1. Spirit Fanfics >
  2. Estações - Primeira Temporada - Snamione >
  3. Oito

História Estações - Primeira Temporada - Snamione - Oito


Escrita por: surviana

Notas do Autor


Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor desse texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JK Rowling.

Capítulo 8 - Oito


Quando se coloca uma ideia na cabeça de Gina Weasley, não havia feitiço que a retirasse, mesmo me negando, dizendo que precisava ir para aula, ela agiu como se minha opinião fosse inválida. Por um tempo discuti os milhares argumentos do porque não poderíamos faltar, mas quando finalmente perdi a discussão e sugeri que pegasse o Mapa do Maroto emprestado com Harry, para sairmos por uma das passagens secretas do castelo, ela sorriu para mim em agradecimento e saiu apressada para alcançá-lo antes que ele estivesse em aula.

Enquanto ela corria até nosso amigo, eu decidi que precisava criar uma listinha das mais variáveis mentiras que já contei para Minerva nos últimos dias. Faltei aula, tive um encontro às escondidas com meu professor e quase... quase entreguei minha virgindade a ele no momento mais caloroso que já tive com um homem. O lado racional do meu cérebro me inundou de acusações, enquanto que o lado emocional martelou minha mente de que eu não estava tão encrencada.

Apesar de ser um dia tranquilo no vilarejo, a agitação nas ruas não deixou de estar presente. Nunca comprei roupas íntimas com a intenção de usar para alguém, eu sempre comprava para apenas usar. E, embora eu tivesse certeza que Gina também fosse virgem, ela parecia mais experiente em comprar calcinhas que usava por alguém e esse alguém, definitivamente, não era ela. Se eu soubesse que comprar roupas íntimas era tão complicado quanto comprar roupas para parentes distantes, eu não ficaria com nenhuma opção. É trágico! E paciência relacionada à compras era uma coisa que estava em falta quando o universo resolveu me criar. Minha paciência tinha sérias limitações quando se tratava de encher o guarda roupa, ou nesse caso, minha gaveta de calcinhas.

— Você nem me deixou tomar café. — Resmunguei. — Estou cansada e com fome.

Pela forma como Gina revirou os olhos, agora eu quem estava abusando de sua paciência limitada.

— Paciência, Hermione, e se você quer lingerie de qualidade vá a Madame Malkin, na seção de roupas íntimas, por sorte, aqui no vilarejo tem uma filial e eu já vim nela algumas vezes. — Ela falou como se a sua experiência fosse maior que minha fome e cansaço. — Ela salva as mulheres da tanguinha com folhas de bananeira, você devia ficar feliz por eu estar te apresentando lingerie de qualidade.

— Ok, eu já entendi. — Bufei avistando a loja na esquina.

— Você não pode experimentar, só olha, escolhe e leva. Simples. — A empolgação cada vez mais evidente em seus olhos me fazia querer rir, principalmente quando entramos na loja e eu vi corredores extensos com pilhas e mais pilhas de diversificados modelos de peças íntimas.

Não demorou muito para que a famosa ajudante, Gina Weasley, sumisse entre os corredores ao redor e eu ficasse sozinha, completamente perdida entre tantas opções. Tentei não parecer uma completa náufraga no meio de tanta curiosidade. Não podia parecer mais ridícula que o estado catatônico no qual eu estava, ou pelo menos, não parecia ficar pior até a figura loira nocautear o meu espaço e roubar minha atmosfera. Um acúmulo de sensações estranhas se formando na boca do meu estômago.

Bettany estava distraída analisando algumas das peças íntimas mais bonitas que eu já vi. Até então eu parecia invisível, mas minha tranquilidade falsa se foi quando ela ergueu os olhos de encontro a minha expressão acanhada, sorriu e se aproximou ligeiramente, como se me perguntasse o que eu fazia em uma loja de lingerie se eu não tinha um namorado. Acho que eu estava começando a me tornar machista demais a ponto de pensar que uma mulher só deve usar uma boa roupa íntima se tem a intenção de mostrar a alguém.

— Olá, Hermione.

Seu sorriso quase me fez querer sair correndo da loja. Eu não precisava desse tipo de constrangimento.

— Oi, quanto tempo. — Eu olhei para os lados observando o movimento, procurando a ajuda de Gina. — Então, como vão as coisas? — A modéstia estava explícita no meu tom gutural.

— Sinto muito por aquele dia no apartamento, eu realmente não queria ter uma discussão com Severo com vocês por perto. — Bettany acariciou a lateral do meu braço. — Mas estamos bem agora.

O sorriso desapareceu de meu rosto no mesmo instante, como se meu consciente gritasse algum aviso desastroso e me dissesse "é hora de dar o fora", mas a curiosidade que me dominava estava viva e ardente demais dentro de mim para que eu desse as costas.

— Ah, eu fico feliz por isso. — Forcei meu melhor sorriso. Severo, ele seria capaz de mentir assim? A bílis que me subiu a garganta quase me fez engasgar, estalei a língua no céu da boca e voltei a passear com meus olhos ao redor. — Vocês vão mesmo se casar?

Não me sentia bem interrogando indiretamente a suposta ex namorada dele, mas me sentia muito pior com a sensação de estar sendo enganada.

— Não exatamente. Severo está passando por uma fase difícil de confusão emocional, mas em geral estamos bem. Nós nos falamos todos os dias e eu sei que vamos nos acertar na hora certa. — Sorriu sem emoção. — Espero que suas notas tenham melhorado um pouco, soube que ele tem passado bastante tempo estudando com você.

— O suficiente.

Sorri mais por educação que por necessidade, tudo que eu queria era uma boa desculpa para sair dali. Desviei os olhos mais uma vez à procura de Gina, mas claro, a sorte nunca jogava a meu favor quando se tratava de situações constrangedoras.

— Falando nisso, — A vi erguer a manga do seu suéter e arregalar levemente os olhos para seu relógio de pulso, ela basicamente teve uma conversa telepática com o objeto — você não deveria estar na escola?

O fato de ela ter crispado a testa no instante em que cuspiu a pergunta para mim me fez formular desculpas esfarrapadas na minha cabeça e acabei sorrindo para tentar amenizar a tensão.

— Sim, mas uma amiga queria minha companhia para comprar lingerie, acabei cedendo.

Observei por cima de seus ombros, vi Gina finalmente se aproximando com uma cesta pequena com algumas peças dentro de cores diferentes e chamativas.

— Ah, eu também estou fazendo compras. — Bettany riu erguendo algumas sacolas, ela precisou esfregar na minha cara sua independência para que eu pudesse reparar que ela estava lá apenas fazendo compras.

Seria tão fácil odiá-la e lhe lançar uma azaração, afinal de contas, nem que eu quisesse nós poderíamos ser amigas.

— Você deve saber que estamos a poucas semanas do aniversário de Severo e eu quero comprar algo.

Minha garganta secou. Por que ele nunca me disse que seu aniversário estava próximo?

— Eu não fazia ideia.

Coloquei a resposta mental em voz alta, em um tom deprimido. O amargo que se alastrou pela minha boca fez com que eu precisasse abri-la para respirar.

— Ah, é claro que não. — Bettany sorriu. — Severo odeia o próprio aniversário.

A forma como ela caçoou me fez perceber que atrás daquela frase existia algo subentendido nas entrelinhas. Algo nos seus olhos me dizia para questioná-lo a respeito, se fosse preciso, obrigá-lo a dizer a verdade, afinal, aniversários são felizes e datas extremamente importantes.

— Essa é a parte em que eu pergunto por quê? — Cruzei os braços esticando o queixo, se ela queria jogar esse jogo, eu jogaria.

— Não. E não se iluda perguntando, ele odeia perguntas. — Sorriu amistosa.

— Ei, encontrei esses aqui, acho que vão ficar perfeitos em você. — Gina ergueu um conjunto rosa-choque, contornado de renda e não existia quase nada de pano naquelas peças. Por Merlin!

Abaixei o olhar me impossibilitando de encarar o olhar questionador da minha arqui inimiga, aquela que basicamente estava no mesmo campo de batalha que eu, mas lutando em um exército diferente. Quando a coloração púrpura de minhas bochechas se amenizou, ousei erguer o olhar para observar a tensão da atmosfera. Estávamos nós três ali, paradas e em completo estado de choque. Bettany me olhando com olhos de dúvida escassa, e Gina petrificada como uma estátua movendo apenas seu globo ocular, também com a dúvida frisada na sua testa enrugada.

Balancei a cabeça em negação a sua boca boquiaberta, até que ela voltasse com a peça para dentro da cesta e desse mais uma analisada em Bettany e chegasse à conclusão catastrófica de que era a tal falada ex noiva de Severo. E Bettany, era tão bonita que na maioria das vezes o complexo de inferioridade dava pancadas no meu peito gritando de forma ensurdecedora que uma mulher como ela sempre estaria um passo à frente de uma mulher como eu: uma garota.

Mas um ego que era irreconhecível por mim crescia no meu peito quando pensava que, supostamente, ele havia terminado tudo com ela, pois eu era a sua confusão emocional e aquilo me motivava, dizia que apesar dela ser uma mulher linda e poderosa, eu poderia sim passar por ela sem ter que me sentir mais como uma garota que estava sedenta de atenção.

Tudo que eu queria agora era sair dali com Gina, correr para Severo e pressioná-lo até extrair cada resposta que pudesse estar escondida atrás de seus olhos. Eu tentei ser compreensiva, esperar seu tempo e mostrar que eu compreendia a necessidade de manter segredos. Todos nós precisamos disso, manter nossa privacidade e nossa caixinha de segredos, no entanto, eu queria ser a dele. Por que ela podia saber mais sobre ele e eu não? Nós estávamos tentando, certo? Era isso que estávamos fazendo, apesar de tentar ser diferente de ter algo concreto.

Acabei comprando só o conjunto rosa choque e briguei com Gina dizendo que não era para uma ocasião especial. Muitas vezes me pegava pensando que ele estava certo, que nós tínhamos de ir devagar, pois eu poderia estar sendo precipitada e futuramente me arrependeria de minha escolha. Ele tentava controlar e manter as rédeas curtas; eu, por outro lado, tentava compreender a tensão crescente em mim e aquele aperto sedento no meu baixo ventre que não passava nem que ele me tocasse aqui ou ali de forma mais íntima. Poderia ser sim meus sentimentos à flor da pele pela idade e hormônios queimando em brasa viva, mas inconscientemente eu dizia que isso só acontecia porque se tratava dele.

Durante todo o caminho, eu e Gina mantínhamos o silêncio, uma discussão aqui e outra ali aconteceu por vários fatores, incluindo um que ela ia contra: eu voltar para a aula. Ela dizia que era inútil aparecer simplesmente do nada, no final da aula, quando havia burlado todas as outras a manhã toda. Mas o frio na minha barriga me instigava para que eu o encontrasse e não podia esperar pelo horário da nossa aula de reforço, meu corpo e mente ansiava para que isso fosse instantâneo. Eu precisava esclarecer algumas coisas com ele, e o que eu precisava, não podia esperar.

— Estou apaixonada por ele. — Admiti para ela.

— Um dia você vai usar a palavra amor? Não adianta muito usar a palavra paixão para acobertar o que realmente sente. Tem medo demais da reação dele quando ouvir essas palavras vindas de você?

— Não sei se o amo Gina, só sei que eu quero ser única para ele. — Minha voz saiu rouca.

oOoOoOoO

O final das aulas era sempre a pior parte da manhã, os corredores que quando vazios pareciam amplos e extensos agora pareciam desastrosamente estreitos, cobertos por alunos de anos e Casas diferentes espalhados em um único conjunto, perambulando incansavelmente e se esforçando de maneira inquieta para atravessar as portas até o Salão Principal para o intervalo do almoço. Rony e Harry me lançaram um olhar questionador quando passaram, mas apenas balancei a cabeça e sussurrei um "depois" e eles seguiram com a massa de alunos que saiu da sala.

Enfim, eu estava ali, recostada na parede da sala de Defesa Contra as Artes das Trevas, à espera de um momento a sós com Severo, sem que as pessoas soubessem o que nós éramos. Tudo parecia suspeito quando se tratava de nós, um olhar ou outro não significava nada, mas agora, qualquer movimento por mais inocente que fosse relacionado a um de nós, eu sentia que minha paranoia gritava mais alto que a sensatez. Qualquer olhar para mim ou Severo eu enxergava com insegurança, e criava imagens e diálogos para nos defender caso ele fosse denunciado.

A mochila que pesava no meu ombro direito me acarretou dores naquele local, mas a dor muscular deixou de ser meu foco para analisar a empatia entre mim e um daqueles alunos. Até dois meses atrás se alguém dissesse que isso estaria acontecendo comigo eu negaria, cuspiria ofensas e com toda certeza diria que Severo Snape nunca olharia para mim com aqueles olhos. Mas, definitivamente, as peças que me foram pregadas nos últimos dias tinham me surpreendido.

Respirei fundo controlando o impasse que acontecia entre minha mente e coração, buscando as palavras certas para usar com um homem que, definitivamente, mantinha uma postura de controle absoluto. Por mais dura e difícil que fosse a nossa situação, ele conseguia manter os músculos relaxados e a expressão facial impassível. Já eu? Estava escrito na minha testa com letra cursiva, em itálico e negrito, gritando que eu tinha um segredo que poderia destruir toda uma reputação da monitora exemplar da Grifinória.

Meu próximo passo foi um dos mais difíceis que já fiz depois de estar mentido esse tempo todo para os meus pais. Atravessei a sala apertando as alças da mochila na lateral de meu corpo, respirando pesadamente como se meu coração estivesse parando, até sentir minhas pernas tremerem quando meu foco mental e de visão se tornou Severo. Um suor e tensão entre as minhas pernas, apenas de vê-lo daquela forma, me deixou em perfeito estado de impotência. Lá estava ele, inclinado sobre a mesa, seus lábios nunca ficavam secos, a mania de lambê-los enquanto lia era irreversível. Ele estava tão concentrado na sua leitura, reparei ser um texto feito a punho próprio, que não se dispersou nem mesmo quando fechei a porta atrás de mim e a tranquei com um feitiço.

Sua concentração era desconcertante e me deixava com vontade de jogá-lo na mesa, no entanto, esse pensamento não pertencia a Hermione exterior, e sim a inata, aquela que se escondia atrás de uma falsa inocência. Minha timidez era o alicerce da nossa relação e tudo se tornava ainda mais delicioso quando se tratava dele. Severo era o homem mais quente que já tinha visto e tocado em toda minha vida. E aquela sensação de estar fazendo o que era errado me excitava e tive que admitir mentalmente isso, já que quando ele abria a boca eu travava.

— Bom dia. — Minha voz saiu baixa, extremamente rouca e dei alguns passos na sua direção.

— Eu poderia te dar uma suspensão por cabular aula, Srta. Granger.

Ele falou sem tirar seus olhos do pergaminho e por um momento a curiosidade se tornou impetuosa para mim, me estiquei um pouco para tentar ler o que tinha de tão importante no maldito papel que estava tendo de competir.

— Onde você esteve? — Sua pergunta soou como uma repreensão e arqueei as sobrancelhas quando abri a boca para responder, mas a fechei no exato momento em que ele dobrou o pergaminho e ergueu seus olhos para mim. — E não minta.

Meu queixo teria caído alguns centímetros se no fundo do meu peito eu não estivesse com uma pitada de interesse pessoal e um egoísmo me cutucando.

— Gina.

Prendi o lábio inferior entre os dentes e andei até uma das carteiras colocando minha mochila e voltei meu olhar de quem não queria nada para o professor, que agora mantinha uma postura menos relaxada. Pousei os olhos sobre o peito dele, coberto de vestes negras e meu estômago gelou quando lembrei daquele peito nu, quando estávamos deitados no quarto dos monitores. Acabei desviando os olhos para mudar de foco, mas, claro, Severo era mais experiente que eu e, com certeza, percebeu a minha falta de experiência no quesito sedução.

— Você faria isso muito bem se tivesse um pouquinho mais de desenvoltura.

Sua voz carregada de ironia fez minhas narinas inflarem. Ele basicamente tinha jogado na minha cara que eu não tinha um pingo de experiência, não que ele estivesse errado, mas deveria ser mais doce ao dizer aquilo em voz alta.

— Posso lhe ensinar se você quiser. — Ele completou.

O encarei, agora ele tinha levantado da escrivaninha e estava com os braços cruzados na altura do peito, com um sorriso despreocupado no rosto e as pernas esticadas livremente para frente. Seus olhos não tinham outro foco além de minhas pernas fora da saia do uniforme. Naquele instante percebi que o Severo sensato era um truque, um jogo de sedução, uma forma de me fazer desejá-lo para depois ele mesmo me parar, me privar de seu toque e de me negar fogo. Ele conhecia meus instintos melhor do que eu, e realmente não brincou quando disse que passou muito tempo me observando.

— Eu fui ao vilarejo. — Engoli a bola de saliva que havia se formado no alto da minha garganta e tossi para limpar as impurezas. — E encontrei Bettany em uma loja.

O vi arquear as sobrancelhas como se perguntasse o que eu queria com aquele assunto.

— Ela me disse algumas coisas. — Olhei para o chão, para os meus pés para ser mais exata, e cruzei os dedos no instante em que senti a dúvida pesar. — Por que não me contou que seu aniversário está próximo?

Vi seus bíceps flexionar, mas não hesitei, não me deixei abalar.

— O que mais ela disse? — Ele descruzou os braços e levou seu polegar ao lábio inferior, brincando com ele.

— Que vocês se falam sempre. — Respirei fundo. — Você mentiu para mim — sussurrei com a voz trêmula. — Disse que tudo entre vocês tinha acabado e que não a amava, mas dá esperanças a ela e a mim. — Minha voz estava estridente.

— Eu não minto. — Seu olhar estava carregado de impaciência deixando marcas vividas em sua expressão e sua íris contornada de simplicidade, verdade e misturada a um terrível medo me fez ficar intacta no local.

Estava confusa agora, como eu saberia, com certeza, se Bettany dizia ou não a verdade? Ela era suspeita na ação, alguém que certamente eu precisava manter um pé atrás, mas Severo também era alguém que eu não tinha certeza se podia acreditar, afinal, sua ficha não mostrava um homem inocente, porém, não definitivamente, culpado. Ele cativava qualquer um com sua expressão séria e verdadeira, cujo corpo esguio se tornou a imagem perfeita de uma nata responsabilidade, sua postura impunha respeito, e até mesmo eu, que já sabia o gosto que tinha sua boca, chegava a duvidar de sua culpa.

— Está com ciúmes?

Ficou claro para mim que seu sorriso era de proficiência, minhas pernas tremeram e meu coração subiu para a garganta, aquela reação ao seu tom de voz deveria fazer parte de minha rotina, mas era como se tudo estivesse acontecendo pela primeira vez e impiedosamente ele se divertia com meu sofrimento, minha ansiedade e, principalmente, minha excitação.

— Não.

Olhei pela janela observando os jardins do castelo caridosamente vazios. O meu "não" insignificante era para ser um sussurro íntimo, mas pela expressão acuada notei ligeiramente que ele escutou e se sentiu... ofendido?

— Você não é boa com mentiras, Srta. Granger.

— Vou esperar lá fora.

Eu simplesmente desisti de lutar pela verdade por não conseguir me manter inteiramente na linha quando se tratava dele. Por não me controlar e deixar que meus olhos transparecessem exatamente aquilo que meu coração sentia. Ele estava certo, nunca fui boa com mentiras, mentir me denunciava, me julgava e me colocava em posição de inferioridade.

— Pare. — Rosnou.

Eu estava com a mochila sobre o ombro, respirando com densidade e controlando cada emoção que se espalhava pelo meu corpo, mas sequer consegui dar mais um passo. Estava de costas para ele, mas sua voz eloquente me convenceu a parar feito uma estátua, sentindo o calor de sua análise mental corrompendo cada pedacinho meu.

— Você não tem ideia do que faz comigo. — Eu disse com a voz trêmula.

Me virei e seu corpo ereto estava a alguns centímetros, podia sentir a tensão entre nós. Nosso desejo carnal estava em ápice, a necessidade desenfreada cheirava a desespero e assim como eu, sua respiração descompassada o denunciava mais do que seus olhos cobertos de ira, uma ira que vinha dele para mim. Eu estava tremendo e com o coração pulsando, a sensação que eu tinha era de desejo, atração e um emocional restrito e abalado.

— Tenho. E você devia imaginar o quanto isso me tortura, pois não quero estragar a boa garota que você é com os meus problemas. É tolice sua querer se entregar para mim. — Ele se aproximou cautelosamente, aguardando minha aprovação e, como não recuei, percebeu que eu consenti. — Mas seria um hipócrita se não admitisse que isso me deixa satisfeito. Sim, sou um sádico egoísta, então, por favor, continue sendo uma tola, e uma tola que queira pertencer a mim. Mas não posso garantir que o meu passado ou o meu futuro irão pertencer à você.

Não sabia que eu seria capaz ou que seria possível uma pessoa ter duas emoções totalmente controversas ao que realmente deveria sentir. Eu tinha acabado de assumir para Gina que estava apaixonada por ele e até alguns segundos atrás, o meu corpo queimava só com a imagem dele lendo um pergaminho. Agora, eu estava com uma raiva pulsante, como se minha cabeça fosse estourar. Eu queria fazer parte do futuro e queria conhecer o seu passado, não ficar só no presente como um objeto de distração. Era uma raiva alimentada pela constatação de que eu teria que me contentar com as informações básicas que ele estava disposto a me dar e aceitar de bom grado, pois era aquilo ou nada.

— Isso é para você. — Ele disse e ergueu o pergaminho que minutos atrás estava focado.

— O que é exatamente isso? — Olhei para o pergaminho como se fosse um desafio e ainda estava tentando me decidir se iria ou não aceitá-lo.

— Se você quer estudar, precisa ler. — Ele respondeu, crispando a testa e eu pateticamente irritada com sua impaciência, puxei o pergaminho de sua mão. — Essa será a nossa próxima aula.

— Estou feliz que você tenha me dado dever de casa. — Sorri irônica, me sentindo à vontade para zombar da tarefa que ele havia me passado.

— Ótimo, mas você não vai fazer isso agora. — Ele passou os olhos na ampulheta sobre sua mesa. — Temos quinze minutos, acha que dá tempo?

— Tempo de quê?

Arqueei as sobrancelhas ainda com o pergaminho na mão direita pensando se deveria colocá-lo na mochila enquanto conversávamos sobre o "tempo" ou se simplesmente jogava minhas coisas no chão e me lançava nos seus braços, já que seus olhos agora transmitiam um pensamento explícito e malicioso, exatamente como ele olhou para minhas pernas minutos antes.

Seu corpo de impacto com o meu foi a sua resposta perfeita. Achei inútil continuar segurando a mochila e o pergaminho e os soltei no chão. A mochila caiu no meu pé com tanta força que meu mindinho se contorceu dentro do sapato, porém o beijo quente e acolhedor era a única coisa que me prendia na realidade do momento. Estava beijando Severo no meio de sua sala onde várias e várias vezes eu me imaginei sentada à sua mesa, com ele entre minhas pernas e beijando cada espaço aberto no meu pescoço, subindo sugestivamente pela minha mandíbula, encontrando espaço para o lóbulo da minha orelha, até finalmente sussurrar uma sacanagem ou outra no meu ouvido. Definitivamente, aquilo era o que as pessoas costumavam chamar de impossível que se torna possível.

Suas mãos deslizaram para cima e para baixo na minha cintura. Minha vontade era de tirar meu uniforme para poder sentir sua mão quente em contato vívido com a minha pele ansiosa, mas estar presa dentro de uma sala em Hogwarts mexia com o lado racional do meu cérebro, que me dizia insistentemente que aquela era uma terrível ideia.

Ele me puxou com força contra o seu peito, cravando seus dedos da minha cintura, através do pano da minha blusa e agradeci silenciosamente pelo tecido da camisa escolar ser fino, não sentia seu toque cem por cento, pele com pele, calor com calor, mas sentia o suficiente. Meu corpo começou um leve movimento e percebi que estávamos andando, e sem precisar abrir os olhos notei que a direção a qual estávamos indo era para o objeto onde eu mais me imaginei com ele: sua mesa. Eu tinha uma vaga ciência que essa fantasia tinha uma identidade abusiva, mas que era tão pequena, que não me deu forças para interromper nosso contato.

Severo estava na minha frente e, portanto, quem esbarrou na borda da mesa foi ele, que parou o beijo de repente e eu parei para observá-lo, ele estava com os lábios levemente inchados e avermelhados ao redor do seu contorno enquanto recuperava o fôlego. Embora a razão da pausa não fosse o fôlego, apesar de início ter parecido, ele observou novamente a ampulheta sobre a mesa, franzindo a testa.

— Ainda temos dez minutos. — Sussurrou, olhando no fundo dos meus olhos.

O que ele queria? Um sinal verde?

— Eu não vou pedir. — Sussurrei de volta com a respiração entrecortada.

— Então você não vai ter o que quer.

Ele agarrou minha coxa rapidamente, subindo-a pela sua perna até alcançar a sua cintura e eu quase caí com o movimento inesperado, mas sua mão livre sustentava meu corpo, me segurando pela cintura. Nunca imaginei que estaria com uma perna levantada e provavelmente mostrando o quanto a tensão era precária entre minhas pernas. A força que ele impunha no meu corpo contra o seu me deixava desconcertada, ele realmente estava testando meus limites improváveis, tentando me fazer dar o braço a torcer para que implorasse que ele dominasse meu corpo. E ele tinha toda razão, meu corpo e meu psicológico não estavam acostumados com tamanha devastação e a força devastadora com que eu o desejava estava me corroendo por dentro e finalmente assumi que, oficialmente, eu e meu desejo estávamos em guerra. Fechei os olhos e respirei fundo, pronta para ceder.

— O tempo acabou, Srta. Granger. — O observei piscar os olhos em uma contagiante alegria de quem estava me provocando outra vez. — Mas ainda vamos testar todos os seus limites.

oOoOoOoOo

Um plano foi traçado por ele nos nossos últimos minutinhos juntos. Eu iria dar a desculpa de que não me senti bem, portanto, faltei às aulas da manhã e fui ao final da última aula dele, já que notavelmente era a única matéria que eu estava péssima e conversando com ele consegui recuperar o assunto que perdi. Um bom plano, até o mais esperto aluno ou professor, como Minerva, acreditaria nessa mentira esfarrapada. O pergaminho na minha mão, levemente amassado por justa causa, daria realmente a impressão de que eu só estava dentro daquela sala para tirar a matéria da pendência.

Apesar de ser um bom plano, ao sair da sala tomei um balde de água fria, me deparando com minha realidade que passava aos meus olhos. Os corredores estavam finalmente vazios, todos os alunos deviam estar almoçando no Salão Principal e eu não passava de mais uma aluna. Meu melhor amigo, Harry Potter, aquele que não é nada razoável quando quer e extremamente esperto, estava me fitando do outro lado do corredor com uma expressão de incredulidade. Harry me encarou como um leão raivoso e antes de estar realmente perto de mim já havia temido sua fúria a distância.

— Você é a pior melhor amiga que existe no mundo! — Movia suas mãos dramaticamente, gesticulando de um lado para o outro como se toda aquela ação fosse sustentar sua raiva. — Você sumiu, nem parece que somos da mesa Casa. Eu mandei uma dezena de mensagens no seu galeão! Por acaso foi abduzida?

Ele parou, ficando de frente para mim e apontando seu indicador magro em minha direção, me acusando.

— Eu fiquei doente. — Revirei os olhos para não parecer uma mentirosa, que eu sabia que era. Não, eu não estava orgulhosa disso, mas achava que mentir por Severo sempre valeria a pena. — E por isso estive várias vezes em visita à Ala Hospitalar, como hoje, por exemplo, só vim pegar isso com o professor Snape.

Levantei o pergaminho amassado intercalando meu olhar entre ele e meu amigo, que erguia a sobrancelha incrivelmente em dúvida. Subi meu queixo em desafio, esperando que ele acreditasse.

— Você está melhor? — Harry cruzou os braços me analisando de forma apreensiva, mas seus olhos ainda continham uma parte da desconfiança indispensável. — Deve ser o clima frio do inverno chegando.

— Hum-hum... — Falei puxando a mochila e empurrando o pergaminho nela.

— Soube que até faltou o almoço dos monitores no começo do mês. O que há com você? Faltar aulas e responsabilidades não é do seu feitio.

— Já disse, andei doente. — Comecei a caminhar para às escadas e ele me acompanhou, em passos lentos e calculistas. — Mas já estou melhor e prometo recuperar minhas obrigações como melhor amiga também, certo? Sinto muito por ter sumido.

— Ah, tudo bem. Vai aparecer para comer com a gente?

— Sim, agora mesmo.

Sorri em agradecimento por Harry ter sido fácil de driblar. Ele era outra pessoa a quem eu odiava mentir e que detestava esconder as coisas mais importantes da minha vida. Almocei com meus amigos e estaria mentindo se dissesse que não gostei de conversar amenidades e implicar com eles sobre o acúmulo de deveres. Foi divertido ouvir as lamentações de Rony sobre como eu faltava tanta aula neste ano e ainda assim era a melhor aluna em quase tudo. Quase, porque Harry se tornou o rei das Poções desde que usava um livro cheio de anotações e Defesa Contra as Artes das Trevas era uma pedra em meu sapato por motivos óbvios.

Abracei os três antes de me despedir deles, que seguiram para o treino de quadribol, e os vi desaparecer em direção às portas de entrada, seguindo para o exterior do castelo. Agradecida silenciosamente por eles não me interrogarem sobre meu inconstante estado de humor e segui caminhando em direção às masmorras. Aparentemente eu era a única aluna no interior do castelo. Todo adolescente adorava quando as aulas terminavam, mas eu não. Não naquele dia.

Minhas pernas ainda estavam bambas pelos minutos que passei com Severo antes do intervalo, meu coração vivia constantemente turbulento e minha cabeça rodopiava com pensamentos indecentes. Era desesperador como uma única pessoa conseguia desconsertar toda minha estabilidade emocional tão irracionalmente. Eu pensava nele e era como se uma realização tivesse acontecido em minha vida. Sentia uma onda de eletricidade que eu mal podia respirar, de tantas emoções que preenchiam as lacunas em meu peito. Comecei a imaginar que talvez se apaixonar era isso mesmo e fiquei ansiosa para o dia em que ele fosse inteiramente meu, sem regras, erros ou pecado.

Me deparei no corredor do escritório dele, quebrando qualquer imagem de pensamento, plano, ilusão ou sonho que estivesse tendo. Dei um salto quando a porta do escritório se abriu instantaneamente quando parei na frente dela, mas acabei sorrindo quando o vi em sua carranca costumeira, o oposto da expressão em seu rosto quando me agarrou na sala mais cedo, me distraí por alguns segundos, até que me dei conta de que não podia admirá-lo o dia todo.

Seu nariz gesticulou que o aguardasse ali mesmo na porta, e ele caminhou em minha direção, nossos olhares estavam em conjunto, fazendo uma análise mental e apressada. Era como se ambos soubéssemos o que se passava em nossas mentes barulhentas agora, ele sabia o que eu queria e eu sabia dos seus jogos. Essa troca de olhares era uma ligação arrebatadora que acabamos de nos deparar. Os olhos são aquilo que chamam de portal para a alma e nos olhos de Severo eu enxergava muito. Tenho certeza que o olhar dele foi aquilo que me prendeu desde o início, ele tinha a hipnose e eloquência, e algum tipo de mensuração, eles tinham tudo, inclusive me roubaram e continuavam roubando partes de mim sem a minha permissão. Com o seu olhar ele me contava tudo, mas também não me mostrava nada. Nada além de um sentimento assustador que vinha crescendo cada vez que o via e eu ficava sem escapatória, principalmente quando eu não conseguia fazer nada além de me entregar.

— É inadequado que você fique me olhando assim.

Eu dei um sorriso tímido em sua direção, mas não respondi e nada foi dito depois disso. Quando chegamos ao escritório do diretor, percebi que Severo não precisou dizer nenhuma senha para a gárgula da entrada, ela simplesmente se afastou quando o viu e nos deu acesso a escada em caracol.

O professor Dumbledore nos deu um sorriso gentil quando entramos.

— Ah, Srta. Granger, é ótimo recebê-la. Como estão sendo suas aulas extras com o Severo? Ele não está lhe assustando com seu humor peculiar, está?

Os olhos de Dumbledore cintilaram em direção a nós.

— Menos, Alvo. — Severo rosnou.

Eu dei apenas um sorriso tímido.

— Ele tentou seduzi-la?

Dumbledore arqueou as sobrancelhas e minha garganta fechou. Severo havia contado a ele? Lancei a ele um olhar com um pedido de ajuda, que me foi negado com uma jogada de ombros.

— Você vai assustá-la com suas piadas infames. — Severo respondeu tranquilo e sumiu por uma porta lateral que eu mal havia notado.

— Não ligue, Srta. Granger, a intenção era provocá-lo e não você, mas acho que o Severo está inalcançável ultimamente. Sente-se, creio que ele lhe deu uma tarefa.

— Sim senhor.

Sorri modestamente para o diretor, e me lancei sobre a mesinha de chá que ele me apontou próxima à janela. Um aceno da varinha de Dumbledore a ampliou magicamente para acomodar meu pergaminho, mochila, livros, tinteiro e pena. De alguma forma o gesto dele me deixou bastante à vontade para espalhar tudo sobre a superfície dela e, sem pestanejar, comecei a fazer as pesquisas para a lição sobre o feitiço do Patrono.

Severo voltou ao escritório com um cálice cheio de uma Poção Dourada que eu nunca tinha visto em livro nenhum, entregou o cálice despreocupadamente ao diretor e eles engataram uma conversa trivial, sem muita formalidade. Severo parecia absurdamente confortável debaixo de suas perguntas e eu me perguntei por que Dumbledore disse minutos antes que ele estava inalcançável. Notei o diretor me analisando em mais de um momento e estava quase desconfortável com aquele olhar do diretor.

— Você terminou com a Bettany recentemente, ela veio me procurar.

Minha pena escorregou da minha mão, manchando meu pergaminho e estragando as duas últimas linhas que eu tinha escrito, por sorte, era o rascunho.

— É curioso como, sempre que eu acho que vou ter mais um Snape por esses corredores, você estraga alguma coisa.

O silêncio se instalou pelo escritório, alguns antigos diretores em seus retratos se viraram para encarar os dois bruxos. Eu e Severo nos entreolhamos, sentindo o desconforto antes que eu desviasse os olhos para o diretor e visse uma tristeza genuína espalhada em seu rosto. Severo andou até ele e pegou o cálice já vazio de sua mão boa.

— Chame um elfo, precisa de chá.

Ele saiu do escritório de novo e voltei minha atenção para minha redação. Ouvi o estalo do elfo doméstico que o diretor convocou, mas mantive meus olhos nas minhas lições, o Feitiço do Patrono era difícil para mim. Era engraçado como eu sempre me achei uma garota feliz, mas depois de aprender o feitiço eu não achava minhas lembranças felizes fortes o suficiente para mantê-lo por tanto tempo, muito menos para segurar um patrono corpóreo por mais que alguns segundos. Não sei quanto tempo se passou, até que eu tivesse minha atenção chamada pelo professor Dumbledore.

— Srta. Granger, eu quero lhe mostrar fotos do Severo quando era um estudante. — O diretor se dirigiu a mim, exalando empolgação.

Pisquei os olhos levemente confusa com aquele humor do diretor, tinha certeza que ele tinha mudado da água para o vinho em minutos, mas sorri mesmo assim.

— Eu vou adorar.

Dumbledore me contou que Severo tinha dois amigos muito próximos quando eram estudantes e que até hoje mantém contato, Sam e Arya. Sam trabalha no M.A.C.U.S.A. e Arya é um tipo de organizadora de eventos que também preferiu ir morar nos Estados Unidos depois de se formar em Hogwarts. Fiquei surpresa ao saber desses detalhes da vida de Severo, mas ele não pareceu incomodado com as coisas que o diretor me contou sobre os três como estudantes.

— Severo é um bom amigo para eles. — O diretor sorriu, tamborilando os dedos na mesa. — Mas Arya até hoje não conhece a Londres trouxa, você poderia levá-la quando estiver de férias. Soube que Severo a receberá nas festividades.

— Ah sim, eu vou adorar. — Sorri.

— Acho uma péssima ideia. — Severo interrompeu, me olhando com as sobrancelhas arqueadas.

— E por que é uma péssima ideia? — Dumbledore o fitou por cima de seus oclinhos.

— Os pais da Srta. Granger são egoístas em dividir o tempo da filha. O mundo mágico praticamente a roubou deles.

Quase cuspi a água que tinha acabado de colocar na boca.

— Ah, não seja tão infeliz, Severo. Os pais da Srta. Granger não vão reclamar se ela quiser andar pela cidade com uma conhecida para, quem sabe, conhecer alguns garotos.

— Tenho certeza de que meus pais não vão se importar.

— Também acho, afinal você veio para o meio do nada aprender bruxarias, certo? Se eles fossem mesmo se importar não teriam sido convencidos por um diretor de túnica roxa berrante seis anos atrás.

Eu e o diretor sorrimos, mas Severo se manteve impassível.

— E você precisa também conhecer o Sam. Você deveria apresentá-la ao Sam, Severo, ele e a Srta. Granger iam se dar bem.

— E por que eu faria isso? — Severo apertou o cálice de água que bebia enquanto analisava o diretor friamente.

— Por quê? Bem, vejamos, ambos sabemos que Sam é um jovem espirituoso e a Srta. Granger é uma moça adorável.

— Ela não está disponível.

Percebi instintivamente que o professor Dumbledore o estava provocando. Ele queria fazer com que Severo admitisse algo comigo, desde que pisamos no escritório, mesmo que fosse apenas algo que não fosse tão sério quanto um caso. Ele o estava desafiando e, por Merlin, eu estava gostando e adorando cada resposta corporal que ele dava, embora estivesse consciente que era um risco entregar o que havia entre nós para o chefe dele.

— Fique quieto, Severo, deixe a Srta. Granger responder. — O diretor voltou seu olhar para mim, aguardando uma resposta.

— Bom... Eu... — Olhei para Severo pelo canto do olho, que se mantinha impassível.

O provoco ou deixo isso quieto? Meu consciente gritava para deixar quieto, mas meu lado infantil e completamente disposto à provocação gritava outra resposta.

— Eu não estou em nenhum relacionamento sério ainda. — Sorri amistosa para o diretor antes de olhá-lo, e a sua expressão levemente chocada foi o suficiente para sentir meu ego inflar.

— Ótimo. — O diretor afastou a cadeira, se levantando. — Venha, vamos ver as fotos que prometi.

Levantei-me andando pela porta onde Severo desapareceu antes de nós, escutei um barulho baixo de poções borbulhantes em outro ambiente próximo e deduzi que era por lá que Severo devia estar. Seguimos até um outro cômodo, era uma sala pequena e adornada por quadros antigos de pinturas abstratas, os dois sofás pequenos eram lilases, e tinha uma lareira pequena, sobre ela estavam várias fotos de crianças felizes, brincalhonas e com aqueles olhares eram cheios de brilho, típico da infância. Uma caixa rosa com flores pretas de madeira estava na mesinha de centro entre os estofados. Era pequena, mas quando o diretor espalhou as fotos entre nós, deduzi que ela detinha algum feitiço de ampliação, fiz uma nota mental para pesquisar sobre ele, em uma bolsa, esse feitiço seria muito útil.

As fotos estavam todas soltas em uma bagunça completa e meus olhos estavam tentando decidir qual delas pegar primeiro, mas deixei que o professor Dumbledore me apresentasse às fotografias. Acabei vendo algumas fotos por conta própria enquanto o diretor admirava seus pupilos com preciosidade, peguei uma das fotos de Severo e Sam, outra de Severo com o diretor, continuei olhando as fotos até me deparar com uma em que continha não só o trio mas também uma quarta pessoa, o professor Slughorn. Ele estava sorrindo, abraçando Severo de um lado e Sam de outro, imediatamente percebi que devia ser em um dos seus jantares para seus alunos favoritos.

— Ah, aqui está a Arya. — O diretor sorriu me entregando uma foto.

Arya era uma jovem de olhos azuis, cabelos castanho claros e uma inocência que me transmitia tranquilidade. Seu cabelo estava solto, cascateando sobre seus ombros, os lábios levemente relaxados em um sorriso simpático. Ela me lembrou muito Luna. Voltei a mexer nas fotos procurando por alguma de Severo, até encontrar uma que ele aparentava estar com a minha idade, novo, feliz e determinado. Existia esperança nos olhos, uma atenção que eu ainda não havia conseguido enxergar, mas, apesar de ele estar completamente bonito e atraente na foto, o que me chamou atraiu naquela fotografia foi a mulher a qual ele abraçava pela cintura, pousando suas duas mãos em sua barriga e o queixo descansando no seu ombro. A mulher de cabelos ruivos também sorria feliz e tranquila e pousava suas mãos carinhosamente sobre as dele.

— Quem é essa? — Perguntei com a sobrancelha erguida, sem me importar se estava sendo ou não intrometida quanto à minha pergunta.

O diretor pegou a foto e a encarou tanto quanto eu.

— Essa foi a melhor época de Severo, seu sexto ano, exatamente o que você está agora. Ela acendeu o brilho nos olhos dele... mas também foi aquela que destruiu tudo que ele era.

Ele jogou a foto de volta na caixa.

Os meus pensamentos modificaram por completo o gosto delicioso do chá que Dobby nos serviu assim que voltamos ao escritório quando me lembrava da imagem sorridente de Severo e sua acompanhante. Minha garganta se fechava, se tornava difícil respirar normalmente e minha expressão ficava incrédula a cada vez que ele me olhava. Estava sentada em uma cadeira que havia deixado de ser confortável graças à tensão do meu corpo. Tinha uma vontade absurda de saber imediatamente tudo sobre ela e o passado em comum deles. O que de errado ambos teriam feito para que aquilo se tornasse tão terrível?

E o pior de tudo, era que eu a conhecia. Não sei se era como alguém que você via na rua e se tornara impossível esquecer seus olhos, ou alguém a quem eu já tive algum contato. Mas ela apareceu para mim em algum momento da minha vida que eu não conseguia me recordar e aquilo, acima de tudo, estava me deixando fissurada por respostas.

Foi desconcertante saber que o homem por quem eu estava apaixonada teve o coração partido por outra mulher. Foi uma tortura vê-lo abraçando-a naquela foto. A garganta seca e o tremor das mãos me provavam mais uma vez que eu tinha um medo desconcertante de ser rejeitada. E se ele não se apaixonasse por mim? Se nunca conseguisse me amar como a foto mostrava que ele claramente a amava?

— Quem é a ruiva na foto com você?

Perguntei assim que pisamos o último degrau da escada em caracol e a gárgula se fechou atrás de nós. Isso fez com que Severo estancasse o passo que daria em seguida para me dar total atenção.

— Você a conheceu em Hogwarts, isso é fato. Mas quando você se abriu para mim, você já estava destruído o suficiente para não querer estar com ninguém. Então, quem é ela?

O vi apoiar o peso do corpo no corredor de pedra, desviando sem disfarçar o seu olhar do meu. Dessa vez era ele quem estava fugindo, não eu.

— Eu tenho alguma chance de fugir dessa conversa? — Murmurou colocando seu calcanhar direito sobre sua canela esquerda.

— Sendo sincera, você tem sim. — Respirei fundo desejando que essa não fosse uma opção, porque caso contrário, eu não teria forças para suportar. Nunca tive um coração partido e odiaria que Severo fosse o primeiro a me fazer ter essa experiência. — Mas aí eu teria que desistir disso. — Apontei para mim e novamente para ele, sem deixar espaço para mais desculpas. — Seja lá o que for que isso signifique.

Olhei para os lados procurando por alguém que pudesse estar perambulando pelo corredor.

— Não importa, ela me odeia.

Minha testa ficou levemente enrugada numa confusão contida, busquei seus olhos para os meus, mas sua coragem havia desaparecido espontaneamente, como se falar sobre ela fosse uma vergonha a si mesmo. Seus ombros se encolheram como uma criança quando leva bronca da mãe.

— E com toda razão, mereço tudo isso, toda a rejeição. Mereço cada pedaço dela que me odeia e eu nunca fui bom em lidar com o ódio ou a rejeição. É por isso que ela não lembra de nós. — Ergueu os ombros com o suspiro. — Ela merece uma chance de ser feliz com alguém que não seja tão imbecil quanto eu.

— E eu mereço? — Arqueei as sobrancelhas. — Mereço estar com alguém tão... imbecil?

Finalmente tive seus olhos em mim, Severo parecia temeroso, comecei na tentativa inútil de decifrar o que seus olhos transmitiam, mas cheguei à conclusão de que ele estava temendo o suficiente para se ajoelhar na minha frente se precisasse e me implorar para esquecer esse assunto.

— O que você fez para ela te odiar tanto? — Cruzei os braços mostrando autoridade.

— Casei com ela. Ela entrou de cabeça nisso e eu estraguei tudo.

— Vocês foram casados? — Cobri a boca para coibir meu espanto. — Você ainda sente alguma coisa por ela? Mesmo depois de todo esse tempo?

— Sinto.

Ele desviou de novo o olhar do meu, envergonhado por admitir isso e ainda dizer que me queria. O quão culpado e confuso um homem pode se sentir? Tentei mostrar uma tranquilidade que não tinha, quando ajeitei a minha mochila sobre o meu ombro.

— Vou para o meu dormitório agora. — Soltei todo o ar que prendi e me direcionei para o corredor.

Passei tempo suficiente vendo os meus pais e imaginando o amor perfeito. Idealizando que me entregaria ao homem certo e faria com que as coisas funcionassem para mim e para ele. Via este tipo de homem em Severo, mas eu não precisava saber de muito para compreender que não havia espaço para mim em seu coração. Nosso relacionamento era no máximo uma paixão forte alimentada pela guerra iminente e agora tinha chegado ao fim. Era assim que precisava ser porque eu não suportaria a ideia de ter algo com alguém que pensa e ainda nutre sentimentos por outra mulher. Torturante, essa era a palavra certa. Era como se você não soubesse nada e mesmo assim se jogasse ao mar para salvar alguém que não quer ser salvo, e eu não ia me afogar só porque ele estava disposto a fazer isso por outra mulher. Eu não estava disposta a ter meu coração partido nos meus dezessete anos e desacreditar do amor por causa dele.

Apesar de ter acreditado fielmente que aquela conversa tinha chegado ao fim, ela não tinha. Meu corpo deu um solavanco para trás quando Severo me puxou de volta, fazendo com que a minha bolsa frouxa, presa nos meus ombros, escorregasse até que caísse no chão.

— Meu aniversário é dia nove de janeiro. — Disse olhando no fundo dos meus olhos. — Eu odeio esse dia, ele não é importante para mim.

— Me deixe adivinhar por quê... — Semicerrei os olhos rindo sarcasticamente. — Ela. Foi por isso que não me disse a data?

Sua expressão foi a afirmação que eu precisava para concretizar que, mais uma vez, eu estava certa. Puxei meu braço com a mesma força que ele havia me puxado e saí andando pelo castelo, desci os lances de escadas praticamente correndo, só parei quando percebi que já estava nos jardins e totalmente encharcada pela chuva que desabava do lado de fora. Corri até a estufa número um e, felizmente, ela estava aberta. Meus pés molharam todo o piso, e meu cabelo pingava, joguei minha mochila no chão e fiquei amaldiçoando a mim, a Severo e a tal ruiva.

Ela não tinha culpa, me pareceu, mas mesmo assim consegui odiá-la instantaneamente. Eu consegui odiá-la e não consegui odiar tanto Bettany, vai ver é porque eu sabia que, apesar de ter tido algo com Severo, ela não havia interferido tanto na vida dele quanto a mulher da foto. Eu quis gritar e xingá-la com palavras indecentes, mandá-la para o inferno, fazer algo que a apagasse de uma vez por todas da vida, da mente e do coração de Severo. Ela não era a mulher certa, eu era. Mas como fazê-lo entender isso quando ele por si só admitiu tão de imediato que ainda sentia algo por ela? Meus dedos apertaram a bancada de pedras onde cuidávamos das plantas e comecei a respirar pesado tentando tirar aquela dor que parecia querer cuspir pela minha garganta. Meu estômago embrulhava só de pensar que eu estava mesmo abrindo mão dele.

Severo abriu a porta de repente, também encharcado pela chuva mas não olhou para mim quando entrou. Eu estava totalmente desesperada porque queria que ele relutasse, dissesse algo para me convencer, que me fizesse mudar de ideia, até que ele gritasse comigo, mas ele era a merda de um homem calado e incapaz de lutar para me ter, graças à uma ex mulher que o odiava e eu nem conseguia entender o porquê disso.

Eu devia ter escutado quando ele disse que não sabia o que estava fazendo, ele gostava de mim, mas isso não era suficiente. Nunca saberia, afinal, o que é suficiente para duas pessoas ficarem juntas sem nenhuma jurisdição. Eu queria socar alguma coisa. Estava tão brava comigo, com ele, que achei que não fosse controlar toda a pressão que me impulsionava e a qualquer momento minha magia poderia implodir e espatifar os vasos ao nosso redor. O ar dentro da estufa era pouco demais para que eu conseguisse respirar. Abri a porta, que rangeu e foi o que fez com que ele olhasse para mim finalmente.

— Tudo bem? — Perguntou intercalando os olhos entre mim e a vidraça da estufa.

— Olhe pra mim! — Quase gritei. — Eu pareço bem?

— Não preciso olhá-la olhar para dizer que você está péssima. Eu sei que você está irritada comigo, acredite, eu também estou comigo mesmo. — Ele quase gritou de volta.

— Eu não estou irritada com você. Eu estou com ódio dela!

Ele me encarou de repente, ambos estávamos ofegantes pela discussão. Seus olhos estavam me questionando.

— Eu a odeio porque ela não te dá chance de amar outra pessoa, e não deixou nenhum espaço para que eu pudesse ocupar no seu coração. Eu a odeio por ter te domado, era pra você estar assim por mim e não por ela. — Sussurrei a última frase, inconstante, eu sabia que aquilo era improvável. Ela foi esposa dele. — Eu queria que ela não tivesse estragado seu aniversário, nem estragado o que você era antes dela. Agora estou temendo o que eu vou me tornar depois de você.

Esperava que ele gritasse de volta, que brigasse comigo, mas outra vez ele foi impassível. Permaneci imóvel, com os dedos entrelaçados no meu colo e o coração desmantelado de tanta frustração. Severo passou por mim, abriu a porta da estufa e saiu, fiquei observando pela vidraça seus passos a seguir mas ele não fez nada que eu imaginasse que fosse fazer. A chuva completou o trabalho de deixá-lo mais encharcado. Ele foi para até as plantações de sebe na traseira da estufa e vi quando desferiu vários chutes nos vasos.

Eu não o tinha visto tão furioso até então. Fiquei estática sem saber o que deveria fazer, mesmo que fosse óbvio que eu precisava ir até lá e convencê-lo de que ficar na chuva não o livraria do que a ex mulher fez com ele. O sentimento de vê-lo abalado era pior do que vê-lo amando outra mulher e isso era estranho já que ele amava alguém que, provavelmente, não dava a mínima para o que ele estava sentindo.

Eu poderia dizer que conhecia bem o sentimento, mas, apesar de não tê-lo me amando, eu o tinha fisicamente e por um lado ele se importava comigo. Era uma questão de se sensibilizar pelo pouco que a pessoa que você ama e se importa fez por você, pegar aquele pouco e transformá-lo na forma perfeita de companheirismo. Bufei ao sair da estufa e ao bater a porta com força. Severo olhou para mim, parando rapidamente de dar sequência aos seus chutes inúteis. Inúteis porque, infelizmente nada daquilo mudaria o seu passado.

As gotas grossas de água desmoronavam em nossos corpos, estava ensopada e com os lábios tremendo em contato com a água fria. Abracei-me pela cintura numa tentativa fraca de me aquecer, a inutilidade dos meus braços no momento me deixou frustrada, mas continuei com os olhos nele. Estávamos nos encarando como sempre fazíamos, extasiados, sendo absorvidos um pelo outro, em uma colisão que fazia com que meu corpo perdesse os cinco sentidos. Vivia nesse impasse, mas precisava admitir que tudo isso me fazia sentir viva sem que eu soubesse que antes estava morta.

— Eu estou tão irado com você que não posso nem te olhar agora. — Ele soltou em minha direção e voltei a me encolher, abraçando-me com mais força. — Não posso discutir agora com você. Então não me olhe assim, porque eu não quero ficar numa boa com você.

Minha primeira impulsividade foi gritar. Eu queria gritar com ele até que minha garganta coçasse e eu ficasse completamente rouca, sem voz alguma para argumentar depois, mas me entregar dessa forma não era o que eu queria. Vê-lo sem defesa alguma, frágil, me fez desistir da ideia de fazê-lo sentir exatamente como eu me sentia.

— Eu acho que isso nunca daria certo mesmo, Severo. Cresci vendo meus pais se amarem, lutando por aquilo que eles sentiam, eles podem demonstrar o que sentem em público, porque não é proibido. Acho que quero minha vida assim, e não viver à sombra de um relacionamento onde você não pode andar de mãos dadas com alguém porque a sociedade não permite ou porque ele é seu professor, e claro, velho demais para você. Eu quero estar com alguém que possa estar comigo e que eu não esteja disputando com uma ex mulher.

Consegui dar passos apressados em direção a estufa. Apanhei minha mochila e saí para voltar ao castelo. Olhei-o, ele continuava parado no mesmo lugar, mas puxando seus cabelos, os bagunçando ainda mais pavorosamente. As lágrimas que eu tanto ignorei até ali se cansaram daquela prisão sem fim, decidiriam que era hora de se libertar e eu deixei. Deixei que elas descessem silenciosamente, juntando-as com as gotas da chuva. Era um choro silencioso, sem drama, ofego ou balbúrdia. Eu não queria nada além do que o necessário para me livrar das impurezas que me foram colocadas por causa daquela situação desgastante. Queria que elas fossem embora para não voltarem mais.

Segui apressada pelo jardim e ele me alcançou em questão de segundos. Sua respiração densa mostrava cansaço e hesitação.

— Você está certa. E odeio o fato de você estar certa. — Ele encarava o céu cinzento pela chuva e praguejou antes de pressionar os lábios em uma demonstração desconcertante de autocontrole. — Essa situação com você é um vício, e como todo vício precisa ser tratado. — Ele olhou para mim percebendo que eu não havia me movido para olhá-lo e nem diminuí meus passos. — Isso está errado.

Eu não respondi, já tínhamos chegado aos degraus de entrada e eu só conseguia pensar no quanto seria difícil para mim voltar para o lado acadêmico da situação. Mas precisávamos voltar a ser apenas professor e aluna antes que fosse tarde demais para mim. Severo já estava acostumado a ter um coração em pedaços e se nem Bettany conseguiu restituir aquilo que ele tinha deixado se partir, por que eu conseguiria? Sendo honesta comigo e com a minha mente, precisava admitir que nosso relacionamento durou dois meses inteiros e tudo foi ótimo, as sensações que ele despertou em mim, a vontade intensa de me entregar a ele, eu ainda conseguia sentir o desejo estagnado na minha pele, elegendo a um formigamento que era ao menos confortável, mas acabou.

Alcancei o último degrau, respirando para conseguir falar, tentando não olhá-lo. Precisava ser firme, não sentir dor e, principalmente, não chorar. O choro estava bem ali instalado na porta de minha garganta, esperando que ele fosse embora para se libertar.

— Obrigada. — Joguei os ombros para cima tentando parecer indiferente. — Por tudo.

— Quando você diz obrigada por tudo, você quer dizer, obrigada por ser um idiota e estragar tudo?

Olhei-o pelo canto do meu olho esquerdo, vendo nitidamente seu corpo ereto em uma tensão justificada.

— Isso principalmente.

Percebi que a tensão em seus músculos estava me preocupando, a forma como seus punhos estavam fechados ao lado do seu corpo era apavorante.

— Obrigada também por ter me tirado daquela festa, eu nunca vou esquecer.

— De volta à estaca zero?

— Boa noite, professor Snape.

Corri pelo saguão de entrada me sentindo abandonada, olhei por toda a extensão das escadas se movendo, sentindo-me congelada por dentro e por fora. Por mais que tivesse acabado para não correr o risco de ter meu coração partido no futuro, ele estava em pedaços e eu estava amando Severo Snape mesmo assim. Caminhar pelo jardim, chegar aos pés da escada, dobrar o corredor até o buraco do retrato e deixá-lo para trás foi difícil, precisava admitir.

O tempo que ficamos juntos foi curto, mas o suficiente para fazer doer, por isso, parei ali mesmo antes de entrar na minha Sala Comunal, antes de ter que sorrir e dizer que tinha ocorrido tudo bem na aula de reforço, pois eu não queria mais mentir. Aquela seria a minha última mentira aos meus amigos. O problema ali era a espera, eu esperava demais, esperava dele, de mim, esperava que em algum momento tudo aquilo fosse se transformar em algo real. Então pacientemente, coloquei meus pensamentos em ordem, eu sempre funcionei a base de planos e continuaria assim. O plano agora era me provar uma bruxa excelente, vencer uma guerra, iniciar um plano de carreira no Ministério da Magia e nunca mais me lembrar de Severo.

Uma coruja me alcançou na minha poça de água e tristeza do meio do corredor e me lançou uma carta. Desanimada, acariciei a penugem do pescoço da ave e peguei o envelope. É uma mensagem da minha mãe, repetindo a mesma informação que me disse há uma semana de que me quer em casa para uma reunião de família. Esse é o único motivo que me dá ânimo para levantar da minha infelicidade e correr para o chuveiro. Vou até minha casa trouxa amanhã à noite, e vou contar tudo para minha mãe e chorar no colo dela, enquanto ela enterra os dedos nos meus cabelos e me diz que tudo vai ficar bem.


Notas Finais


Beijos e até o próximo!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...