História Essence - Escarlate

Sokovia - Três dias antes

Wanda não conseguia sentir a mente dele.

Ela não conseguia sentir a mente de Pietro.

Em um segundo ele estava lá, e Wanda conseguia sentir a confortante presença dele no fundo de sua mente, a presença do seu gêmeo, que desde o experimento da HYDRA – e quem sabe até antes disso – sempre esteve lá. No segundo seguinte, foi como se uma parte dela fosse arrancada, e um vazio que ela nunca sentiu antes preencheu tanto sua mente quanto seu coração. Ela não precisou procurar respostas nos pensamentos de algum dos Vingadores, nem se segurar na esperança de que ela poderia estar enganada. Wanda sabia que Pietro estava morto.

Ela não sabia o que fazer ou o que pensar, e então ela gritou, gritou como nunca havia feito antes, ignorando as reclamações de sua garganta e aniquilando qualquer robô que estivesse nas redondezas com uma descontrolada onda de energia escarlate – mais tarde, ela se viu impressionada ao lembrar-se da intensidade de seus poderes. –.

Assim que toda a energia se dissipou, ela olhou em volta ofegante.

Em um piscar de olhos seu mundo havia desmoronado por completo, e naquela hora nada mais importava. Como e porque eram irrelevantes, pois Wanda sabia quem havia matado seu irmão, sabia quem era o culpado por tudo aquilo.

Ultron.

Ela o encontrou facilmente, depois de esmagar por completo todos os robôs que ousaram entrar na sua linha de visão, e ao entrar lentamente no trem que havia ajudado a parar num momento que já parecia estar há uma vida inteira de distância, seus olhos brilharam em vermelho com a visão de um dos principais corpos do ser que havia destruído parte de sua alma. O quê antes era a brilhante carcaça metálica de Ultron, agora jazia suja e destruída no chão esburacado do vagão. Os olhos brilhantes e sem emoção do robô encaravam diretamente a Feiticeira Escarlate.

Sem piedade, ela arrancou o coração – ou o quê pelo menos poeticamente poderia ser considerado como tal. – da criatura que ela sabia que, de certa forma, havia ajudado a criar. Ela esperava que aquilo fosse ajudar com a raiva, a preencher pelo menos um pouco o vazio que Pietro havia deixado, mas naquele momento, sozinha com o corpo de Ultron, ela não sentia nada além de um gosto amargo na boca.

Foi aí que Sokovia desmoronou junto com ela, de centenas e mais centenas de metros de altura.

Pietro estava morto, e agora ela iria morrer também.

Ou pelo menos foi isso o quê a morena pensou, conformada, antes de Visão voar na sua direção e a carregar nos braços, saindo o mais rápido possível da cidade em queda livre e se aproximando cada vez mais do grande porta-aviões onde a S.H.I.E.L.D. havia abrigado os sobreviventes do ataque. Ele a deixou lá, voando para longe logo depois de conferir se ela estava pelo menos fisicamente bem.

De início ela só ficou de pé, parada, encarando o chão de metal e ignorando todos à sua volta. Sua mente repetia sem parar os momentos anteriores. Pietro está morto.

Ela só saiu de seu torpor quando um homem da equipe médica chegou ao seu lado, tocando seu braço e fazendo perguntas inúteis.

— Senhorita? Você está bem? Precisa de assistência médica? — O homem magro perguntou, e Wanda se desvencilhou de seu aperto imediatamente, olhando em volta.

Não demorou muito para achar um rosto conhecido em meio à multidão, e ignorando os chamados do médico ela andou rapidamente para longe dali.

— Onde ele está? — Foi a primeira coisa que ela perguntou assim que chegou perto Clint, sua voz rouca e pesada com o sotaque. Ela se aproximou do arqueiro com passos rápidos e agressivos, sem sequer olhar para os feridos que lotavam o porta-aviões.

Clint, machucado e cansado, arregalou os olhos e parou de falar com a mulher loira à sua frente assim que viu Wanda marchando em sua direção. Os olhos dela brilhavam vermelhos dessa vez por causa das lágrimas que cismavam em não cair, e não por conta de seus poderes.

— Wanda, eu preciso que você se acal–

— Onde ele está? — Wanda o interrompeu, sua voz vacilando, mas cheia de intensidade. Ela pôde ver a mulher ao lado de Clint recuar alguns passos, mas manteve seus olhos fixos no Vingador.

Clint engoliu a seco, virando-se na direção de um dos veículos que levaram os moradores de Sokovia até o porta-aviões, estacionado a poucos metros dali.

— Ele está com o Stark. — Clint apontou e fez uma careta de arrependimento assim que viu a expressão de Wanda se fechar mais ainda – se é que isso ainda era possível. – ao ouvir suas palavras.

Sem esperar por Clint ela se aproximou do local, e franziu o cenho assim que viu a comoção em volta de uma das armaduras de Stark. O próprio andava de um lado para o outro, já com suas roupas de civil, em volta da armadura e de alguns médicos que a analisavam. Wanda não conseguia entender o porquê daquilo tudo, o porquê dela não ver o irmão dela em lugar nenhum.

Assim que ela chegou na metade do caminho, ela pôde perceber que Stark havia notado sua presença. Tristeza, medo, arrependimento e choque estavam estampados nos olhos castanhos de Tony enquanto ele colocava o celular de lado, limpava a garganta e ia encontrar Wanda no meio do caminho.

— Ele está na armadura. — Ele falou antes que ela pudesse perguntar, no exato momento em que Clint os alcançou.

— Por quê? — O coração de Wanda se acelerou com raiva, enquanto ela fechava os punhos com força ao seu lado. Ela não queria Stark perto de seu irmão, não agora, não depois de tudo o quê aconteceu, e seu sangue borbulhava de raiva só de pensar que ele havia colocado Pietro dentro de uma de suas armas. Ao mesmo tempo, parte de sua mente tentava desvendar o motivo daquilo, e só algumas possibilidades chegaram até ela, possibilidades que ela escolheu ignorar.

— A armadura– — Ele engoliu seco, e Wanda podia jurar que daria um soco na cara dele se ele não falasse mais rápido. — A armadura tem um sistema de suporte de vida. Quando o piloto está em condições críticas ela entra em um modo de estase, induzindo um sono profundo e conservando o corpo até o piloto poder ser socorrido–

— Então você colocou o meu irmão ali para... Para conservar o corpo dele? — Wanda o interrompeu, sua voz falhando no meio da frase, e desviou o olhar para a armadura ao imaginar seu irmão lá dentro.

Ela mal viu Tony balançando a cabeça em negação.

— Sim e não. Pietro está–estava morto, os tiros o mataram na hora, mas nós conseguimos – a armadura conseguiu – criar um pulso, reativar o coração dele por tempo suficiente para que ela pudesse entrar em modo de estase. — Tony respondeu, ganhando a atenção de Wanda no momento em que disse o nome de seu irmão.

Assim que ela entendeu o quê Stark dizia, toda a raiva que ela sentia desapareceu, sendo substituída por uma onda de algo que se parecia muito com esperança.

— Então você está me dizendo que... — Ela sussurrou com os olhos arregalados, sem coragem de completar a frase, temendo estar errada.

— As chances são mínimas, ele ficou muito tempo sem oxigênio, mas com os equipamentos certos, talvez... — Tony respirou fundo. — Sim, a armadura não está só conservando o corpo dele, ela está mantendo Pietro vivo.

E naquele momento, aquilo era tudo o quê importava para ela.