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História Estações - Segunda Temporada - Xeque-mate


Escrita por: AleSinclair

Notas do Autor


Boa tarde, beninas, turubô? No vídeo de hoje teremos uma pequena modificação, pois a Key, vulgo autora, está curtindo o carnavrau e deixou euzinha (que só curte o conforto da cama) responsável pela atualização.

Ps. da autora: A demora foi por motivos de uma vida adulta com complicações no trabalho, perdoem.

Sem mais delongas, um capítulo de quase 7k de palavras (revisadas) para vocês curtirem.

Capítulo 32 - Xeque-mate


Pov Camila

Assim como tantos outros momentos, o despertar foi doloroso. Meu corpo queimava de dentro para fora, enquanto eu lutava para conseguir respirar, descobrindo rapidamente que algo obstruía a minha capacidade de puxar oxigênio através da boca. Não tinha forças o suficiente para abrir os olhos, então percebia as coisas – lentamente – através de meus outros sentidos.

Primeiro, existiu a dor. Eu sabia que veneno corria por minhas veias, eu podia senti-lo dentro de meu corpo, corroendo e destruindo tudo que alcançava. Ao mesmo tempo em que eu sentia meu próprio sistema se defendendo, lutando bravamente, resultando nos pequenos tremores musculares, tontura e a sensação febril. Depois, escutei vozes vindas de todos os lados, sons mesclados e estranhos, alguns tão altos que machucavam meus tímpanos e levava a uma confusão momentânea. O sabor do veneno se fez presente pouco a pouco em meu paladar, junto com a sensação de que a região interna de meu nariz e garganta estavam queimadas. Minha mente logo buscou a informação de como aquilo tinha acontecido, fazendo com que meu corpo reagisse prontamente ao lembrar do que tinha acontecido.

Ally. Troy. Lauren. Escuridão.

Meus olhos se abriram de maneira abrupta, o ar sendo puxado rapidamente pelo nariz enquanto meu corpo entrava em estado de alerta. Pisquei varias vezes, a visão retornando mais lenta do que eu almejava. Estava em uma espécie de agrupamento improvisado, reconheci algumas instalações para armamentos e suprimentos. Mas nada de tendas ou barracas, não configurando o local como um acampamento militar. Ao olhar em volta, vultos ou formas sem definição eram processados por meu cérebro cansado. Eram monstros? Elfos talvez? Aquelas coisas grandes eram orcs ou gigantes?

A febre provocava tontura e náuseas, minha pele parecia queimar enquanto a batalha contra o veneno acontecia dentro de mim. Tornei minha cabeça para o lado, mal conseguindo sustentar o peso dela, vendo contornos de um pequeno grupo que parecia agitado demais. Franzi o cenho, sentindo minha pele suando na testa e na lateral de meu pescoço. Quando minha mente focalizou e se tornou mais nítida, eu dei graças aos deuses por algo tampar a minha boca, ou eu teria gritado de ódio naquele momento.

Aeralie estava ali, naquele círculo de inimigos, ao lado dela uma mulher elegante, mas de semblante severo. Se eu precisava de mais provas ainda de que a elfa outrora nossa aliada tinha juntado forças com o inimigo... Estar ao lado de Despina apenas confirmava as coisas. A deusa do inverno, minha tia, a filha de Deméter abandonada e temida, estava ali há poucos metros de distância de meu corpo. Forcei a minha mente a tentar perceber ainda mais coisas ao meu redor, sentindo o mundo girar por um breve momento antes de conseguir olhar para baixo. Estava envolta de correntes que cobriam quase todo meu tronco, incapacitando o uso de minhas mãos. Os meus pés flutuando a quase um metro do chão apenas me diziam que eu estava pendurada, o que justificava a sensação de desequilíbrio constante.

Tentei usar de meus poderes. Fazer a terra me auxiliar ou até mesmo criar uma raiz que quebrasse o apoio que me sustentava no ar. Mas nada aconteceu além da vontade de vomitar, o que seria péssimo e desesperador já que tinha algo em minha boca! O veneno queimou ainda mais dentro de mim, fazendo-me resfolegar baixinho, levando o restante de minhas forças para não fazer barulho.

Meus olhos fecharam, pesados demais para serem sustentados. Escutei as vozes vindo do grupo, merda eles estavam falando naquela mesma língua com que Aeralie falou no castelo élfico. Parte de minha mente ainda se questionava o porquê e como aquela elfa teve a coragem de ir contra o próprio povo!

— Vossa majestade! — Escutei uma voz distante, mas mesmo em meu estado eu conseguia perceber o desespero em seu tom. — Eles descobriram nossos planos, nosso exército está sendo derrotado. Quais são suas ordens?!

A sensação de alívio veio acompanhada do som de um trovão a distância. O clima estava esfriando e eu não poderia saber se era por causa da tempestade que parecia se formar a longa distância; ou pela deusa do inverno que recebia aquela notícia. Eles estavam lutando e estavam vencendo! Eu sabia que Lauren seria meu grande trunfo, ela sempre era e sempre seria a nossa melhor guerreira e líder.

Lauren!

Entreabri os olhos, tendo um vislumbre ligeiro de algo passando ao meu redor, acompanhado de eletricidade. Durou poucos segundos até desaparecer, ao mesmo tempo em que outro trovão poderia ser escutado, só que ainda mais próximo.

— Eu disse que não era preciso matar aqueles gregos! — Aeralie comentou, a voz dela repentinamente mais próxima.

— Todos os gregos deveriam morrer aqui, elfa. — Despina lembrou em um tom gélido.

— Chega, vamos nos preparar para tentar uma emboscada, essa ainda é a nossa melhor chance. — A voz de alguém desconhecido impôs. — Livre-se dessa garota e não demonstre hesitação como você fez anteriormente, elfa da floresta.

Meu coração disparou e eu lutei o máximo possível para manter-me quieta, não demonstrando sinais de que tinha despertado. Essa era uma das poucas vantagens que eu tinha em mãos: eles não sabiam que eu tinha despertado, ou eu já estaria morta ou sendo atacada. Mas esse se mostrou um desafio do qual eu poderia falhar miseravelmente a qualquer instante, já que era revelado que foi a traidora quem também assassinou Troy e Ally. Meu instinto, meu impulso, meu ser por inteiro implorava para que eu atacasse de alguma forma, vingasse meus amigos que estavam ali apenas para ajudar o povo dela! Como se não bastasse ser a informante que denunciava nossos movimentos para o inimigo, tinha sido aquela mesma elfa quem matou a filha de Apolo e o garoto de Atena.

— Eu não mostrei hesitação, eu estava tentando cumprir com meu objetivo de tentar descobrir a profecia que aquela filha de Apolo recebeu! Tudo teria dado certo se aquele idiota não tivesse aparecido e você não tivesse entrado em pânico! — Aeralie vociferou nervosa.

— Cuidado, elfa, eu ainda sou uma deusa e você não passa de um pequeno auxílio que pode ser facilmente substituído!

Despina não soou apenas ameaçadora, mas também como o verdadeiro anjo da morte. A temperatura caiu drasticamente e eu escutei Aeralie arfar e implorar por misericórdia. Seja o que a deusa estava fazendo com ela, foi eficaz o suficiente para fazê-la se redimir e temer a divindade.

— Voltarei para o meu mundo, aqui já não é mais seguro. Mas deixarei reforços, rei dos elfos. Não me decepcione! — Minha tia falou e segundos depois eu tinha a sensação da temperatura se elevando minimamente.

Meu corpo foi movido. O som de correntes ressoou próximo de mim, indicando de que a elfa traidora estava cumprindo com sua ordem. Engoli em seco, tentando concentrar em meu interior. Não poderia entrar em desespero agora, mesmo que o medo perpetuasse como um incêndio dentro de mim. Não o negaria, naquele exato momento estava apavorada com a ideia de não conseguir contar aos outros o que estava acontecendo, quase entrando em pânico com a simples noção de que se não fizesse algo... Eu jamais veria Lauren Jauregui novamente. Então não permitiria ser conduzida pelo medo, mas o usaria como combustão para ter coragem e força.

Pela inclinação em que estava e pela forma como estava sendo carregada, eu sabia que estava sendo levada sobre o lombo de algum animal. Um cavalo provavelmente. Não ousei abrir os olhos, precisava me concentrar para auxiliar meu corpo com o combate ao veneno. Se existia algo que um semideus experiente deveria saber, era como controlar o seu fluxo de energia interno. Todos nós tínhamos uma fonte dentro de nós, que funcionava como uma segunda circulação. Para nós, filhos de deuses, ela era a principal forma de manifestar nossas habilidades peculiares. Se eu pudesse melhorar aquele fluxo em um pequeno espaço de tempo, acelerando o processo de cura venenosa aproveitando de toda a minha ligação com a flora...

— Eu sinto muito Camila. — Escutei Aeralie falar, como se estivesse se despedindo de mim. Seu tom pesaroso e um tanto culpado, mas não hesitante. — Esse mundo está todo errado e amaldiçoado, nós precisamos destruí-lo para poder reconstruir da maneira certa.

Senti o possível cavalo parar e o som de pés pousando pesadamente sobre um chão. O vento estava mais intenso e eu sabia que estávamos em uma região bastante alta, o ar rarefeito auxiliava nessa dedução.

— Espero que todos não tenham uma morte dolorosa, mas vocês precisam ser derrotados para que esse mundo se torne justo novamente. Um mundo em que alguém como minha mestra não precise ser sacrificada e ninguém seja abandonado, assim como eu fui.

Eu sabia que o que a elfa dizia tinha certa importância, mas minha concentração ainda estava voltada para o combate ao veneno, sentindo cada vez mais as minhas forças voltando. Meus sentidos se tornavam mais apurados, a conexão com a natureza ao meu redor dando ainda mais impulso a aceleração que provocava. Escutei um suspiro, meu corpo parecendo ainda mais febril a medida em que combatia a substância nociva. A sensação de que restavam apenas poucos segundos para que tudo desmoronasse estava me sufocando e quase distraindo.

Senti o chão sobre meus pés, sendo esta a conexão direta com a terra que eu precisava para receber a fluxo de energia vindo diretamente do chão; como se estivesse sendo abençoada pela própria natureza com um pouco de sua força vital. Abri meus olhos com determinação e fúria, encarando uma surpresa elfa. Tudo pareceu acontecer em câmera lenta a partir desse momento, ao compasso em que tudo se tornava caótico.

Pelo susto de finalmente perceber que eu tinha despertado, as mãos da traidora me empurraram. Meu corpo estava caindo ao mesmo tempo em que eu comandava as raízes, fazendo com que elas crescessem em uma velocidade que eu nunca tinha conseguido alcançar antes. As raízes envolveram a criatura nórdica de maneira dolorosa, perfurando alguns pontos de seu corpo arrancando gritos de tortura da elfa.

Mas logo eu estava despencando do que parecia ser um penhasco.

A queda parecia sem fim, arrancando o restante de ar de meus pulmões. Tentei me debater e até mesmo usar a terra do penhasco para tentar me salvar. Mas eu ainda não estava totalmente recuperada, tendo usado o acúmulo de energia que tinha improvisado no ataque surpresa a Aeralie.

Então escutei trovões e eu soube que ela estava ali.

De repente o despencar se tornou mais suave, até que braços circularam meu corpo de maneira protetora e firme. O cheiro e o calor do corpo de Lauren preencheram meus sentidos, fazendo com que eu quase desmaiasse perante o alívio e a sensação de segurança. Em poucos segundos, a filha de Zeus me carregava para o topo do penhasco, pousando sobre o chão provocando uma onda de ar ao nosso redor com o impacto.

Lauren me colocou no chão, partindo as correntes com as mãos ao aplicar a sua força exuberante. Ela retirou a mordaça que estava sobre meus lábios, os olhos verdes demonstrando preocupação mesmo que seu semblante ainda exibisse a fúria. Aquela era a minha Lauren, por completo, sem fragmentos de consciência ou um de meus sonhos. Assim que fiquei livre, eu a abracei com tudo o que eu tinha.

Por um singelo momento, eu ignorei a guerra e me entreguei a sensação de estar nos braços dela novamente. O choro veio silencioso, pois mais uma vez eu tinha quase morrido, ao mesmo tempo em que nossos amigos também tinham perdido a vida horas atrás. Jauregui não demorou a me envolver e manter contra seu corpo, me deixando beber da existência dela para me manter sã e reunir as forças que precisava para sobreviver até o final do dia.

Mas então ruídos de dor e sofrimento preencheram nossos ouvidos, nos lembrando de que não estávamos sozinhas. Aeralie, apesar de meu ataque, não estava morta. Em meu pensamento, mesmo que simplório ao comandar as raízes, era de que ela não deveria morrer ainda.

— Sua filha da puta! — Lauren esbravejou avançando em direção a Aeralie.

Antes que eu pudesse impedir, a filha de Zeus aplicou um soco que, por muito pouco, não quebrou o maxilar da elfa. O que me fez ter certeza de que ela estava se controlando, talvez tendo o mesmo pensamento que eu tive: ela não merecia uma morte misericordiosa e sem passar todas as informações possíveis. Lauren deu alguns passos para trás, encarando a traidora com um misto de ódio e nojo, impondo uma distância segura para que não acabasse a matando de uma vez.

Só então eu tinha percebido o que tinha feito.

Diversas raízes envolviam a elfa, a mantendo totalmente imóvel. Algumas pontas atravessavam o corpo dela, como as panturrilhas, ombros e até mesmo no antebraço. Nenhum ponto vital parecia ter sido atingido, o que mantinha a criatura nórdica em um estado precário e doloroso de vida.

— O que... O que você usou em mim?! — Questionei, cambaleando em meus primeiros passos, mas logo conquistando força em minhas pernas para estar ao lado de Lauren. — O que você usou para me envenenar?

— Eu não sei como você... você ainda consegue se mexer assim. — Aeralie disse com dificuldade, a cada segundo ficando mais pálida. — Era um veneno paralisante e doloroso, mas não mortal. Como você...?

O ar se tornou ainda mais tenso ao redor de Lauren e eu precisava admitir, até mesmo a minha aura sombria estava ganhando força naquele momento. A filha de Zeus faiscava, eletricidade escapando de sua epiderme exibindo o pouco de autocontrole que Jauregui possuía no momento.

— Eu deveria matar você da pior maneira possível, mas acho que nem mesmo a morte seria o suficiente para o que você fez, maldita! — Lauren voltou a avançar e Aeralie pareceu ficar ainda mais assustada. — Você apenas iria para um inferno qualquer e se livraria rapidamente. — A garota de olhos assustadoramente verdes deixou a mão a centímetros do centro do peito da elfa, lançando eletricidade de seus dedos em direção ao corpo da traidora. Ela tremeu levemente, piorando ainda mais as feridas. Ao mesmo tempo em que começava a sangrar mais ainda, já que a carga tinha acelerado o batimento cardíaco, ocasionando uma intensificação na corrente sanguínea — Por que diabos você se uniu a eles? Que merda você tinha na cabeça?! — Lauren foi agraciada apenas com murmúrios e sons de sofrimento. Ela lançou mais uma onda de choque, não o suficiente para matar a elfa, mas sim para provocar ainda mais dor e intensificar os ferimentos dela. — Fale!

Eu sabia que no passado, eu teria sido contra a tortura. Mas tinha sido aquele ser quem matou Troy e Ally, quem nos enviou para uma armadilha no castelo e, consequentemente, permitiu que Matt morresse. Se não fosse por ela, se não for por aquela elfa, eu teria meus amigos e aliados vivos, lutando ao meu lado naquele momento! Então, eu me permitir ser abraçada pelo rancor e pelo luto, assistindo Lauren liberar a sua própria fúria.

— Minha amada sacerdotisa morreu por esses bastardos! Eles sempre duvidavam de mim! Mas ela era perfeita, ela era linda e uma criatura que merecia um lugar ao lado dos deuses e não uma morte estúpida por causa desses orgulhosos. Eles a tiraram de mim, me deixando sozinha!

Aeralie esbravejou com o restante de forças que tinha. Minha memória foi jogada para o dia em que tínhamos chegado no mundo dos nórdicos. De como, ao explicarem a situação atual de guerra, tinha sido falado de como uma elfa sacerdotisa sacrificou a própria vida para criar uma barreira protetora ao redor da cidade. Uma alma corajosa que doou o restante de suas forças para proteger toda uma civilização élfica. Como Aeralie poderia ter distorcido isso e jogado as emoções deturpadas e egoístas dela contra nós?! Como se o mundo inteiro girasse em torno dela e suas feridas, sendo ela a única quem tinha perdido alguém importante naquela maldita guerra.

Lauren rodeou Aeralie, até segurar firme na parte de trás da cabeça da elfa. A mão começou a faiscar e pelos gritos que a nórdica liberava, eu sabia que ela estava sofrendo com os choques direcionados ao cérebro. Jauregui ergueu o olhar para o alto antes de finalmente soltar a traidora, permitindo que a cabeça dela tombasse para a frente. Eu sabia que ela estava viva por um fio, seja pela perda de sangue ou pelos golpes sofridos pela Lauren. Mas, mesmo que ela sobrevivesse, duvidava que ela fosse sequer algo próximo de normal novamente. Não depois de ter toda a rede neural dela atrapalhada por uma filha de Zeus estupidamente poderosa. Eu poderia apostar que mesmo sem ser humana, elfos também tinham similaridade na forma em que nossos cérebros funcionavam e por quê isso é importante? Toda a nossa rede de informação funcionava com impulsos elétricos internos.

Para minha surpresa, existia um motivo para Lauren fitar um ponto acima de nós. O bater de asas logo foi audível, assim como o pousar gracioso de Louise, a líder das valquírias. O olhar da morena mais velha repousou sobre Aeralie, cheio de pena e remorso.

— Ela está viva. — Lauren afirmou defensivamente.

— E talvez preferisse estar morta agora. — Louise admitiu, lançando um olhar para mim antes de jogar algo em minha direção. — Você parece precisar disso. Conversaremos depois, ainda temos uma guerra para vencer.

Eu poderia apostar que descobrir que Lauren esteve certa esse tempo todo era como um golpe fatal para Louise. Mas a líder das valquírias estava certa quando colocava que ainda precisávamos batalhar. Em minhas mãos estava uma poção simples de cura, algo que eu bebi rapidamente sentindo um efeito quase imediato.

Lauren tornou a se aproximar, dessa vez com o olhar verde examinando cada parte de meu corpo antes de tocar meu rosto levemente.

— Consegue batalhar? — Ela questionou sem esconder o instinto super protetor.

— Nem mesmo você conseguiria me impedir. — Garanti com confiança.

— Não ousaria.

— Milady, eles estão seguindo em direção a batalha principal, estão usando o Vale do Amanhecer como rota. — Uma segunda valquíria, trajando uma armadura linda e dourada, pousou ao lado de Louise. — Quais são os seus comandos?

— Destruir todos eles. — Louise determinou prontamente.

— Eu acho que o rei dos elfos negros está lá. Escutei alguém usando "vossa majestade" e pedindo também por ordens. — Falei prontamente e olhei para Lauren. — Despina também estava aqui, mas retornou para Terra ao descobrirem que os planos não deram certos.

— Covarde! — Lauren rosnou.

— Pegue Aeralie, avise as outras que vamos entrar em combate assim que encontrarmos o nosso inimigo. Não podemos deixar que eles cheguem próximos do outro campo de batalha, estamos finalmente vencendo.

Louise abriu as asas e voou, fazendo com que eu finalmente percebesse que acima de nós estava o grupo inteiro de valquírias. Menos, é claro, Johanna. Um braço rodeou firmemente a minha cintura, até que Lauren me fez voar ao lado dela.

— Merda, é errado dizer que sentia falta de voar com você nesse momento? — Questionei sem conseguir esconder o contentamento na sensação de estar voando nos braços dela novamente.

Jauregui abriu um pequeno sorriso, antes de voltar a concentrar e seguir as mulheres aladas. Uma delas desviou o caminho, sendo a responsável por carregar Aeralie. Desconfiada, olhei para Louise apenas para ver que tinha sido apenas uma ordem manifestada pela própria líder. A nórdica alada apenas acenou com a cabeça, seu olhar determinado com um quê de fúria me satisfez mais do que deveria. O destino final de Aeralie provavelmente seria repleto de punição pela traição cometida.

Eu sentia uma certa agitação, um anseio por liberar aquela energia em forma de batalha. A vontade de derrotar aqueles elfos negros e gigantes era dominante e imperativa. Parte disso apenas somava ao fato de que agora eu estava com ela. Com a filha de Zeus, minha alma gêmea. Merda, tínhamos a comunicação especial e mágica, mas nada jamais se compararia com a versão original de Lauren Jauregui. Naquele momento eu estava preenchida de adrenalina e com a sensação de que poderia conquistar todos os nove mundos nórdicos. Por isso, quando nos aproximamos de um vale, meu corpo inteiro pareceu entrar em júbilo.

— Aquela maldita ainda deixou alguns de seus minions. — Lauren rosnou baixo, seus olhos fixos no inimigo.

— São mais do que eu esperava. Estamos só com as valquírias de aliadas. — Comentei de maneira realista. Eles eram centenas, enquanto nós deveríamos ser, no máximo duas dúzias de garotas guerreiras. O que me fez sorrir mais ainda. — Isso vai ser um massacre.

Lauren sorriu grande, não escondendo a sua agitação e próprio contentamento com o combate. Aquilo visto fora de contexto poderia soar até mesmo algo anormal, próximo de um transtorno mental por estar recebendo determinada dose de contentamento por uma batalha quase suicida. Mas éramos descendentes de deuses, tínhamos inevitavelmente hiperatividade por sermos guerreiros, nossos cérebros processavam muito melhor o grego e o latim do que qualquer outra língua. Nós tínhamos nascido para isso, para combater e evitar que o mundo entrasse em colapso pelos jogos divinos e ironias do destino. Com os nórdicos não era diferente, eles viviam para morrer honrosamente em um campo de batalha, para então ascender para Valhalla onde lutariam durante o dia e festejariam durante a noite.

Não foi difícil reconhecer o rei dos elfos negros. Ele estava rodeado por um círculo de guerreiros, bem armados e atentos. Por todo o trecho do vale, o pequeno e poderoso exército marchava em uma velocidade assustadora para criaturas como aquela. Eles logo alcançariam a batalha principal, o que poderia ocasionar em uma virada de jogo favorável ao nosso inimigo. Sabendo que logo estaríamos abordando os elfos e outras criaturas, Louise voou ao nosso lado.

— Cabello, Jauregui... — A valquíria começou, porém, hesitando em continuar. — Vocês precisam derrotar o rei. Nós conseguimos lidar com todo o resto se vocês derem conta dele. Mas não se enganem, ele não tem esse título à toa!

— É bom que você saia inteira dessa. — Lauren pronunciou em um tom hostil, mas com um sorriso de canto preenchendo seus lábios em seguida. — Não quero desculpas para quando eu derrotar você em um duelo justo.

Louise piscou duas vezes antes de gargalhar e voar em direção as outras guerreiras aladas. Sorri orgulhosamente de minha garota, pois mesmo que ela tenha feito um desafio, ela estava desejando boa sorte a uma pessoa que não gostava, mas ao mesmo tempo não merecia morrer. Não ao menos sem que ela a derrotasse antes. Eu senti o aperto dos braços de Lauren ao meu redor intensificar, em breve estaríamos próximas o suficiente para atingir o nosso objetivo.

— Camz... Vingaremos todos que caíram em combate hoje e antes. — Lauren murmurou, o olhar determinado com um brilho que provocaria inspiração em uma legião de guerreiros.

— Vingaremos Ally e Troy.

Isso foi o suficiente para que nosso espírito de combate atingisse o seu ápice. Lauren aumentou a velocidade de voo, provocando um incomodo pequeno com as correntes de ar colidindo contra meu corpo ao atravessarmos aquela distância em pouco tempo. Quando o inimigo percebeu nossa aproximação já era tarde demais. Arqueiros apontaram suas flechas em nossa direção, mas os projéteis foram repelidos por correntes de ar assim que foram soltos do cordel da arma.

Ao pousarmos a poucos metros de distância da guarda pessoal do rei, existiu aquele efeito de poeira sendo levantada e o abalar do chão com o impacto. Lauren Jauregui definitivamente sabia como fazer uma bela entrada. Os guerreiros da realeza empunharam suas armas prontamente, mas assim que meus pés tocaram o chão um sorriso foi desenhado em meus lábios. Afastei alguns passos de Lauren ao esticar as mãos para os lados, tendo pleno poder e contato sobre a natureza ao meu redor, fiz com que construções rochosas fossem formadas, pontiagudas e fatais ao atravessarem o corpo dos elfos negros. A velocidade tinha sido tão surpreendente, que apenas alguns tiveram a intenção de desviar do ataque, mas sem obterem sucesso por ter sido surpresa.

O rei nos fitou com ira em seus olhos esbranquiçados. Ele possuía a pele acinzentada e longos cabelos prateados. Era a personificação de um personagem vilão de algum role player game elaborado. Usava uma armadura escura, que transmutava entre a cor escarlate e o opala. Sem dizer uma palavra, ele recuou alguns passos para trás e invocou em pleno ar um cajado. Um elfo negro mago?! Oh merda! Contra guerreiros nós éramos inegavelmente bons. Mas contra magos? Não conseguíamos provocar nem mesmo um arranhão em Jennel Garcia, se isso servir como um exemplo e justificativa para o recuar que demos assim que ele começou a entoar palavras mágicas.

Guerreiros feitos de escuridão começaram a surgir. Seus corpos humanoides eram como vultos, sem definição, feitos de energia negra pura. Nesse momento, as palavras de Louise ecoaram em minha mente: ele era a escuridão que precisava ser derrotada por mim. Porém, como se comprovasse o que eu tinha respondido para a líder das guerreiras nórdicas, Lauren deu um passo para frente, empunhando a espada com ambas as mãos. Eu não estava sozinha. Minha existência inteira estava vinculada aquela morena a minha frente.

— Camz, não saia de trás de mim. — Lauren ordenou quando começamos a ser encurraladas pelas criaturas obscuras.

O tom sério dela deixava a entender que ela tinha algo em mente. Automaticamente fiquei próxima da filha de Zeus, conseguindo captar assim como a espada dela vibrava e começava a brilhar. Meus olhos dobraram de tamanho em surpresa, já que a camada de ar estava se dissolvendo e mostrando a sua verdadeira forma. Eu sabia que o pai de Lauren, o rei dos deuses, tinha encantado aquele item. Não para torna-lo mais forte, mas para justamente conter toda a sua potência, pois carregar algo tão poderoso poderia trazer consequências que a própria Jauregui não poderia lidar. Além de ser estrategicamente vantajoso ter uma arma coberta por ar, camuflando as dimensões da espada.

O brilho e a pressão ao redor da arma foram aumentando exponencialmente. Parecia se condensar como uma segunda camada, flutuando a centímetros da lâmina original. Em um movimento que parecia exigir toda a força exuberante de Lauren, ela fez um corte horizontal no ar. Foi a forma que a filha de Zeus encontrou de liberar toda aquela energia contida, provocando uma onda feita de ar e luz. Ao atingir o inimigo, ele simples pulverizou, se desfazendo em poeira obscura e dourada, derrotando não apenas os soldados feitos de escuridão, mas os guerreiros que estavam a pelo menos vinte metros de distância ao nosso redor.

Eu tinha sobrevivido apenas por estar perto de Lauren. Deuses, aquele golpe era assustadoramente perigoso, algo que deveria ser realmente usado com sabedoria. Pois era um tipo de ataque que não distinguia inimigo de aliado, qualquer um teria morrido ao receber aquela onda de energia luminosa, recheada de uma pressão de ar devastadora. Porém, contrariando as minhas expectativas, o rei dos elfos negros estava ainda de pé, envolto de uma pequena redoma negra que estava com enormes rachaduras. Não tardou para que a proteção quebrasse, como vidro que era partido ao receber algum impacto.

Movi o meu corpo, pegando minha própria espada e a jogando para o ar. O item duplicou, transformando em duas espadas, gêmeas e perigosas, caindo em minhas mãos prontas para serem empunhadas. Ao olhar rapidamente para o lado, eu vi a velha e tão conhecida espada de Lauren Jauregui, brilhante e poderosa como eu costumava lembrar. Aquele item nos acompanhava desde o início, combatendo nossos inimigos e garantindo nossa segurança.

— Camz...

Lauren olhou rapidamente para mim. Um segundo apenas. Foi tudo o que precisávamos para declarar nosso amor uma pela outra através de um olhar. No segundo seguinte nós estávamos avançando em sincronia. Começamos o ataque juntas, mas inevitavelmente Lauren ganhou velocidade e já estava saltando em direção ao rei inimigo com a espada a sua frente. O mago real apontou o cajado em direção a filha do senhor dos raios e lançou uma magia rápida, uma bola de energia escura. Lauren não conseguiu desviar a tempo, recebendo o ataque em cheio contra o tronco do corpo, sendo jogada para trás com o impacto do golpe. Mas ela nem ao menos atingiu o chão, girando em pleno ar e logo estava flutuando e lançando uma corrente de ar.

O rei élfico perdeu o equilíbrio, sendo esse o momento em que eu aumentei a velocidade e cai no chão coberto por grama, escorregando sobre os meus joelhos passando ao lado do inimigo. Com uma das espadas, eu atingi a lateral do corpo dele, girando rapidamente para ficar de pé e bem posicionada. Foi graças a isso que consegui reagir ao contra-ataque rápido e mortal, usando da outra espada para bloquear o golpe do cajado que visava meu rosto. Lauren se aproximou flutuando por trás, aplicando um soco na lateral da cabeça do líder dos elfos negros. Eu esperava que ele voasse por metros com a força que Jauregui possuía. Mas ele apenas cambaleou para o lado e apontou o cajado em nossa direção, o segurando com ambas as mãos. Dessa vez ele quem provocou uma onda de energia, sendo nós duas quem voamos para trás com o impacto recebido. Era uma magia que não machucava nossa pele, mas parecia corroer diretamente o nosso fluxo energético. A dor provocou resmungos e grunhidos advindos de nós duas.

Louise estava certa, aquele elfo não era um qualquer. Ele possuía resistência suficiente para aguentar um soco de uma filha de Zeus bem treinada. Assim como também podia usar magia baseada na manipulação de energia negra. Porém, parecia ainda vulnerável a armas, pois na lâmina de uma de minhas espadas, sangue azul respingava por sua borda. Lauren foi a primeira a erguer-se, mas logo eu seguia o seu exemplo, um calafrio atingindo minha coluna quando notei que abaixo de nossos pés estava um círculo mágico enorme, cobrindo uma área estupidamente grande.

Lauren tentou avançar para impedir que a conjuração terminasse. Mas o rei élfico logo findava suas palavras rápidas e mágicas. Ele parecia ter invocado a própria noite infernal, pois uma nova redoma surgia ao nosso redor, cobrindo uma distância que nos separava das brigas que aconteciam entre as valquírias e os servos dos elfos negros e Despina.

Eu estava para invocar raízes para segurar o rei quando meu corpo veio ao chão, meus joelhos colidindo contra a terra quando um peso enorme me atingiu. O ar ao nosso redor se tornou mais denso, a visão ficou turva e a gravidade parecia ter aumentado estupidamente. A redoma parecia modificar o próprio ambiente, o tornando mais difícil e com a gravidade mais intensa, diminuindo não só o movimento de nossos corpos, mas atrapalhando também nossos sentidos.

Escutei o riso de Lauren ao meu lado. Poderia apostar que tanto eu quanto o rei inimigo olhamos para ela um tanto confusos. Com esforço, mas sem perder tempo, Lauren quebrou as pulseiras que envolviam os seus punhos. Pelo que eu lembrava, ela tinha recebido aqueles acessórios como parte do treinamento, pois eles aumentavam o peso sobre o corpo da filha de Zeus. Dessa vez, era eu quem estava quase rindo, pois ao se ver livre daquilo, Lauren levantou facilmente, como se a gravidade estivesse natural para a sua total capacidade física.

Não querendo ficar para trás, minha mente trabalhou rapidamente em uma resposta para o problema que enfrentava. Aquela era uma magia negra, que envolvia domínio sobre a escuridão. Mas eu também era uma usuária desse elemento e nada melhor do que derrotar fogo contra fogo. Ou melhor, trevas contra trevas. Deixei que minha aura de filha do submundo se expandisse, criando a mesma situação que tinha usado com Keana e Matt ao demonstrar meu poder. O ar ao meu redor foi quebrando a resistência mágica, permitindo que meu corpo também se movesse de maneira natural uma vez mais.

— Como...? Malditas gregas! Vocês vão se arrepender por me desafiar, eu sou---

— Eu não me importo com quem você é! — Lauren apontou a espada para ele, o interrompendo rude e ameaçadoramente. — Porque hoje você morre, elfo. Vai se arrepender por ter se aliado com aquela deusa. Vai pagar por tudo o que fez nesses reinos!

— E quem você pensa que é para conseguir isso? Criança tola, eu tenho mais de mil anos de vida! — Ele se gabou e já estava prestes a começar outro encantamento.

Queria poder dizer que sabia exatamente o que estava fazendo, mas há muito tempo meus instintos tinham dominado a maior parte de minhas ações. Sabendo que outra magia poderosa estava por vir assim que o encantamento acabasse, eu tentei agir o mais rápido que poderia. Lauren não conseguia alcança-lo, então minha mente foi preenchida com uma habilidade que eu já tinha visto alguém importante para mim fazer e usá-la comigo.

Tendo a lembrança como referência rápida, eu teleportei em pleno ar, sem necessidade de me jogar em uma sombra, mas sendo consumida por elas. Perséfone tinha usado esse mesmo truque para nos levar do submundo para o mundo dos humanos. Eu a imitei, sentindo a sensação nauseante das sombras me abraçando e jogando para um ponto em um piscar de olhos. Mas sem ter tempo para processar os pormenores agora, eu apenas reagi ao momento. A espada empunhada pela minha mão direita cravou no ombro do rei élfico assim que eu apareci em atrás dele, atravessando até metade da lâmina. A resposta defensiva veio rápida, o cajado atingindo o meu estômago com força o suficiente para me fazer cambalear para trás sem ar.

Na ação seguinte, o elfo negro gritava em meio a dor e a fúria, erguendo a mão para me golpear. Mas logo Lauren estava ali, tão rápida quanto costumava ser, a espada sendo manejada de baixo para cima em um movimento glorioso e bruto, decepando o braço do elfo do corpo dele a poucos centímetros de encontrar o meu rosto. Dessa vez, ele recuava assustado e encarando o sangue azul que escorria da carne exposta.

Talvez fosse o medo. Ou o pensamento de sobreviver para poder lutar depois. No fundo, eu gostava de pensar que quando o rei começou a fugir, foi apenas porque era covarde demais para nos enfrentar.

Lauren resmungou e fez um mover com a mão, manipulando o ar com evidente dificuldade por causa da gravidade anormal ao nosso redor. No entanto, ela conseguiu fazer com que as correntes empurrassem o rei elfo em minha direção, o jogando de bandeja para mim. Segurei a espada que ainda repousava em meu punho canhoto com ambas as mãos, para ter a segurança no movimento que faria a seguir. Em um giro perfeito com a espada empunhada, o pescoço do rei encontrou a lâmina negra de minha arma, permitindo que sua cabeça fosse desprendida do corpo em um movimento graciosamente mortal.

O corpo dele ainda continuou movimentando até cair no chão, a cabeça rolando para um lado contrário. Assim que o usuário de magia morreu, o círculo mágico se desfez. O desaparecer da gravidade pesada e da nocividade do ambiente, eu e Lauren caímos uma vez mais, exaustas pelo esforço de nos mover dentro daquela redoma feita de pura magia negra. Desconfiava de que, de alguma forma, a redoma estivera consumindo nossas energias sem que percebêssemos, pois naquele momento eu não conseguia encontrar forças para me erguer novamente. Todos os meus nervos pareciam doloridos, minha mente dando voltas e mais voltas enquanto simplesmente me permitia ficar deitada no chão.

— O seu rei está morto! — escutei Louise e pelo canto dos olhos, vi imagens borradas da valquíria agarrando a cabeça do rei dos elfos negros, a erguendo e exibindo para o exército. — A guerra acabou!

As valquírias soltaram um grito de guerra, ganhando mais confiança em batalha enquanto a moral do exército inimigo despencava. Eu conseguia sentir na terra o correr dos sobreviventes, a busca pela fuga desenfreada, apenas para beijarem as armas de uma valquíria em meio ao seu caminho.

— Lo... — Chamei em meio a um grunhido de dor.

Eu precisava vê-la, precisava dela perto. Fiz um esforço digno de Hércules para deitar de costas sobre o chão. O céu estava coberto por nuvens negras, brilhando com a presença de relâmpagos. Lauren tinha trazido a tempestade consigo em meio a sua fúria, o que me fez sorrir brevemente, sabendo que isso era tão característico de minha amada mulher. Escutei os resmungos dela, tendo força suficiente apenas para virar o rosto e acompanhar os esforços da morena.

Ela tentava se erguer minimamente, usando os cotovelos como apoio. Para alguém como Lauren precisar usar de sua força para movimentos bobos como aquele... Ela deveria estar exausta. Meu olhar se tornou preocupado, mas eu mordi o meu lábio inferior. Não conseguia pedir para que ela parasse, pois tudo o que eu queria era dela mais próxima de mim. No fim, Lauren Jauregui parecia ter vencido outra batalha ao ficar ao meu lado, apoiada em apenas um braço para se manter minimamente erguida, podendo assim olhar em meus olhos. Com a mão livre, ela tocou a lateral de meu rosto, afagando delicadamente a minha bochecha.

Eu senti minha visão embaçar com as lágrimas. Todo o peso emocional dos últimos acontecimentos provocando uma avalanche avassaladora de sentimentos. Tristeza. Raiva. Medo. Esperança. Alívio. A sensação de culpa por sentir alívio de que de todas as pessoas, a que eu mais precisava estava ali, inteira e viva. Mesmo que me preocupasse com todos os outros, era por Lauren Jauregui que meu coração respirava aliviado e finalmente com um pouco de paz.

— Oi.

Lauren murmurou com um sorriso fraco, mas de um jeito tão simples e sutilmente bobo que me fez rir e choramingar pela dor que isso provocou. A filha de Zeus aproximou ainda mais, o toque gentil em minha bochecha não tendo encontrado seu fim desde que tinha sido iniciado. Em meio a guerra, em meio ao caos, Lauren ainda conseguia arrancar de si a gentileza. Deuses, eu amava aquela mulher ainda mais, cada pedacinho dela.

— Eu amo você. Eu amo você, Lauren. Eu estou tão feliz por você estar bem! — Murmurei permitindo que minha voz exibisse toda a emoção que eu estava sentindo, as lágrimas finalmente sendo liberadas de minha prisão da teimosia. — E-eu.... Deuses, eu não acredito que acabou. Acabou, não é?

— Sim, Camz. Acabou. Nós vencemos! Graças a você.

— Graças a nós duas, Laur... E as outras meninas também, elas devem estar batalhando ainda e... Merda, nós temos de ajuda-las!

Foi a vez de Lauren choramingar, perdendo a força no braço que a sustentava. Isso a fez cair levemente ao meu lado, o outro braço agora cobrindo meu tronco de maneira pesada, pois ela não tinha forças nenhuma para evitar isso. Virei o rosto para o lado, deparando com o dela, cansado e coberto de manchas de sangue e alguns arranhões. Os olhos verdes estavam estupidamente brilhantes. Os mesmos olhos que me encantavam há anos.

— Oi. — Dessa vez foi a minha vez de proferir o cumprimento, de um jeito não tão simples já que eu me permitia ser totalmente boba e apaixonada.

Lauren riu e resmungou de dor. Estávamos exaustas, física e emocionalmente. Tudo o que precisávamos era uma da outra, mesmo que estivéssemos no fim de uma guerra e ao nosso redor tivesse apenas destruição.

— Ahm... Precisam de ajuda? Eu tenho algumas poções aqui. — Uma valquíria se aproximou incerta de como agir com nós duas.

— Eu não sei se é uma boa ideia... Eu consumi veneno, poção de cura e entrei naquele antro de terror e escuridão. — Comentei com um franzir de cenho. — Jennel e Ally... — Travei momentaneamente, as lágrimas retornando enquanto minha voz se tornava mais fraca. Era um golpe todas as vezes que lembrava que a filha de Apolo tinha morrido em meio as tramas entre deuses. — Elas sempre dizem que não é bom misturar, meu corpo ainda é humano afinal de contas.

— Me dê isso, eu vou cuidar dela. — Lauren exigiu, dessa vez rude como sempre.

A valquíria se aproximou cautelosa, provavelmente com respeito e temor a filha de Zeus. Todos ali poderiam reconhecer o valor daquela garota grega agora, que tinha batalhado, treinado e desafiado qualquer um que entrasse em seu caminho.

Depois de consumir a poção de cura, Lauren foi recuperando as forças. Ela primeiro sentou e respirou fundo, mexeu no cabelo de maneira nervosa e, mesmo que eu não lesse mentes, eu sabia que ela estava pensando em Ally e Troy. O olhar dela denunciava o que se passava em sua alma. Logo a filha de Zeus estava de pé, carregando uma jovem e fraca latina no colo. Karla teria o orgulho ferido, mas meu lado Camila adorava o carinho e a atenção.

— Vamos verificar se Dinah ainda possui todos os dedos. — Lauren comentou tentando quebrar a tensão provocada pela minha menção a Ally.

— Não jogue praga para a Normani, Lo! Ainda estamos em terras desconhecidas, vai que isso soa como uma profecia? Mani nunca perdoaria você!

— Você sabe que quem ficará sem os dedos é a Dinah, certo?

— Detalhes, certamente é a Manibear quem vai chorar mais.

A pequena descontração funcionou, pois logo Lauren estava rindo de maneira mais suave e despreocupada. Algo que duraria pouco tempo, pois de uma coisa era certa: nenhuma vitória vinha sem um preço alto a ser pago.


Notas Finais


E é essa maravilha que temos para hoje. Deixem like, comentem, compartilhem com os amiguinhos, se inscrevam no canal e não se esqueçam de ativar o sininho para continuar acompanhando novas atualizações.

OBS.: Eu estava revisando o capítulo e queria dizer que "Jaugueri is the new Jaguari" kakakakak

OBS².: Mano kkkkkkkkkkkk eu esqueci que ela atualiza no SS também, crise, desculpa aê


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