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História Esperançar - Sorvete e algumas verdades


Escrita por: _hobisunshine

Notas do Autor


O próximo capítulo ainda não está terminado, mas resolvi postar logo pra ninguém ficar esperando muito tempo. Acho que já sabem o que vem por aí, então boa leitura. E se tiver qualquer erro, relevem, eu não revisei.

Capítulo 40 - Sorvete e algumas verdades


Fanfic / Fanfiction Esperançar - Sorvete e algumas verdades

As palavras de Jungkook me perturbavam, como um sonho ruim, sempre desviando meus pensamentos de qualquer coisa útil. Teria mesmo nada mudado? Para mim, todos aqueles anos pareciam se multiplicar cada vez que olhava para meu ex-namorado e o que nos tornamos.

Desconhecidos outra vez, assim que me sentia. Havia muito sobre mim que ele não sabia, e com certeza havia muito mais dele para descobrir, do novo homem que se tornou. Seus novos sonhos, novas ambições.

Nem mesmo passava das seis e minha mente vagava em hipóteses, suposições, saídas para o nosso distanciamento. Para a situação que era bizarra como um todo.

Por mais que quisesse correr para os braços dele, muito precisava ser explicado e parte de mim ainda se recusava a ceder, mostrar algum interesse primeiro.

Respirei fundo pela milésima vez e resolvi levantar, mesmo ainda sendo cedo demais para isso. A cabeça chegava a borbulhar, enlouqueceria se permanecesse trancado sozinho naquele quarto.

— Wah, caiu da cama? — Namjoon apareceu no corredor, me fazendo dar um pulo no mesmo lugar. — Calma, grandão.

— Seu imbecil, eu quase morri — me aproximei e dei um tapa nele, fazendo a xícara de café balançar. — Pare de andar sem camisa por aí, Jin deve gostar, mas eu detesto.

— Há, há. Engraçadinho — bagunçou meus fios, passando direto para o quarto. — Ah, Hope deixou um presente para você bem no meio da sala.

Respirei fundo pela terceira vez desde que acordei por saber exatamente que tipo de presente me esperava. Dei as costas sem falar nada e fui em direção ao local indicado, andando cuidadosamente para não ser surpreendido da pior forma possível.

Assim que o encontrei, o cachorro esfregava as patas no tapete como se quisesse cobrir aquilo que fizera. Nem tinha como me zangar com meu pobre filho, a culpa da pequena tragédia era minha já que esqueci de levá-lo para passear noite passada. As coisas estão um tanto fora de ordem.

— E aí, pequenino? Quer sair agora?

O pequeno cachorro correu assim que me viu, escondendo o rabinho pelo susto. Suspirei, procurando o material para limpar aquela sujeira já que não havia muito o que fazer além de lamentar.

Ainda era terça, a nossa empregada geralmente vem às segundas, quartas e sextas. Estava fora de cogitação deixar um enorme pedaço de merda ali, fora que o cheiro acabaria nos matando hora ou outra.

Tudo decentemente limpo, pudemos finalmente sair para uma breve caminhada. Enquanto fumava alguns cigarros, o animal andava de lado para o outro, aproveitando os minutos fora.

No momento em que coloquei os pés em casa, dei de cara com Seokjin que me esperava no sofá com os fios lavados e o rosto levemente inchado pelo sono. O moreno mexia no celular, parando apenas quando a porta se abriu para me intimidar com aquele olhar.

Passei o dia anterior fugindo dele, da nossa conversa e no instante em que passei pela porta soube que aquela era sua resposta para minha covardia. Não tinha como e nem para onde correr, nós teríamos que falar agora.

Assim que o soltei, Hope correu nos deixando a sós. O clima pesava e nem ele gostaria de ficar por ali.

— Por que não me disse que Hoseok era noivo de Jimin? — comecei vendo enquanto ele levava a xícara de café até os lábios.

— Eu fiz café da manhã bem a sua cara, coisas com muito queijo, como você gosta. Vamos até a cozinha?

Sem dizer nada, abandonei os sapatos ao lado da porta e o ouvi respirar fundo algumas vezes, me seguindo pelo caminho mesmo que aquilo o irritasse. Rei da organização, meu amigo odiava quando largava as coisas pelos cômodos, mas não mais do que quando entrava com os sapatos sujos em casa.

Lavei as mãos e o ambiente continuava silencioso, só quando sentei para comer que me acompanhou, tomando o lugar em minha frente e então voltou a falar:

— Eu fiquei com medo da sua reação, não sei dizer. Hoseok me pediu várias vezes para tentar te convencer a conversar com ele, queria ser quem te contaria — batucou os dedos na mesa, nervoso. — Só que nunca o fiz, Joonie e Taehyung quem tentaram a todo custo, mas você estava e ainda está tão cego de ódio que não quer ouvir mais ninguém.

— Não estou cego de ódio — protestei e ele me olhou com aquele ar debochado como quem diz "sério?" — Qual é, Jin. E se fosse com você? Aceitaria conversar com um ex que da noite pro dia resolve aparecer?

— Não posso dizer o que faria com toda certeza, mas eu não aguentaria ficar sem respostas. É torturante, e está te fazendo mal. Além do quê, se fosse você, faria de tudo para socar aquela cara bonita do Hoseok.

— Está sugerindo que eu esqueça tudo que Hoseok fez e o receba de braços abertos mesmo que ele tenha voltado com um noivo nas costas?

— Não, não foi isso que disse. Eu apenas acho que você merece respostas, e ele tem o direito de explicar. O que vai fazer depois dessa conversa é uma decisão sua.

— Não sei não, Jin...

— Pense bem, não aguento mais esse clima ruim. Isso faria bem para todos — levantou e eu finalmente lembrei que deveria estar comendo. — Já vou indo para o hospital, se precisar de alguma coisa me ligue.

— Certo — sorri sem dentes.

— E dê um jeito naquele cheiro de merda que está tomando conta da sala ou eu jogo você e esse cachorro pela janela.

 

 

 

 

{...}

 

 

 

 

— O que você está fazendo aqui?

A primeira coisa que notei quando abri a porta do meu apartamento naquela quinta foi a cabeleira ruiva de Jimin, ele conversava animadamente com Seokjin e se assustou com minha pergunta rude.

Sem um olá, sem mal abrir o pedaço de madeira decentemente, já o queria o mais longe possível dali. Seokjin me queimou com aquele olhar, então decidi entrar, deixando os sapatos no meio do caminho apenas para irritá-lo.

Joguei as bolsas que trazia no sofá livre e retirei a jaqueta que usava, que logo seguiu o mesmo caminho. Um peso do cansaço se fazia presente sobre meus ombros, eu não dormia bem há dias.

Desde o jantar de noivado, também andei evitando Jimin. Ouvir suas histórias sobre o namorado estava fora de qualquer hipótese, não conseguiria essa proeza após descobrir que o atual dele nada mais é do que meu ex-namorado.

Não um ex qualquer, mas um ex por quem ainda tenho fortes sentimentos, um ex por quem esperei todos esses anos. Um ex que me fez ter esperanças de que voltaria para mim.

— O que aconteceu com você, Yoongi? Dia ruim? Quer uma massagem?

— Eu tenho sido um babaca com você, não é? Sinto muito.

— Sem problema, todos temos dias ruins — um sorriso caloroso me foi oferecido. — Sente aí no sofá que vai ganhar a melhor massagem da sua vida enquanto toma uma cerveja bem gelada.

— Acredita que abandonei as bebidas luxuosas e hoje em dia me encho de cerveja? — Jin perguntou indignado e nós gargalhamos. — Jimin tem essa carinha, mas me transformou em um alcoólatra da pior espécie.

 — Nós precisamos sair juntos mais vezes — o ruivo comentou —, sinto falta de amigos durante a semana. Meu noivo ingrato está sempre tão ocupado.

Por mais que eu desejasse odiá-lo cem por cento, não tinha como, não com aqueles olhinhos sorridentes sobre mim. Ele não sabia de nada no final das contas.

Me livrei de vez da dúvida momentânea e me permiti cair na poltrona, aceitando a cerveja que Seokjin ofereceu, sentindo em seguida os dedos gordinhos fazendo certa pressão em meus ombros. Não que algum dia falasse aquilo em voz alta, mas o anão era realmente bom com aqueles toques.

Quando estava prestar a soltar um comentário afiado, meu amigo olhou para o lado e de lá veio uma outra conversa. Duas vozes que conhecia muito bem, e pareciam extremamente animados.

Hoseok e Namjoon surgiram da nossa cozinha com uma bandeja, lenços e copos em mãos. Foi impossível não ficar tenso, o que automaticamente desencadeou em Jimin colocando mais força na massagem e eu fazendo caretas sem fim.

Os dois sorriam e mesmo após me ver, meu ex parecia muitíssimo tranquilo. Por outro lado, a cerveja por pouco não sujou todo o tapete, tamanha a surpresa que quase cuspi tudo. A boca dele não se fechava um minuto sequer, sorrindo o tempo todo.

Além disso, em um complô contra mim, Hope correu até as pernas malditamente longas dele, como quem implora carinho. Queria gritar com o cachorro e dizer que aquele é o pai que havia nos abandonado, mas o problema resolveu falar comigo, mostrando que tudo ainda poderia piorar.

— Olá, Yoongi — mostrou aqueles dentões, deixando a bandeja com petiscos na mesinha de centro. — Estávamos falando sobre você na cozinha.

— Tenho até medo de perguntar o quê.

Com muito esforço, consegui fingir desinteresse na resposta, por mais que por dentro estivesse me roendo para saber o que aqueles dois falavam sobre mim. Tentaria arrancar aquilo de Namjoon mais tarde, agora meus olhos estavam muito ocupados admirando Hoseok (por mais que ele não merecesse).

Que bem diferente do nosso último encontro, usava roupas casuais que marcavam bem cada pedaço daquele corpo gostoso. Uma camiseta colorida e um cardigan aberto davam uma cara jovem ao look, que tinham como ponto principal as calças que marcavam com perfeição as coxas bem trabalhadas.

— Fique quieto, Yoongi. Ou eu nunca vou conseguir — o ruivo choramingou, como uma criança grande. O que me fez finalmente voltar à realidade.

— Dia difícil, amigão? — Namjoon cuidadosamente sentou no sofá, ao lado de Jin.

— Podemos dizer que sim — me remexi, resmungando de dor e Jimin pelo esforço. — Ai!

— Amor, acho melhor você fazer. Os músculos dele estão tensos, duros como pedra.

— Não! — levei as mãos até as de Jimin, apertando-as ali. — Eu estou ótimo com você.

— É só uma massagem, Yoongi — Hoseok insistiu, deixando o copo de lado enquanto um sorriso malicioso lhe enfeitava o canto dos lábios. — E eu não mordo.

— Eu agradeço mesmo, mas não acho uma boa ideia.

— Sente aí — ele insistiu novamente e engoli em seco. — Vai valer a pena.

De repente todo o ar me faltava, ridículo, mas no momento fingir se tratava de um esforço gigantesco. Um esforço que cairia ladeira abaixo se meu ex me tocasse com aquelas mãos enormes e habilidosas.

Até mesmo a ideia de uma massagem inocente me amedrontava, o desgraçado parecia disposto a me deixar louco quando se aproximou, me tocando. Pulei pelo susto e tentei passar por ele algumas vezes, que tentava fechar passagem.

— O que deu em você?

— Eu preciso ir, Jinnie — levei as mãos aos ombros de Hoseok e o tirei do meu caminho. — Tenho algumas coisas para fazer.

— Onde você vai? — Namjoon chamou quando voltei a calçar os sapatos. — Fique aqui conosco.

— Não posso, preciso levar Hope para passear — inventei aquela desculpa na hora, que não deixava de ser verdade. — Vocês lembram o que ele fez da última vez que deixei de levá-lo, acho que o tapete também.

— Eu ainda nem terminei a massagem — o baixinho fez um bico, se aproximando de Hoseok e envolvendo o pescoço dele com os braços.

— Fica para uma próxima — vasculhei a bolsa que trouxe em busca do cigarro e das minhas chaves. De casa, e do carro. — E não me esperem, vou demorar.

 

 

 

 

 

{...}

 

 

 

     No meio de muitas revistas e arquivos de edições anteriores, Ryeowook e eu procurávamos a foto, uma coisa com a qual ele cismou a semana inteira. Como editor-chefe, eu era seu braço direito naquele lugar, o que significava que devia embarcar de cabeça em suas caçadas loucas.

No caso, essa era a mais insana em anos! Agora entendo por que todos diziam que a maior parte dos que ocupavam meu cargo antes acabavam enlouquecendo, o cara por vezes passava dos limites.

Pouco antes do meu horário de saída, ele me pediu que ficasse alguns minutos e o ajudasse na busca desenfreada. Ryeowook remexia as coisas de um lado, enquanto gritava para me incentivar.

Eu reunia todas as minhas forças para não perder a paciência, nem fazer qualquer loucura. Queria mesmo era jogar pelo menos uma daquelas caixas naquele cabelo tão perfeitamente arrumado dele.

Não demorou muito e o celular tocou, meu chefe não respondeu nada, só ouviu e depois largou o aparelho. Não prestaria atenção se aquele homem normalmente não fosse uma máquina de falar.

— Acho que isso não está aqui — finalmente disse algo coerente, roubando minha atenção. — Mas nós precisamos daquele look.

— Pensei que não fosse perceber isso nunca.

— Uma nova caixa foi mandada, estão esperando lá embaixo — levantou, entregando minha bolsa. — Pegue e entregue na recepção, depois pode ir para casa.

Não que o nosso redator não fosse esquisito a maior parte dos dias, mas excepcionalmente hoje ele havia extrapolado qualquer barreira do considerável comum.

De modo que não reclamei quando jogou a alça da bolsa sobre minha cabeça e me empurrou para fora da sala com pressa.

Respirei aliviado quando a porta atrás de mim fechou e arrumei decentemente a alça no ombro, revirando os bolsos em busca do celular.

As mensagens se multiplicavam, respondia à algumas enquanto caminhava corredores adentro. Poucos funcionários ainda transitavam por ali, logo tudo estava escuro – e bastante assustador.

O elevador já me esperava aberto, então não foi um grande sacrifício adentrar e após dizer à Seokjin que logo chegaria, guardei o aparelho. Cada parte do meu corpo doía, e no momento daria tudo em troca do bom humor de Soonkyu.

O dia fora realmente corrido, não havia a menor chance de eu ter humor para aturar mais uma das crises dela.

Quando as portas do elevador foram finalmente abertas, notei que me encontrava sozinho ali em baixo também.

Não que tivesse medo de escuro, mas aquela não era certamente meu tipo preferido de recepção, então saí a passos apressados.

Não olhei em volta do salão tão bem enfeitado e quando alcancei a porta, o coração dava solavancos pela falta de exercício. A pressa é inimiga de uma pessoa sedentária, sempre soube disso.

O ar poluído do centro de Seul me recebeu, estava prestes a agradecer quando tomei um susto.

— Finalmente! — Hoseok sorriu, se aproximando de mim com uma das mãos no bolso.

Ele estava lindo, claro que estava. Vestia um terno cinza e parecia bem despreocupado. Ao fundo, pude ver seu carro luxuoso alguns de seus funcionários.

— Porra, você quase me matou! — coloquei a mão sobre o peito que ainda permanecia agitado e piorou com o sorriso que me fora lançado. Esse desgraçado acabaria me matando. — O que faz aqui?

— Vim para conversar.

— Se não sabe, é o meu local de trabalho. E para o seu azar, tenho uma encomenda para receber agora.

— A sua encomenda está bem aqui — abriu os braços longos, com um sorriso estúpido na cara. — Talvez eu tenha pedido uma ajudinha ao seu chefe.

— Eu não acredito, seu filho da mãe. Eu carreguei caixas e caixas por sua causa?

— Se não tivesse fugido de mim tantas vezes antes, não precisaria tomar medidas tão drásticas — ele segurou meu pulso e gargalhou quando tentei acertá-lo. — Já estamos aqui mesmo, o que te custará acabar com isso de uma vez? Só peço meia hora.

O que me custaria? Talvez a sanidade, mas o que fiz? Aceitei. Com um breve aceno, concordei em colocar tudo em risco, em me aproximar do perigo e ouvir o que meu problema tinha para dizer.

Na defensiva, cruzei os braços em frente ao peito depois de ajeitar a bolsa em meu ombro, aceitando andar pelo quarteirão com ele ao meu lado.

Hoseok tinha uma pose despreocupada e andava de forma natural com aquelas pernas tão longas enquanto eu praticamente me arrastava depois de um dia de trabalho.

O céu fazia parte da pequena armação, pois se enfeitou todo com estrelas atípicas da época e deu ao caminhar uma paisagem bela. Enrolei a camisa xadrez que usava por cima da roupa, fechando alguns dos botões.

A roupa era várias vezes maior que meu número e me batia nas coxas, aquecendo meu corpo com perfeição. Além de bonito, era confortável.

— O que acha de um sorvete? Em nome dos velhos tempos.

Não parecendo mesmo esperar uma resposta, mal se importou com o fato de não ter dito nada, ou acabou fingindo muito bem não dar a mínima, pois seguimos o caminho até a sorveteria em um silêncio incômodo.

Quando me imaginava em uma situação como essa, sempre pensei que acabaria surtando ou no mínimo extremamente nervoso, mas no momento só me senti incomodado. Incomodado com todas as coisas boas que ele me fazia sentir apenas com uma caminhada.

Se tratava de um grande sacrifício não olhar para seu perfil a cada novo passo. O filho da mãe é mesmo lindo.

A sorveteria ali próxima veio a calhar, e assim que entramos, minha companhia saltou na frente e pagou por duas casquinhas. Não reclamei, exausto o suficiente, apenas andei até a mesa na área externa e o esperei voltar.

O horário era propício, apenas uma das mesas estava ocupada, mesmo assim preferi ficar do lado de fora. Não queria olhares curiosos sobre nós dois, nem queria que fosse difícil fugir caso preciso.

— Nem mesmo a lei pode te fazer parar com esse cigarro? — sentou na cadeira ao meu lado, me estendendo uma das casquinhas quando neguei levemente com a cabeça. — Quantos desses você fuma por dia?

— Isso não é da sua conta! — depois de uma longa tragada, joguei o cigarro sobre o escrito de "proibido fumar" na calçada e pisei em cima.

Meu acompanhante gargalhou, achando divertido toda a "rebeldia" que segundo ele, combinava com meu visual. Recebi elogio aos piercings, depois às tatuagens e por fim ao meu cabelo e roupa.

Cuidadosamente, Hoseok parecia ter planejado tudo para me deixar o mais sem graça possível, o que funcionou, mas que não deixei transparecer por completo. Sabia que minhas bochechas ganharam cor, mas evitei a todo custo mostrar que aquelas palavras me agradavam.

E se desconfiasse, colocaria a culpa na brisa fria e ao mal que (supostamente) fazia à minha pele.

O vento que batia fazia o corpo tremer levemente, não era uma época nem um bom horário para tomar sorvete, mas quem seria louco de discutir quando se tem a companhia de Jung Hoseok?

Consegui manter minha pose e o olhar impassível, tentando manter a minha companhia o mais desconfortável possível, não respondendo positivamente à nenhuma das suas investidas para tornar o clima mais leve. Queria que se sentisse tão deslocado quanto eu.

— O que aconteceu com nós dois? — pareceu desistir de enrolar e finamente chegou ao ponto "nós". — Eu te olho e ainda vejo um pouco daquele menino, mas além dele, vejo muito mais. Tem uma pessoa que não conheço.

— O que aconteceu? Você me deixou, foi essa porra que aconteceu.

— Eu não quero discutir.

— Então diga o que quer, não tenho a noite toda.

— Preciso me explicar, sinto que se não contar tudo nunca mais conseguirei dormir novamente.

Hoseok parecia sério, mas ao passear aquela língua rosada no sorvete ele quebrou toda tensão e roubou minha atenção aos seus lábios. Respirei fundo, tentando me concentrar na conversa.

— Como deve saber, não fui porque quis. Nunca quis, nunca te deixaria, nunca abriria mão de nós dois. Nunca.

Ok, quando falou em conversar, sabia que se trataria desse assunto. Mas ter uma ideia e ouvir isso diretamente dos lábios do homem que amo são coisas completamente diferentes.

Muda muita coisa, não só entre nós, mas com os outros envolvidos. Estava viajando em meus próprios pensamentos quando ele continuou com uma voz mais branda.

— Pode parecer estúpido, mas montei cada pedaço da nossa vida naquele apartamento pequeno, realmente achei que estaríamos casados agora. Com filhos e tudo mais. Você é o único com quem me vejo tendo tudo isso, um futuro, uma família.

— Não é estúpido.

Eu planejei isso também, pensei em dizer, mas não consegui. Encarava o homem ao meu lado e me perguntava o que fizemos de tão errado em vidas passadas para acabarmos assim, sempre nos desencontrando.

Para mim, o pior de tudo é olhar para o amor da minha vida como um ex-namorado, um desconhecido. Mesmo que não soubesse boa parte do que ele se tornara, ainda o amava como antes. Talvez bem mais.

— Meu pai perdeu a paciência e acabou me surpreendendo naquela manhã. Seus pais avisaram que passou a noite lá, então ele sabia que estava sozinho e me pegou desprevenido. Eles combinaram isso, Yoongi. Combinaram cada mínimo detalhe para nos separar. Seus pais, meus pais — protestou, totalmente indignado. — E o meu me propôs um acordo bem canalha, um que não tinha como negar. Envolveu sua segurança, seu futuro.

— O quê? Que acordo?

— Eu deveria terminar tudo e findar qualquer contato para ir à América com a certeza de que não inferiria em sua vida. Ou eu ia a força e ele acabaria com todas as suas chances de conseguir um lugar para trabalhar, estudar, ameaçou até mesmo a sua segurança! — falar aquilo parecia uma memória ruim, é como se ele lembrasse de um pesadelo terrível. — Parece covarde da minha parte agora, mas não poderia arriscar. Meu pai me ameaçou caso contasse para alguém, caso o denunciasse para polícia, você quem sofreria. Ninguém além de Dawon sabe disso até agora. Eu fiquei com tanto medo de te perder definitivamente...

Por puro instinto, levei a mão livre até o ombro de Hoseok, apertando levemente sobre o terno usado por ele, oferecendo algum tipo de conforto.

As memórias o perturbavam, o olhar estava distante e foi preciso colocar mais pressão nos dígitos para que ele me encarasse uma outra vez. Encorajei com um manear de cabeça, então continuou.

— Preferi perder o seu amor do que arriscar sua vida ou te deixar infeliz ao meu lado. Se meu pai te fizesse alguma coisa, juro por Deus que não me perdoaria, Yoongi. Você é o mais importante, sempre foi — levou a mão até a minha. — Além de tudo, ainda estava confuso e decepcionado. O cara que era meu exemplo perdeu totalmente a noção das coisas e me mostrou sua face cruel da pior forma possível. Eu fiquei desesperado.

— Hoseok... Eu sinto muito.

— O senhor Jung planejou tudo, até mesmo me manter sem contato. Ele te vigiava, mandava fotos suas e dizia estar de olho, que tinha um informante e saberia se eu tentasse ao menos reatar aquilo que tivemos. E que... que não pensaria duas vezes antes de acabar com você. Tem noção do quanto foi difícil? — parou e me entregou um lenço, só então notei minha mão suja com pingos do sorvete esquecido. — Por esse motivo pedi que Namjoon cuidasse de você, que me informasse tudo e que te ajudasse no que fosse preciso. Mesmo sem nunca manter contato, sempre estive ali, ficando verdadeiramente feliz por cada vitória, sentia como se participasse da sua vida nos pequenos detalhes.

— Por isso aquele infeliz não sai do meu apartamento...

— Todos os dias eu infernizava meu amigo com perguntas, queria saber sobre tudo. Fiquei louco quando pintou os cabelos pela primeira vez, acredita? Queria tocá-los, você parecia tão lindo.

— Eu não fazia a mínima ideia — engoli em seco, sentindo o nó se formar na garganta. — Quer dizer, Nam tentava, tentava muito.

— Tem noção do quão feliz fiquei quando entrou para faculdade? Queria muito te abraçar, encher de beijos, comemorar junto com você, mas preferi arriscar enviando um presente, e assim a ideia dos presentes continuou e me ajudou a suportar por alguns anos — sorriu de forma nostálgica. — Por vezes as coisas eram compradas no nome de Dawon, as vezes no nome de Namjoon e até de Taehyung. Tudo para que meu pai não desconfiasse que te acompanhava, que torcia por você. Sempre fiz de tudo para estar por perto, não aceito que pense que te abandonei. Eu pensei em você em cada segundo dos meus dias. Tudo que fiz foi por você, e passaria tudo de novo pela sua segurança.

Um pequeno desconforto na pontinha do nariz indicava a vontade chorar aumentando, a visão turva mais um sinal de que as lágrimas estavam ali, preparadas para sair. Mesmo que não quisesse, acabei cedendo.

Toda essa conversa foi muita informação, por isso adiei, por isso fugi. Odiar era cômodo. Sentar e julgar as escolhas de Hoseok era confortável para mim, assim poderia mascarar todo aquele sentimento ainda vivo com ódio sem fundamento.

Agora, de frente para ele, depois de ouvir tudo que tinha para me contar, não tinha mais motivos para odiar. Nem fingir que não sentia.

Jin tinha razão, eu havia passado dos limites e nem mesmo ouvia meus próprios sentimentos. O coração nervoso dizia isso, dizia que esperei todos esses anos por uma resposta como aquela, por uma afirmação de que me amava, de que planeja uma vida comigo.

Então por que ainda não estava feliz? Respirei fundo, limpando a única lágrima que saiu, e finalmente provei do sorvete, ficando calado por alguns minutos apenas apreciando-o antes de resolver falar.

A cabeça chegava a ferver pela quantidade de perguntas, tanta coisa que ainda queria descobrir, tanto para esclarecer e tanto para colocar em dia.

— E Jimin, onde entra nessa história?

— Jimin como namorado veio bem depois, ele quem me ajudou nos momentos difíceis, mesmo sem nunca saber o porquê sofria tanto. Eu vivi dias sombrios, Yoongi. E se não fosse por Jimin, talvez não estivesse aqui podendo te explicar tudo isso. A pressão do meu pai continuou por todos esses anos. Fiz cursos, especializações, me tornei o melhor que poderia ser — seus olhos passavam verdade, não tinha como desconfiar. — Ele é meu amigo coreano, até brigamos por causa dele algumas vezes antes, lembra?

— Ah, então é ele? Viu? Meus ciúmes tem algum fundamento — sorri de forma convencida e ele gargalhou. — Seu pai, ele aceita o Jimin?

— Não. Meu pai tinha um casamento arranjado me esperando e foi quando resolvi cortar as asinhas dele. Me mudei para Seul e trouxe Jimin junto. O Jung quis me matar, mas não teve o que fazer, sou o único da nossa família a quem confiaria nossa empresa e sou o profissional mais qualificado para isso. Precisou aceitar.

— Você ainda mora lá?

— Não, eu saí daquela casa, não aguento ficar no mesmo lugar que meu pai. Por mais que o ame, ainda guardo muita mágoa por tudo que aconteceu — me entregou um outro lenço, foi então que resolvi dar atenção ao sorvete. — Eu moro com Jimin. Quer dizer, ele resolveu se mudar para meu apartamento e tudo mais. Você percebeu como aquele baixinho é espaçoso.

— Ah...

Todos os sorrisos foram engolidos, não tinha como dizer que tudo bem estar morando com Jimin. Minha esperança estava ali, minha maldição, minha fraqueza. Esperançar.

Via em tudo uma chance para nosso futuro, para um "nós". Seria mentir para mim mesmo dizer que não guardei essas expectativas por todos esses anos, que não aguardei ele esclarecer tudo e cair em seus braços de uma vez por todas.

Porém, nossa realidade é outra.

— É como me livrar de um peso, te contar tudo isso. Obrigado por finalmente me ouvir, eu só queria ter a chance de te pedir perdão. Você me perdoa, Yoongi?

— Não tem o que perdoar, Seok. Em seu lugar faria o mesmo, jamais me perdoaria se algo te acontecesse — sorri minimamente e respirei fundo, como se me livrasse de um peso também. — Isso me ajuda muito também, acredite.

— Chama de Seok mais uma vez — sorriu animado e passou um dos braços sobre minha cadeira, se aproximando. — Amo quando me chama assim. Senti tanto falta disso.

— O que está fazendo? Estamos em público.

— Fale, Seok — soprou o hálito gelado em meu rosto. — Senti tanto a falta da sua voz. Por Deus, Yoongi.

Nem o sorvete, nem mesmo os olhares tortos, nada mais importava. Éramos só os dois, como completos adolescentes irresponsáveis, próximos, bem próximos.

Protestaria se tivesse vontade, mas quando Hoseok se aproximou, acabei foi comemorando internamente.

Logo aquele rosto que tanto gostava estava perto o suficiente, muito próximo. Trocamos um sorriso e minhas bochechas ferveram. Os cantos dos olhos daquele rosto perfeito carregavam rugas sutis, sinais da idade e de incontáveis sorrisos.

Senti vontade de socá-lo por ser tão lindo e tornar tudo tão difícil para mim. O perfume que fugia dele parecia me tentar.

— Você é lindo, Seok.

Foi só ouvir minha frase que o rosto quase partiu ao meio, aqueles dentões foram expostos e os olhinhos brilharam com lágrimas que queriam dar as caras.

Tudo naquele rosto me era perfeito, cada mínimo pedaço, por essa razão corria os olhos por todos os cantos, nervosamente, querendo aproveitar ao máximo aquela proximidade.

Meu ex grudou nossos narizes suavemente e respirei fundo, o hálito refrescante se misturava ao meu, a respiração acelerada também e estava pronto para tomar a iniciativa quando ele o fez por nós.

Os lábios macios e gelados se juntaram em um breve e inocente selar, mas foi como se uma avalanche me devastasse. O mínimo toque trazia à tona muitos sentimentos, muitas memórias, e muitas vontades.

É como se todos esses anos não tivessem passado, como se ainda fôssemos o "nós" do ensino médio. O coração batia frenético, precisei sugar fortemente o lábio inferior alheio para me certificar de que ele estava mesmo ali, que aquilo era real.

Quando me dei conta que sim, larguei o sorvete e levei a mão grudenta ao rosto dele, prendendo-o ali e quando abri os lábios para aprofundar o contato, meu celular tocou.

Hoseok me deixou alguns selares demorados, quando eu ainda tinha os olhos fechados, totalmente perdido.

— Abra os olhos, Yoongi — roçou nossos lábios grosseiramente e suspirei. — Seu celular.

Ainda embriagado pelo que havia acabado de acontecer, cacei o aparelho e atendi a tempo.

Era Soonkyu, com toda a conversa sobre o passado, havia esquecido completamente que planejamos um jantar, o que me fez dar um tapa fraco em minha própria cabeça.

Segundo minha namorada, estava exato quarenta e dois minutos atrasado e pagaria caro o resto da vida se não chegasse em menos de vinte lá. Pedi desculpas e disse que logo chegaria, levantando, ao passo que sentia um par de olhos sobre mim.

— Onde vai? — segurou meu pulso com cuidado e aquela região se esquentou.

— Eu preciso ir, desculpa — o bolso da minha calça abrigou meu celular e mais uma vez joguei a bolsa sobre o ombro. — Esqueci que tinha marcado de jantar com Soonkyu.

— Antes de ir, só me diga que sentiu isso. E que vai pensar sobre nós.

— Isso o quê? — franzi o cenho

— Durante o nosso beijo. Você sentiu isso, não sentiu?

— Senti.

Sem qualquer explicação lógica, sabia que o "isso" ao qual Hoseok se referia era o nosso amor, todo o sentimento que mesmo depois de tantos anos, ainda permanecia intacto. Quem sabe ainda maior como desconfiei.

Dividimos um sorriso cúmplice e ele se ofereceu para me acompanhar até a empresa. Antes de finalmente andar, ainda sentado, o castanho limpou meus dedos sujos de sorvete com alguns guardanapos, deixando-os apresentáveis e eu limpei a bochecha dele.

— Ainda se suja todo com um simples sorvete, como um pequeno e fofo bebê — me cutucou levemente com o cotovelo quando começamos a caminhar — Algumas coisas não mudaram.

— Não sou mais aquele garotinho chorão, mas ainda guardo traços. Ninguém se perde cem por cento.

— É bom ouvir isso.

Olhei para o lado e lá estava aqueles olhos puxados fechados em um sorriso, mesmo que fechado, enfeitou o rosto como um todo.

Hoseok não sorria só com a boca, ele usava todos os músculos faciais e aquilo era precioso, especialmente agora, quando as covinhas adoráveis ficavam a mostra.

Foi impossível não sorrir de volta ao lembrar do apelido que dera para ele, para meu pequeno sol. O que combinava com perfeição mesmo nos dias de hoje.

Assim que entramos na garagem da revista desejei que o caminho fosse mais longo, só que já não tinha o que fazer, era hora de ir, tinha um compromisso.

Abri a porta e joguei minha bolsa no banco de trás, voltando para me despedir quando mais uma vez fui surpreendido. Aquela noite de surpresas infinitas estava longe acabar, não sabia se agradecia por isso ou não.

As mãos longas de Hoseok grudaram em minha cintura, puxando-me para si. Como resposta enlacei meus braços no pescoço dele, fechando os olhos quando nossas bocas finalmente se tocaram.

Diferente de mais cedo, era um beijo de verdade. Um beijo que começou lento, mas que logo externou a saudade e falta que sentimos um do outro durante todo esse tempo.

Fui grudado contra o veículo quando tinha o lábio inferior maltratado por uma mordida nada sutil. Hoseok juntou o quadril dele no meu e puxei os fios macios da nuca, fazendo com que me encarasse.

— Isso não é certo — sussurrei, ofegante.

— Eu nunca vou desistir da gente. Se não agora, um dia você vai ser meu. Eu voltei, sempre volto para você.

O orgulho fora ladeira abaixo, junto com qualquer arrependimento e mais uma vez grudei nossos lábios. Como se nunca tivessem sido separados, eles retomaram o toque com tanto apetite como da primeira vez.

Precisei me esforçar muito para não gemer quando Hoseok me prendeu contra o carro, colando nossas cinturas. Levantei uma das pernas e enrosquei em volta dele no mesmo momento em que desceu os beijos curiosos para meu pescoço.

Meus dedos prenderam nos fios macios e joguei a cabeça para trás. Ia pedir por mais quando o celular tocou novamente.

— Acho que agora preciso ir.


Notas Finais


o que acharam do capítulo?


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