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História Experimento Apocalipse - Infiltrada


Escrita por: chan_sango

Notas do Autor


Esse capítulo tem ponto de vista das duas, porque a dinâmica dos fatos pedia isso. Começa com Catra e depois vai para Adora (e tem um terceiro POV no final, que não posso explanar muito hauhauh).
Estamos chegando na reta final, e, teoricamente, esse seria o penúltimo cap. Mas, já escrevi o próximo e ele está enorme, sendo que nem conclui o enredo. Então, provavelmente teremos um sexto, ainda estou pensando.
No mais, boa leitura <3

Capítulo 4 - Infiltrada


‘O que diabos está acontecendo com a Adora hoje?’, era a única frase que o cérebro de Catra conseguia processar enquanto a outra mulher segurava seu rosto tão firmemente.

Nunca foi fácil superar a distância que se formou entre elas quando saiu do orfanato. Nunca foi fácil alimentar a ideia de que, talvez, nunca mais a encontrasse. Nunca foi fácil, depois de revê-la, fingir que podia voltar a ser sua melhor amiga sem querer tentar algo mais. 

Ao tomar tais atitudes e tocá-la tão gentilmente, Adora só tornava a resistência ainda mais difícil. Perdera as contas de quantas vezes sentiu seu corpo arrepiar-se aos toques dela. Em alguns casos, de tanta dor que quase a fizera desmaiar de novo, mas, em outros, de uma necessidade latente, de anos e anos de espera por algo que até hoje não sabia direito definir. 

E lá ela continuava, a encarando com os olhos azuis mais hipnotizantes que vira em toda sua vida, segurando seu rosto com as mãos mais ansiadas pelo seu corpo. Por todo o seu corpo. Não sabia, inclusive, que era possível senti-lo pulsar de dor e desejo ao mesmo tempo até o momento em que precisou tirar a blusa... 

Foco. Precisava manter o foco. 

Fechou os olhos e soltou a respiração que segurou por mais tempo que o normal.

– Se for pedir para eu ir para a Aliança, nem tenta... Sabe que não tenho chances... – Sua voz era cansada e frustrada. 

Aproveitou que a outra a soltara para encostar a cabeça na parede mais uma vez e reabrir os olhos na direção do teto.

– Não é isso. Não... Exatamente. Acho que poderia me ajudar com algumas informações de dentro da Horda para conseguirmos enfraquecê-los. 

– Que? – Catra perguntou entre uma risada breve. – Hoje você não está fazendo sentido nenhum...

– Escuta primeiro – a voz de Adora ainda era determinada. – Consegue para mim a localização das bases, os dados sobre a quantidade de soldados em cada uma, o acesso à área de mantimentos e munições, essas coisas. Em troca, eu te ajudo a ganhar cada vez mais a confiança do Mestre da Horda. 

– Como, gênio? – Agora virava o rosto na direção da mais velha, ao seu lado esquerdo, e arqueava uma das sobrancelhas de modo desafiador.

– Convenço a Aliança a ceder alguns dos nossos territórios para a sua equipe. Claro, vai ser temporário e vamos tirar os sobreviventes para que ninguém os maltrate. Assim, você prova seu valor, garante sua liderança com a aprovação do Mestre da Horda e consegue se infiltrar cada vez mais até descobrirmos como chegar ao esconderijo dele e colocar um ponto final nisso. E na hora da luta, você terá toda a Aliança ao seu dispor. – A loira disse sem pausas, gesticulando descontroladamente.

– Uau... Realmente passou um bom tempo pensando nisso, princesa. Quando você mexe muito as mãos assim é porque a ideia ficou, pelo menos, umas duas semanas borbulhando aí dentro dessa cabecinha loira... – Sorriu de canto para a amiga.

– Para de zoar. Eu tô falando sério! – Adora cruzou os braços e cerrou as sobrancelhas, tentando ficar séria, mesmo um sorriso de canto teimoso no rosto. – O que você acha?

– Infiltrada da Aliança para derrubar o Mestre da Horda... – Pausou a fala para pensar.

Obviamente as coisas não seriam tão práticas e rápidas como na cabeça de Adora. E tudo bem. Afinal, Catra estava ali para ser a verdadeira estrategista detalhista do plano. Que não era ruim, aliás, só precisava de uns choques de realidade aqui e ali.

Conseguir todas essas informações que a integrante da Aliança a pedia demandaria tempo e outros aliados dentro da Horda, tais quais ela não vinha se esforçando em fazer. Precisaria, e poderia, se esforçar a partir de agora. Apostava também que Adora demoraria para ter a aprovação para liberar os territórios para sua equipe, a não ser que fosse muito próxima de alguém que tenha o contato com a tal Angella, a líder suprema da Aliança. Talvez fosse mesmo e Catra só não sabia. Típico de Adora conquistar o coração dos mais influentes, como fez com Shadow Weaver no orfanato. 

Era um plano muito arriscado, daqueles que ou dão certo, ou acabam com a vida de todo mundo. Não que isso a intimidasse. Depois do que passara, Catra queria, acima de tudo, não mais viver em constante guerra e opressão. Nada continha tamanho valor para ela comparado a essa conquista. Não incluindo Adora na lista, o que odiava admitir, mas era a pura verdade. Em seus cálculos finais, sabia muito bem a resposta o que sua amiga propusera. Iria só testar um pouco a insistência dela por diversão: 

– Acho muito arriscado... – Catra continuou olhando para o teto e ficou alguns segundos em silêncio até continuar. – Qual a garantia de que não vou ser morta pela Aliança quando, e se, tudo der certo?

– A garantia sou eu. – A resposta de Adora veio em um tom um pouco hesitante, porém, sincero. – Não vou permitir que ninguém faça nada contra você... Nem que eu ponha em risco a minha própria vida.

Como Adora fazia uma piada dessas no meio de um assunto tão sério? 

Porque isso só podia ser piada... Nunca que seria tão importante para ela assim. 

Em segundos, tudo se conectou em sua mente. Desde o início, a proposta era uma brincadeira que Adora fez com ela e queria ver até onde iria. 

Claro! Só podia ser! 

Não conseguiu resistir. Mesmo com todo o seu corpo implorando para que não se mexesse e não despertasse ainda mais dor, a híbrida gargalhou. Tanto que seus ombros moveram e a barriga enrijeceu.

– Boa, Adora! – Disse ainda entre pequenas risadas. – Eu quase acreditei que a proposta era verdadeira, mas essa de dar a sua vida pela minha entregou tudo! É óbvio que não iria fazer isso...

Adora ficou um tempo a olhando confusa até balançar a cabeça em negação.

– Por que...? Piada? – A loira pôs a mão sob a de Catra e a apertou. – Eu não fiz piada em nenhum momento. Muito menos sobre te proteger a qualquer custo, Catra.

Qualquer resquício de risada parou na hora. 

Só sentiu o rosto instantaneamente esquentar e fitou fitando as mãos das duas uma na outra. Quase voltou ao passado quando percebeu o calor alterado de Adora, o coração batendo tão alto quanto o seu próprio. Exatamente do mesmo jeito de 9 anos atrás. 

Puxou o ar para os pulmões tão forte que precisou suspirar. Tudo porque a pulsação de dor e calor trabalhavam juntas novamente. Mais do que nunca, precisava desviar o foco disso, e nada melhor do que responder sobre a proposta inicial.

– Eu.... – Falou tão baixo que duvidou que Adora tivesse ouvido. Por isso, encarou-a e falou mais alto. – Eu topo, então... Menos essa parte de sacrifício, tá? Por favor... 

Só depois de passar bons segundos fitando sua mão na de Catra que a mais velha decidiu olhar para o rosto dela. Quando o fez, carregava um sorriso largo, que foi seguido de uma risada baixa.

– Exagerei nessa parte, é? – Adora perguntou brincalhona.

– Totalmente – Catra repetiu a risada – Pensei até que você estava ficando doida, ou um pouco obcecada demais por mim.

– Ha! Vê se abaixa essa bola, tá? – Enquanto respondia, a mais velha deu um leve tapa na coxa da amiga. – Eu só queria deixar claro que estarei do seu lado, boba.

– E eu agradeço por isso. – Catra recostava-se pela milésima vez na parede, não conseguindo mais manter seus olhos abertos de cansaço.

Adora entendeu o gesto e deixou que ela descansasse. Inclusive, aproveitou para, também, apoiar-se na parede ao lado da amiga e fazer o mesmo. O silêncio confortável era unânime, até que Catra teve um ato de coragem:

– Ainda bem que te reencontrei, ‘Dora... – A voz era baixa, rouca pelo estágio de quase sono. Não ousou reabrir os olhos ou mover-se. – Porque você nunca deixou de ser a minha pessoa favorita...

Não obteve nenhuma resposta. Pelo menos não verbal. Gestualmente, entendeu que a outra mulher ouvira sua confissão sonolenta ao sentir a cabeça dela encostar delicadamente sob seu ombro e seus braços se entrelaçarem em um nó confortável. 

E em nenhum outro momento desses últimos anos Catra se sentiu tão, tão inteira. Mesmo com todos os hematomas, mesmo com todos os ferimentos costurados, as dores por lugares no corpo que nem sabia que tinha. Naquele exato lugar, naquela exata situação, se sentia pertencida, desde que Adora pudesse cuidar dela, abraçá-la e cair num leve cochilo em seu ombro sempre em seguida. 

Imaginou poder viver assim, ao lado dela, em um cenário sem guerra e formou um sorriso bobo automaticamente no rosto. Antes de se entregar de verdade ao sono, decidiu que iria fundo nesse plano de infiltração por um final feliz ao lado de sua amada. Um final onde poderia ter a chance de dizer o que sente e transformar o platônico em canônico.

Eis que o trato começa e ser posto em prática, apenas alguns dias depois, tempo suficiente para que se recuperasse e pudesse voltar a circular no mesmo ambiente que Tung Lashor apta a se defender. O retorno foi uma surpresa para o homem cobra, e a híbrida não podia estar mais satisfeita com tal reação conflituosa. Esperava, mesmo, que ele a temesse. 

Por um momento, pensou que essa tentativa de assassinato foi muito mais proveitosa do que traumática. Primeiro porque passou todo esse tempo de recuperação recebendo visitas e cuidados de Adora naquele quarto isolado dos fundos do mercado. Segundo, a maneira que sua tropa a recebera de volta, demostrando tanto respeito por sua sobrevivência, serviria essencialmente para acabar com a autoridade que seu inimigo pessoal havia conquistado entre eles. 

Chega de disputa de poder. Catra sabia que era muito superior a qualquer um ali.

Decidiu por si só acabar com seus dias de insegurança e autossabotagem. Iria se dar o valor que sempre mereceu, até mesmo nas insignificâncias de sua vida, como era o caso dessa liderança. Nada como ter um propósito. Nada como ter por quem lutar. 

Logo na sua volta, expôs seu plano de dominar o território em que estavam a dias e não conseguiam. Claro, o plano que combinou com Adora, e esperava que desse certo. 

E deu. Primeira etapa completa. 

Território dominado pela Horda, com uma luta estrategicamente perfeita, acuando os integrantes da Aliança pela manhã no acampamento deles. Não os deram opção a não ser sair dali. Também não insistiram, algo que, provavelmente, tinha relação com a persuasão de sua amiga para facilitá-la. Os sobreviventes? Catra os achou e entregou para que Adora os refugiasse com seu grupo, enquanto, para Horda, apenas declarou que haviam sido assassinados. Agora tinha pontos com o Mestre da Horda e total autonomia de sua equipe. 

Para seguir com o planejamento, não mais ficou naquela cidade, expandiu seus domínios para os locais vizinhos, sempre contando com a ajuda da loira para isso. Cada vez ficavam logisticamente mais distante, o que significava menos encontros descontraídos e mais reuniões rápidas totalmente estratégicas. Foi assim que conseguiu mais oito cidades para a conta nos dois meses seguintes, praticamente dominando uma por semana, para entusiasmo e surpresa do líder global. 

Catra estava no auge do poder, no auge da autoconfiança, e destruindo ambos de Tung Lashor. Esse agora não passara de um mero soldado. Um que, inclusive, desempenhava mal sua função com frequência. Nunca soube porque esse homem um dia fora líder, provavelmente pelo privilégio masculino. 

Estava conseguindo tudo o que queria, menos a sua parte do trato com Adora de repassar informações das outras bases. Ainda. 

Sabia que a mais velha estava se esforçando para ajudá-la, pois, nas poucas vezes que conseguiram mudar o assunto durante as escapadas, ela comentava como o fato de só dois de seus amigos saberem da infiltração estava os jogando contra a líder deles, Angella, que não estava entendendo os diversos recuos repentinos do grupo nos territórios conquistados. 

Eram colocados contra a parede em cada reunião, e, ainda assim, não viu desvio sequer de foco de Adora. Ela estava engajada demais para que Catra simplesmente colocasse tudo a perder. Não faria isso jamais. 

Para cumprir sua parte, então, pensou em ir atrás de um velho amigo. Um que passou pelas mesmas dificuldades no orfanato, um que teve o mesmo fim: o abandono. Lembrou de Rogelio. 

Da última vez que soube do híbrido reptiliano, este também estava do lado opressor, comandando um grupo muito mais rebelde que o dela. Não exatamente cumpriam suas missões pela ascensão da Horda, era pela destruição da Aliança, lado defensor dos humanos, dos que sempre viraram as costas para eles. Eram mais vingadores do que qualquer outra coisa. 

Catra não os culpava. Sofreu na pele o que eles sofreram, compreendia o que era ser incompreendida. Ainda assim, contava com sua astúcia para convencer o amigo a entrar no seu plano. Era ele quem  ficava sob o comando da cidade onde era o orfanato, onde podia conter nos laboratórios de Hordak ou nos arquivos de Shadow Weaver, informações relevantes sobre a base.

Em uma das peregrinações de sua pequena tropa, A mulher decidiu parar na cidade que há anos fora sua casa. Pediu que Rogelio os abrigasse temporariamente e foi aceita. Não antes de explicar o motivo na frente de todos, inclusive de mais dois de seus antigos colegas órfãos, 7.2.2 e 9.2.2, ou Lonnie e Kyle. 

Obviamente um conto falso, pois o oficial tentaria justificar, confidencialmente, a Rogelio. Era bom revê-lo depois de tanto tempo de caminhos descruzados. Era seu grande amigo e confidente, depois da híbrida loira, principalmente depois do que passaram nas mãos dos tutores do ZM-H. E ainda que tenham se ausentado da vida um do outro por tanto tempo, eram mútuos o carinho e a eterna gratidão que tinham por essa amizade. 

Quando ambos caminhavam sozinhos para dentro do antigo orfanato, indo para a sala de estar agora empoeirada e virada do avesso, o réptil apoiou uma das mãos no ombro de Catra para induzi-la a encará-lo:

– 3.2.2, agora me conta o que realmente te trouxe aqui. Não é simplesmente por uma missão da Horda, não é?

– Eu sou tão óbvia assim? – Ela virou-se de braços cruzados e um sorriso torto no rosto.

– Para você me procurar depois de todos esses anos e voltar para esse lugar, não deve ser só porque a Horda precisa. E nunca foi boa com ordens também... – Acompanhou-a com o mesmo sorriso depois da fala.

– Um gênio, como sempre, 5.2.2 – Catra deu um leve soco em um dos ombros de Rogelio e riu da afirmação junto com ele. – Realmente estou aqui por outra coisa. Queria fazer uma varredura nas coisas da Shadow Weaver e do Hordak que ficaram por aqui. É uma missão minha, pessoal, e gostaria que me ajudasse nessa.

Catra decidiu não contar sua verdadeira intenção ainda. Por hora, deixaria na conta de uma sede por vingança. Nada de estar infiltrada, nada de reencontrar Adora, nada de destruir a Horda.

O homem, que caminhava até a única estante que parecia inteira naquele lugar para pegar duas taças e uma garrafa de vinho olhou para a amiga com uma expressão indecifrável. 

Depois que se sentou sob o que restava de um sofá e começou a servir ambos os copos, resolveu manifestar-se:

– Não sei se posso ajudar. São partes do orfanato que estão proibidas pelo Mestre, e eu só tenho acesso para vigiar. – Pegou uma taça na metade e ofereceu a ela, que aceitou. – Esse é um dos bons que consegui salvar da sala da Weaver. Esse vinho, digo.

Catra provou o líquido e balançou a cabeça positivamente num gesto de aprovação. Não é que a megera tinha um bom gosto para bebidas? 

– Você é um dos poucos que entende o quanto eu odeio esses dois, Rogelio. Eles violaram a mim, a você, a várias crianças. Como você consegue viver sabendo que luta do lado deles?

– Provavelmente pelo mesmo que você, por não ter outra opção. Queria que eu ficasse do lado da Aliança? A que protege os humanos? Os mesmos humanos que viraram as costas para gente, que nos humilharam até não poder mais? – Apesar do teor, ele repetia o tom passivo da amiga e bebia alguns goles do vinho.

– Eles não vão ter mais espaço para os preconceitos deles agora, ainda mais quando estão sendo deliberadamente protegidos por híbridos. E se mesmo assim insistirem, você não acha que teria voz o suficiente para se defender? Não é como se não sofrêssemos com desrespeito dentro da Horda também, que, aliás, temos muito mais motivos para odiarmos, não acha? – Deu mais dois goles no vinho. – E por onde andam o cientista maluco e a bruxa velha?

– São do grande escalão, trabalham na base principal com o Mestre adaptando o corpo dele com o máximo que conseguiram desenvolver no projeto She Ra. – Rogelio fitou a outra preocupado com a reação dela ao mencionar o tema delicado e, quando não viu hesito naquele rosto, continuou. – Lonnie e Kyle me contaram que isso foi depois que a sua querida E2 fugiu do quarto secreto.

A cauda de Catra balançava incessante. Decidiu esconder a expressão de seu rosto entre um longo gole de vinho. 

Era melhor fingir que não sabia de Adora ou jogar limpo e tentar mais um aliado? Pensou se não era muito arriscado confiar em mais um integrante da Horda, ao mesmo tempo que lembrou de como Rogelio esteve do seu lado nos dias mais difíceis pós expulsão. 

A jovem tirou a taça vazia de perto do seu rosto e a colocou no chão em mais um movimento para espantar a tensão.

– Eu... Reencontrei a Adora.

– Estão juntas? – Perguntou descontraído. – Não a vi chegando aqui com você.

Evidente que a pergunta fora propositalmente dúbia. 

Catra sabia que Rogelio percebia os sentimentos dela por Adora, até mais que a própria, e deduziu que tinha finalmente se declarado. Ao mesmo tempo, também queria saber se a ex-colega estava do mesmo lado deles. 

Independentemente de qual resposta ele estava mais ansioso para saber, ambas eram um redondo:

– Não. Mas, ela meio que está comigo nesse... plano.

– Como?

– Olha, não vou mentir para você. Eu quero que essa merda de guerra acabe e não acho que seríamos felizes se a Horda fosse vitoriosa. Por isso, quero ter mais acesso às bases de todas as partes do mundo, quero saber as mais e menos estratégicas, e, claro, quero descobrir a localização da principal, onde estão as 3 pessoas que eu adoraria matar com as próprias mãos.

– Ou seja, Adora está na Aliança e você está passando informações secretas para ela – Rogelio levanta desapontado e suspira. – Não quero me meter nisso, 3.2.2. E só vou deixar você ficar aqui por essa noite porque te considero muito.

– Rogelio, por favor. – A morena também se levanta e fica de frente para o amigo, o encarando piedosa. – Não precisa se meter, só precisa me dar acesso ao laboratório e à sala de arquivos. Eu sei que essa guerra também é exaustiva para vocês, e dou a minha palavra de que vou livrá-los de qualquer consequência. Por favor. Adora também não vai deixar que ninguém puna sua tropa.

– Por que acha que vai ser tão fácil assim? Acabar com a guerra não quer dizer que tudo vai se resolver, que as pessoas ainda não vão querer se matar por causa das diferenças. O mundo é podre, com ou sem guerra.

– Pelo menos eu gostaria de uma chance de viver sem um conflito constante, sem um bombardeio, com mais recursos básicos. Não prefere um lugar que garanta seu direito de viver? Realmente gosta de estar sob essas condições? Não pensa em como seria se pudesse reconstruir tudo sem orfanato dessa vez? Em como seria ser livre ao lado de Lonnie e Kyle?

O último questionamento realmente o fez refletir. Era essa a intenção de Catra, afinal. Tinha certeza que Lonnie e Kyle tinham o mesmo peso para Rogelio que Adora tinha para ela. Sempre percebeu a união dos três quando eram mais novos e notava o forte laço que construíram. 

Se para ele um mundo em que pudesse viver em paz com quem mais amava não era motivo o suficiente, então não sabia mais para que lado apelar.

– Não quero saber de nada sobre esse plano. Você vai pegar os cartões de acesso como se tivesse roubado de mim e nunca vai envolver meu nome ou o de ninguém da minha tropa se essa porra der errado. – Ele falou baixo, mas foi enfático.

– Fechado. – O sorriso da mulher crescia descontrolado em seu rosto.

– E quero garantia de que não vamos ser punidos pela Aliança se der certo. De verdade.

– Já disse, tem a minha palavra. E eu nunca te decepcionei.

Foram quatro longos dias com Tung Lashor a cobrindo de interrogações sobre a estadia nos arredores e sendo colocado em seu devido lugar por Catra. Foram longas noites vasculhando cada canto daquele laboratório que traziam suas piores lembranças à flor de pele, ou naquela sala de arquivo que a causava ânsia de vômito a cada anotação relevadora sobre as atrocidades que cometiam com as crianças. 

Enquanto buscava esses dados, Catra fez questão de dormir no quarto que dividira com sua melhor amiga. Não deitava na sua cama, deitava na dela, na esperança de ainda sentir no travesseiro o cheiro de seu amor de longa data. Não teve muito sucesso, já que estava em meio a escombros e poeira. 

O que a alegrava era a esperança de reencontrá-la muito em breve e com boas informações dessa vez. Durante a busca, descobriu uma lista e um mapa com a localização de todos os laboratórios e orfanatos geradores de híbridos no mundo. Eram tantos que a assustou na primeira vez que pousou os olhos nos documentos. Também achou mais detalhes sobre os planos táticos e informações sobre os locais com maior e menor número de tropas. Esses estavam um pouco desatualizados, pois identificou seu próprio grupo ainda listado como um dos maiores em quantidade, o que já não era verídico há alguns meses. Ainda assim, levaria para Adora, seria de algum uso certamente. Outro precioso achado foi um drive externo com anotações de antídotos e pontos fracos dos híbridos inventados pela Horda. Ajudaria a Aliança no desenvolvimento de armas e estratégias de ataques ainda mais eficazes. 

Tantos dados assim seriam o suficiente para cumprir sua parte do trato. Estava frustrada, contudo, por não ter achado nada sobre a localização do núcleo, onde precisavam deter o líder. O máximo que resgatara foi um papel com instruções mal rabiscadas que Rogelio a entregou secretamente. Era uma anotação pessoal, de quando visitou a base, apenas com a indicação de onde ficava a sala principal do Mestre e o maior laboratório da Horda. Nada mais, nada sobre o país ou cidade que ficava.

 

- - -

Adora passara a tarde toda montando a estrutura de segurança para a nova estadia temporária na grande cidade que o grupo iria ficar. 

Grandes espaços urbanos como esse seriam desafiadores se fossem territórios neutros. Haviam muitos prédios abandonados, becos, estações de metrô, enfim, qualquer potencial esconderijo para o inimigo. Contudo, sabia que estavam seguros por ser um dos maiores núcleos da Aliança no mundo, um lugar 100% deles. E mesmo o grupo estando na ponta dessa cidade, quase na divisa com outra mais enfraquecida, tinham fácil acesso a todos os recursos necessários para uma luta vitoriosa. 

O plano era ficar nessa antiga réplica de Las Vegas para estreitar as conversas via conferência com a base global e passar todos os dados que Adora, ‘milagrosamente’, vinha recebendo do território inimigo. 

O milagre era só na visão de Angella, que nunca recebeu uma explicação plausível sobre estarem perdendo pequenos territórios para uma única tropa da Horda ao mesmo tempo que estavam colocando a mão em acessos tão sigilosos do inimigo. A grande líder já desconfiava de que havia uma troca no meio dessa história, faltava descobrir de quem, e começava a pressionar Glimmer ainda mais por isso. 

Por tabela, Glimmer pressionava Adora para ajudá-la a elaborar uma resposta. Só as duas e Bow sabiam que Catra havia topado ser a infiltrada deles, o que não foi contado em grandes detalhes também para o casal. O máximo que Adora esclareceu fora o básico: a híbrida felina passaria os dados em troca de uns territórios, conquistaria prestígio e passaria ainda mais informações.

De todos os dias desses meses de vitórias a longo prazo e derrotas a curto, os dois últimos foram os mais intensos. Adora corria com o tablet no qual Catra dava sinal de vida para apresentar os novos mapas, listas e planos táticos que conseguira, um aparelho estritamente para passar informações via transferência de dados. Logo que tudo isso passou para as mãos da liderança, e depois para os outros núcleos, a queda no número de ataques da Horda foi certeiro. Até conseguiram queimar três dos grandes armazéns do inimigo, os que continham as principais armas e mantimentos. 

A Aliança finalmente respondeu os ataques com um tom muito mais ameaçador, fazendo com que a Horda recuasse por algumas semanas em seus territórios de maior força em mais de quatro continentes. 

Estava dando certo, Adora não poderia estar mais orgulhosa de sua melhor amiga, e não podia estar mais ansiosa, também, para encontrá-la pessoalmente depois de tantos dias longe. 

Uma pena que não ficou muito tempo presa a esse sonhar acordada.

– Adora, hoje minha mãe... Quer dizer, a líder global da Aliança me colocou contra a parede e sabe que os insights estão vindo daqui da minha equipe. – A jovem de cabelos lilás entrou em alvoroço num dos quartos do motel de estrada abandonado em que estavam acampadas. – Acho que devíamos contar para ela sobre sua amiga infiltrada.

A loira mal tinha deitado na cama que demorou horas para higienizar e já se levantou no susto. Alguns fios de seu cabelo recém solto e bagunçado caíam sob seu rosto com o rápido movimento.

– Não podemos fazer isso, Glimmer! – Disse num tom apavorado enquanto jogava as mechas para trás, limpando sua visão.

– Na verdade, já contei que temos... Alguém infiltrado mesmo. – Glimmer percebeu que a amiga vinha na sua direção para sacudir seus ombros e perguntar o porquê. Fechou os olhos apertando-os, só na espera. – Calma, calma! Eu não disse quem!

– E nem vai dizer! – Adora acorda de seu ato impulsivo e solta a amiga depois de respirar fundo. – Isso seria muito arriscado para ela, e para nós também. Pensa! Quanto mais pessoas souberem, mais chances de dar problemas. Era melhor eu não ter contado nada para você se soubesse que fosse explanar tão fácil assim para sua mãe.

– Não explanei nada, Adora! – A líder gesticulava impaciente. – Sabe como ela é! Como que eu ia escapar da conversa? Queria que eu saísse correndo? Ia ser ainda mais suspeito. Além do mais, é só questão de tempo até ela descobrir.

– Não é. Ela não vai descobrir. – A mais alta andava de um lado para o outro em negação. – Não vamos contar e ela não vai descobrir. Ponto final.

Antes que a conversa pudesse continuar, Frosta aparece aflita na porta e avisa que um grupo pequeno da Horda está circulando pelos arredores. Bow os achou e acabou sendo atacado, precisaria da ajuda das duas urgentemente, sobretudo de She Ra. Adora e Glimmer não hesitaram e foram através do teletransporte mágico da líder do direto para a localização indicada. 

Ao chegar, Adora não pensou duas vezes antes de se transformar na guerreira de dois metros para livrar o amigo de três híbridos enormes que o cercavam. 

Ainda que o rapaz fosse muito ágil com suas flechas, era impossível que desse conta de todos ao mesmo tempo. Por isso, She Ra preferiu usar a espada para logo dar golpes fatais nos inimigos até que caíssem no chão: um degolado, outro com um ferimento atravessado no peito e o terceiro sem um dos braços. 

O sangue que espirrou em suas roupas e rosto, o que escorria pela lâmina da espada… Todos eram combustíveis para o pulsar que seu corpo acabara de dar. Mal chegou no campo de batalha e seu instinto assassino aflorava. 

Talvez o desentendimento com Glimmer tenha a descompassado o suficiente para não se sentir plena o suficiente para domar She Ra. Talvez isso, somado ao desespero de descobrirem Catra mais dia menos dia, a tenha tirado do ar. 

Foram poucos minutos até que não mais reprimia a vontade de morte. Seus olhos e veias ficaram tão vermelhos quanto as manchas na sua roupa. E os ataques não mais eram seletivos. 

Tentou algumas vezes atacar outros dois membros da Aliança que apareceram posteriormente para ajudá-los. Se não fosse por Glimmer os teletransportando no último milésimo de segundo, She Ra seria oficialmente a causa daquelas mortes.

Adora mal enxergava o que fazia e também mal ouvia os arredores. Tudo o que identificava entre a visão embaçada e a quase surdez eram as fisionomias de terror em seus amigos que gritavam alguma coisa para ela. Gritavam para que a impedisse de continuar atacando. 

Não era isso que seu corpo queria. Não era o que a induzia. O desejo de tragédia era latente, onipresente. 

Até que sentiu alguém tirar a espada de sua mão e golpear, com uma cotovelada, seu estômago. Isso imediatamente enfraqueceu, não o suficiente para que a Adora dentro daquela máquina de matar voltasse para a superfície ainda. 

Precisava de mais um golpe, mais um e ela conseguiria domar. 

Parece que alguém a ouviu. Algo a acertou na cabeça e o musculoso corpo de guerreira caiu no chão. 

Adora finalmente voltara a todos os seus sentidos e à forma normal. Aproveitou que já estava no chão para se entregar ao cansaço que a tomou de imediato. Fechou os olhos sucumbindo ao desmaio.

Quando os reabriu, notou que estava deitada na cama do motel e pouco conseguia enxergar. Não por nenhuma cegueira, era porque a única fonte de luz eram duas velas perto da cabeceira. Estava de noite. A enxaqueca como consequência da She Ra descontrolada logo veio.

– Adora, tá melhor? – Bow surgiu na lateral da cama com uma voz preocupada.

A loira nem tinha reparado que tinha companhia. E não só a do amigo.

– Fiquei preocupada demais com você. – Glimmer sentou na cama e puxou o corpo deitado dela para abraçá-lo.

– Nunca tinha visto, não é? – Entre os braços da outra e com a voz fraca, constatou – Me desculpem por isso...

– O que aconteceu? – O jovem rapaz também sentava na cama.

– É... Por alguns instantes parecia não ser você. – Saindo do abraço e deixando Adora se ajeitar sentada na cama, a mais baixa acrescenta.

– Essa é a verdadeira She Ra. Essa sou eu quando não consigo controlar meus poderes. – Agora com as costas na cabeceira, a loira abraça as próprias pernas e se encolhe no corpo e também na voz. – Se puderem, por favor, esquecer isso e nunca mais tocar no assunto, eu agradeceria.

E assim o episódio de loucura de She Ra passa sem nunca mais ser mencionado. Os amigos respeitaram seu pedido, não poderia ser mais grata por isso. 

Desde então, se certifica de não mais se transformar quando está com a cabeça muito cheia e os pensamentos desalinhados. Podia usar sua versão normal perfeitamente para atacar o inimigo, era boa em lutar com as próprias mãos, e essa seria sua tática para não mais ter que lidar com a não posse de seu próprio ser. Funcionou muito bem nos dias seguintes, até porque estes não sucederam com tantas lutas assim. Afinal, o objetivo principal do grupo naquela região era enviar informação.

Enquanto isso, via Catra sendo prestigiada por seu feito. Mais territórios, mais conquistas, mais elogios vindos da base. Nas poucas mensagens que trocou com a híbrida, ela contou que tinha ‘desbloqueado um novo nível de confiança do Mestre da Horda’, um que só a contaria pessoalmente. 

Mais um elemento para se unir à saudade acumulada e fazer com que Adora arrumasse um jeito de encontrá-la. Pediu para vê-la naquela noite, em um campo neutro, para o qual teria que caminhar 40 minutos até chegar. E iria mesmo se fosse ainda mais longe. Se tornaria uma andarilha se preciso, mas veria Catra hoje. 

Chegou em uma floresta desnivelada, que acessara por um barranco perto de uma estrada. Era bem escondido e de difícil acesso. Catra estava sentada no capô de em um carro depenado, que devia estar há anos ali, com as pernas cruzadas e uma garrafa de vinho na mão. 

Ao avistá-la, sua cauda balançou por alguns segundos e suas orelhas apontaram para cima.

– Parece que temos uma gata animada hoje! – A loira caçoou enquanto subia no capô para sentar ao lado da amiga.

– Ha-Ha! Engraçadinha... – Catra aproveitou a proximidade para cutucar a outra com o ombro e fingir impaciência que foi logo destruída por uma risada baixa.

Adora não sabia se era proposital, mas, sentiu a mesma cauda animada de antes enlaçar discretamente a sua cintura. O gesto a fez sorrir, principalmente porque este foi somado a uma troca de olhar saudosa.

– Oi, Adora... – A malícia na voz era a mesma do sorriso enquanto levantava sugestiva a garrafa da bebida para que a outra visse. – Trouxe para gente.

Foi difícil sair da hipnose que aqueles olhos âmbar e azul a levavam. A mais velha se esforçou para olhar para a garrafa.

– Onde achou isso?

– Peguei no ZM-H – respondeu relaxada. – Um presentinho roubado da bruxa velha.

– Era da Shadow Weaver? – Adora pegou a garrafa da mão dela e aproveitou que estava aberta para dar um gole.

– Aham. Ah... Tá aberta porque eu já estava bebendo antes de você chegar. Ela veio lacrada. A desgraçada perdeu todas as gotas desse vinho maravilhoso e estou feliz de ser a responsável por usurpar esse prazer dela.

A fala da gata humanóide era tão orgulhosa que chegava a ser engraçado. A breve risada de Adora logo a contagiou. Ou a mais nova estava feliz demais ou já era o efeito do álcool. Não importa. Adora estava confortável com essa alegria solta vindo de quem tanto sofreu sem nunca ter merecido.

– Ele é bom. – A loira deu mais três ou quatro goles de uma vez. – Ei, tem uma coisa para me contar, não é? O tal assunto surpresa.

– Verdade, tenho mesmo. – Indagou com a expressão de quem acabou de puxar o fio da memória. 

– Então conta logo!

Catra levantou o dedo indicador e o balançou no ar, um movimento indicando que chamava Adora para mais perto. Parecia estar corajosa com a bebida. 

Quando se aproximou, a mais nova segurou seu rosto com uma das mãos e o virou para cochichar em seu ouvido. 

– Adivinha quem foi chamada para um jantar na base global para ser promovida? – Sussurrou no pé do ouvido da amiga.

A primeira coisa que veio na mente de Adora era que precisava controlar o arrepio que o fantasma da respiração daquela mulher no seu ouvido a causou. A segunda coisa, não transparecer que o tom de voz dela estava tirando seu ar. Só depois desses dois níveis que chegaria ao foco na real mensagem passada.

– Sério? – Sorriu, sem conseguir evitar a voz trêmula e o rosto corado. – Isso é ótimo, vai ter o trajeto da base em mãos logo logo!

– Mais ou menos. – Catra tomou a garrafa da mão de Adora e bebeu um pouco mais. – Todo transporte até lá é preparado para que eu não tenha acesso nenhum à rota. Massss, estou pensando em uma forma de levar um localizador embutido em mim para que você tenha acesso a tempo real. Só você...

– Pensou em tudo. – A loira a fitou e sorriu orgulhosa. – Você é boa nisso!

Catra mexia a garrafa de um lado para o outro e o movimento capturou a atenção da loira. 

Viu a híbrida colocar a garrafa apoiada no teto do carro e acompanhou toda a linguagem corporal dela. Era de propósito que ela empinava o corpo quando se virou para alcançar o teto. Era de propósito que deixou o quadril encostar no seu braço quando voltou. Era, com certeza, de propósito que ela sentou no seu colo e jogou as pernas para as laterais dele, encaixando perfeitamente.

– Sabe no que eu sou boa também? – Catra jogou os braços nos ombros da mais velha e aproximou um pouco mais o rosto do dela. Usou o tom de voz mais sedutor que já ouvira na sua vida, o que combinava muito com o baixo ronronado que o seguia.

Deuses! Estava tão preparada para isso. O calor da outra fazendo o seu próprio subir... Suas mãos foram diretamente para as costas dela, iniciando carícias.

– Não sei... – Não reconheceu a própria voz que estava mais rouca que o normal. – Me mostra?

A mais nova, então se aproximou um pouco mais, ajustando-se em seu colo. Usou a garra do dedo indicador para contornar levemente sua mandíbula de ponta a ponta enquanto seus olhares nunca se desviavam. 

A mais velha via muita coisa naquelas cores. Via desejo, via luxúria, via intensidade. E por tudo o que dizia, e pela dona dele, sentia também todas essas coisas também, além de amor. Muito amor.

Apesar de sua ansiedade para que eles logo se fechassem e os lábios fossem o novo foco, deixou que a morena fizesse o que queria. Estava gostando de ouvir o ronronado se intensificar. 

Sentiu as duas mãos agora nas suas bochechas as acariciando com a ponta dos polegares. A loira soltou um longo suspiro e deixou a boca entreaberta, rezando para que Catra entendesse o sinal.

– Catra... – a loira sussurrou impaciente.

– Quanta ansiedade...

Ainda não. 

E ela só continuou as carícias, encostou a testa contra a sua. Depois, a ponta do nariz no seu e mexeu o rosto para que elas se esbarrassem mais de uma vez. Sorriu com o gesto e recebeu um outro sorriso de volta. Nunca pensou que fosse amar e odiar tanto essa demora para finalmente beijar quem tanto queria. 

Os olhos heterocromáticos começaram a cerrar. 

É agora. 

Adora também fechou os seus, só esperando o ar quente que saía da boca tão próxima da sua parar. 

Ele parou mesmo. Porém, não sentiu nenhuma boca contra a sua e o calor do outro corpo cessou. 

Quando reabriu os olhos, Catra estava pulando para fora do capô e olhando para as árvores.

– O que... – Adora quase não conseguiu falar. Limpou a garganta para tentar novamente. – O que foi?

– Tem alguém aqui. – Catra estava em posição defensiva, atenta à floresta, de costas para Adora. – Agora eu não escuto nada, mas tinha alguém aqui com certeza.

– Droga! – Não foi dessa vez que você conseguiu, Adora.

– Vou tentar farejar e descobrir quem é. – A híbrida vai até a amiga e segura nas duas mãos para ajudá-la a descer. – Acho melhor voltar para seu acampamento.

– Sério? Tem certeza? – O tom da mais alta era quase choroso. Não soltou as mãos de Catra em nenhum momento.

– Não podemos arriscar. Eu viajo amanhã e te mando mais detalhes desse localizador antes de ir – o mais baixa se aproximou e deu um beijo prolongado no rosto da mais alta. 

– Tenha cuidado, por favor.

Mesmo que o sorriso no rosto de sua amada tenha sido reconfortante, ela a abraçou forte, demonstrando sua hesitação em partir daquela forma, sob essa condição. 

– Te vejo na última batalha, tá? E aí terminamos o que íamos começar.– Catra foi enfática, sobretudo na parte final.

Essa foi a frase mais animadora e medonha que Adora ouvira em sua vida. 

A suposta última batalha poderia dar muito certo, mas também poderia dar muito errado. E se esse encontro antes do desafio final não podia acabar com o beijo tão desejado, pelo menos nesse abraço Adora esperava ter transmitido todo o seu amor.

- - -

Tung Lashor corre até um celeiro abandonado e deixa que seu corpo caia de joelhos de tanta exaustão. Seus braços estavam cansados depois de carregar dois galões do líquido que jogou no caminho da floresta para que o forte cheiro confundisse Catra e a impedisse de rastreá-lo. 

O homem vasculha todos os bolsos da jaqueta e da calça até achar um micro comunicador. Ele o liga e passa uma mensagem de voz:

– Mestre, está confirmado. 3.2.2 é a infiltrada da Aliança, acabei de descobrir. Espero que o senhor esteja bem preparado para receber a sua pequena traidora. – O sorriso do híbrido aumentava a cada segundo da fala.

Depois que desligou, levantou-se, ainda sorridente e pensou alto:

– Eu sabia que tinha algo de errado com toda essa competência dos últimos meses. Você não perde por esperar, líderzinha de merda.



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