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História Eu, Eu Mesma e Minha Ignorância - Twelve


Escrita por: MadeixasNegras

Notas do Autor


Espero que gostem desse capítulo mais curtinho! :)

Capítulo 12 - Twelve


Fanfic / Fanfiction Eu, Eu Mesma e Minha Ignorância - Twelve

Quando entrei na Rickard Street, procurando a casa de número 14, o azul claro do céu estava disputando espaço com algumas nuvens imensas cor de chumbo. Apesar delas, o sol continuava a bater no asfalto rachado daquela rua e a fazer com que as poucas folhas verdes das árvores nas calçadas se avivassem um pouco mais. Uma brisa morna soprava em todos os cantos de Cortland e proporcionava um ar de verão em pleno fim de outono. Algo me dizia que aquele seria um dos últimos dias quentes no ano antes de a neve começar a cair. 

Avistei a fachada da casa 14 ao longe, as tábuas brancas refletindo a luz do sol. Parei minha bicicleta no meio-fio e senti meu coração querendo saltar do meu peito. Dei alguns passos largos até a varanda da casa 14 e bati na porta com os nós dos dedos. As cortinas claras estavam todas fechadas e havia uma guirlanda na porta marrom de estábulo da entrada. Tentei ver algum vulto nas janelas ou algo que indicasse que havia alguém em casa, mas não vi ninguém. 

Bati de novo na porta, e tentei me distrair vendo as cercas-vivas recém-podadas ao lado da escadinha da entrada. Quando eu estava prestes a bater na porta pela terceira e última vez, Hazel apareceu. Seu cabelo comprido estava preso no alto, - o que era difícil de acontecer -, e ela usava um conjunto de moletom largo, junto de meias brancas. Contra a luz do sol, seus olhos claros pareciam ser feitos de vidro, e suas sardas pareciam desaparecer. Hazel mudou de expressão assim que me viu, e ficou parada na soleira da porta. 

-Você. - ela disse, desviando o olhar - Me chamou de vadia traidora ontem e hoje tá aqui na frente da minha casa. Posso saber por quê?

Na verdade, ela mesma se chamou de vadia traidora no dia anterior, mas eu não estava afim de discutir, e muito menos com direito de dizer alguma coisa. 

-Escuta, Hazel. Não era pra eu estar aqui, mas eu resolvi vir de última hora, e há duas razões pra isso. Primeiro, eu só queria pedir desculpas por ontem. - comecei, tentando repetir fielmente o discurso que bolei quando estava almoçando.

-Você sabe que eu sou orgulhosa e meu forte não é pedir desculpas, mas... - Hazel suspirou e passou uma de suas mãos na nuca, sem jeito - Reconheço que fui uma idiota ontem e espero que você aceite minhas desculpas. 

Hazel mascava os lábios internamente, tentando manter uma postura dura. Eu sabia que ela estava triste com aquilo tudo, e já estava passando de hora de nós duas passarmos aquilo a limpo.

-Tá. Tá bem, mas eu não vim aqui só pra isso. - continuei, antes de Hazel me interromper.

-Olha aqui, eu vou ser franca, antes que eu me arrependa disso. Nossa amizade nunca mais vai ser a mesma, nós duas sabemos disso. Me dói dizer isso assim, mas é o que é. Nada que você me disser vai mudar a minha opinião sobre o que aconteceu. 

O que ela acabara de falar mudou totalmente o rumo das coisas que eu iria dizer. Na realidade, aquelas frases tinham feito com que minhas futuras palavras perdessem totalmente o sentido. Desisti de tentar mais alguma coisa e fui direto ao ponto.

-Você nem ao menos me deixou terminar, Hazel.

-Não precisa, não mesmo. - Hazel se encostou na porta de madeira escura, com os olhos cerrados - Sinto muito pela nossa amizade, Amie. Eu não posso continuar desse jeito.

Um silêncio devastador se estendeu entre nós duas, assim como no dia anterior, e somente o canto dos pássaros ao longe fez com que eu me sentisse minimamente confortável. Prensei os lábios e olhei para os degraus de concreto em que eu pisava. Não havia mais sentido em eu continuar ali.

-O motivo maior pra eu vir aqui é que... - suspirei, hesitante - Eu tô indo pro enterro da Lucy e tinha a esperança de que você pudesse vir junto.

A boca de Hazel se abriu lentamente e seus olhos pareciam querer saltar das órbitas. Subitamente, Hazel andou até mim e segurou meus braços por uns segundos, até que me abraçou mais forte do que eu poderia imaginar. Dei um passo para trás e me afastei. Hazel ficou parada estaticamente antes de perceber que eu já estava na calçada, indo para o meio-fio. De meias brancas, Hazel correu até mim na calçada cheia de folhas úmidas e galhos secos em frente à sua casa.

-Am, me desculpe! Eu não fazia ideia, é sério!

Montei em minha bicicleta, deixando as mãos no guidão e um dos meus pés na calçada.

-Você acabou de dizer que nada que eu dissesse iria te fazer mudar de opinião. Antes de discutir comigo, você nem ao menos perguntou se eu tava bem, você só... Argh!

Dei o impulso na calçada e dei uma pedalada inteira, até que Hazel me alcançou e entrou na minha frente. Freei bruscamente e tive que me segurar para não ser lançada para frente. 

-Hazel?! Me deixa ir! - exclamei, diante de tamanha burrice.

Ela segurou minhas mãos no guidão e negou.

-Eu não vou sair da sua frente até que você me explique isso! - Hazel gritou, começando um escândalo desnecessário.

-Você não quis saber antes, por que quer saber agora? 

-Porque eu sou sua amiga! Sua melhor amiga, Amie! Pelo amor de Deus, sua mãe morreu!

Ali, ouvindo aquelas palavras, me dei conta de que o impacto da notícia tinha sido muito maior para Hazel, que não sabia de nada.

-Vamos recomeçar! Vai, do início, Amie. - Hazel pediu, segurando firmemente o guidão da bicicleta.

Se eu não ficasse ali e a ouvisse, Hazel iria implorar e se jogar na frente da bicicleta até eu parar.

-Tá! Diga o que você quer.

-Eu sinto muito por ter sido uma idiota com você ontem, e sinto mais ainda por não ter te compreendido. Ficou claro que você faltou por causa da Lucy e... Isso é horrível. 

Fiquei em silêncio. Hazel já tinha dito o que eu precisava ouvir há alguns minutos.

-Sem falar do Miles, que ficou me perseguindo o dia todo, perguntando sobre nós e enchendo o meu saco. Eu não aguento mais ver a cara dele. - Hazel soltou, com as sobrancelhas arqueadas.

-Pare de inventar essas coisas, Hazel. - voltei a me mover, mas ela me parou outra vez.

-É sério! Por que eu inventaria isso? Eu sei que não é justo jogar a culpa nele, mas o estresse tá me matando e eu despejei isso em você. Me desculpa, eu tô pedindo.

Não disse nada, só tentei entender como aquilo podia fazer sentido.

-E por que o Miles te perseguiria?

-Eu não sei! Ele ficou fissurado nessa coisa de namoro, eu e você sabemos que foi por impulso, e agora eu não consigo mais me livrar dele. 

Rangi meus dentes e respirei fundo para não arrancar as mãos de Hazel do guidão e sair correndo.

-Olha, isso é totalmente ridículo, mas vou acreditar em você.

-Oh! Obrigada, Am. De verdade. 

-Mas isso não significa que você esteja impune! - bati com as mãos no guidão, lembrando da noite da festa - Você traiu o Miles, e nada seria mais justo do que você assumir isso pra ele.

-O quê? Você só pode estar louca, eu não vou fazer isso. - Hazel gritou, soltando as mãos bruscamente da bicicleta.

-Então faço eu! - soltei, pondo os pés no pedal outra vez.

-Não, espera! - Hazel entrou na minha frente novamente e me fez perder a paciência.

-Pelo amor de Deus, Hazel! Decida o que você quer, eu não tenho o dia todo!

-Escuta aqui, eu não vou assumir o que fiz pro Miles e você também não vai. - Hazel disse, em um tom mais baixo.

-Isso é uma ameaça? - indaguei, olhando fixamente para os olhos claros e faiscantes dela.

Hazel abriu a boca para dizer alguma coisa, mas se calou antes disso.

-Sabe o que você poderia fazer? Termine com ele. 

-É bem sensato da sua parte interferir na minha vida amorosa. - disse Hazel, cruzando os braços novamente.

-Ora, se você não quer contar e não quer que eu conte, o que mais te resta? Termine com ele. - disse, dando ênfase nas minhas últimas três palavras.

Hazel deu um passo para trás, subindo no meio-fio, e deixou minha passagem livre. Ela se comprimiu e voltou o olhar para a calçada.

-Sei que estou tomando o seu tempo. Vai, pode ir. Leve minhas lembranças à Lucy.

-Sinceramente, eu não te entendo. Acabou de me dizer essas coisas todas e não pode me acompanhar no enterro da Lucy? Ela significava alguma coisa pra você também!

-Eu não dou conta, tá legal? - Hazel gritou, logo voltando ao seu tom mais baixo - Vá sozinha. Leve minhas lembranças à Lucy.

Suspirei e balancei a cabeça negativamente. Saí pedalando, depois de inúmeras tentativas, e Hazel não tentou me impedir. Não olhei para trás. O trajeto até o Saint Mary's Cemetery durou mais do que eu achei que duraria, e foi mais cansativo também, porque o sol não estava dando descanso. Era até estranho sentir calor depois de tantos dias frios e cinzentos. 

-Pode ser Lucy, lá do céu. - pensei, enquanto pedalava pela West Road, quase na entrada do cemitério.

Eram umas três horas quando parei na frente do Saint Mary's Cemetery, me perguntando por que eu tinha saído de casa tão cedo. Decidi esperar um pouco e pensar no que fazer até às cinco. Desci da bicicleta e a levei até a parte gramada, antes de entrar no pátio do cemitério. Sentei ao lado dela e baixei a cabeça, pensando em Hazel e no que eu faria nas duas horas que me sobravam


Notas Finais


Espero que tenham gostado! :)


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