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Autor
Namjoon observava Mark pelo vidro em silêncio, planejando as falas que pronunciaria ao loiro sem ser preso no processo. Estava diante daquele ao qual havia confiado a sociedade do Clube e agora em sua visão era responsável por quase destruir o seu melhor amigo.
-Eu sinto muito, Namjoon. –Murmurou Mark, um tanto preocupado com o silêncio do outro.
-Não adianta dizer que foi um acidente.
-Ah, francamente Nam, você conhece o meu tipo de negócio com as armas.
-E por isso lembro claramente de te dizer para não usá-las dentro do meu estabelecimento! –Respondeu o moreno rapidamente.
-Agora ele é só seu? –Ironizou Mark, um tanto indignado. –Aquele lugar ainda está inteiro graças ao meu time. Você teria perdido há muito tempo se eu não tivesse levado os meus caras para vigiar-
-Isso não tem nada a ver com os crimes que você cometeu, Mark! –Namjoon interrompeu o outro, com a voz firme enquanto usava o indicador num gesto que enfatizava a sua acusação. –Yoongi me convenceu a te aceitar como amigo naquela época e eu te acolhi por que não queria manter inimizades, no entanto você quebrou esse trato ao colocar a vida dele em risco! Eu jamais conseguiria conviver com a culpa de ter um assassino trabalhando pra mim!
--Eu não matei ninguém, Namjoon! –Mark começou a explicar. –Eu estava bêbado naquela noite e a arma era do Himcham! ... Não imaginei que ela estaria carregada de verdade, nós usamos armas apenas para intimidar as pessoas, sempre foi minha regra para frequentar o Monster’s Club e os meus subordinados jamais utilizaram balas de verdade. Eu já dei meu depoimento à polícia e vou responder por todo o mal que causei.
-O que você queria fazer ao Hoseok também é errado. –Namjoon suspirou e baixou a cabeça, um tanto reflexivo. –Isso é completamente inaceitável.
Mark desviou o olhar por breves segundos, lembrando-se do ruivo que era sempre sorridente e tirava boas notas na faculdade. No começo Mark até tentou se tornar seu amigo para poder se dar bem nos trabalhos, contudo algo havia acontecido com Hoseok e de um dia para o outro o ruivo simplesmente passou a se isolar dos colegas, andava cabisbaixo e com um medo incomum no olhar.
A festa de Himcham poderia ser uma chance que Mark havia encontrado para se reaproximar de Hoseok e entender que acontecia, além de também convidá-lo a fazer parte do seu time de Domésticos. Seu plano acabou indo pelo ralo naquela noite e quando reconheceu Yoongi imaginou que este o ajudaria a convencer Hobi, ficou irritado por não conseguir e o impulso o fez cometer um grande erro.
Agora não haveria volta. Nem o sorriso de Hoseok, nem a amizade de Yoongi e agora Namjoon também não o queria por perto.
-Nam... Eu sei que sou ruim, mas só quero que saiba que sou o menor dos seus problemas. Existem pessoas acima de mim, pessoas bem perigosas e com menos piedade. Por favor, tenha certeza de que ficará bem... Pode não parecer, mas eu estou preocupado com o que irá acontecer.
-Nós vamos ficar bem, Mark. Você está na cadeia agora, pra mim por enquanto já basta.
Namjoon levantou e virou-se para sair sem nem mesmo olhar para trás. Mark ainda tentou chamá-lo, mas seu pedido foi em vão e o loiro ficou apenas com o vazio.
-Droga Nam... Não posso mais protegê-los.
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[Dias depois...]
Hoseok
Abri meus olhos rapidamente e encarei o teto na escuridão, sentindo meu corpo inteiro rodeado pelo calor. Levei a mão esquerda sobre a testa e percebi que estava completamente encharcado de suor. Imagens de uma perseguição ainda correram como um flash na minha cabeça e eu resolvi me sentar, acendi a luz do abajur e me enrolei no cobertor.
-Não tem ninguém aqui. –Sussurrei para a penumbra, chovia bastante lá fora e o som dos trovões estavam me assustando um pouco. –Não tem ninguém, só eu.
Voltei a afirmar de maneira inútil, prestei mais atenção à minha respiração e fechei os olhos, talvez se eu deitasse novamente poderia dormir... Ou ter outro pesadelo. Desde o dia em que precisei correr dois quarteirões para socorrer Yoongi daquela garota esquisita eu me sinto afetado e com medo de dormir sozinho em meu quarto, isso só piora quando recordo as palavras de Jin sobre estar colocando todas as pessoas que estão ao meu redor em risco.
-... Hoseok, está tudo bem? –Murmurou Yerin.
Abri meus olhos e notei que ela havia entrado no quarto com uma xícara de chá. O cheiro de alecrim alcançou meu olfato e não pude conter um sorriso, pois ela parecia entender do que eu precisava e sempre tinha um cuidado com todos de maneira igual. Pensar que ela corria riscos tirou meu foco outra vez e acabei me perdendo nas imagens do pesadelo.
-Hobi... Estou preocupada contigo, parece que teve outro sonho ruim. Foi isso? Quer que eu chame alguém?
-Estou bem. –Respondi com um sorriso forçado, rapidamente pegando o chá e bebendo pequenos goles.
-Se a chuva estiver incomodando eu posso tocar violino pra você. –Yerin sorriu, compreensiva. –Ou podemos fazer um bolo para o café, já são quase seis da manhã mesmo.
-Acho que vou tentar descansar um pouco... –Comentei e ela concordou, esperando que eu entregasse a xícara vazia. –Desculpe se eu atrapalhei o teu sono.
-Você nunca me incomoda, Hobi. –Ela pensou por alguns segundos. –...Talvez só me assusta quando tem pesadelos... Sou sua vizinha de quarto.
-Sinto muito.
-Sem problemas, estarei aqui para te salvar sempre que precisar. –Ela riu baixinho e se levantou. –Eu vou fazer o bolo, mesmo sem você... Tente descansar um pouco mais e daqui a pouco eu te chamo para o café, está bem?
-Obrigado Yerin, você é a melhor!
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Não tenho certeza de quando consegui dormir, mas um perfume conhecido me fez abrir os olhos bem rápido e meu corpo se levantar num impulso. Virei na direção da janela e percebi que Yoongi estava organizando minha escrivaninha com cautela, provavelmente numa tentativa de não atrapalhar o meu sono.
-Hum... Y-Yoon... O que está fazendo aqui?
Ele ficou paralisado por alguns instantes sem saber o que dizer, eu esfreguei os olhos e bocejei.
-Ah, estou organizando sua escrivaninha no momento. –Ele comentou por fim, agitando o meu diário no ar enquanto falava. –Achei que estivesse dormindo.
-Eu estava.
-Hobi, você brigou com sua faxineira?
-O quê? ... Yoongi, aqui não temos faxineira, cada um cuida do próprio quarto. –Respondi, afastando os cobertores e me arrependendo no mesmo instante do gesto, pois percebi que estava sem camisa.
Yoongi novamente ficou imóvel, mas havia um sorriso em seu rosto e ele rapidamente desviou o olhar para a mesa, trocando a posição de um porta retrato que tinha uma foto de infância minha.
-Desculpe Hobi. –Ele sussurrou, ainda sem olhar para mim. –Eu não devia ter invadido sua privacidade... Yerin me convidou para comer aqui hoje e eu decidi vir, afinal é aniversário do Jin ela queria fazer um bolo. Eu trouxe os ingredientes que faltavam e subi para te chamar.
Ele estava com vergonha? Era isso mesmo?
Levantei rapidamente e caminhei até o guarda-roupas, notei que havia um cabide pendurado em uma das portas com as peças escolhidas, além de um par de sapatos que eu havia ganhado de presente e ainda havia usado.
-Foi você que separou isso?
-Não.
-Que estranho. –Resmunguei, um tanto confuso enquanto vestia a blusa. –Eu nem me lembrava que era aniversário do Jin, esqueci completamente disso... Sou um amigo bem idiota, nem mesmo comprei um presente! –Bati contra a própria testa e suspirei.
Yoongi deu uma rápida olhada para o lado e forçou uma tosse.
-Eu acho que... Preciso descer, com licença.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa ele saiu apressado, batendo a porta com força e me deixando sozinho. A princípio fiquei confuso, no entanto aproveitei para me arrumar e perdi um tempo maior na frente do espelho... Nem sei ao certo o motivo, eu sempre estive bem e na verdade vestir aquelas roupas que eu quase não usava me fez perceber o quanto eu estava diferente. Elas eram bonitas e confortáveis, a camisa vermelha que usei na minha primeira entrevista de emprego e o casaco azul que Yerin me deu no natal do ano passado foram as peças que me trouxeram mais lembranças.
Terminei o momento de recordação e resolvi descer também, mas quando abri a porta dei de cara com Yoongi outra vez, ele estava de costas e com as mãos no bolso da jaqueta.
-Oi?
-Oi! –Ele virou e deu um passo para trás, permitindo que eu pudesse passar no corredor.
-Você não desceu?
-Não... Eu gostei.
-Gostou do que?
-... Agust. –Yoongi sorriu após sussurrar aquele nome e eu senti meu coração disparar.
-Não acredito que você leu meu diário! –Minha voz saiu um tanto alta e ele encolheu os ombros, visivelmente assustado.
Dias antes eu havia pensado em apelidos legais e idiotas, mas o nome “Agust” ficou em minha mente quando embaralhei algumas letras e sorteei numa última tentativa de criar um nome genial para Yoongi. Aquilo era pra ser um segredo!
Se ele descobriu só podia significar que havia lido o meu diário, fiquei muito bravo e ao mesmo tempo preocupado, pois costumo escrever todos os meus pensamentos nele... Bons ou ruins, são pedaços da minha vida que considero preciosos e prefiro manter escondidos.
-Yoongi, por que fez isso? Isso é errado!
-Não é errado querer conhecer o seu universo pessoal. Se vamos ser amigos não vejo motivos para não poder ver o que você escreve naquele caderno bonito.
-Isso é bem diferente! –Afirmei, cruzando os braços e encarando o semblante confuso dele. –Pra ler esse tipo de coisa é preciso no mínimo pedir permissão. Eu escrevo sobre coisas muito pessoais e que posso não querer compartilhar com mais ninguém.
-Mas não tem muito sentido em escrever algo que não deve ser lido. –Yoongi desviou o rosto, visivelmente triste. –Jamais imaginei que minha atitude seria capaz de ferir os seus sentimentos, afinal minha cabeça não é totalmente minha. Eu sou um doméstico, isso significa que Susy pode ler minha mente assim como fiz com o seu diário e ela não precisa pedir permissão. Ela inclusive sente o que eu sinto às vezes, por estarmos ligados. Também fico magoado, todavia não tenho uma opção de liberdade e você sim!
-Yoongi...
-Hoseok, eu fiquei muito impressionado com o seu diário e consegui te entender melhor depois de ler, especialmente as coisas que escreveu sobre mim. –Ele suspirou e voltou a me encarar. –... Hobi, acredito que você é a única coisa que a Susy não consegue ler na minha mente até hoje e por isso preciso entender o motivo.
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