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História Estrelas no Asfalto - Leucanthemum vulgare


Escrita por: PandaChaan

Notas do Autor


Hello, pessu. Então, não vim com essa história para ser fofa, joguei mostrando a realidade de algumas pessoas.
"Nossa, Panda, mas isso é muito triste." É, pois nem todos têm a vida que queriam.

Ah, o nome do capítulo é o nome científico da espécime floral conhecida como Margarida.

Enfim, boa leitura, I love vocês ♥

Capítulo 1 - Leucanthemum vulgare


 Andressa tinha de tudo para ter uma vida sem complicações, mas nem tudo é um mar de rosas. Um parto de risco aos sete meses por conta da má posição no útero e quase asfixia pelo cordão umbilical já mostraram que não seria fácil continuar vivendo.

 No início da sua infância, sua saúde era delicada como uma flor e teve que passar por várias cirurgias por uma doença cardíaca, impedindo que fizesse muito esforço e ganhando algumas cicatrizes para carregar no peito. Porém, ela não as odiava, muito pelo contrário. Gostava delas por pensar o quão longe as pessoas iam para ajudá-la.

 Ela não gostava das outras cicatrizes. "Quais outras?", você deve estar se perguntando. Aquelas que são mais profundas do que o corte causado por um bisturi, aquelas que doem e anestesia alguma poderia amenizar sua agonia, aquelas que são imperceptíveis a olho nu. Aquelas as quais só eram curadas com remédios não convencionais. Aquelas as quais são causadas por quem menos espera.

Durante o Ensino Fundamental, era normal que tivesse uma série de atividades físicas para pré-adolescentes incontroláveis, o que deixou nossa aluna nova muito feliz e, ao mesmo tempo, receosa. Andressa havia melhorado, finalmente havia firmado suas raízes e  poderia fazer atividades com as outras crianças, mas precisou passar por vários colégios antes desse para adaptação, sem contar exercícios para a preparação para essa nova etapa. Além do estresse por nunca conseguir conhecer as outras crianças nas escolas e por ter que passar por processos cansativos para melhorar seu condicionamento físico, anos antes, seus pais passaram pelo processo de separação e, por conta de um deslize alcóolico, sua mãe perdeu sua guarda para seu pai, o que, para a garota, foi um completo erro. No tribunal, seu pai jurou que sempre cuidaria da menina, independente da situação, mas não era bem assim. Seu pai era um homem de negócios, alguém importante para a empresa na qual trabalhava, um cargo que ela não entendia muito bem, mas que ajudava muito em casa. No entanto, por conta de seu trabalho, ele era um pai ausente. Sempre voltava estressado, irritado com tudo e que, intencionalmente ou não, descontava a raiva na filha.

 Tudo começou com palavras. Palavras doíam demais, era pesado demais para uma criança carregar sozinha, mas então chegou a virar dor física. Seu pai, tentando cicatrizar com bebidas, acabou deixando cicatrizes verdadeiras na garota de apenas 13 anos. Mesmo ficando marcada e com até braços quebrados, a pior dor ainda era causada verbalmente. As feridas um dia sumiriam de sua pele, mas frases ditas por seu progenitor nunca seriam apagadas da sua memória.

Andressa não odiava seu pai. Mesmo não vendo o motivo disso acontecer, mesmo tendo sua confiança traída por dizer que não aconteceria de novo, ele era quem, quando sóbrio, cuidava dela. Sempre chegava com roupas novas, sacolas com doces, até remédios para amenizar a dor causada por ele mesmo. Mesmo não acreditando que fosse de coração tudo o que era feito para si, ela ainda acreditava que isso acabaria um dia. Não dava para continuar vivendo desse jeito por muito tempo.

 Tudo continuou ocorrendo da mesma maneira até seus 15 anos. Seu corpo já havia se desenvolvido como uma flor no auge da primavera, o que chamou atenção de garotos e garotas que a conheciam. As agressões foram diminuindo de frequência e sua felicidade por sua vida estar dando certo era perceptível de longe. Parou de mudar de colégio e, agora no 9° ano, tinha conseguido fazer amigos. Seu jeito amável nunca passou sem ser notado, as pessoas admiravam isso, mas nem todos valorizavam.

Andressa arranjou um namorado na escola, um garoto do 3° ano do Ensino Médio. Com medo de falar com seu pai sobre isso, escondeu seu namoro a todo custo. Mesmo tendo melhorado a situação em casa, nunca tinha comentado sobre garoto algum, então achou melhor manter segredo. Mas, como toda garota sem uma mãe e pai presentes, Andressa fez escolhas erradas. Resolveu se entregar muito cedo, o que resultou em um garoto muito experiente apenas a usando para ter uma relação e uma garota ferida. O pior não foi ter sido iludida por seu "namorado", e sim o que seus "colegas de sala" fizeram com ela. Espalharam cartazes por toda a escola falando mal dela, ofendendo-a e, mais uma vez, as palavras a causaram uma dor maior do que a de espinhos em seu coração.

A garota não odiava seu, agora, ex namorado, nem seus antigos colegas de sala. Ela só queria saber o porquê. Sua confiança foi traída mais uma vez, causando imensa tristeza em seu interior. Ela era totalmente inocente, uma pessoa sem maldade em seu coração. Nunca havia feito nada de maldoso a alguém, sempre tentando ser a melhor pessoa possível, ajudando o máximo que pode. Não fazia sentido as pessoas se virarem contra ela, sendo que só o que ela fazia era acreditar no melhor das pessoas. Todos devem ter uma chance, como os médicos deram a ela várias vezes até que estivesse melhor.

Depois desse acontecimento, seu pai foi chamado até a instituição de ensino. Seu tutor legal não lhe dirigiu uma palavra até chegarem em casa. Quando chegaram, mais uma vez as palavras a atingiram. Porém, dessa vez, não foram apenas palavras e agressões físicas. Ela não tinha apenas "estragado" o dia dele, ela havia envergonhado o nome da família. Do mesmo jeito que esse imprevisto escolar começou, acabou. Andressa foi forçada por seu próprio pai.

Mesmo confiando e sempre se machucando mais por acreditar incondicionalmente nas pessoas, para ela, já não adiantava nem valia a pena continuar com essa vida. Ela havia passado por muita coisa. Querendo ou não, chorava quase todas as noites por achar que não estava sendo boa o suficiente com as pessoas e, por isso, as coisas terminavam desse jeito. Chorava para liberar a tristeza e sofrimento e depois sair de manhã com um sorriso no rosto pronta para o que o próximo dia tinha a lhe oferecer. Ela não queria, mas ficava mal a cada acontecimento. A cada acontecimento, uma nova cicatriz. Ela pensou várias vezes em desistir, mas ela nem precisou se esforçar para acabar com o sofrimento dessa vez. Seu pai desfez-se dela em um canteiro que seria a entrada para a nova garagem expandida da casa. Logo após isso, ligou para a polícia declarando o desaparecimento da jovem. Dois dias depois, uma equipe de construção veio cimentar a área.

A dor de Andressa realmente passou, seu sofrimento acabou, tudo o que viveu passou, mas sua vida ainda não.

Andressa amava flores, de todos os tamanhos, formatos e cores, sempre cuidava muito bem de seu canteiro. Seu pai as odiava, mas isso pouco a importava. Sua dedicação para com as flores era extraordinária. Elas eram sua única companhia, pois não precisavam correr, nem brincar, nem cansavam seu coração debilitado. Elas apenas dançavam de acordo com o ritmo do vento, coisa que, vagarosamente, ela poderia fazer sem pensar em passar mais tempo em um hospital. Sempre que passava suas tardes em meio às flores, se sentia livre. Doença ou pessoa alguma poderia tirar sua felicidade. As dores sentidas eram ignoradas. Existia uma luz no fim do túnel. Nada poderia atingir-lhe verdadeiramente enquanto seu pequeno jardim estivesse bem.

Cada flor era como se fosse uma parte dela. Ela via as marcas e relevos de suas pétalas e folhas como as cicatrizes dela. Pequenos traços que atravessavam sua pequena superfície como marcas de batalha. Uma batalha muito conhecida pela garota. Uma batalha chamada vida. E isso fazia com que ela não se sentisse tão diferente delas. Ambas presas a um destino pelo qual não poderia ser contestado.

A cada dia que passava, as flores lhe davam mais alegria e Andressa apenas ignorava toda a angústia por nunca saber o que aconteceria no dia seguinte. As suas favoritas eram as brancas. Sempre gostou da cor amarela, mas as flores brancas sempre eram as mais bonitas. Ela as via como as estrelas da terra, pontos que iluminariam o solo como era feito no céu. Ela queria que pudesse ser uma estrela também, queria brilhar e ser notada por seu próprio mérito. E assim foi.

Depois de alguns meses, nasceu uma flor em meio ao cimento imposto pelos seres humanos sobre um solo fértil. Essa flor era muito bela, possuía pétalas finas e medianas, algo que parecia tão delicado que causa medo de estragar tal perfeição. Andressa saberia bem qual espécie era aquela, ela sempre gostou de Leucanthemum vulgare, principalmente porque existiam de ambas as cores que gostava e suas pétalas lembravam uma estrela brilhando.

Depois daquilo, nasceu mais uma. E outra. E mais outra. Quando menos se esperava, já existia um canteiro cheio das estrelas da Andressa. Agora, de todo lugar do jardim, é perceptível a espécie crescendo e se desenvolvendo, se mostrando forte perante os que ousavam pisar sobre elas. Ela venceu a batalha que foi imposta a ela e conseguiu o que queria, foi reconhecida por seus méritos. Agora ela é uma estrela.

Mesmo quando parece que não tem como nem o porquê de continuar, pense na flor que cresce entre o cimento e o asfalto. Se ela, no pior estado, sem condições dignas, conseguiu crescer e mostrar-se para o mundo, mesmo com toda sua delicadeza, não desista ainda. Você é uma estrela na Terra, não deixe de brilhar antes da hora.


Notas Finais


Então, pessu. Não fiz isso com a intenção de fazer alguém chorar, apenas para repensar sobre a vida.

Se chorou, não me responsabilizo.

BRINCADEIRA

Obrigada por ler (e se favoritou, valeu também).

Tchau. ♥


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