosse o suficiente. — Oi, meu filho. Diga para vovó, você está bem?

— Estou com sede. E a cabeça dói.

— Você pode esperar um pouquinho? Vovó vai chamar a enfermeira — e de repente ela começou a chorar.

— Estou bem, vovó.

— Eu sei que está, meu bem. Você é um menino forte — ela limpou as lágrimas do rosto. — Mas fiquei tão preocupada, todos nós ficamos.

  Ela saiu bem rapidinho, me deixando sozinho naquele quarto. Não tive forças para olhar para porta, meu campo de visão era limitado às coisas que estavam bem a minha frente. E isso significava apenas meu corpo e uma janela no meio de uma grande parede branca.

Mesmo quando faço merda, ainda acabo preocupando todos. Que belo idiota eu sou! Levantei o braço, olhando o gesso que cobria metade. Nunca, em toda minha vida, havia quebrado algum osso.

Fui tentar me mover, mas uma dar aguda nas costelas veio, e me senti tonto. Resolvi deitar, e fiquei olhando para o teto até minha avó aparecer. Tudo ainda doía, e a garganta estava seca.

  Ela veio, acompanhada logo depois por uma enfermeira e um médico. Ele me fez perguntas tolas e eu respondi meio mal humorado. Depois de algumas anotações, medicamentos e uma série de cuidados, eles finalmente me deram água e algo para comer.

Não que fosse a melhor das refeições, mas estava faminto. Terminei rapidamente, estava sem forças até para reclamar. Quando fui deitado novamente, o sono me venceu, e acabei dormindo.

Não sei quanto tempo fiquei apagado, mas quando acordei havia uma porção de olhos curiosos me fitando. Meus amigos. Estavam todos ali, Seokjin, Hoseok, Namjoon, Jungkook e Taehyung.

Primeiro foi o susto, não pela pequena multidão curiosa que me cercava, mas pelos fios do meu namorado, estavam castanhos bem claros. Ele havia pintado o cabelo! Fiquei boquiaberto e demorei um tempo para assimilar a novidade.

Quando, no meio de toda essa confusão, ele resolveu tingir os fios? Isso é o quão preocupado estava?

— Sou alguma atração de circo? — falei e eles riram, só depois percebi que Hoseok segurava minha mão.

— Eu fiquei tão preocupado, seu babaca. — Seokjin se aproximou mais da cama que estava deitado. — Você quebrou um osso.

— Não me diga — rolei os olhos e todos os outros chegaram mais perto também. Foi quando percebi que Jungkook estava com um olho roxo e o lábio partido. — O que aconteceu com você? Foi atropelado também?

— Não — Taehyung quem respondeu, rindo. — Foi Hoseok que deu um jeito na cara dele. Ficou lindo, não ficou? Até em um momento como esse, você arranja um jeito de ser o centro das atenções.

— Ah, claro — apertei bem forte a mão do meu namorado. — É um dos meus hobbies ser atropelado apenas por um pouco de atenção.

  Eles riram, e a conversa seguiu como se não tivéssemos em um maldito hospital, e eu não tivesse de cama. Os meninos narraram a surra que Hoseok deu em Jungkook, e o menino se encolheu todo sem graça.

Eles faziam piada de tudo. Taehyung, Seokjin e Jungkook tentaram a todo custo deixar o ambiente leve, e conseguiram. Estava grato porque a atenção deles cobria minhas burradas.

  Mas a alegria não durou muito tempo, alguns minutos depois uma enfermeira apareceu e expulsou todos dali. Foi um grande pesar que vi meus amigos indo embora sem ao menos conseguir me despedir de todos, nem conversar com Hoseok.

Queria pedir perdão, queria saber se as coisas estavam bem entre a gente. Ao menos ele ainda usava a aliança, o que me dava um certo conforto.

 

 

(...)

 

 

  Foi difícil me adaptar à uma nova rotina na qual apenas um braço "funcionava". Os dois dias em que fiquei no hospital apenas recebia visitas de Jin e os cuidados da minha avó. Foi assim até o dia que fiquei apenas em casa.

Estava cansado de tanto nada e de ter que ficar sentado ou deitado o tempo inteiro. Mas era grato pelo carinho que recebia do meu melhor amigo, os cuidados, os mimos, e a preocupação demasiadamente desnecessária.

Por algum tempo, podia fingir que não fui um grande merda em trair a confiança de Hoseok. Desse jeito, com toda essa atenção, era fácil fingir que a culpa não era minha, que não estraguei tudo, que não tinha sido o pior dos canalhas. E que agora Hoseok provavelmente me odiava.

O primeiro dia de voltas às aulas foi de cuidados exagerados por parte do meu melhor amigo e da minha avó, eles agiram como se pudesse partir ao meio a qualquer minuto.

Talvez eu fosse mesmo um ingrato como minha avó repetia. Porque Seokjin acordou cedo para ajudar, e eu ainda conseguia reclamar de tudo.

— Tenha um bom dia, meu querido — ela me agarrou com força num abraço e deu tapinhas em minhas costas.

A única pessoa cuidadosa e afetuosa da minha família era a minha avó. Ela havia ficado em Daegu, na casa que a minha mãe cresceu. Como raramente viajávamos até lá, fiquei feliz com a presença dela, mesmo que por poucos dias.

Saí porta afora com Jin, e ele com a minha mochila em mãos. Parei no meio dos degraus da entrada quando vi quem estava ali, me esperando encostando no muro.

Quando Hoseok me viu sorriu daquele jeito genuíno, mostrando todos aqueles dentinhos lindos e fazendo minhas pernas ficarem fracas.

Os cabelos castanhos brilhavam com o pouco sol da manhã, meus olhos ficaram presos nele. Quando pensei que não fosse possível ficar ainda mais lindo, Hoseok foi e me mostrou o contrário.

Aquele cabelo mais claro e todo jogado para trás em um topete lhe dava um ar tão bad boy, esse que se destruía com seu sorriso quilométrico e gentil.

— Bom dia, Yoongi — a primeira coisa que fez foi pegar a minha mochila das mãos de Jin. — Bom dia, Seokjin.

— Olá, Hoseok. Ainda bem que veio me salvar do senhor resmungão. Está num dia daqueles, reclamando de tudo.

— É mesmo? — ele sorriu novamente e começamos a andar. — Namjoon viria, mas estava ocupado demais com alguma merda dele, resolvi não me estressar.

— Hoseok....

— O quê? — Ele me olhou com cuidado, como se nada tivesse acontecendo, como se aquilo não fosse muito estranho.

— Nada. O seu cabelo... Ficou legal, eu gostei — senti as bochechas corarem e olhei para o chão. É como se Hoseok tivesse esquecido de tudo, pelo menos era como agia. — Senti sua falta.

— Eu também sentia a sua falta, mas vamos logo. Não quer chegar atrasado, quer? Já perdeu aulas demais e não confio nas anotações de Seokjin e Taehyung para te ajudar.

— Ei! — Seokjin deu um gritinho ofendido. — Se quer saber, eu sou o aluno esforçado dessa dupla aqui.

A risada estridente de Hoseok pareceu se espalhar pela rua inteira, e foi como um remédio para tudo, pelo menos momentaneamente. Percebi que evitava me olhar nos olhos e seus toques eram recessos.

Mas a aliança ainda estava ali, e aquilo me perturbava.

Nunca tive que lidar com um Jung distante. Sim, estava distante. Para um namorado ele mal me tocava e eu sentia uma falta absurda dos seus lábios nos meus, do calor do seu corpo, dos nossos dias juntos. Parecia uma eternidade sem tocá-lo.

  O caminho foi lento, assim como todas as aulas se seguiram até a hora do almoço. Os alunos não deram muita importância para o meu braço machucado, para falar a verdade, nem pareceram me notar.

Me concentrei na aula tentando compensar o tempo perdido e sorri, grato, quando o alarme soou, apesar de quase estourar meus miolos. Qualquer mínimo ruído ainda incomodava, mas os médicos avisaram que aconteceria.

  Meus amigos estavam cuidadosos e com pena porque eu só podia usar um braço para tudo. Eles faziam perguntas assim que sentei, e percebi que Hoseok não lutou pelo lugar ao meu lado.

Jungkook ocupou o lugar vago e me ajudava quando precisava, e até quando não precisava. Meu namorado nos olhava vez ou outra, calmo, no meio de uma conversa com Namjoon.

Eu o sentia distante, frio, como no começo, como se não tivéssemos mais compromisso algum. Aquilo doeu, e permaneci calado, pelo menos até ele me chamar a atenção.

— Yoongi, a gente pode conversar um minuto antes das aulas voltarem?

— Sim — senti todos os olhares sobre mim quando levantei imediatamente.

  Ele começou a andar, sem se dar ao trabalho de me esperar e tive que apressar o passo para alcançá-lo. Refizemos o caminho tão conhecido até o jardim. Foi ali que ele parou, no jardim da escola, sentando em um dos bancos.

O acompanhei, sentando também, ainda receoso. Senti o coração saltar, os batimentos frenéticos eram assustadores e me perguntava se poderia ser ouvido — pareciam ter força o suficiente para ser ouvido pela escola inteira.

Levei a mão ao peito, tentando me acalmar. Havia ficado ofegante por nada, o nervosismo estava ponto de me fazer surtar.

— Sobre aquilo, Hoseok... Eu...

— Sente muito — ele me interrompeu. — Já sei. Só quero te fazer uma pergunta.

O tom frio foi cortante e senti aquilo diretamente no peito. Então ele estava mesmo diferente, não era coisa da minha cabeça. Mas também, o que esperar depois de tudo o que fiz?

— Pode perguntar, eu respondo, qualquer coisa.

— Eu não era bom o suficiente para você?

— Como assim era? Hoseok, claro que sim. Você é bom o suficiente para mim, eu te amo.

— Então por quê, Yoongi? Sabe, eu passei esses dias pensando sobre tudo o que aconteceu — riu, mas não tinha humor algum — Mas ainda não consigo achar uma explicação pra merda que você fez.

Tentei me aproximar, mas Hoseok se afastou mais de mim, deixando mais espaço entre nós naquele maldito banco. Recuei a mão no mesmo minuto, baixando a cabeça.

— Ficou no meu pé o tempo todo sobre o assunto de Taehyung, mas quem acabou me traindo foi você.

— Eu sei que foi estúpido, mas na hora não pensei direito. E neguei os sentimentos de Jungkook, você pode perguntar pra ele. Eu... — deixei os ombros caírem, cansados. Realmente, não havia explicação decente para merda que fiz.

— Não sou de guardar mágoa, mas isso foi difícil — disse assustadoramente calmo e se levantou. — E como falei, eu pensei muito sobre o assunto. Depois que você saiu do hospital, tudo que fiz foi pensar. E cada vez que penso sobre aquilo, é como se doesse cada vez mais, parece que não vai passar nunca. Sou idiota, porque ainda te amo como antes, mas eu não posso te aceitar como antes, como se nada tivesse acontecido. Vou te dar um tempo para pensar...

— NÃO! – gritei, me levantando também. — Hoseok, por favor, eu não preciso pensar sobre nada.

— Sim, você precisa. Se não precisasse, não teria feito aquilo — tentei me aproximar mais uma vez e ele deu dois passos para trás. — Você me traiu na primeira oportunidade, não pensou em mim, não hesitou ou negou o beijo. Eu vi tudo, assisti àquela cena toda. Tem noção de como me senti?

A expressão decepcionada enfeitou o rostinho lindo e senti meu peito se comprimir. Odiava não poder toca-lo, odiava não saber o que fazer, e odiava me sentir tão desesperado.

Não queria, mas estava chorando. Não fiz isso para que sentisse pena de mim, as lágrimas apenas saíam sem que tivesse condições de controlar. Jamais imaginei que as coisas fossem terminar daquela maneira, poucos meses depois da gente começar a namorar.

— Por favor... Me perdoa. Eu não sei o que fazer... Eu... Eu sei que foi idiota, mas deixei que me beijasse porque não queria magoar o garoto, porque não queria deixa-lo triste. Não significou nada, no momento seguinte eu neguei os sentimentos dele e disse que seria seu para sempre. Por favor, Hoseok. Por favor

— Eu simplesmente não confio mais em você. Isso tudo me fez pensar em como vão ser as coisas quando eu for. Vou estar longe, com muitas coisas para lidar. Não quero ter a preocupação se meu namorado está ou não beijando outro cara. Pior, não quero namorar alguém em que não posso confiar.

E então meu coração estava em pedaços. Ele estava certo, mais do que certo. Não tinha nada que pudesse fazer para amenizar a enorme cagada que tinha feito logo nos primeiros meses de namoro.

Hoseok precisava de apoio, de confiança. Meu solzinho precisava de calmaria, não de mais problemas para a vida dele. Me senti uma pessoa horrível.

— Sinto muito se só levei em consideração os meus sentimentos, se não levei em consideração o fato de você estar ou não preparado para um relacionamento. Mas vou te dar um tempo para pensar, para colocar as coisas no lugar. Para compreender o que realmente quer. Eu sou seu amigo, e isso que não quero que mude entre a gente.

— Hoseok... – nenhuma dor física se comparava ao que eu sentia agora, vê-lo se afastando de mim foi a pior cena que tive. — Eu não preciso de um tempo. Sei que quero você. E só você.

  Ele tirou a aliança do dedo na minha frente, guardando no bolso. As pernas já estavam fracas, então apenas deixei o corpo sentar no banco novamente. Meu coração doía como se tivesse em brasa.

Nenhuma frase coerente era capaz de ser formada por mim, meus pensamentos estavam nublados, confusos, e eu me sentia perdido, desolado. Hoseok era bom demais para me deixar sozinho ali, mesmo que merecesse.

Tudo o que ele fez foi sentar do meu lado, passando um dos braços sobre meus ombros para me acalmar. Não me puxou para um abraço como costumava fazer, apenas deixou ali como apoio, um suporte. Como o bom amigo que era.

— Hoseok... Por favor... Eu amo você.

— Eu já tomei minha decisão, Yoongi.


Notas Finais


~ ♥


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