História Estereótipo - Subclasse de nerd desconhecida

Contudo, ela não veio imediatamente.

Eu esperei, esperei e esperei. Mas, só quando percebi que já era madrugada, decidi colocar meu celular para carregar e ir dormir.

Naquela manhã, eu me senti ridicularizada e rejeitada demais para me produzir como na anterior, então apenas calcei um tênis e vesti qualquer coisa por cima do pijama.

— Eu consegui os horários dele. — Maddie disse, animada — Não deu tempo de pegar os clubes, mas as aulas estão todas aqui. — estendeu-me a pasta.

Eu quis recusar, juro que quis, mas, aparentemente, eu tinha algum vício em tomar decisões erradas.

Aquela manhã fora marcada pelas imagens de eu arrastando meus amigos pelos corredores em que Jeongguk teria aulas. Eu o vi quatro vezes — e me atrasei para as classes cinco.

Ele pareceu não me notar em momento algum. Não consegui decidir se isso era bom ou ruim.

— Espera. — Maddie pediu no final do último período. Não entendi o porquê, mas fiquei lá, aguardando todo o resto da sala deixá-la.

— Alguma dúvida, garotas? — Sra. Roberts, a professora de Geografia, indagou-nos quando nos aproximamos da mesa.

Éramos as únicas almas vivas naquela classe. A professora estava guardando seus materiais na bolsa enquanto aguardava por uma resposta.

— Sim. Mas não é sobre a matéria. — Maddie sorriu docemente. Ela tinha aquilo de persuadir as pessoas.

Arqueei as sobrancelhas, tentando adivinhar aonde ela queria chegar.

— Prossiga. — Sra. Roberts pediu, curiosa.

— É sobre um aluno. — arregalei os olhos.

— A professora deve ter coisas para fazer, Maddie. — segurei sua mão, apertando-a fortemente. Minha face devia espelhar um misto de desespero e ódio.

— Não. Tudo bem. Hoje eu saio depois do almoço. — sorriu.

— Ótimo. — Maddie soltou-se do meu aperto discretamente. Rangi os dentes, forçando um sorriso.

— Mas, enfim. Você está interessada em alguém? — entortou os lábios em uma expressão sugestiva. A mais nova negou.

— Nah. Não é pra mim — fez uma pausa, olhando-me de lado —, é pra ela. — apontou em minha direção.

Corei quando a professora sorriu para mim.

— Que gracinha. Quem é o sortudo?

— Seu nome é Jeongguk. — a morena, que, aparentemente, queria morrer cedo, disse antes mesmo que eu pensasse em abrir a boca. — A senhora dá aula pra ele, certo? — sorriu em expectativa.

Sra. Roberts ficou alguns segundos pensando antes de responder; provavelmente tentando se lembrar de quem se tratava.

— Ah, sim! — assentiu várias vezes com a cabeça. — O John, huh?

— Sim. — confirmei, dando-me por vencida. No final das contas, eu também queria saber.

— O que querem saber sobre ele?

— Ah… — dei de ombros. — Ele é um bom aluno?

— Ele ficou de recuperação na minha matéria bimestre passado. — disse, rindo fraco. — Pelo que vejo em minhas aulas e escuto na sala dos professores, ele é… esforçado. Mas tem dificuldade em algumas aulas.

— O que mais? — Maddie a estimulou.

— Ele é muito tímido. Quando eu o peço para explicar algo na frente da classe, ele falta ter um treco. Tadinho.

Ri baixinho, mas me mantive quieta escutando.

— Mas Keegan fala muito bem dele.

— O professor de educação física?! — franzi o cenho, surpresa.

Meu tom pareceu ter assustado a mais velha. De qualquer forma, ela não tardou em responder:

— É. O garoto é bem atlético. Ele faz parte do time de vôlei de praia. — pareceu se lembrar de algo — O time tem um jogo hoje a tarde, inclusive.

Eu morava e estudava praticamente de frente à praia, mas raramente ia lá. Posso fazer uma lista bem clara dos motivos:

1- Areia;

2- Pessoas;

3- Pessoas correndo e brincando na areia.

Mas, se Jeongguk ia à praia, eu estava disposta até a rolar na areia. Com pessoas nela. Pessoas!

— Um nerd atlético? Essa é uma subclasse que eu não conhecia. — Hale disse. Suas mãos estavam dispostas em frente aos seus olhos, em uma tentativa não tão eficaz de bloquear a luz do sol.

— Eu não me importaria em conhecer. Nem minhas mãos. Nem minha língua. Nem minha va-

— Tudo bem. Eu já entendi. — me cortou com uma careta em face.

Estávamos atrás da proteção entre a quadra e o público. Jeongguk se alongava em nossa frente. Sem camisa.

Eu já havia constatado que ele era forte, mas seu corpo superava qualquer expectativa.

— Eu realmente espero que você não tenha me arrastado aqui pra acabar não falando com ele. — Hale notificou. Não me importei em responder, estava ocupada demais babando pela forma que Jeon tencionava seus músculos mais a frente.

É claro: eu não havia dito para Hale que já tinha tentado falar com Jeongguk. Eu não sabia o porquê. Da mesma forma que não sabia o porquê de insistir nele após ter levado um vácuo que deixaria qualquer astrofísico com inveja.

Mas, bem, a incrível imagem que meus olhos contemplavam me fazia ter uma ideia da resposta.

Eu lamentei pelo fato de a grade de proteção bloquear qualquer visão que Jeongguk poderia ter de mim e meu biquíni incrível.

O jogo começou após alguns minutos. Hale havia comprado alguns lanches para comermos durante a partida, mas a cada ponto feito por Jeongguk, meus salgadinhos tinham como destino o chão, para serem pisoteados por mim minutos depois.

Eu nunca gostei de esportes. A aula de Educação Física e qualquer clube que ela oferecesse eram sempre ignorados por mim. Todavia, naquele momento, eu me arrependi de ter assistido a todas as temporadas de Skins sentada na arquibancada ao invés de correr e jogar com todos aqueles adolescentes suados. Ao menos, assim eu saberia qual a posição de Jeongguk no jogo. Ou o porquê de ele estapear tanto aquela maldita bola.

Tudo bem, eu admito: quis ser aquele objeto redondo e sem graça várias vezes durante o jogo. Pelo menos ele sentia o toque de Jeongguk.

— Você está me assustando. — Hale, a única pessoa de camiseta e calça jeans naquela praia, comentou em algum momento.

— Por quê? — indaguei com os olhos ainda presos em Jeon, que arrumou sua postura antes de lançar a bola para cima e dar-lhe um tapa estralado.

Céus, eu chorei. De todas as formas que você pode e não pode imaginar.

— Pare de o encarar assim. O garoto vai sumir daqui a pouco. — reclamou. Sua voz soou arrastada, quase manhosa.

— Cala a boca.

Para falar a verdade, eu não sabia quando e como um ponto era feito naquele jogo, eu apenas gritava quando todos os outros também o faziam. Ou em qualquer momento que Jeongguk tocasse na bola — ou seja: muitos.

Jeon realmente tinha foco no jogo. Ao menos, foi o que eu repeti para mim mesma para me convencer a ignorar o fato de que ele não olhou em minha direção em momento algum.

Felizmente, eu não levei uma bolada na cabeça. Infelizmente, não posso dizer o mesmo sobre meu coração.

— Hale. — murmurei.

— Huh? — olhou-me de lado. Ele me puxou quando quase fui atropelada por um ciclista.

— Foi incrível. — meu olhar estava vago. Eu mal conseguia raciocinar, apenas deixava Hale me guiar de volta para casa.

— Você derrubou todo o salgadinho. Foi horrível. E acho que estou surdo depois de todos aqueles gritos. — orientou-nos para atravessar a rua.

— Você viu aquelas pernas? E os braços? Ah! E aqueles ombros? — pendi a cabeça para o lado. — E o abdômen, Hale! O abdômen! — suspirei. — Ele é incrível.

— Eu odeio o sol. E meu tênis está cheio de areia. — continuou reclamando. — Chame outra pessoa da próxima vez.

— Incrível. — repeti, sorrindo.

Eu ainda estava nas nuvens no momento em que Hale soltou minha mão e colocou-me dentro de casa. Continuei nas nuvens enquanto jantava com minha mãe. E quando tomei banho. Até quando me deitei para dormir. Quando acordei na manhã seguinte, também.

Como qualquer outra pessoa, fiz a coisa mais importante ao acordar: apanhei meu celular e chequei as notificações.

Nada fora do comum, exceto uma:

“Desculpe a demora pra responder. Eu quase não entro aqui.

Mas, que susto? Não me lembro de nenhum lol Não entendi.

Você gosta da banda? É uma das minhas favoritas! É raro achar alguém que conheça. Estuda na Liberty? Se quiser conversar melhor comigo, me procura lá amanhã :)

Boa noite.”

Se Hale ainda não havia comprometido totalmente a sua audição devido aos meus gritos durante o jogo, o que soltei depois de ler aquela mensagem teria o deixado definitivamente surdo.