História Everything happens in Rosewood - Segunda Temporada. - Eu só vou te perdoar...

POV EMILY

Acordei um pouco depois das dez horas da manhã e fui direto tomar um banho gelado. Pensei muito durante a noite que tive com Alison e por mais que eu estivesse feliz eu sentia uma forte dor no peito. Eu estava angustiada pelas palavras de Alison na noite anterior, eu sabia que ela estava com expectativas sobre nós, mas eu jamais poderia avançar nisso sem dar um passo importante na minha vida. Eu tinha consciência que havia errado e precisaria lidar com isso mais cedo ou mais tarde.

Desci as escadas e encontrei todos reunidos na mesa do café da manhã. Os gêmeos estavam se mexendo no carrinho, passei por eles e mexi rapidamente com os três.

—Bom dia! – Declarei para os três e me sentei ao lado de Caleb.

—Bom dia! – Minha mãe, Hanna e Caleb falaram juntos e sorriram.

Peguei uma xícara de café, inalei o maravilhoso aroma e bebi uma boa quantidade do líquido quente. Coloquei um pedaço de bolo no meu prato e fiquei prestando atenção na conversa de Hanna com minha mãe. Ela falava que achava que Wayne estava com os dentes nascendo, pois ele estava manhoso e suas gengivas estavam grossas.

—É normal minha querida, eles já vão completar sete meses. – Minha mãe falou para tranquilizá-la.

Continuei remexendo o pedaço de bolo no meu prato enquanto encavara minha xícara. Acho que antes de contar para Alison sobre a traição eu deveria contar para minha família, afinal eu precisava saber da opinião deles. Claro que eu não estava esperando o apoio de todos, mas queria que alguém pelo menos me entendesse.

—Filha? – Minha mãe falou alto e me trouxe de volta para a realidade. Pisquei algumas vezes e balancei a cabeça.

—Oi?

—Hanna está falando com você! – Ela me explicou e eu olhei para a Hanna.

—Que foi banana?

—Perguntei como foi o jantar… Quer nos contar os detalhes? – Ela perguntou animada e eu sorri fraco.

—Foi ótimo, não poderia ter sido melhor. – Declarei e soltei um suspiro.

—Não é o que parece. – Caleb comentou e deu de ombros.

—Eu preciso contar algo para vocês… – Comecei.

—O que? O jantar foi ruim e não sabe como dizer isso? – Hanna se apressou em perguntar e eu neguei com a cabeça.

—Eu demorei muito tempo para tomar essa atitude, mas acho que já passou da hora de contar isso para vocês. – Declarei com a voz fraca e minha mãe me encarou preocupada.

—Aconteceu alguma coisa? – Minha mãe perguntou.

—Aconteceu, mas aconteceu porque eu tomei uma decisão errada. – Falei e todos me olharam com expectativa. —Eu trai a Alison! – Falei de uma vez e todos me olharam surpresos. Hanna largou seus talheres na mesa com tudo, Caleb engasgou com o suco enquanto minha mãe abriu a boca e me encarou com a mão no peito.

—Como? – Os três perguntaram em coro.

—Eu trai a Alison! – Repeti e respirei fundo. Meus olhos ficaram embaçados por conta das lágrimas que já estavam se formando.

—Você fez isso? – Hanna perguntou incrédula com a mão sobre a boca.

—Mas vocês voltaram? – Caleb perguntou confuso.

—Quando foi isso, Emily? – Minha mãe perguntou séria enquanto me olhava.

—Foi na faculdade. – Falei.

—Eu não acredito nisso! – Minha mãe falou e se levantou da mesa rumando à sala. Todos seguimos ela, inclusive os gêmeos que vinham sendo empurrados por Caleb. —Fala que é mentira, fala que você não fez isso.

—Mãe, eu fiz e me arrependo profundamente… Eu amava a Alison, eu ainda amo a Alison! – Exclamei com convicção enquanto lágrimas já banhavam meu rosto.

—Como isso é possível? Você a traiu Emily! Você errou! Ela já sabe disso? – Minha mãe disparou em minha direção e eu me encolhi no sofá.

—Mãe, calma! – Caleb pediu e se colocou entre nós. —Vamos escutar o que a Emily tem a dizer?

Minha mãe assentiu com a cabeça e se sentou na poltrona que antes era o lugar do meu pai. Um grande silêncio se estendeu pelo recinto, não conseguia olhar para nenhum membro da minha família nesse momento. Eu sentia repulsa e vergonha do ser humano que me tornei. Meu pai deve estar totalmente decepcionado comigo e eu não posso fazer nada para mudar isso, e acabei errando ao pensar que contar para minha família seria a melhor atitude.

—Como foi isso? Por que você fez isso? – Hanna perguntou com a voz fraca. Respirei fundo diversas vezes e a encarei.

—Eu e a Alison estávamos passando por uma fase bem ruim, eu não sei se você se lembra das nossas brigas diárias… – Falei e Hanna assentiu, era óbvio que ela se lembrava. Caleb e Hanna presenciaram todos os meus choros pós brigas. —Eu estava cansada, o nosso relacionamento parecia um erro, tudo parecia um erro naquele momento. Parecia que eu estava em um labirinto e nada que eu fizesse mudaria aquela situação. Eu não sabia que caminho seguir… A faculdade estava me desgastando por causa das provas, Alison estava enchendo o meu saco com todo o ciúme, até mesmo quando não estávamos brigando eu já não tinha mais paciência, a voz dela começou a me irritar e foi ai, bem ai que eu cometi um dos piores erros da minha vida! Eu fui para uma festa da faculdade, bebi e conheci uma morena… Nós começamos a conversar e quando vi já tinha rolado. Eu nunca contei isso para a Alison e nem sei se consigo contar. Eu me sentia culpada por isso e fraca por não conseguir dizer nada para ela. Mas quando ela terminou comigo, quando ela disse que eu era um erro na vida dela, todo o meu ódio veio à tona e eu me convenci de que a traição tinha sido a melhor decisão que já havia tomado. Só que agora nós nos reaproximamos e eu percebi que errei feio. Eu sei que Alison errou, mas eu fiz pior!

—Você errou feio mesmo! Ainda bem que está ciente disso! E espero que não fique chocada caso a Alison não te perdoe e não queira olhar na sua cara! Eu daria razão a ela, pois isso não se faz Emily! – Minha mãe falou com mágoa no olhar. Minhas lágrimas se intensificaram e logo os gêmeos começaram a chorar no carrinho, como se eu e eles compartilhássemos a mesma dor. Porém seus choros cessaram quando Hanna começou alimentar Julie e Dyllan, e Caleb se encarregou de Wayne.

—Não acha que está sendo dura mãe? – Caleb perguntou enquanto eu continuava encolhida no sofá.

—Dura? Você acha que estou sendo dura? Eu apoiei sua irmã em todas as decisões da vida dela! Eu e seu pai fizemos de tudo por ela, apoiamos sua opção sexual, a aceitamos e a amamos como ela realmente é! Nós sempre estivemos lá e nunca viramos as costas para ela! E agora? Eu deveria manter a calma e dizer que ela está certa? Que aconteceu? Me poupe Caleb! Mãe também serve para dizer quando os filhos erram e sua irmã errou! Então eu não vou passar a mão na cabeça dela! – Minha mãe cuspiu as palavras. —E eu só vou te perdoar quando você contar isso para a Alison!

—Tudo bem mãe. – Sussurrei e ela colocou as mãos na testa antes de abaixar a cabeça.

—Olha… Eu sei que você errou, mas eu estou aqui. – Hanna falou sorrindo fraco. —E sei que foi difícil contar isso para nós.

—Obrigada. – Falei e abaixei a cabeça.

—Mana… Eu tô do seu lado ok? Sei que errou, mas eu entendo. Você só tomou uma decisão errada e todo mundo comete erros. Vocês estavam passando por uma fase ruim e você achou que aquilo te ajudaria no momento, então saiba que eu te entendo mesmo! – Caleb falou sorrindo e eu assenti com a cabeça.

A campainha tocou, enxuguei meu rosto e respirei fundo. Devia ser a Spencer, eu havia convidado ela para passar o dia conosco e mais tarde ela me levaria para cavalgar com ela. Eu estava precisando tirar minha atenção da Alison e de tudo que estava me cercando nos últimos dias.

—Toby? O que faz aqui? Aconteceu alguma coisa? – Perguntei assim que abri a porta e me deparei com meu amigo. Ele parecia agitado e eu me perguntei o que tinha acontecido.

POV TOBY

Cheguei do trabalho cansado, eu mal conseguia me concentrar no meu próprio serviço, todas as vezes que eu tentava me prender ao que estava fazendo, as palavras de Spencer me acertavam em cheio e vagavam por meus pensamentos. Hoje definitivamente tinha sido um dia bem difícil para mim.

Deixei minhas coisas sobre o sofá e fui me despindo até o banheiro. Liguei o chuveiro e deixei que a água caísse sobre mim, por um momento quis que a água lavasse não apenas meu corpo, mas minha alma também.

Terminei o banho, me troquei, peguei uma cerveja na geladeira e me sentei no sofá, liguei a TV e fui passando de canal por canal até achar algo que me prendesse. Mas foi em vão.

“— Eu não fiz nenhum aborto. Eu... eu sobre sofri um aborto espontâneo, Toby.”

As palavras de Spencer me faziam pensar sobre tudo o que eu acreditei em todos esses anos. Eu julguei que Spencer era uma pessoa fria e sem coração, eu julguei que nosso relacionamento tinha um prazo de validade, eu julguei que teria que amar outra pessoa para formar a minha família...

E tudo isso era uma grande mentira. Eu vivi essa grande mentira. Tudo por causa do egoísmo de Spencer, por que ela não me dissera a verdade? Eu poderia tê-la ajudado, mas ela não confio em mim, ela não confio nela mesma, ela não confio em nós. Deixou tudo morrer, me deixou ir embora, e agora eu nem sei mais como lidar com tudo isso.

Levei um susto quando a garrafa de cerveja caiu de minha mão me trazendo de volta a realidade. Porém, a garrafa não quebrou, ela bateu no chão e tombou, deixando escorrer todo o líquido que estava dentro dela. Subitamente me levantei do sofá e procurei por algum pano para limpar a bagunça.

— Você precisa dormir, Toby. – falei para mim mesmo depois de terminar de limpar.

Fui para meu quarto, vesti um samba canção e deitei-me. Não demorou muito para que o sono me atingisse.

SONHO ON

Eu caminhava por entre as árvores frondosas de um bosque que não reconheci. Segui a trilha e cheguei numa grande campina, havia um banco bem ao meio dela e um homem vestido de branco estava de costas para mim. Caminhei até ele e sorri ao ver que era Wayne.

— Wayne, é mesmo você? – falei sentando-me.

— Olá Toby, quanto tempo.

— Como isso é possível?

— Toby, parafraseando Shakespeare, há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia.

— Mas como você está? Tenho pensado muito em você nos últimos dias... – falei cabisbaixo.

— Eu sei Toby, por isso te trouxe aqui. Sei que tem muita coisa nessa sua cabecinha. – falou dando um tapinha na testa, sorrimos, pois era assim que Wayne fazia quando eu não entendia seus planos na construtora.

— É complicado...

— Não é complicado, Toby. Spencer errou com você, te fez sofrer, mas nunca passou pela sua cabeça que talvez ela também tenha sofrido? Não acha que deve ter sido torturante guardar isso pra si mesma e esconder a verdade de você?

— Eu não sei Wayne. Tudo poderia ser diferente...

— Ainda dá tempo de tudo ser diferente Toby. – Wayne fez uma pausa e me abraçou de lado. — Sabe a garrafa de cerveja que caiu de sua mão?

— Sei, mas...

— Foi eu quem derrubou.

— Como assim? – perguntei sem entender.

— Eu aproveitei que estava distraído e derrubei a garrafa de sua mão. Você percebeu que ela não quebrou, não é mesmo? – apenas assenti com a cabeça. — Sabe por que eu a derrubei, Toby? – neguei — Porque as vezes nós caímos ao longo da vida para que as coisas ruins saiam de dentro de nós. Isso não faz com que a gente quebre, mas isso nos ajuda a levantar mais forte e tentar de novo. Entende o que quero dizer?

— Acho que sim. Quer que eu deixe as mágoas saírem de dentro de mim, para que eu possa perdoar a Spencer, não é mesmo?

— Isso Toby. Você precisa perdoá-la, é claro que isso não significa que vocês vão voltar a ser um casal, mas perdoar é necessário e faz bem para nós mesmos e para o nosso coração!

Fiquei pensativo em tudo o que Wayne estava me dizendo. Eu julguei Spencer por ter sido egoísta, mas não percebi que eu também estava sendo. Eu tinha que perdoá-la e a ajudar a superar esse trauma. Aliás, o nosso trauma, pois isso também me envolvia.

— Obrigado pelas palavras Wayne e obrigado por me fazer enxergar a verdade.

— Não precisa me agradecer Toby, você não é meu filho, mas sabe que o carinho que sinto por você ainda se perpetua por toda a eternidade e ele não se perdeu junto com a minha vida.

— Wayne – falei refletindo em suas palavras — por que morreu tão jovem? Você era cheio de vida, tinha uma família perfeita, não era um homem ruim.

— Toby – disse ele rindo — não questione os planos de Deus, tudo acontece, porque tem que acontecer. E olhe para mim, acha mesmo que eu morri? Eu estou aqui do seu lado. Toby, a morte não existe.

— Mas...

— Eu preciso ir agora. – disse se levantando.

— Ir para onde?

— Para casa. – respondeu sorrindo. — Mas antes, quero te pedir mais uma coisa.

— Pode falar.

— Diga para Caleb e para Hanna que estou orgulhoso deles, vão ser ótimos pais, muito melhores do que eu. Diga a Pam, que eu jamais a esqueci, sempre a amei e nunca vou deixá-la sozinha. E principalmente, fale a Emily que estou orgulhoso de sua atitude, e que ela precisa confiar na vida, se ela e Alison foram colocadas de frente mais uma vez, é porque a missão delas juntas ainda não terminou. E desde já, muito obrigado Toby. Até mais ver.

SONHO OFF

Acordei com as últimas palavras de Wayne ainda ressoando em meus ouvidos. Olhei para o rádio relógio no criado-mudo ao lado da cama. Já eram 11:00 horas da manhã, sonhei a noite toda com Wayne e ainda me lembrava de todas as suas palavras.
Levantei-me, fui para o banheiro, fiz minha higiene matinal e tomei um banho rápido. Me troquei, peguei uma maça na fruteira, as chaves da caminhonete e rumei para a casa dos Fields. Pedi a Deus e ao Wayne que estivesse todos em casa, pois tinha que passar os recados do patriarca da família antes que eu esquecesse.

Liguei o rápido, tentei me concentrar nas músicas, mas não adiantou. Acho que nunca dirigi tão rápido em toda a minha vida, mas parecia que eu estava cada vez mais longe da casa dos Fields.

…

Apertei a campainha e logo Emily atendeu a porta. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, ela parecia que tinha acabado de chorar e por um momento, eu hesitei, mas uma força incomum me deu coragem para continuar, algo ou alguém me dizia que aquele era o melhor momento.

— Toby? O que faz aqui? Aconteceu alguma coisa? – perguntou ela preocupada, eu deveria estar com a aparência horrível, pois me arrumei rapidamente.

— Emily, sua mãe, o Caleb e a Hanna estão em casa? – questionei ignorando suas perguntas.

— Estão, mas...

— Eu preciso falar com vocês todos juntos. – a interrompi.

— Toby, eu não sei se agora é uma boa hora.

— É sobre o Wayne. – falei antes que ela inventasse alguma desculpa, o olhar de Emily passou de triste para desconfiado e ela acabou dando passagem para que eu entrasse.

Esperei ela fechar a porta atrás de mim e a segui indo em direção a sala, onde estavam todos. Provavelmente alguma coisa estava acontecendo antes de eu chegar ali, pois estavam todos com cara de velório.

— Toby – disse Pam vindo em minha direção para me cumprimentar. — Como você está? Veio almoçar conosco?

— Não, senhora Fields, vim a pedido de alguém.

— De quem? – perguntou Hanna enquanto amamentava dois bebês ao mesmo tempo, e Caleb segurava outro em seu colo.

— Do Wayne. – falei e todos me olharam curiosos.

Sentei-me no sofá e Pam sentou-se ao meu lado. Logo, Caleb e Emily também se ajeitaram. Respirei fundo e deixei com que as palavras fossem saindo de minha boca, contei sobre o sonho e não omiti nem mesmo a parte que eu e Wayne falávamos sobre Spencer, eu não sabia se todos ali estavam sabendo do tal segredo, mas uma ou outra, a verdade viria a tona para todos. Então por que já não falar sobre isso?

Contei sobre como o sonho parecia real, em como Wayne parecia estar vivo. Pam chorou do começo ao fim, Caleb tentou segurar as lágrimas, mas foi em vão. Hanna abraçava seus bebês cada vez mais forte contra seu próprio corpo completamente emocionada. Emily abraçou Pam de lado e chorou compulsivamente. Logo, todos nós estávamos chorando e se abraçando.

…

Depois que nos acalmamos, Pam foi para a cozinha terminar de preparar o almoço, ela insistiu muito para que eu ficasse. Falamos sobre Wayne e contamos histórias sobre ele, a senhora Fields nos contou como eles se conheceram e disse o quanto sofreu quando ele se foi.

— Mas estou aliviada agora. Você fez certo em vir direto para cá nos contar, Toby. Não tem dinheiro que pague tamanha a gratidão que estou sentindo por ter dividido isso com nós. – falou Pam me abraçando pela quinta vez.

O almoço foi servido e antes que eu começasse a colocar a comida no prato, a campainha tocou novamente.

— Toby, será que pode atender para mim? – perguntou Pam enquanto segurava um dos bebês.

— Claro. – falei sorrindo.

Fui até a porta, e a abri.

— Spencer?!