História Everything Changes - Querido Diário

            Querido diário,

Eu não posso acreditar que isso aconteceu. Ele me deixou, foi embora. Nem ao menos disse adeus, nem ao menos se despediu.

Seria essa a causa dele estar daquela forma ontem à tarde? Seria a causa dele olhar para mim daquele modo, sem brilho em seus olhos?

Isso está doendo, está me machucando, não é possível parar? Por favor, alguém faça parar! Estou rouca de tanto gritar e não parecem existir mais lágrimas as quais derramar.

Desde quando o vi entrar naquele carro não sai da janela, acredito que há chances de que ele volte. Ele tem que voltar, ele tem que voltar para mim.

            1 semana depois

            Querido diário,

Minha mãe conversou comigo, ela me disse que preciso comer, mas eu não sinto fome e quando como, minutos depois boto tudo para fora.

Ela também disse que a dor vai passar, que eu vou melhorar. Mas no momento isso parece impossível. A dor só aumenta a cada dia e não sinto vontade de fazer nada. Apenas fico na janela de meu quarto, dia e noite, esperando que ele volte.

            1 mês depois

            Querido diário,

Agora já consigo controlar meus choros, mas toda noite, acordo em meio a gritos com pesadelos que o envolvem e depois não consigo mais dormir.

Eu tenho ficado com menos frequência na janela e passo a maior parte do tempo no bosque, lendo. Mas as lembranças lá são fortes.

Meu pai não fala comigo e minha mãe tenta fazer com que eu me distraia com os cavalos e outras coisas da fazenda, mas não vem dado muito certo, pois em todo lugar há memórias dele.

Meu coração ainda dói e me sinto como se estivesse em pedaços, como se faltasse algo. Meu coração está com um grande buraco.

            2 meses depois

            Querido diário,

Quando acordei hoje, em minha frente, sentado na poltrona na qual meu pai ficava quando eu era pequena, eu o vi.

Seu cabelo estava desgrenhado, como em todas as manhãs e ele vestia uma camisa branca e suja com uma bermuda jeans. Ele me encarava, sorrindo. Pensei que tivesse voltado e havia parado de trabalhar para me ver. Andei até ele, que estendeu a mão para mim, mas quando a fui pegar, ele desapareceu.

Naquela hora, fiquei parada, encarando a poltrona vazia, admitindo para mim mesma que ele não havia voltado e que talvez, nunca voltaria. Comecei a chorar e gritar seu nome, a tacar tudo no chão, mas minha mãe apareceu e interveio.

            1 ano depois

            Querido diário,

Ao acordar e perceber mais uma vez que não o veria naquele dia, senti uma pontada no coração.

Minha vida estava quase normal, vista pelo outros. Minha mãe havia me obrigado a ir a escola e participar de todos os clubes, para eu gastar meu tempo ocupada. Eu me sentia agradecida por ela tentar tanto, mas era em vão.

Eu podia levantar, não chorar e ficar na janela, ir a escola e fingir ser uma estudante normal, mas tudo para mim passava como se fosse um filme antigo, sem cores, sem sons. Tudo o que eu fazia era mecanicamente. Nesse um ano sem ele, tudo passou sem vida por mim. Eu não tinha mais vida, mas me esforçava para parecer que tinha.

Todo dia, era como acordar em vão.

            2 anos depois

            Querido diário,

Hoje acordei como todos os outros dias e foi a escola. Nesse tempo, fiz amigos. Eles foram meu remédio, principalmente Matt.

O tempo me fez ver que ele não vai voltar. Isso foi duro para mim no começo, mas já aceitei. Agora sorrio para os outros, me sinto curada e passo os dias sem pensar nele. Acredito que em breve, será como se eu nunca tivesse sofrido, talvez até, como se ele nunca houvesse existido.