História Eu vou voltar - Conselhos

P.O.V Abby:

- Tia Fani, sem querer ser grossa, mas eu não quero falar sobre isso.- Falei.

- Eu sei que não.- Respondeu.- Eu também não queria...- A olhei confusa.

- Abby, acho que nunca te falaram isso, mas eu já estive na mesma situação que você.- Ela falou.

- O que?- Perguntei sem saber do que ela estava falando.

- Quando eu era mais nova, uns dezessete anos, eu fiz um intercambio para a Inglaterra.- Ela começou a falar.- De um ano, e eu quis desistir, bem no primeiro mês.

- Mas por quê?- Perguntei. Inglaterra! Se eu tivesse a chance de ir para lá ficaria o máximo de tempo possível!

- Porque apareceu um problema na minha vida, fazendo com que eu quisesse voltar no primeiro avião.- Ela falou. Abaixei a cabeça, eu sei muito bem aonde ela quer chegar...

- Tia Fani, eu...- Ela me interrompeu.

- Deixe-me terminar, Abby!- Falou. Assenti esperando as próximas palavras.- Eu fiquei tão desesperada pro causa disso que quis voltar no mesmo segundo! Mas meu pai pediu que eu ao menos fechasse o primeiro mês, para aí então decidir se eu realmente queria ir embora. O próprio problema, logo depois, arranjou uma solução para minha fuga, então eu fiquei... E posso afirmar que foi um dos melhores anos da minha vida! Não trocaria as coisas que vivi naquele intercambio por nada, pois tudo no fim deu certo, a vida foi incrível!... Abby, tudo o que eu aprendi o quanto eu cresci fazendo aquele intercambio mudou a minha vida, como acredito que o seu mudará a sua. Você vai voltar diferente, mais inteligente e esperta, e vai se conhecer ainda mais! Eu sei muito bem as divergências do meu problema e do seu... Eu quis voltar por medo de perder um amor, você quer voltar para fugir do sofrimento... Mas te afirmo que você é sim forte o suficiente para enfrenta-lo. E lembre-se que você não está sozinha, e que também há solução para tudo que a vida nos impõe. Eu sei que palavras duras machucam, mas fugir só vai os fazer acreditar que eles tinham razão todo o tempo. Em vez de fugir tente achar uma solução.

- Eu já tentei tia Fani.- Respondi.- Ela não existe.

- Não é bem assim...- Ela falou.- Eu lhe garanto que há sim outras opções... E mesmo que não tenha, peço que não desista.

- Tia Fani, você não sabe o que eu estou passando!- Falei.- Você diz que sofreu, e eu acredito, mas o seu problema estava no Brasil e não na Inglaterra, o meu está em Los Angeles, e Toronto poderia ser meu refúgio.

- Fugir seria a melhor opção?- Ela falou.- Seria mais fácil desistir de uma oportunidade de uma vida, algo que no futuro você sentiria tanta falta, do que ficar e não ligar para nada e nem ninguém?

- Eu já tentei.- Falei.- A Maya me ajuda a lidar com as pessoas, mas não deixa de doer. Cada palavra me machuca tanto, tia Fani.

- Eu sei, querida.- Ela falou me abraçando.- Mas isso vai passar... Mas precisa dar mais tempo do que apenas mais duas semanas... Eu sei que você aguenta mais. Eu aguentei um ano, e tenho certeza que você aguenta completar esses seis messes, sei disso porque você é mais forte do eu era, te conheço desde novinha, consigo ver a diferença. E exatamente por isso que sei que você consegue mais...

- Não é verdade, tia Fani.- Respondi.- Eu não consigo... Não aguento mais nada disso.

- Abby, pensa comigo.- Começou a falar.- Ser fotografo não é a coisa mais fácil do mundo. Para te contratarem precisam ter confiança em você, e para isso vão analisar a sua experiência, que quanto maior melhor, vai ser difícil encontrar alguém que queira arrisca tudo por uma novata, mas se a pessoa ao menos tiver um currículo bom, uns pontos a mais seriam adicionados... As coisas acontecem mais rápido para quem procura se dedicar mais cedo. Se realmente quer viver de fotografia precisa de todas as vantagens possíveis, e essa escola é uma delas e você sabe, oportunidades viram bem mais cedo do que o esperado caso fizer isso.

Ela tocou em um ponto delicado. Eu quis fazer parte do concurso exatamente para isso, para realizar meu sonho, só que não sabia do tanto que sentiria falta de tudo... Mesmo com a Maya aqui sinto falta dos meus outros amigos, da minha família e até da cidade.

- Eu sei disso, tia Fani, mas eu não só estou cansada de sofrer, também sinto falta de casa.- Falei.

Sua expressão mudou, agora ela parecia entender tudo o que acontecia comigo.

- Abby, vou te fazer uma pergunta.- Ela falou.- Sei que você está sofrendo com tudo isso, mas será que não está usando isso também como pretexto para voltar para casa por saudade?

Isso me fez pensar... Será? Eu a cada dia tenho sentindo mais falta de tudo e a cada dia falar por internet com amigos e familiares não tem mais ajudado a aliviar, na verdade tem feito a vontade de entrar dentro de um avião ficar maior e cada vez mais intensa.

- Eu não sei... Talvez...- Falei. Não menti, pois eu não estava entendo o que estava acontecendo comigo, mas as palavras dela faziam muito sentindo.

- Acho que você sabe.- Ela falou.- E tenho quase certeza que a resposta é sim. E eu te entendo, quando a saudade bate qualquer coisa vira sinônimo de desculpa para voltar. Isso é humano, não querer sair da zona de conforto por medo do novo ou até não aguentar o diferente. Tem uns que são mais resistentes que outros, mas em algum momento a saudade de algum lugar bate. Sei que tudo isso vai muito mais do que um pretexto para voltar para casa.- É vai sim, pode até ser que ela esteja certa, e olha que eu acho que está, mas isso não alivia nenhum um pouco o meu sofrimento naquela escola.- Mas em parte é. E eu quero te pedir uma coisa... Depois de considerar tudo o que eu te disse, quero que só vá embora caso tenha certeza que não faz isso por saudade, e sim por desgaste.

- Tudo bem... Eu farei isso.- Falei. Tudo isso tinha logica e ela tinha muita razão, eu não podia ir embora por um impulso de saudade, sei que isso logo se transformaria em arrependimento no minuto em que eu pusesse meus pés no Canadá.

Esses pensamentos são logo parados por todas aquelas palavras maldosas e aquelas expressões de nojo, como se eu tivesse cometido algum crime. Mas a tia Fani tinha razão, eu preciso saber se isso só passa de uma válvula de escape, ou se é mesmo um sofrimento por palavras maldosas. E não é só isso, eu preciso realmente crescer, como a tia Fani disse, eu a admiro muito e se ficar em Los Angeles significa ao menos chegar perto do que ela é um dia, que assim seja.

- Ótimo!- Ela falou visivelmente feliz.- Agora, só mais uma coisa... Abby, eu tenho visto que você anda presa em uma rotina constante, sabe da escola para casa e de casa para a escola de fotografia... Você precisa aproveitar mais, menina! Essa oportunidade de nada adiantará se você não usufruir de tudo o que se pode te oferecer, então um último conselho: Aproveite enquanto estiver aqui, faça tudo o que puder, curta a vida! Isso fará as coisas serem inesquecíveis, e sem arrependimentos.

- Obrigada, tia Fani.- Falei a abraçando.- Eu precisava muito ouvir isso... Pode ter certeza que vou pensar em tudo o que você disse, eu prometo.

- De nada, querida.- Ela falou.- Só quero que você seja feliz...- Em seguida deu um beijo na minha cabeça.- Vou te deixar agora, acredito que ainda tenha que terminar de se arrumar, né?- Assenti concordando.

- Depois me fale o que você decidiu, tá bem?- Falou.

- Claro.- Falei sorrindo. Ela sorriu para mim e em seguida saiu fechando a porta na sua frente.

Respirei fundo pensando em cada uma das palavras que ela disse, e em todas elas a tia Fani estava certa e eu vou pensar mesmo em tudo isso, tudo o que ela falou me tocou, e bem profundamente, e sei que eu preciso pensar...

E pelo visto tenho muita coisa para pensar... E muito mesmo...