História Exclusivo (Romance Gay) - Oliver

Acordar na segunda seguinte e saber que você não precisava ir pra faculdade era mesmo ótimo. Rolei um pouco sobre a cama agora pensando no dia de ontem. Luca estava um pouco estranho e isso me preocupava. Suspirei sobre o travesseiro me sentindo um pouco confuso mas logo afastei os pensamentos da minha cabeça.

Ontem a tarde, antes de me despedir dos meus amigos, marcamos de nos encontrar hoje a noite em um restaurante novo que iria abrir na cidade. Bárbara que havia sugerido a ideia estava super animada com tudo. Ela disse que a decoração do lugar era incrível, como em pequenos restaurantes americanos aconchegantes. Aceitamos o convite e eu me sentia feliz por estar com eles. Luca ainda parecia um pouco tenso do meu lado e isso me deixava estranho.

Me livrei das lembranças de ontem e me levantei. Me aprontei rapidamente no banheiro e depois desci as escadas até chegar na cozinha. Um pequeno bilhete estava pregado na geladeira e minha curiosidade me levou até ele.

"Fui visitar uma amiga, volto mais tarde."

Sorri pra pequena mensagem de minha mãe e abri a porta da geladeira grande e platinada. Peguei uma jarra com suco de laranja que era meu favorito e levei até o balcão. Tomei o líquido acompanhado de um sanduíche rápido que eu preparei mas não estava com muita fome. 

De repente escutei o som da campainha da minha casa e fui imediatamente atender a pessoa. Assim que abri a porta uma onda rosa bateu contra minha vista. 

Bárbara estava parada com seu sorriso de sempre no rosto. Seus cabelos longos e ruivos caíam em grandes ondas sobre as costas. Ela usava uma camisa rosa com uma saia preta apertada e eu pude ver pequenas botinhas escuras em seus pés. Em um de seus braços estava uma minúscula bolsa chique que ela gostava de usar.

- Bom dia! - Ela fala animada já entrando dentro de casa.

- Bom dia. - Falo meio confuso fechando a porta atrás de mim. A ruiva caminha elegantemente pela casa até a sala de TV. Ela se senta sobre um dos sofás e cruza as pernas ainda me encarando. Ando naturalmente em sua direção e me sento no outro a fitando curioso.

- O que devo a honra da sua visita logo pela manhã? - Pergunto meio debochado. Bárbara me olha como se tivesse o total controle de tudo.

- Bem, eu queria confirmar sobre nossa saidinha hoje a noite. - Ela fala desinteressada. A encaro ainda duvidoso sem acreditar muito naquilo.

- Hum, tá de pé. - Falo casualmente. A garota então passa a mão por uma mecha de cabelo e desvia o olhar do meu.

- A Alexia está de volta heim, quem diria. - Ela comenta tentando parecer desinteressada. Dou uma risada automática de suas palavras. Eu sabia que tinha algo a mais por trás de tudo isso. Bárbara me olha revoltada e eu tento me controlar.

- Eu estava esperando você dizer isso. - Comento ainda divertido. A ruiva dá de ombros pra mim e sua expressão fica mais séria.

- Pra mim isso não tem nada demais. Não sei pra que você está criando tanto caso. - Ela fala. Controlo minha risada para encará-la agora sério. 

- Ta bom, acredito. - Falo no melhor tom que consigo. Bárbara me olha indignada novamente mas depois dá uma risadinha. Ela endireita o corpo sobre o sofá e me encara de uma maneira diferente.

- Pra falar a verdade vim aqui pra te perguntar outra coisa. - Ela fala me enchendo de curiosidade. Inclino o corpo mais para frente esperando a pergunta.

- Aconteceu alguma coisa entre você e o Luca? - Ela pergunta direta. Uma tensão surge em meu corpo e eu a encaro um pouco assustado. Não sabia que ela era tão observadora assim. Pelo jeito eu estava errado. 

Endireitei o corpo também mas neguei com a cabeça.

- Não, anda tudo bem. - Falo meio sem convicção. A garota então assente levemente com a cabeça. Eu sei que ela não engoliu a história direito.

- Eu só queria deixar claro que você pode conversar disso comigo também. - Ela fala agora meio cabisbaixa. É estranho vê-la assim mas eu percebo outra coisa. Como se ela quisesse dizer que eu contava essas coisas pra outra pessoa. No caso, Alexia. 

Me levantei do meu lugar e me aproximei de Bárbara. Sentei ao seu lado no sofá e encarei o rosto delicado da garota ainda sorrindo.

- Insegurança? - Brinco. - Isso não combina com você. - Completo mais tranquilo. A ruiva revira os olhos pras minhas palavras mas ainda está envolvida.

- É só que ela tem todo o jeito de boazinha. - Bárbara dispara ciumenta. Dou uma pequena risada mas ainda a encaro.

- Barbie, você é minha melhor amiga também. - Falo voltando seus olhos azuis claros para mim. - Eu não mudaria nada em você. - Concluo ainda sorrindo. 

O rosto da garota fica um pouco vermelho e ela se sente um pouco incomodada. Acho graça da situação e dou um leve abraço em seu corpo delicado. 

O cheiro doce que vem do perfume dela já é um ponto de alívio pra mim. Nos conhecemos a tantos anos mas apenas agora somos tudo o que eu queria que fossemos. Bons amigos. Não acho que uma garota como Bárbara foi feita pra ser compreendida por todos. Ela é especial por ser do jeito que é. Acho que são mesmo os diamantes que querem ser seus amigos.

Alguns minutos depois me despeço da garota convencida que parecia mais confiante. Vejo sua silhueta bonita caminhar para fora da minha casa e dou um sorriso divertido. 

Assim que me encontro sozinho novamente eu me lembro de Luca. Me recordo das palavras que a ruiva havia me falado a poucos minutos e pego meu celular no bolso da minha bermuda. Encontro o contato do garoto que já está nos favoritos a muito tempo e ligo.

- Oli? - A voz de Luca soa do outro lado da linha depois de alguns segundos. Respiro mais aliviado por ouvi-lo.

- Luca. Tudo bem? - Questiono. O garoto então concorda com um "sim" mas algo ainda me parece estranho.

- Vai sair com a gente hoje a noite, não é? - Pergunto tentando me manter calmo. Alguns segundos se passam antes que eu ouça sua voz outra vez.

- Vou sim. - Ele fala. - As nove. - Ele completa. Confirmo suas palavras do outro lado mais tranquilo. Eu não sei o que me preocupava mas já me sentia melhor com tudo.

- Nos vemos mais tarde então. Beijo! - Me despeço como sempre.

Guardo o celular rapidamente no bolso e suspiro. Algo de errado estaria acontecendo?

(...)

De frente pro meu reflexo no espelho eu dou uma última conferida no cabelo. Ele permanece natural sobre minha cabeça do jeito que eu gosto. Visto uma camiseta regata branca com uma jaqueta preta por cima. Escolho uma calça jeans clara e um tênis simples escuro pra arrematar o visual. Aperto o brinco preto contra a orelha esquerda e ajeito o bracelete com "L" que Luca me deu. Era a melhor parte de tudo que eu usava.

Me despedi de minha mãe e rapidamente peguei um táxi na rua. Alguns minutos se passaram e a vontade de encontrar meus amigos já era grande. Meu celular marcava nove e quinze então provavelmente todos já estariam lá. Pelo menos era o que eu esperava.

Desço no local bastante movimentado. É realmente um restaurante diferente da maioria. Entro pela porta e corro os olhos entre as mesas. Uma decoração escura e aconchegante de bar noturno preenche todo o lugar. Avisto então rostos familiares na extremidade direita do estabelecimento e ando naquela direção.

Um arrepio passa pele meu corpo quando algo parece faltar. Bárbara está chamativa como sempre. Ela usa uma roupa preta mais colada e seus cabelos estão jogados naturalmente sobre os ombros. Um batom roxo intenso e uma maquiagem de gatinho chamam atenção pro seu rosto perfeito. Felipe está sentado ao lado dela na mesa média e retangular. Seus óculos pretos combinam com a camiseta da mesma cor. Provavelmente Bárbara o obrigou a se vestir daquele jeito pra combinar com ela. Alexia também me olha animada em sua cadeira. Seus cabelos estão presos em um rabo de cavalo estiloso e eu pude notar seu vestido curto branco mais soltinho. Ela dá uma pequena risada quando eu me aproximo um pouco nervoso.

- Oli. - Ela fala pra mim. O rosto de Felipe se volta em minha direção e também sorri.

- Até que enfim, você esta super atrasado! - Bárbara fala autoritária. Ignoro sua fala exagerada ainda sentindo falta de uma pessoa.

- Cadê o Luca? - Pergunto diretamente pra Felipe que deveria estar com ele. O garoto faz uma expressão duvidosa e eu não entendo.

- Eu queria esperá-lo mas ele insistiu que viria depois. - Ele fala. Permaneço de pé ainda pensando naquela informação. O rosto de Felipe então se contrai e eu me volto pra ele.

- Pra falar a verdade ele parecia meio estranho Oli. - O geek dispara confuso. Minha cabeça gira e eu já esperava por isso. Me movimento para sair dali mas a voz de Bárbara e Alexia me questionam juntas.

- ESPERA! - Elas falam e depois se olham estranhas. A ruiva então endireita o corpo sobre o assento e prossegue.

- Onde você vai? - Ela pergunta um pouco irritada. Me viro na direção dos três e os encaro.

- Eu prometo que volto, não saiam daí. - Digo virando as costas. 

Saio apressado do lugar me sentindo estranho. O pressentimento ruim parecia estar correto no final das contas mas eu não podia pensar direito. Andei com passos rápidos pela rua afim de chegar em uma praça perto da avenida. Muito taxistas ficavam por lá e eu precisava imediatamente encontrar Luca e resolver esse problema.

Passei a mão pelo cabelo nervoso e avistei o local. Reparei vários carros enfileirados e alguns motoristas batendo papo tranquilos. Assim que eu me voltei pra ir até um deles algo me chamou atenção. Na outra extremidade do local um garoto permanecia sentado em um dos bancos de madeira. Seu rosto estava pensativo mas mesmo assim era bonito.

Meu coração acelerou e eu fui ao encontro dele. Luca estava com as mãos cruzadas sobre o colo e um único poste de luz iluminava aquele lugar despovoado. Respirei aliviado quando cheguei ainda mais perto de seu corpo e percebi sua cabeça se virar em minha direção com um impulso.

Os olhos azuis piscaram misteriosos e se desviaram pra outra direção. Com um passo lento eu rompi nossas barreiras e me sentei ao seu lado no banco. Cruzei os braços sobre o peito e encarei o chão a minha frente também. Permanecemos parados ali por alguns segundos sem falar nada. 

- Não tá tudo bem entre a gente? - Resolvi quebrar o silêncio que me assustava. O rosto de Luca ainda encarava o chão a sua frente. Seus cabelos negros ondulados caiam perfeitamente sobre a cabeça. Abaixei meu olhar para seu peito e reparei que ele usava uma camisa polo listrada em azul. A mesma que eu e Alexia demos pra ele em seu aniversário. Ela contrastava perfeitamente com sua calça escura e seu tênis preto. Me senti feliz por aquilo mas não era hora de falar disso.

- Eu não sei mais nada. - Luca finalmente responde. Seus olhos azuis finalmente se voltam em minha direção me deixando assustado. - Não sei mais quem eu sou, a minha vida é uma droga! - Ele exclama mais forte. Respiro lentamente passando uma das mãos sobre meu rosto. Coloco a outra sobre o ombro direito de Luca ao meu lado mas ele parece não ligar.

- Luca, tudo bem se sentir assim. Você só não pode deixar isso te derrubar. - Falo tentando o confortar. O garoto ao meu lado remexe o corpo apreensivo. Sua cabeça se move em negação e sua expressão se enrijece. 

- Não está tudo bem Oliver! - Ele dispara. - Faço uma faculdade que não tem nada haver comigo. Meus pais não ligam pra mim  e eu não ligo pra eles. Eu não consigo manter nenhum relacionamento, eu estrago tudo com todo mundo! - Ele fala cada vez mais alto. - Eu... Eu nem sei quem eu sou. - Ele termina me deixando assustado. 

O corpo tenso de Luca então se levanta. Ele anda de um lado pro outro e depois para nervoso. Vejo suas duas mãos correndo por seus cabelos como se ele quisesse se livrar de uma sensação ruim.

Concentro meus pensamentos em minha cabeça. Eu poderia surtar com isso tudo mas não vou. Tudo que eu vejo em Luca agora sou eu mesmo. Eu me vejo quando tive que enfrentar problemas que as pessoas nem ao menos se importavam. Eu vejo toda a insegurança e medo do amanhã por serem incertos. Mas eu não queria aquilo pra ele. Eu não estava disposto a perdê-lo pra isso.

Me levantei lentamente e me direcionei ao corpo do garoto. Dei a volta por ele e me posicionei de frente a seu rosto. Os olhos azuis ainda permaneciam baixos e tristes. Segurei os dois braços de Luca com as minhas mãos e encarei seu rosto cabisbaixo.

- Luca, olha pra mim. - Digo calmo. O garoto relutou por alguns segundos mas seus olhos acabaram se encontrando com os meus. Uma pontada de dor percorreu sobre mim quando eu enxerguei pequenas lágrimas se formando neles. Eram como o próprio oceano azul que iria derramar suas águas.

- Eu sei quem você é. - Falo despertando sua atenção. - E você é maravilhoso. - Completo mais sereno. 

- Sem você eu não seria quem eu sou hoje. Eu entendo tudo que você está passando mas isso não pode te corroer assim. Você é muito mais do que um sentimento ruim, você é a coisa boa em tudo. Eu não gosto que você fale desse jeito porque eu fico puto. - Falo com os olhos azuis ainda me encarando. - A melhor parte do meu dia é quando estou com você. Você me passa uma coisa tão incrível que eu nem ao menos sou capaz de descrever. - Completo meio sem jeito. 

O garoto respira profundamente com as minhas palavras e uma pequena lágrima cai de seus olhos.

- Eu tenho medo de acabar com a gente. Alguma coisa sempre acaba acontecendo e eu não quero que isso seja destruído também. - Ele se lamenta outra vez.

Dirijo minhas duas mãos pro seu rosto. As repouso lentamente sobre sua barba sentindo o toque sereno de sua pele.

- Se alguma coisa acontecer a gente vai dar um jeito. - Falo sincero. - A gente sempre dá não é mesmo? - O questiono e vejo um pequeno sorriso no canto de sua boca. Me sinto feliz com o pequeno momento.

- Não vai ser tão fácil se livrar de mim, sabia disso? - Brinco dando um pequeno sorriso. 

Afundo meu rosto contra o ombro do garoto agora mais calmo e enlaço seu corpo com meus braços. Sinto o toque das mãos de Luca contra minhas costas e o aperto ainda mais contra mim, como se quisesse protegê-lo de tudo. 

- Eu amo você. - A voz do garoto soa contra meu pescoço afastando o momento ruim. Passo uma das mãos sobre os cabelos macios de Luca antes de encarar seu rosto novamente.

- E eu te amo também. - Digo ainda sorrindo. 

Nossos rostos se aproximam em um movimento direto. Meus lábios atingem os dele em cheio e tudo está correto novamente. O gosto do garoto aparece em minha boca e eu me sinto egoísta. Movimento meus lábios ainda mais sedentos contra os dele desejando que ele seja meu para sempre.

Um pouco mais tarde naquele dia nos encontramos com nossos amigos no restaurante peculiar. Alexia fica feliz quando percebe nossa chegada e Bárbara respira aliviada. O tempo corre entre piadas idiotas de Felipe e risadas atraentes de Luca. Bárbara e Alexia conversam como velhas amigas e eu me sinto feliz com tudo aquilo. Um momento bom com todas essas pessoas compensa qualquer coisa ruim na minha vida. No final das contas aquela foi uma noite incrível.

(...)

Desci as escadas rapidamente pra atender a porta de casa. A campainha havia acabado de soar e eu já sabia o que me esperava do lado de fora. Um sorriso se formou no meu rosto quando o garoto bonito me olhou por detrás da porta.

- É aqui que mora um famoso garoto chamado Oliver? - Luca fala brincalhão. Abro espaço para que ele entre para dentro e logo fecho a porta com um empurrão.

- É sim, e você está atrasado por sinal. - Falo entrando na brincadeira. Luca coloca as mãos sobre o peito como se sentisse muito e eu dou um soco em seu ombro. Ele se afasta rapidamente sorrindo e eu me divirto também.

Vejo minha mãe se aproximar do corredor meio curiosa e olhar atentamente a situação.

- Luca, que bom te ver. - Ela fala simpática. Me sinto um pouco tenso com o encontro mas permaneço calado.

- É bom te ver também. - Luca se aproxima e dá um abraço amigável em minha mãe. - Você está mesmo linda! - Ele a elogia e eu reviro os olhos. Ele nunca perderia esse seu jeito particular.

Vejo o rosto da minha mãe corar um pouco e dou uma risadinha.

- Obrigado, você é mesmo muito gentil. - Ela fala. Dou uma tossida forçada pra chamar atenção dos dois para mim.

- Mãe, eu e o Luca vamos conversar um pouco lá em cima. Tudo bem? - Falo tranquilamente. O rosto da mulher assente concordando e Luca logo já começa a subir as escadas. Assim que endireito o corpo para segui-lo a mulher dá uma piscadinha com o olho esquerdo em minha direção e eu fico corado. Será mesmo o que estou pensando?

Chegamos bem humorados até meu quarto e Luca logo se joga de costas sobre a cama. Ele fecha os olhos tranquilo com a cabeça repousada no travesseiro. Vê-lo dessa forma me deixa feliz. Os fracos raios de sol da tarde caem sobre seu corpo esticado e eu sinto vontade de estar mais perto dele. Caminho para o ouro lado da cama e me deito também de costas do seu lado esquerdo.

Luca passa os dois braços para trás de sua cabeça e seus olhos azuis se abrem para o teto.

- Eu decidi largar a faculdade. - Ele comenta tranquilo. Viro meu rosto na direção do dele mas não estou surpreso. Um sorriso aparece em meus lábios.

- Eu fico feliz que esteja dando seus próprios passos. - Falo. O rosto do garoto então se move em direção aos meus olhos também. Ele sorri gentilmente por um momento mas depois algo malicioso aparece para me confrontar.

- Mas não pense que eu irei embora do meu apartamento. - Ele fala e eu confesso que me sinto mais tranquilo. - Convenci meus pais que vou arrumar um emprego qualquer e permanecer por lá até o fim do ano. O resto a gente deixa pra depois. - Ele completa. Me sinto feliz por estar incluído em seus planos e concordo com a cabeça.

- Tá afim de ouvir música? - Pergunto fugindo do assunto. O rosto do garoto deitado ao meu lado se ilumina e eu não preciso de resposta. 

Pego meu celular no bolso e alcanço os fones de ouvido sobre o criado ao meu lado. Os encaixo no meu aparelho e passo um deles para Luca usar em sua orelha esquerda. Coloco um na minha também e vou até a minha playlist escolher alguma coisa. A música sempre me faz bem.

Seleciono "The Story" da cantora "Brandi Carlile". Eu descobri essa música a algumas semanas atrás e ela segue entre minhas favoritas no momento. 

O som leve de início atinge meus ouvidos e eu reparo os olhos calmos do garoto ao meu lado. Ele passa uma de suas mãos sobre o peito e eu suspiro por tê-lo aqui comigo, só pra mim.

- Sobre o que essa música fala? - Ele me pergunta normalmente. Encaro o teto por alguns segundos pensando na letra.

- É sobre alguém que está realmente apaixonado e faria tudo por essa outra pessoa. - Comento. - Mas ao mesmo tempo as pessoas não conseguem ver isso. Elas não podem entender esse amor, o que torna tudo mais complicado. - Concluo pensativo.

O rosto de Luca se volta para mim e eu encaro sua expressão serena.

- Como nós dois? - Ele fala gentil. Dou um pequeno sorriso em direção a ele e assinto levemente.

- É, pode ser. - Respondo. O rosto do garoto então se volta novamente para cima e eu faço o mesmo.

A mão de Luca então repousa sobre a minha. Volto meu rosto outra vez para ele e percebo seus olhos agora fechados. Um sorriso bobo aparece nos meus lábios e eu volto a encarar o teto. A música continua contra minha cabeça mas agora ela está mais agitada. Ela me lembra que o amor não é sempre suave, ele é feito de batalhas. Fecho meus olhos e sinto a sensação tranquila de estar de mãos dadas com o garoto que me deu o oceano em seu olhar. Eu não queria que nada fosse diferente.