História Estrela sem Memória - Especial: O Álbum de Park Jimin

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Jungkook

Tae entrou na van em silêncio e fez um breve aceno ao motorista, ignorando completamente a minha existência. Senti um nó em minha garganta e desviei o rosto, com os braços cruzados.

-B-bom dia! Ah... –Alguém parou na porta do veículo e fechou o zíper da jaqueta. –Sou Park Jimin, o responsável pela sessão de hoje.

-Espero que tenha sorte, Jungkook tem manias. –Resmungou Tae, colocando o óculos escuros e puxando o capuz sobre a cabeça. –Nós já nos conhecemos, não é?

-Sim. –Jimin sorriu e acenou positivamente com a cabeça.

Tae o fitou por alguns segundos e resolveu guardar os óculos, em seguida deu uma leve batidinha no banco ao lado dele.

-Sente aqui, como está o seu amigo? ... Aquele que desmaiou no evento depois de ajudar meu irmãozinho querido. –Tae me olhou com certa ironia ao mencionar “querido” e eu pude perceber em sua voz um certo desprezo.

Jimin agradeceu e sentou, um tanto cauteloso. Ele ajeitou a mochila no colo e fechou a porta, sinalizando ao motorista que podíamos sair.

-Yoongi está melhor. –Jimin deu meio sorriso e virou em minha direção, seus olhos estavam cintilantes e aquilo chamou minha atenção. –E você também parece mais saudável, Jungk-

-Obrigado. –Respondi antes mesmo que ele pudesse terminar a frase. –O que vamos fazer hoje Jimin? Não tinha nada detalhado na agenda, apenas citava photoshoot² e making of³.

Tae começou a rir e eu estreitei os olhos em sua direção, tentando me segurar para não lhe dar um tapa na cara. Ao invés disso apenas mordi a língua e desviei o rosto, ele estava levando a sério sua promessa de não falar comigo sem ser extremamente profissional, isso estava me magoando muito.

-Não sei se você prestou atenção quando foi chamado pra reunião “maninho”, mas Jaeyoon comentou que seria um teste prático para o Jimin e nós precisaríamos avaliar o desempenho dele. Aliás, eu li a ficha e gostei da ideia de ser em campo aberto, podemos fazer algumas fotos na parte antiga da cidade? Eu dei uma pesquisada sobre o distrito que você escolheu e existe a região de artesãos em frente à estação, quero conhecer.

-Por mim sem problemas! –Respondeu Jimin, rapidamente buscando o celular e começando a digitar com um sorriso tímido no rosto. –Jungkook, você tem algum interesse particular para usar nas suas fotos ou posso definir a locação?

Jimin fazia perguntas bem específicas e eu não estava inteiramente focado na conversa, por isso demorei para processar o que estava acontecendo. Ele sorriu outra vez e ficou um tanto constrangido com o meu silêncio, o que acabou gerando um clima tenso entre nós três.

-Certo... –Ele sussurrou, baixou a cabeça voltou a digitar no celular. –Não quero importuná-los muito, no entanto acredito que seria muito mais legal poder aprender com a experiência de ambos. Então o que acham de esquecerem os problemas só por hoje e aproveitar o dia passeando pela cidade? Eu tiro as primeiras fotos com mais distância pra não atrapalhar a interação, aí conforme aparecerem as locações ideais nós paramos, organizamos a equipe e trabalhamos melhor.

Tae se virou para mim, eu conhecia aquele olhar triste e pensativo. Ele não queria ceder, com seu típico orgulho de irmão mais velho e a tentativa de ter sempre a razão, contudo o discurso de Jimin se encaixou de modo apaziguador.

-Pode ser. –Tae esticou a mão em minha direção e bagunçou os meus cabelos daquele jeito engraçado do qual eu sentia falta. –Kookie gosta de vento e liberdade, então vai ser fácil capturar isso ao ar livre.

Agradeci mentalmente a presença de Jimin naquele momento, ele de alguma forma conseguiu amenizar a situação entre nós com apenas alguns minutos de conversa e eu me senti aliviado por ter a versão mais legal do meu irmão outra vez. Eu com certeza lembraria de mais tarde agradecer pessoalmente à Jimin, ainda que seja estranho para ele.

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[Algum tempo depois...]

Jimin terminava de ajeitar a lente na maleta e Tae permanecia sentado ao lado da staff no banco de madeira, observando o pôr do sol no horizonte um tanto deserto da região. Alternei meu olhar entre os dois e resolvi me dirigir à Jimin, notando como ele era cuidadoso com os equipamentos e extremamente concentrado.

-Oi...? –Acenei brevemente e ele sorriu.

-Oi!

-Jimin, eu queria agradecer pelas palavras de hoje mais cedo...

-Mas eu nem disse muita coisa. –Ele afastou a franja com a mão direita e sentou para poder conversar melhor comigo. –Só preciso muito desse emprego... –Notei como seu rosto ficou corado e sua expressão indicou um certo constrangimento. –E vocês não estavam bem né? Deu pra sentir no ar... Eu fico feliz por ter ajudado.

-Você é legal! Vai ser nosso fotógrafo mesmo?

-Bom... –Jimin desviou o rosto por alguns instantes e mordeu o lábio inferior, pensativo. –Vocês precisam me aprovar primeiro.

Nós dois rimos e ele ficou mais à vontade, deixando a função de organizar o equipamento de lado. Naquele instante Tae nos encarou com curiosidade e ficou atento à conversa. Dei um meio sorriso e voltei a fitar Jimin, ele também me observava e nós ficamos dessa forma por um longo tempo. Era estranho conversar com ele, porém eu me sentia seguro de algum jeito, como se pudesse confiar nele.

-De minha parte você está completamente aprovado! –Respondi com firmeza e Jimin fez uma breve reverência com a cabeça, surpreso com o que acabava de ouvir. –Tae também vai gostar de trabalhar contigo, não se preocupe. Sabe... Eu notei uma coisa antes e queria te perguntar...

Eu me inclinei um pouco, apoiei a mão sobre a mureta e fiquei bem próximo do rosto de Jimin, analisando sua expressão confusa e receosa. Não pude conter o impulso e toquei a lateral do seu rosto, como numa tentativa de analisar melhor a íris, era diferente e brilhante, como um cristal rosado. Ele engoliu em seco e eu comecei a rir baixinho, retornando a minha posição normal.

-Jimin, você usa lentes? Nunca vi desse modelo antes. –Comentei ao indicar os olhos dele. –Desculpe a pergunta aleatória, mas é que isso me chamou tanto a atenção quando você entrou na van e agora que vi mais de perto eu... Não sei, você deve estar achando que sou um tarado... Hahaha...

Ele tentou rir junto, só que dessa vez não pareceu tão natural e me senti um tanto invasivo, provavelmente deve ter achado que eu era um pervertido e aproveitador, tive a sorte de Tae aparecer entre nós naquele momento e quebrar o clima bizarro que havia se estabelecido.

-Bom... Acho que já podemos voltar, estou com fome. –Tae comentou, olhando o relógio de pulso e em seguida mandando aquela típica expressão de ciúmes para que apenas eu visse.

-Isso! –Jimin sorriu e levantou rapidamente, segurando a maleta e logo buscando com a outra mão a sua mochila. –Eu tenho bastante material e ainda p-preciso terminar a renderização pra encaminhar ao... Enfim... Hehehe... Coisa de produção mesmo.

Ele virou bruscamente e deu os primeiros passos com certa confusão, demorando para acertar o caminho até a van. O restante do trajeto foi com um diálogo maior entre Tae e eu, Jimin concordava em alguns instantes e vez ou outra falava, mas mantinha certo receio ao me olhar, isso me deixou preocupado.

Após o jantar com a equipe nós fomos para o dormitório e Tae não se mostrou tão agressivo ao conversar comigo, isso me deixou extremamente feliz, contudo senti que precisava concluir nosso “acordo de paz” e também tirar um peso da minha cabeça.

-Tae... –Sentei à beira da cama e ele levantou para me observar. –Hoje no fim da sessão, acho que fiz uma coisa ruim e estou com medo de ser mal interpretado.

-Hum? Que coisa Kookie?

-Eu fiquei curioso com as lentes do Jimin, você reparou que elas eram meio rosadas? Nunca tinha visto daquela cor antes, sei lá, fiquei meio hipnotizado com aquela cor e quis ver mais de perto pra poder comprar umas iguais...

-Isso é normal. Devem ser lentes importadas, provavelmente. –Tae encostou-se na cabeceira e sorriu. –Por que isso te incomodou?

Suspirei e dei de ombros, sem saber como explicar.

-Eu toquei no rosto dele, mas você sabe que faço isso por que gosto de ver de perto... Não sei dizer, acho que Jimim pode ter interpretado outra coisa, por que fez uma careta estranha e ficou quieto na van enquanto retornávamos. –Encarei o rosto de Tae e ele ficou sério. –Eu não sei se ele pensou que foi assédio, ou que fui muito invasivo.

-Ele deu a entender isso?

-Espero que não. –Argumentei, sentindo-me pressionado naquele instante. –Eu não sou assim, mas fiquei com medo de parecer. Você acha que consegue conversar com ele amanhã ou depois...? Só pra ter certeza.

-Tudo bem, não tem problema. –Tae sorriu e esticou o braço com um sinal para eu deitar ao lado dele. –Vem cá irmãozinho, me dá um braço decente de desculpas...

Eu ri ao ver um beicinho se formar em seu rosto e tirei o calçado rapidamente, engatinhei até ficar ao lado dele e o abracei, sentindo as batidas aceleradas do seu coração bem no meu ouvido. Tae bagunçou meus cabelos e começou a rir também, aquilo me deixou aliviado, pois indicava que nossa briga havia terminado de vez e era assim que eu queria estar... Com o meu irmão ao meu lado, protegendo e alegrando meus dias.

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