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História Estações - Autumn: SPA Resort C.C


Escrita por: AleSinclair

Notas do Autor


Minha internet ta tão ruim que eu to usando o celular como roteador e.e

Capítulo 38 - Autumn: SPA Resort C.C


 

Pov Camila

 

Meu corpo tremia fortemente. Eu mal tinha sensibilidade sobre minha pele. Estava entorpecida pelo frio. Um frio tão cruel que parecia penetrar como longas agulhas em cada parte de meus ossos. A sensação era de que eu estava nua em meio a uma nevasca, e o pior, que eu estava sozinha. Tentei gritar, andar, mas minha voz mal conseguia sair de minha garganta sem que eu sentisse o interior de minha garganta congelar. A passos pequenos eu conseguia me locomover, meus pés enterrando até a altura de minha panturrilha. Um forte vento carregado pela neve me envolveu e eu me encolhi, sentindo que morria virando um verdadeiro picolé latino.

 

Mas então tudo parou. O vento, o frio. A sensação de virar uma pedra de gelo. Abri meus olhos e dessa vez o que parou foi o meu coração. Era como se eu estivesse em uma ampla sala do trono, mas feita completamente de gelo. Sobre uma enorme e bela poltrona, lá estava ela. Acorrentada pelos pulsos e tornozelos, a cabeça tombada para frente fazendo com que os longos cabelos castanhos escuros cobrissem seu rosto. A roupa era uma toga grega preta e vermelha, muito bem arrumada e cheia de detalhes, como uma flor no topo do ombro. A mulher pareceu ir despertando, erguendo o rosto até que seus olhos travaram nos meus.

 

Eles não possuíam uma cor certa. A íris mudava sutilmente, mas nunca permanecia por mais de dez segundos em um tom. Seu semblante era cansado, quase torturado. Ela me fitava como se esperasse que eu fizesse alguma coisa. Eu sentia que deveria fazer alguma coisa! Deuses, ela fazia meu corpo se aquecer em meio aquele frio como se tivéssemos uma ligação...

 

-Perséfone – murmurei, caindo na realidade de quem era aquela mulher, a resposta de repente aparecendo na ponta de minha língua – Você... Você é Perséfone.

 

-Camila – ela conseguiu abrir um sorriso triste – Você está demorando tanto...

 

Eu tentei correr em sua direção. Precisava tirá-la dali! Mas quanto mais eu corria em sua direção, mais ela se afastava! Então tudo voltava a ficar cada vez mais frio, meu corpo sendo praticamente arrastado para trás por uma forte ventania. Eu tentava pôr os meus braços a frente para me defender, mas em nada adiantava!

 

-Camila! – uma voz distante me chamava – CAMILA!

 

Saltei bruscamente, sentando em um único movimento na cama. Tudo estava escuro, meu corpo ainda gelado ao mesmo tempo em que suado. Eu ofegava forte, ainda esperando sentir aquele vento frio cortando a minha pele com seus beijos gelados. Mas o que eu recebi foram braços que me puxaram para perto de um corpo quente.

 

-Foi só um sonho, foi só um pesadelo – Lauren murmurava preocupada, me mantendo firme em seus braços – Já passou Camz, eu to aqui com você.

 

-Estava tão frio, mas tão frio! – me agarrei nela chorando lembrando de minha mãe lá – Ela estava sozinha Lo! Ela está em perigo!

 

Lauren me amparou, esperando que eu me acalmasse enquanto me mantinha perto de seu corpo quentinho, afagando minhas costas. Levei cinco minutos para regular a minha respiração e afastar o rosto do ombro dela. Funguei um pouco limpando minhas bochechas molhadas.

 

-Com quem você sonhou Camz? – Lauren perguntou ainda bem perto de mim.

 

-Minha mãe – respondi ainda tentando assimilar tudo o que eu vi – Estava tudo frio, tinha muita neve, uma nevasca. Depois um salão de gelo, ela estava presa a uma poltrona.

 

Eu me encolhi ainda mais ao lembrar das coisas que eu vi. Prontamente Lauren me puxou para seu colo e de um modo protetor passou os braços ao meu redor. Eu escondi o rosto em seu pescoço, deixando que o seu cheiro me acalmasse pouco a pouco.

 

Estávamos a algumas horas seguindo as coordenadas deixadas pela sereia. Os ataques eram bem menores e mais fáceis de controlar, logo eu e Lauren optamos por descansar. Apesar das provocações e insinuações, principalmente de Dinah e Normani, nós apenas queríamos descansar depois de uma batalha intensa e das sensações fortes que a história de Jennel nos trouxe. Tudo o que eu precisava era Lauren ali perto, do jeito que ela estava fazendo.

 

-Que tal irmos comer alguma coisa? – Lauren propôs – Já estava na hora de irmos para o convés superior mesmo.

 

-Austin e Jennel estão chatos quanto a comida – fiz bico feliz por estarmos falando de outra coisa – Dizem que temos de economizar já que o estoque está diminuindo na dispensa.

 

-Eu te dou um pedaço a mais do meu – Lauren me olhou negociadora – Mas eu vou querer um desses seus malditos sorrisos que fazem meu coração disparar me deixando que nem mulherzinha apaixonada.

 

Foi automático. Lauren era cheia de fases, mas ali estava uma que aparecia quase que exclusivamente para mim. Eu sorri, sorri feliz por ter alguém como ela comigo. Mesmo que cheia de defeitos, manias e jeito difícil. Lauren retribuiu o meu sorriso, me deu um selinho e me deixou ir na frente para fazer a higiene no minúsculo banheiro que havia dentro de cada cabine.

 

Aproveitei para tomar um banho, que infelizmente era frio. Vesti uma calça jeans, um tênis surrado e uma blusa com a estampa de uma menina de cabelo trançado e com laço na ponta, onde realmente existia um laço. Lauren não demorou muito lá dentro, saindo já sem sua cara amassada de sono dando lugar a eletrizante filha de Zeus. Ela estava simples, com o seu velho coturno, calça jeans com rasgos, regata preta e uma touca cinza. Mas seus olhos verdes e sorriso debochado a tornavam incrível de qualquer forma, sem contar no cabelo castanho escuro que desciam ondulados por seus ombros.

 

-Eu já disse que você é linda? – comentei enquanto ainda a admirava.

 

-Não vai me deixar sem jeito logo nas primeiras horas, Camz – Lauren reclamou – Agora vamos.

 

Ri baixinho e senti as velhas borboletas se agitando só porque Jauregui pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos. Seguíamos por um corredor que iria dar direto no local das refeições, quando nos deparamos com Ally, Mani e Dinah encolhidas e coladas a parede, escondendo os corpos e deixando as cabeças espiando alguma coisa que provavelmente acontecia por lá.

 

-O que estão aprontando? – Lauren indagou arqueando uma sobrancelha.

 

-SHHHH! – as três fizeram ao mesmo tempo.

 

-Fica quieta e vem cá, não dá pra perder isso! – Normani falou baixo, mas a empolgação estava explícita em cada palavra.

 

Curiosa do jeito que eu era, arrastei Lauren me pondo praticamente no meio das meninas e também esticando a cabeça para espionar seja lá o que for. Então eu vi Jennel, andando de um lado para o outro, estava linda usando um short escuro e uma blusa um pouco grande, quase cobrindo o short. A sua frente, com o corpo apoiado na mesa, estava uma Demi séria. Eu nunca na minha vida tinha visto uma Demetria Lovato séria. Seu cabelo pintado estava jogando por sobre um ombro, seu rosto virado na direção contrária a nós, seus braços cruzados debaixo do seios, cobrindo parte da estampa de sua blusa branca.

 

-Eu só preciso de um tempo! – Demi falou cansada, parecia estar repetindo isso para si mesmo – Eu não posso deixa-lo de uma vez, você sabe o que Wilmer fez por mim e...

 

-Eu sei – Jennel a cortou de uma maneira fria, parou a frente dela, mãos na cintura e eu poderia apostar que estava com um olhar intenso, mesmo que não pudesse ver – Eu só estou dizendo que eu não posso esperar mais que você decida. Eu não posso me prender a alguém que não pode decidir se quer ficar ao meu lado ou não.

 

-Eu quero ficar ao seu lado! – Demi exclamou – Eu terminei com ele!

 

-Mas vai voltar para o Wilmer assim que retornarmos, não é? – Jennel acusou.

 

-Jen---

 

-Não Demi – a morena balançou a cabeça e desviou o olhar – Eu preciso poder seguir em frente, eu não posso esperar você. Eu preciso VIVER – Jennel aproximou de Demi e pacientemente descruzou os braços da mais velha – Eu preciso sair do Acampamento, conhecer esse mundo novo para além dos Estados Unidos. Eu quero conhecer. Eu quero ficar triste, eu quero ficar alegre. Eu quero sentir tudo o que eu puder sentir nessa vida – ela acariciou o rosto de Demi e mal consegui ouvir o restante – Eu quero amar. Mas também quero ser amada de volta. Eu não posso me entregar pela metade, não posso me dividir e fingir que não gosto de você, que na verdade queria que você fugisse comigo pelo mundo todo, vivendo todos os perigos e coisas bonitas.

 

-Jennel...

 

-Mas eu não posso aceitar você pela metade. Não posso fazer isso comigo Demi, muito menos com você.

 

-Eu só preciso de tempo---

 

-O tempo é um algoz pra mim, você sabe disso. Eu cansei de esperar, de estar parada. Eu preciso estar em movimento. Demi... ah Demi, eu acho que nunca iria parar de amar você, não por completo. Sua voz ainda ecoaria em minha alma como um lindo canto de um rouxinol. Mas você precisa fazer sua escolha para que eu e você possamos seguir por um determinado caminho.

 

Jennel começou a se afastar, o seu semblante era triste apesar de suas palavras. Escutei Normani suspirar pelo drama romântico e Lauren resmungar algo como que não deveríamos estar fazendo isso. Mas então, de repente, Demi deslocou-se agilmente da mesa, puxou Jennel pela cintura e a beijou. Não um beijinho ou uma coisa romântica. Era um beijão mesmo, um daqueles que Lauren me dava as vezes e eu sabia que iria parar em outra galáxia.

 

-Ai minha mãe – Normani falou baixa, mas agitada com a cena.

 

-Merda, elas estão deslizando para cá, devem estar querendo ir para as cabines! – Dinah notou o movimento das duas, mesmo que não estivessem parado o beijo.

 

-Vamos – Ally se pronunciou pela primeira vez – Não preciso ser profeta pra saber que a Jennel nos transformaria em algo só por estarmos espionando!

 

Saímos correndo quase desastrosamente de volta para as cabines, mas eu duvidava que Jennel e Demi tivessem notado, tão entretidas que estavam uma com a outra. Lauren estava com carinha brava quando fechou a porta da nossa cabine, parando atrás da porta de braços cruzados e me fitando como se dissesse “eu não acredito que você fez isso”.

 

-Não me julgue – pedi fazendo beicinho.

 

-Era algo delas – Lauren respondeu ríspida – Se eu não gosto que entrem na minha vida, faço o favor de não fazer isso na dos outros!

 

-Estava tão fofo Lolo!

 

-Era algo delas Camila – Lauren prosseguiu parecendo realmente incomodada – Algo importante, se fosse algo para nós sabermos, uma delas diria porque iria querer compartilhar! Eu só não atrapalhei tudo porque a Ally estava me olhando de um jeito “te mato enquanto você dormir se fizer alguma coisa”.

 

Encolhi sem poder contradizê-la. Lauren era bem reservada, do tipo que respondia “foda-se, não devo satisfação a ninguém”. Não era surpresa ela estar reagindo chateada daquele jeito por ter invadido a privacidade de alguém, quando ela mesma presava muito pela própria. Sentei na cama sem jeito, como se tivesse recebido um belo sermão. Lauren permaneceu quieta, esperou quinze minutos para abrir a porta e olhar para os lados.

 

-Vamos, você ainda tem de comer.

 

Quase disse que tinha perdido a fome, mas eu sabia que isso seria infantil de minha parte. Soltei um suspiro e passei pela garota cabisbaixa, seguindo direto para o refeitório. Dinah e Normani já estavam lá, junto com Zayn e Austin, preparando algo que parecia ser uma vitamina com cereais.

 

-Você precisava ver – Normani falava animada – A Jennel e a Demi---

 

-Cale a boca Kordei – Lauren vociferou prontamente – Já não basta ter espionado, já vai fofocar?

 

-Que bicho te mordeu Jauregui? – Normani disse quase no mesmo tom – Eu só estava---

 

-Falando do que não devia te interessar – Lauren cortou grossa – Isso é questão de respeito, ela disse aquelas coisas apenas para Demi, coisas pessoais. Controle sua língua dentro de sua boca e respeite o momento que deveria ser só delas!

 

-Lauren não pega pesado, você também estava vendo – Dinah defendeu Normani que estava cada vez mais encolhida por saber que a Lauren estava certa dessa vez.

 

-Quer saber? Fiquem ai.

 

Lauren odiava quando Dinah ficava contra ela. Pegou uma das poucas frutas restantes sobre a mesa e saiu pisando duro para o convés superior. Soltei um suspiro e sentei ao lado de Zayn, Normani tinha ficado quieta exatamente como eu havia ficado quando Lauren passou o sermão.

 

-Afinal o que aconteceu? – Austin indagou confuso.

 

-Nada demais – desconversei aceitando o copo com vitamina que Dinah ofereceu – Depois do que a Lauren disse fico até envergonhada.

 

-Não é pra ficar, se elas queriam privacidade teriam tido aquela discussão na cabine – Dinah me consolou – Mas também não vamos comentar mais sobre isso, eu meio que concordo com a Laur.

 

-Odeio quando ela está certa, é irritante admitir isso.

 

Zayn tratou de mudar de assunto e logo Ariana se juntou para o desjejum. Ela sentou ao meu lado animada, contando algo sobre sua infância nada normal. Isso serviu para me distrair e me fazer esquecer do que tinha feito, afinal não era nada demais como Dinah havia dito. Estava rindo de algo que a Ariana contava quando Lauren retornou. Seu cenho fechado pareceu piorar quando me viu rindo com Ariana, e muito tarde, percebi que ela tocava em meu antebraço.

 

-Estamos chegando a Ilha – ela avisou apenas.

 

E como se soubesse disso, Jennel apareceu do corredor das cabines. Ela estava corada e ninguém se atreveu a comentar sobre o chupão que estava na curva de seu pescoço.

 

-Se preparem, estamos chegando não é? Já posso sentir a magia daqui – Jennel falou pegando a última maçã sobre a mesa – Austin, Mila, vocês são novatos, sabem quem é Circe?

 

-Não – Austin respondeu como se não saber disso fosse algo normal.

 

-Você disse que é sua meia-irmã, então é filha da deusa da magia não é? – deduzi o óbvio.

 

-Sim, Circe representa mais a feitiçaria. Faz poções incríveis e alguns truques, sempre se achando por causa disso – Jennel revirou os olhos, mordeu a maçã e mastigou rapidamente para engolir – Vocês já devem ter ouvido falar de um mito que em uma ilha os visitantes eram transformados em animais. Ela é a culpada.

 

-O cordão de ouro mágico está com ela – Dinah lembrou.

 

-Sim, é um de seus itens de colecionadora. O cordão tem propriedades mágicas fortes e é volátil, por isso é precioso. Pode ser útil para inúmeras coisas e é único – Jennel explicou – Não vai ser fácil conseguir o cordão.

 

-Teremos de lutar contra ela? – Zayn perguntou temeroso – Mesmo sendo sua meia-irmã, ela ainda é uma deusa menor.

 

-Provavelmente teremos de negociar algo – a morena falou pensativa – Eu já tive um vislumbre da Ilha dela pela minha bola de cristal. Pelo que eu vi há algumas coisas destruídas e sendo reconstruídas. Não creio que o humor dela vai estar bom então deveremos tomar todo o cuidado.

 

-Acho que antes de irmos para lá, temos umas coisas para discutir – Lauren interrompeu estranhamente séria – A primeira é que a profecia já está acontecendo.

 

-Oi?!

 

Olhei para Lauren e ela olhava para Jennel. Como assim a profecia já estava acontecendo? O que eu tinha perdido?

 

-“Pelo passado obscuro, a dama do mar irá se desmanchar” – Ariana recitou – A dama do mar seria a sereia.

 

Eu e todos os outros, menos Lauren e Jennel, abriram as bocas em um “oh” de compreensão e entendimento.

 

-E a Cabello teve um sonho que acho importante – Lauren acrescentou e dessa vez me fitava – Sonhos de semideus quando são estranhos demais é porque há algo por trás deles.

 

-Eu vou chamar os outros, acho que todos devem ouvir isso – Normani falou levantando da mesa.

 

Lauren tomou o seu lugar, sentando de maneira desleixada e ajeitando a touca sobre o cabelo. Eu estava inquieta apenas pelo simples motivo de seus olhos verdes não pararem cinco segundos sobre mim. Ela estava chateada e apesar de saber que eu não tinha tanta culpa, era uma sensação ruim a de ter parte – mesmo que pequena – nisso.

 

-Talvez fosse melhor que um pequeno grupo ficasse no navio – Ariana propôs enquanto Mani não retornava.

 

-Qual a necessidade? – Dinah questionou – Se é perigoso não seria melhor ir todo mundo?

 

-Justamente por isso – Ariana explicou inclinando na direção de Dinah – Se o grupo principal fosse emboscado, teríamos um segundo grupo para dar apoio e contra-atacar. Ou até mesmo para tomar conta do navio, se algo acontece com nosso meio de viajar, como sairíamos daqui?

 

-Ela está certa quanto a isso – Jennel concordou – Austin teria de ficar por ser o único a comandar o navio.

 

-Manteremos o número sagrado então, eu fico também – Zayn se manifestou – Falta um.

 

-Acho que a Demi deveria ficar – Jennel falou – Ela tem o melhor ataque a distância, veria se algo estivesse errado daqui do navio.

 

-O que tem eu?

 

Demi retornava junto a Ally e Normani. Estávamos todos ali e Jennel repetiu o plano de deixar um grupo no navio para ser o elemento surpresa e de segurança. Demi reclamou de início deixando claro que queria ir para proteger a filha da magia, mas Jennel no fim acabou a convencendo. Depois disso contei sobre o meu sonho, de como era frio e tinha tempestade de neve por todo o lugar. De como a minha mãe estava presa e esperando por mim.

 

 -Ela foi mesmo raptada – Ally comentou pensativa.

 

-Isso quer dizer que temos um inimigo – Dinah disse.

 

-E um que foi capaz de capturar uma deusa – Lauren acrescentou e levantou – Eu vou ir preparar os botes.

 

Segurei o ar enquanto a observava se afastar. Mas antes que sumisse de vista ela parou, olhou por sobre o ombro me encarando.

 

-Venha me ajudar Camila.

 

Era uma ordem direta e reta, mas que eu prontamente acatei. Levantei e praticamente corri para o seu lado aliviada. Preferia uma Lauren chateada e falando comigo do que uma distante.

 

(...)

 

Fomos em dois botes até a praia. Lauren e Dinah arrastando cada um e os amarrando em um local seguro para que não o perdêssemos. Eu não podia negar a ansiedade, o friozinho na barriga, a curiosidade e a expectativa. Além do medo, é claro. Estávamos todos ali preparados para batalhas, cada um com suas armas e pequenas bolsas com itens que julgamos necessários.

 

-Alguém tem algum plano? – Normani indagou fazendo uma careta ao andar na areia.

 

-Encontrar minha irmã, pedir o colar, negociar por ele, sair daqui vivas – Jennel explicou da maneira mais simples, mas franziu o cenho encarando a floresta a frente – Gosto principalmente da parte em que saímos vivas daqui.

 

-Você sabe pelo menos para onde ir? – Ariana questionou.

 

-Sinceramente eu esperava que meus sonhos fossem mais explicativos – a filha da magia deixou os ombros caírem – Mas isso daqui é maior do que eu imaginava.

 

-Vamos explorar – Lauren disse determinada – Não temos tempo a perder.

 

Sem nem esperar a resposta dos outros, Lauren começou a caminhar à frente, liderando e sendo naturalmente seguida por Dinah, Ally e Normani. Raramente alguém questionava uma decisão dela quando se tratava de sobrevivência, batalha ou algo parecido. Jennel parecia incomodada por não saber das coisas, seguindo a minha garota em completo silêncio.

 

A ilha de Circe era... Bem, uma ilha. Era como um desses lugares paradisíacos com floresta tropical, areia branca, água cristalina e uma fauna selvagem. Lauren encontrou uma espécie de trilha assim que adentramos a floresta, seguindo por ela em total silêncio. Em verdade, pouco falávamos, até mesmo Normani estava se contendo em seus comentários. Afinal de contas, era um lugar desconhecido com um inimigo poderoso.

 

-Espere – Ally parou e ajeitou melhor o arco em sua mão – Alguma coisa está se aproximando.

 

Isso foi o suficiente para fazer com que todos ficassem em alerta. Ariana ficou perto de mim, recebendo uma rápida encarada feia de Lauren, mas a ignorando por completo. Saquei minha espada assim como todos os outros ajeitaram suas armas. Havia uma forte tensão quando a mais ou menos cinco metros de distância algo começou a se mexer em nossa direção, produzindo sons de galhos quebrando e folhas se mexendo, cada vez mais próximo e mais próximo...

 

Então veio um latido baixo.

 

De trás de uma enorme folha, saiu um pug. Exatamente isso. Um daqueles cachorros pequenos e extremamente fofos. Ao lado dele estava um lêmure preto e branco, de olhos grandes e amarelados.

 

-Eu fiquei com medo de ser comida por um cachorrinho e um lêmure – Dinah quebrou o silêncio que a surpresa tinha causado – Acho que essa parte não vamos contar aos outros, ok?

 

O cachorro latiu, começou a correr em uma direção, a voltar, correr de novo. O lêmure aproximou de Ally, sendo um mamífero um pouco mais propício a se fazer entendido, ele começou a empurrar a perna da filha de Apolo.

 

-Acho que eles querem que a gente os siga – Mani comentou franzindo o cenho, agachando na frente do pequeno cachorro – Né isso que você quer seu fofo?!

 

Como resposta, ele latiu freneticamente e apontou de novo na direção. Para completar a cena, o lêmure mesmo sendo maior, sentou sobre as costas do pug como se o estivesse usando de montaria. E realmente estava, ele apontou em uma direção e o cachorrinho saiu marchando todo pomposo.

 

-Eu não acredito nisso – Ariana comentou incrédula.

 

-Devem ser pessoas transformadas em animais – Jennel ponderou – Vamos segui-los, é a nossa melhor chance ou nos perderemos na floresta.

 

Dinah e Normani foram as primeiras a se movimentarem. Ariana tocou em meu braço para incentivar a irmos, mas quase ao mesmo tempo eu sentia alguém me puxando pelo meu outro lado.

 

-Vamos.

 

Lauren estava com um daqueles seus olhares que fazia até mesmo eu encolher perante o poder dele. Ela me puxou com delicadeza, mas seus olhos – agora azuis – faiscavam na direção de Ariana. Era tão claro o ciúme que eu nem ousei comentar nada, apenas segui ao seu lado.

 

-Você sabe que ela estava fazendo nada demais, não é? – perguntei baixo.

 

-Você sabe que eu estou fazendo nada demais, não é? – Lauren rebateu revirando os olhos.

 

-Isso se chama ciúme – acusei.

 

-Isso se chama ciúme – ela confirmou naturalmente.

 

A fitei e a vi sorrindo brevemente. Maldita seja, pois eu não conseguia ficar irritada quando ela fazia isso. Pelo contrário, me derretia toda e isso chegava a ser quase errado.

 

Continuamos a caminhada em direção à leste, passando por uma parte mais densa da floresta, nos obrigando a abrir caminho cortando cipós, galhos e a pular raízes altas. Passamos por uma linda cachoeira, de tamanho mediano, mas com uma formação tão linda que quase me fez parar e querer tomar um banho. O aglomerado de árvores finalmente começava a diminuir e encontramos outra trilha, seguindo por ela até conversando um pouco mais para evitar o tédio e aliviar a tensão.

 

-Sim, estamos perto do SPA! – Jennel exclamou parecendo reconhecer a clareira que estamos entrando – Foi aqui que eu vi na bola de cristal e---

 

-Abaixa! – Ally segurou em Jennel e a empurrou para baixo.

 

Prontamente Lauren estava segurando minha cintura e nos puxando para trás. Tudo aconteceu muito rápido e muito esquisito. Uma verdadeira bola de fogo foi lançada na direção de Jennel, passando por sobre o seu corpo apenas porque Ally foi mais rápida. Então elas surgiram. Garotas que usavam vestidos simples e leves, aparentando ter entre treze a dezoito anos. Todas armadas de alguma forma.

 

-Emboscada! – Lauren resmungou ativando a espada.

 

-Diga uma novidade! – Ariana já estava em posição de ataque.

 

-Digo sim, vocês são lerdos!

 

Lauren esticou a mão e fez com que um raio praticamente desgovernado saísse de sua palma, afastando três garotas que estavam se aproximando de nós. Ariana não ficou para trás, pisou firme com o pé direito no chão e fez um terremoto direcionado a outras duas, as desequilibrando e fazendo cair desajeitadamente ao chão.

 

Então a confusão aconteceu. Todas nós atacamos enquanto o pug e o lêmure corriam de um lado para o outro. Uma garota veio em minha direção com o bastão, mas ela era lenta demais, eu diria até uma iniciante. Se eu estava ficando metida? Não, apenas experiente. Desviei de seus ataques rapidamente, conseguindo aplicar uma rasteira em seu pé esquerdo a desequilibrando. Ergui meu corpo rapidamente para dar um chute na boca de seu estomago, empurrando o corpo da garota para trás. Então outra garota alta e morena com um sabre se lançou para perto de mim para proteger a parceira. Essa era indiscutivelmente mais rápida, atacando diretamente, mas variando entre golpes em meu flanco e por cima. Eu não consegui desviar de um, sendo atingida no ombro. No segundo seguinte um raio atingia a morena sem piedade. Ao longe Lauren tinha um olhar assassino e já se aproximava com um jeito de quem estava seriamente pensando em matar a garota. Mas atrás dela vinha outra loira, empunhando uma lança. Estiquei minha mão para o chão, fazendo raízes crescerem rapidamente sobre os pés da loira e se envolverem em suas pernas, a impedindo de avançar contra a filha de Zeus.

 

Flechas de Ally iam para todos os lados, magias que criavam campos de defesa as impediam de chegar ao seu destino. Dinah bailava entre os inimigos, desviando, rindo quando derrubava de maneira humilhante uma garota. Normani criticava o jeito que uma delas se movia, acertando com seu chicote perto do rosto dela, a irritando tão forte que a fez lançar outra bola de fogo. Jennel fez uma barreira parecida com as que elas faziam, defendendo a filha de Afrodite. Mas o que era mais louco disso tudo? Foi quando vi o lêmure pulando na cabeça de uma morena quando esta estava perto de atacar Ally por trás, puxando o cabelo encaracolado, batendo na cabeça e arranhando. Além do pequeno cachorro ter se jogado nas pernas dela, tentando morder e machucar.

 

Eu já estava para entrar em um novo embate, irritada por elas simplesmente não pararem de surgir da floresta, quando tudo mudou mais uma vez. Um enorme clarão se formou bem no centro da clareira. A aparição da luz lançou uma força que era similar a uma explosão invisível, impulsionando o corpo de todas nós para trás e nos derrubando.

 

-Ora, ora – era uma voz feminina e aveludada – Temos visitas e esse não é o jeito certo de resolver as coisas.

 

-Elas são invasoras! – uma das garotas exclamou.

 

-Todos os são querida, mas sempre tiramos um aproveito ou outro disso, não é mesmo?

 

Virei meu corpo sentando de mal jeito, ainda zonza por causa do impacto estranho. Porém quando foquei meu olhar, ali bem ao centro, estava uma mulher linda. Ela tinha cabelos castanhos claros, quase loiros e uma postura naturalmente superior. Porém era o seu sorriso soberbo que me causava arrepios.

 

-Circe – Jennel pronunciou o nome com certo desprezo.

 

-Ah, você – a mulher fez uma breve careta – Essa vocês podem matar.

 

-Não! – reagi sem pensar e acabou que todo mundo olhou para mim – Q-quero dizer, você não pode mata-la. Nós estamos aqui sobre o pedido de Hécate.

 

-Minha mãe não---

 

-Camila falou diretamente com ela – Lauren a cortou sem medo nenhum, a encarando daquele jeito Jauregui de ser – Estamos em uma missão que foi iniciada a partir da deusa da magia.

 

Circe encarou a filha de Zeus sem esconder o incomodo. Parecia analisa-la de maneira minuciosa e eu já estava quase perguntando o que ela tinha perdido em Lauren quando a deusa sorriu.

 

-Vamos então todos para meu SPA – Circe decidiu – Todas quatro são agora minhas convidadas.

 

Quatro? Olhei ao redor com certo desespero, não encontrando Dinah, Mani e Ally. Já ia abrir a boca quando um olhar de Lauren me alertou. Um simples gesto de cabeça em negação e eu soube que elas estavam aprontando alguma coisa. Até mesmo o lêmure e o pug haviam sumido!

 

-Levantem – a garota morena resmungou – Não temos o tempo todo.

 

Circe sorriu em concordância e virou em um movimento gracioso. Enquanto ela andava, a floresta parecia se abrir para lhe dar caminho. Um efeito que deixava claro o poder que ela exercia sobre a sua ilha. Jennel foi a primeira a segui-la, tensa e com os lábios prensados um no outro. Ariana levantou com a ajuda de uma loira e Lauren quase rosnou quando uma garotinha foi tentar ajuda-la.

 

Bom, ao menos o primeiro passo estava dado, encontramos com Circe. O resto? Só tínhamos de conseguir o cordão de ouro, sair da ilha, encontrar o resto das menina e salvar minha mãe. Estava esquecendo de algo? Ah sim, as caçadoras e a ex-namorada de Lauren.

 

Definitivamente ser uma heroína ou aventureira era melhor nos livros.



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