POV HANNA
—Então, qual é o plano? – Lucas me pergunta assim que pego o mapa na mão.
—Chegar a Boise ainda hoje. Podemos dormir na casa de Ezra. Ele e Aria concordaram em nos acompanhar, mas só até a casa dos pais dele. A não ser que prefira dormir em outro lugar.
Ezra e Aria já sabiam de toda a história a essa altura. Não me importo se eles sabem ou não, só quero a verdade. Não importa qual seja o nome dela, Alex ou Spencer.
—Vou para onde você for.
Uma frase simples que me aquece como um cobertor.
Entramos no carro de Mona, Aria e Ezra entram na van da banda e vai nos guiando pela estrada. O som do carro é a única coisa que tira o silêncio entre nós.
Mona não ia vir conosco, decidiu de última hora. E Lucas e eu trocamos poucas palavras depois que nos beijamos. Não tive oportunidade de ficar a sós com ele, mas se eu ficasse também não saberia o que falar.
Iríamos até Laughlin para confrontar Mary Drake enquanto Emily e Alison estavam indo em direção a San Diego para achar Alex e Caleb no endereço que Lucas conseguiu pela conta de telefone do Caleb.
POV ALISON
—Quer que eu dirija primeiro? – Pergunto.
—Não tenho o hábito de deixar ninguém dirigir o meu carro. – Emily coça a cabeça. —Mas não vejo problema nenhum em deixar você fazer isso.
Sorrio para ela antes de apanhar as chaves no ar. Entramos no carro e eu me surpreendo. Está limpíssimo em comparação com a última vez que entrei nele.
Depois que passamos de Portland, Emily e eu decidimos parar. Almoçamos tranquilamente em um restaurante chinês até que eu noto a garçonete vindo mais do que o necessário até a nossa mesa. Ela enche nossas xícaras de chá e fala com Emily, até a mãe dela sair da cozinha para enxotá-la.
—Uau! Você conhece todo mundo ao longo da I-84? – Não consigo esconder meu tom de irritação.
—Só nos restaurantes chineses. Incluindo os da I-5.
Gesticulo em direção à garçonete, que está sorrindo para ela.
—Ela é uma fã de quando você veio tocar aqui com a banda?
—Nunca estive aqui com a banda. Comi uma vez neste restaurante com Bethany. – Ela faz uma pausa antes de completar a frase. —Minha irmã mais nova.
O nome não me é estranho. Então lembro que ela é uma das garotas que Emily falou ao telefone naquela primeira tarde que ficamos sozinhas.
—Bethany é sua irmã mais nova?
—É. Ela estava tendo problemas em casa. Na época, eu estava em Portland, então resolvi bancar a heroína e voltei na intenção de buscá-la e pegarmos a estrada juntas. Minha ideia era ir com ela para Utah. Até Zion, que eu sempre quis conhecer. – Ela bebe um gole de chá. —O carro quebrou aqui.
—O que aconteceu com a viagem de vocês? Foram de carona?
—Não. Bethany tinha só 11 anos. Tive que telefonar para o meu pai vir apanhá-la, e esperamos aqui. Ele ficou tão puto comigo que se recusou a me dar uma carona de volta para Bend. Não tinha nada de importante rolando em Portland, então acabei pegando carona até Tacoma. Foi assim que conheci o pessoal.
—Ah. – Emily nunca tinha falado sobre sua família antes, esse era um território desconhecido para mim. —Onde ela está agora? Bethany.
O olhar de Emily fica vazio.
—Ainda está lá.
Não sei exatamente onde é “lá”, mas, pela maneira como ela fala, percebo que não é um lugar bom para estar.
Enchemos o tanque e Emily assume o volante. Só quando entramos no carro e voltamos para a estrada é que percebo que Emily não fumou depois do almoço. Na verdade, ela não fumou durante todo o tempo que estivemos juntas desde que cheguei.
—Se não estiver fumando por minha causa, não se preocupe. – digo a ela, mas noto que o carro não cheira a cinzeiro como antes.
Emily sorri, um pouco constrangida. Ela levanta a manga da camisa para me mostrar um adesivo cor de pele.
—Eu parei.
—Quando?
—Desde a última vez que esteve comigo.
—Por quê?
—Um motivo além do fato de cigarros matarem e custarem uma nota?
—Sim.
Emily lança um brevíssimo olhar para mim antes de voltar a sua atenção para a estrada.
—Vai ver eu precisava de uma mudança.
Sorrio para ela antes de selar rapidamente nossos lábios.
POV HANNA
Às seis da tarde estamos chegando a Boise, os raios de sol inclinados do entardecer tingindo de vermelho as colinas que cercam a cidade. Seguimos Ezra através do centro da cidade. Tem uma área militar que nos leva até uma rua bonita, ladeada de árvores, com casas amplas em estilo rancho. Paramos em frente a uma delas, que tem uma buganvília laranja de copa frondosa e uma outra van branca na entrada.
Quando Ezra abre a porta e coloca a cabeça para dentro para gritar:
—Ô de casa!
Uma garotinha vem correndo com um sorriso aberto e pula em seus braços.
—Estamos na casa errada? – Lucas sussurra para mim e eu dou uma breve risada.
—Esta aqui é Ceci – Diz Ezra, fazendo cócegas nas axilas da menina, que solta gritinhos de alegria.
Ezra entra na casa e nos pede para segui-lo. Na sala, outros três garotos fazem festa quando ele aparece.
—Esses são Jack, Pedro e Tally. – Ele completa apontando para cada um deles antes de dar espaço para Aria abraçá-los.
—Olá! – Cumprimento.
—Ei – Diz Lucas. —Toy Story?
—O três. – Responde Pedro.
Lucas se anima e eu sorrio para ele. Mona apenas revira os olhos.
—Quem são eles? – Pergunto a Ezra.
—Família 2.0.
—Ahn?
—Eles são minha leva mais recente de irmãos e irmãs. – Assinto com a cabeça e voltamos a seguir ele e Aria pela casa.
Lá fora, dois homens discutem diante da grelha, enquanto uma mulher com shorts cortados e uma blusinha regata bonita está de pé dentro da piscina infantil, olhando perplexa para eles.
—Avisem quando quiserem que eu traga milho para as galinhas aí! – Ela reclama com os homens, e então nos vê. —Jerry, Ezra e os amigos chegaram. – Ela sai da piscina e vem se apresentar para nós. —Eu sou a Sylvia. Você deve ser Hanna, você Lucas e Mona, certo? – Ela fala cumprimentando-nos um de cada vez.
—Muito obrigada por nos receber. – Agradeço.
—E por nos convidar para um churrasco! – Completa Lucas, olhando para a grelha com avidez.
—Só teremos churrasco se esses dois cabritos monteses conseguirem parar de discutir qual madeira deve usar. – Ela nos avisa.
Sylvia abraça Ezra e Aria calorosamente e diz o quanto sentiu falta deles. Meus olhos enchem de lágrimas, não posso com nenhum tipo de momento de família desde que aconteceu tudo aquilo com Spencer.
Ezra nos apresenta a seu pai Jerry e seu irmão mais velho Gary. O pai de Ezra é muito alto, tanto que chega a ser encurvado, como se tivesse passado a vida baixando a cabeça para ouvir as pessoas.
—Olá! – Diz ele com a voz suave. —Obrigado por se juntarem a nós esta noite.
—Espero que não estejamos incomodando. – Diz Mona.
Sylvia e Aria dão risada.
—Como você pode ver, a expressão “casa cheia” é relativa por aqui. – Fala mãe de Ezra.
—Nós achamos que a meta de papai é ter doze filhos no total, assim ele terá seu próprio grupo de discípulos – Comenta Gary.
—A palavra discípulo pressupõe algum tipo de disciplina, de disposição para seguir as palavras de um paim o que está muito longe de acontecer aqui. – Brinca o pai de Ezra. Ele olha para mim, para Lucas e Mona. —Vamos comer costeletas hoje à noite. Gary e eu estamos discordando sobre qual madeira usar para prepará-las: nogueira ou algarobeira. Talvez vocês precisam nos ajudar a decidir.
—As duas são boas… – Começo a falar.
—Algarobeira. – Diz Lucas, convicto. Sem nem dar chances para Mona.
—Essa é a coisa mais inteligente que já ouvi de você! – Diz Ezra com a mão levantada para Lucas que dá um tapa na mesma, animado.
—Algarobeira, então. – Conclui Jerry. —A comida vai sair daqui a duas horas. Ezra, por que você não leva seus amigos cansados de viagem lá para dentro e oferece uma bebida?
Ezra ergue as sobrancelhas, mas se anima rapidamente.
—Um refrigerante gelado! – Acrescenta o pai. Isso faz todos nós darmos risadas.
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