— Ficou bom? — perguntei a Gabe, que assentiu.
— Ficou perfeito.
— Hale, o que acha? — ele se inclinou sobre o balcão do laboratório para ver melhor.
— Bom trabalho. — ergueu a mão esquerda, esperando que eu a tocasse, e assim eu fiz.
Já estávamos de volta à escola, no laboratório. Eu havia ficado responsável pelos desenhos, Hale por diferenciar as plantas e Gabe pelo relatório.
Felizmente, Gabriel e Hale arrumaram plantas no último minuto com algumas garotas. Os dois estavam ocupados demais em bocas alheias para procurar, assim como eu estava muito entretida em conversas com o Jeon.
— Você desenhou? — Jeongguk indagou-me, surgindo como um ninja atrás de mim.
Eu não sei o que me deu mais vontade de gritar: o susto ou ter sua voz grossa soando tão perto da minha nuca.
— Aham. — olhei-o por cima do ombro quando tive a convicção de que não gaguejaria. — Ficou bom?
— Melhor do que o meu. — sorriu. — Quer ver?
— John. — Hale o chamou antes eu que respondesse. — Este é o estilete da planta? — ergueu uma das partes da flor esquartejada.
— É um dos filetes. — O professor disse, assustando a nós três. Ele estava apoiado numa das pontas daquele balcão enorme.
— Obrigado. — Hale sorriu amarelo. O professor repetiu o ato do mais novo antes de entrelaçar suas mãos atrás das costas e seguir para o balcão seguinte, onde outra dúzia de alunos assassinavam plantinhas nojentas. — Será que eu vou perder nota por isso? — ele indagou quando o mais velho se distraiu com outra coisa.
— Com certeza. — ri fraco. Hale choramingou — Cadê seu grupo? — voltei-me ao Jeon.
— Por aqui. — guiou-me até a outra ponta do balcão.
— Jeongguk, você não vai pintar? — um garoto loiro disse assim que nos aproximamos.
— Ah, estou com preguiça — colocou-me em sua frente, segurando em meus ombros após fazê-lo. — Esta é a Maeve.
O loiro cutucou outro garoto ao seu lado, e então os dois me encararam com uma expressão que eu não consegui decifrar direito.
— Eu sou o Peyton. — O loiro se apresentou, estendendo-me uma mão que eu rapidamente apertei.
— Oi, Peyton. — sorri. Soltei sua mão, e então percebi a presença de um anel nela. — Você namora, Peyton? — indaguei-o. Ele pareceu surpreso, mas o garoto ao seu lado não: este soltou uma gargalhada que acabou me assustando.
— Eu conheço você! — estreitei os olhos na direção do outro garoto. Este era moreno, gordo e o mais alto dos três. — Você é o cara do busão!
Sempre pegávamos o mesmo ônibus, mas eu descia antes dele. Ele parecia ser bem simpático.
— Sim! Eu sou o Dylan — disse entre arfadas, tentando normalizar sua respiração. — E o Peyton não namora. — acrescentou, mordendo o lábio inferior em uma tentativa de não voltar a rir. — Prazer. — cumprimentou-me com outro aperto de mãos.
Jeongguk soltou meus ombros e pigarreou.
— Este é o Peyton que você falou aquele dia? — questionei-o, olhando por cima dos ombros. Ele assentiu com a cabeça; pareceu desconfortável.
— Vem cá. — afastou-me um pouco de seus amigos, indicando o cartaz mais ao lado.
— Você fez isso? — perguntei, surpresa. — Você desenha muito bem. — elogiei-o. Ele arqueou as sobrancelhas.
— Eu nunca te mostrei o meu caderno, não é?
— Não. — estiquei os lábios em um biquinho inconscientemente. Jeongguk riu de lado.
— Vou te mostrar depois da aula.
— E durante ela, você vai pintar o desenho. — Peyton ressurgiu ao nosso lado.
— Está bom assim. — Jeon revirou os olhos.
— Todo mundo pintou, cara. — Dylan complementou, apoiando os braços na mesa e esticando-se para nos olhar.
— É só dizer que vocês fizeram um desenho conceitual. — outra voz ecoou por perto, mas uma feminina. Olhei para frente, buscando a dona dela.
Eu quis chorar. De verdade. E então gritar e engolir as pétalas daquelas malditas plantas dispostas no ábaco do laboratório até vomitar rosas inteiras.
Ruiva, baixinha e… como eu posso dizer isso sem soar grosseira? Bem, digamos que a massa tetalar dela era bem avantajada.
Resumidamente, a garota era a exata descrição de Hale sobre o tipo de um nerd.
— Arte em preto e branco está na moda. — ela continuou. As garotas ao seu lado concordaram.
Rapidamente as reconheci: eram o grupo que Jeongguk cumprimentou no refeitório outro dia. Três garotas lindas e legais. Tudo bem. Mas elas não podiam ser lindas e legais um pouquinho mais longe dele?
— Vou expor em uma galeria quando me formar. — Jeon brincou.
— “A melancolia das plantas decepadas” — outra das garotas disse. —, vai ser um sucesso.
Alguns minutos depois, eu descobri que a ruiva se chamava Mary. Felizmente, a falta de um Jane me deixou um pouco menos desolada.
As outras duas se chamavam Jenna e Courtney, mas estas não me deixaram tão abalada.
De qualquer forma, eu mantive a compostura.
— Sabe o que é ainda mais bonito do que flores? — Gabe indagou-nos, chamando nossa atenção.
— Você já terminou o relatório? — rebati. Minha expressão não devia ser a mais receptiva.
— Já. — revirou os olhos. — Mas, respondendo a minha própria pergunta. — recostou-se na mesa. — Essa princesa é mais bonita do que qualquer flor neste laboratório. — sorriu para Jenna, que o olhava do outro lado do balcão.
— Não é muito galanteador ser comparada à flores mortas. — ela replicou.
— Para de encher o saco da garota. — bufei.
— Estou apenas a apresentando ao amor de sua vida. — ergueu o indicador. — Diferente de algumas pessoas — afastou-se do balcão e ultrapassou Peyton e Dylan, colocando-se entre mim e Jeongguk —, eu não perco tempo. — concluiu, cantarolando.
— Como assim? — Jeon franziu o cenho.
— Ah, Coreia — umedeceu os lábios. Um de seus braços circulou os ombros do mais alto —, é que tem gente meio lerda, sabe? — inclinou-se para me fitar. — Gente que precisa cair na real.
Feliz ou infelizmente, Hale chegou antes que eu batesse a cabeça de Gabriel contra o microscópio mais próximo.
— Eu nunca mais quero ver plantas na minha vida.
— Eu nunca quis. — dei de ombros.
— Você já terminou? — Jenna questionou ao meu amigo, que assentiu, sorrindo. — Pode me ajudar? Eu não sei qual é o tipo desta planta. — mordeu o lábio inferior, erguendo a coisinha verde e morta.
O queixo de Gabriel foi lá embaixo. O sorriso de Hale foi lá em cima.
— Por que o professor não está aqui pra escutar isso? — reclamou o mais baixo.
Depois da aula, Jeon me levou até o armário dele, em frente ao bebedouro e perto da sala de música.
Não preciso dizer que foi quase nostálgico. A imagem do primeiro dia em que o vi ali ainda estava cravada em minha mente.
— Espera. — ele pediu-me enquanto abria seu armário e tirava sua mochila de lá.
Encostei minha cabeça na superfície gélida de outra daquelas caixas vermelhas de metal e o observei em silêncio.
Jeongguk apanhou sua mochila e a abriu sem pressa, tirando o caderno preto de lá em seguida.
— O que foi? — questionou quando me pegou o encarando. Sorri.
— Nada.
— Tudo bem. — sorriu de lado. — Segura aqui. — estendeu o caderno, que eu rapidamente recebi.
— Não é justo. — fora a primeira coisa que eu disse quando comecei a folhear o objeto.
Escutei o baque metálico do armário e deduzi que ele havia o fechado.
— O quê? — colocou-se ao meu lado. Sua mochila fora jogada no chão.
— Você faz tudo muito bem. É quase absurdo.
Pude escutá-lo rir baixinho antes de responder.
— Não sou muito bom em Química. — deu de ombros.
Ri de lado ao lembrar de que já havia me questionado isso.
— Você podia me desenhar. — mudei de assunto.
Meus dedos continuavam a folhear o caderno, dando permissão para que meus olhos apreciassem os diferentes desenhos; eles variavam de personagens de animações a animais e artes conceituais; também haviam muitos envolvendo constelações.
— Não dá. Eu estou bem ocupado em um desenho específico. — cantarolou.
Meus olhos rapidamente se desviaram para a parede em minha frente.
— Ah, tá — murmurei, frustrada.
— É bem bonito. — continuou.
— O que é? — voltei a passar pelas páginas.
— Uma garota.
Meus dedos passaram a apertar o caderno com mais força.
Por algum motivo, Mary-deusa-dos-nerds me veio à cabeça.
— Legal. — disse, entredentes.
— Ela é bonita e bem legal. Eu gosto dela. Acho que somos amigos.
— Hm. — passei e virar os as páginas mais rápido.
— E ela falou algo sobre estar esperando que eu a chamasse para ir ao cinema hoje mais cedo.
— Hm… — respirei fundo. — Espera. O quê? — meu cérebro pareceu finalmente processar as palavras dele.
Mirei-o, atônita.
— O nome dela é Maeve. — ele sorriu, nervoso, enquanto tirava o caderno de minhas mãos. — E eu não sabia como dizer isso, até porque nunca sei. — abriu o objeto em sua última página usada. — Mas eu quero chamá-la pra ver um filme comigo. Você acha que ela aceitaria? — mostrou-me o desenho. O meu desenho.
Eu estava sorrindo em seu caderno tão largamente quanto estava na vida real.
— Eu acho que ela aceitaria, sim.
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