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História Experimento E-34 - Parte I


Escrita por: cecinthesky

Notas do Autor


e aí, galero? alguém aí pediu uma fic de halloween? *silêncio* tudo bem,

ENFIM, pessoal, tecnicamente, pelo horário de verão, já eh 1 de novembro MAS ainda eh dia 31 aqui, ou seja, ainda eh halloween!!!! então cá estou eu postando essa ficzinha repleta de Aventuras™ e minhas piada ruim™

ok, agora, sobre a fic, vou falar pra vcs: comparando as minhas outras oneshots, essa foi a que deu mais trabalhinho, daí eu to beeem nervosa aqui hdkjha alguém me abraça :(
e aqui vai uma curiosidade importante: era pra ser uma oneshot, só que ficaria grande d+, por isso eu dividi em duas partes s2 (ela continua grande, mas tudo bem)
e mais: diferente das minhas outras oneshots, essa aqui eh diferentinha pq ela não eh romance, uns fluffy, sabe? (apesar de ter sido a ideia original)PORÉM eu vou avisar rapidão que (romanticamente falando) ela tem um pouco de mclennon SIM, mas acho que não muito pra eu colocar nas tags..... eu acho (??) pois é, espero que esteja de boa mesmo assim pra vcs s2

ENFIM JÁ ENROLEI DEMAIS,
espero mesmo que gostem!!!

boa leitura! <3

Capítulo 1 - Parte I


John descia rapidamente as escadas. Checou sala, cozinha, banheiro, tudo o que poderia ter naquela parte da casa. Nada. Estava ficando cansado de procurar e já não tinha mais tanto tempo.  Contudo, ainda tinha mais um lugar a ir que poderia ser a sua última esperança.

Subiu as escadas e foi direto ao quarto de sua mãe e seu padrasto. Abriu a porta e entrou lentamente ali, junto das luzes do corredor iluminando o cômodo até então escuro. Abaixou-se para ver o que tinha debaixo da cama. Nada. Como segunda alternativa, olhou para o armário de roupas. Abriu-o de uma vez e encontrou exatamente quem procurava.

– Te achei! – ele exclama, arrancando um grito misturado a uma risada da menina no armário. Ela tentou fugir, mas fora impedida por John, que a segurava. – Devolve os óculos, mocinha!

– Senão o quê?

– Senão eu falo pra mamãe que você os pegou, ou pior! O Monstro das Cócegas virá aqui te fazer uma visita. – movimentou os dedos rapidamente como forma de ameaça.

– Ah, não! – fez mais uma tentativa de se ver livre das mãos de John, porém fora inútil novamente. – Me deixa sair!

– É sério, Julia, me fala! – usou um tom de voz mais autoritário. – Onde você escondeu os meus óculos? Preciso deles e já está na minha hora de sair!

– Tá bom.

Ela respondeu sem entusiasmo. John a soltou e a menina passou a caminhar em direção ao seu quarto batendo os pés. O rapaz apenas a seguia. Queria manter o seu modo autoritário, mas não era muito bom nisso, e a maneira engraçada pela qual sua irmãzinha lidava com a situação não ajudava muito. Isso, no entanto, não o impedia de sentir uma pitada de remorso.

Julia estava um tanto decepcionada com John, porque ele tinha confirmado que iria com ela para pegar doces nas casas dos vizinhos desde o início do mês. Contudo, os planos foram suspensos quando o irmão fora convidado para uma festa de Halloween, e, pela primeira vez, não teria como leva-la. John estava quebrando uma tradição.

Todos os anos era a mesma coisa: John a levava para conseguir doces, daí, quando voltavam, dividiam as guloseimas enquanto assistiam a um filme ou qualquer especial de Halloween que passava na televisão. Esse ano, as coisas mudariam um pouco, já que tinham mudado de cidade há pouco mais de dois meses, logo, a tradição era quase que essencial para Julia, que precisava saber mais sobre nova vizinhança que pouco conhecia e talvez socializar com as outras crianças. Caso não rolasse, ela ainda teria seu irmão para conforta-la.

Só que agora estava tudo cancelado, tudo graças a aquele maldito convite.

Em sua defesa, John se sentiu mal em não passar o Halloween com sua irmã, porém ele também precisava se misturar com jovens da sua idade, e aquela festa seria ideal pra isso. Afinal, desde que chegara à cidade de Liverpool, ainda não arranjara nenhum amigo ou coisa do tipo.

Ao chegarem ao quarto, Julia tirou um par de óculos redondos debaixo de seu travesseiro e o entregou a John, que a agradeceu com um beijo exagerado em sua bochecha. Então, o rapaz se vira para espelho que havia lá, botou os óculos e checou sua roupa de Halloween mais uma vez.

– Você tá parecendo um palhaço – ela comenta.

De fato, a combinação de roupas de John era meio esquisita: uma blusa estampada laranja, uma calça clara e um blazer alaranjado meio longo. Contudo, o rapaz não se deixou abalar pelas palavras da irmã.

– Obrigado, mas agora eu tenho que ir, senão eu vou me atrasar!

– Mas você já tá atrasado. Você disse que a festa começava às sete, e já são... – ela olha para o relógio de ponteiro de seu quarto, mas não soube entender ao certo que horas eram por ali, sendo assim, ela opta para o seu relógio digital infantil que estava em seu pulso. – Sete e quarenta e dois!

– Eu sei, é que... é que eu nem me toquei! Meu relógio deve estar errado – mentiu. Na realidade, John queria evitar ser um dos primeiros a chegar como sempre fez nas poucas festas que frequentou. Além disso, calculara que esse era o tempo perfeito para sair de casa e aparecer por lá com um atraso charmoso, característica importante de um descolado segundo suas próprias conclusões. Aquilo, entretanto, chegava a ser constrangedor de se falar até para uma menina de nove anos.

John não era descolado, pelo contrário, estava longe de ser. Em sua antiga escola, tinha apenas dois amigos, que nem sempre estavam dispostos a passar o tempo com ele. Ao se mudar, o novo colégio foi uma grande dificuldade, pois falar com pessoas novas e socializar não era o seu forte. O garoto era bastante tímido.

Todavia, estava disposto a mudar esse quadro. Tanto que praticamente se auto chamou para aquela festa, já que ele mesmo teve que ir até a criadora do evento pedir um convite. Ela, depois de olha-lo brevemente de cima a baixo, deu um sorrisinho e escreveu o endereço em um papelzinho com um simpático “Te vejo lá!” escrito embaixo. A garota não parecia ser uma das mais bondosas, como havia reparado nos últimos dois meses que a conhecera, mas aquilo tinha sido bem legal da parte dela.

Ele se checou uma última vez no espelho e partiu em direção da porta. Quando estava prestes a sair, percebeu que não tinha se despedido de Julia. Portanto, virou-se e se deparou com a menina parada em pé, de braços cruzados e fazendo beicinho. John riu de leve e se aproximou, ajoelhando-se para ficar próximo da altura dela.

– Ei, ei. Sem biquinho. Eu sei que o seu irmão aqui tá sendo um bobalhão por te deixar aqui, mas, olha, quando eu voltar, a gente vai assistir a uns filmes muito legais! – ela sorriu fraco. – E eu prometo que eu vou trazer doces pra você.

O rosto da menina se iluminou.

– Sério?

– Eu prometi, não foi? – fez rápidas cócegas na barriga da irmã, que reagiu com risadas. – Agora, você quer esperar o táxi comigo lá fora?

Ela aceitou e os dois irmãos foram para a porta, onde não precisaram aguardar muito. O táxi parou em frente a sua casa e John se despediu de sua família, não deixando de dar um abraço na pequena Julia.

O caminho fora um pouco tenso e, ao mesmo tempo, entediante. Isso porque esse tipo de evento o deixava nervoso. Ele planejava socializar, chamar pessoas para papear e ainda causar uma boa impressão. Na teoria, até parecia fácil, mas, na prática, as coisas não eram bem assim, pois sabia como os adolescentes podem ser um tanto quanto cruéis e complicados quando querem.

E, para piorar, ainda tinha o taxista que de vez em vez comentava sobre o movimento do trânsito e depois deixava um silêncio desconfortável no ar. Como distração, contava com os joguinhos chatos de celular e a vista da janela. Não via a hora de sair daquele carro.

Após um – estranhamente – longo caminho, o táxi finalmente parou em frente a um lugar: uma casa grande, onde tocava uma música alta e se podiam ver alguns jovens no jardim da frente conversando. A animação e o nervosismo que John sentia se intensificaram.

Pagou o taxista e desceu do veículo. Passou pelo jardim decorado e passou pela grande porta da frente. Ao entrar, olhou em volta do lugar e admirou ou quão grande e bonita uma casa poderia ser, comparando-as com as mansões que estava acostumado a ver nos filmes.

O som que tocava parecia mais estrondoso a cada passo que dava para além da entrada. Até que chegou a um grande salão, cheio de pessoas fantasiadas. Algumas dançavam junto com a batida da musica na pista de dança, outras se serviam de comidas e bebidas, sem deixar de contar aquelas que estavam apenas sentadas, observando o movimento e parecendo entediadas.

Dentre toda a diversidade de máscaras e fantasias, John teve uma certeza: não reconhecia ninguém ali.

Podia até não falar com ninguém na sua escola, mas era um bom observador, e como um bom observador, conhecia bem o rosto das pessoas a quem convivia quase todos os dias. E o grande problema era que ninguém se parecia com os seus colegas de classe, além de a iluminação baixa e luzes de festa não estarem contribuindo na busca de encontrar um rosto conhecido. Percebendo que seria inútil continuar a rodear o salão, pensou em uma alternativa melhor: perguntar pela dona da festa.

As pessoas ali pareciam bem ocupadas curtindo a festa para John interrompe-las. Todavia, não ficaria com a cabeça cheia de duvidas só porque não queria atrapalhar ninguém. Optou por perguntar a uma moça ruiva vestida de sereia que estava ao seu lado.

– Com licença, você sabe me dizer se Carrie Walters está por aqui? – perguntou usando um tom de voz alto devido a musica.

– Carrie Walters? – a moça parecia um pouco confusa e pensativa, como se tentasse se recordar de alguém com aquele nome. A incerteza dela preocupava John mais ainda.

– Sim, a dona da festa.

– Oh! Você deve ter se confundido. Essa aqui é a festa do Brian – respondeu simpaticamente.

– Não pode ser! Eu entreguei o endereço ao taxista e ele me trouxe até aqui. Ainda o tenho comigo, olha! – tirou o papel do bolso e mostrou para a ruiva, até ligou a lanterna do seu celular para facilitar sua leitura.

– Sinto te dizer, mas esse é o lugar certo e não tem nenhuma Carrie por aqui. Acho que te enganaram, garoto.

As suspeitas de John se confirmaram. Deveria ter seguido os seus pensamentos sobre a facilidade de ter conseguido um convite de alguém tão popular. Sentia as suas bochechas esquentarem. Era quase como se pudesse ouvir o seu eu do passado dizer “Eu te avisei!” ao seu eu do presente.

– É, provavelmente – respondeu, tentando disfarçar o desânimo em sua voz. – Mas valeu mesmo assim.

Após se despedir, encostou-se na parede mais próxima e ficou observando as pessoas dançando. Sentia-se humilhado. Ele queria ter ficado em casa com sua família, levando sua irmã para pegar doces na brincadeira das “gostosuras ou travessuras”, ou assistir Abracadabra pela milionésima vez com todos reunidos, mas não o fez, e nem de nada adiantou.

Ele iria para casa, mas não estava afim de ligar para a sua mãe vir busca-lo e ter que contar sobre o acontecido, a última coisa que ele queria era preocupa-la. Como não tinha dinheiro suficiente para outro táxi, optou por pegar o bom e velho ônibus. Agora, o problema era onde se encontrava o ponto mais próximo e qual o levaria de volta para sua casa.

Sem querer arriscar se perder mais ainda, John foi à busca de outro alguém que pudesse dar as informações que precisava.

Deu uma breve caminhada até a porta do que aparentava ser a cozinha. Pela distância, a musica estridente soava mais baixo, pelo menos baixo o suficiente para John conseguir ouvir os próprios pensamentos. Por causa dessa característica, alguns grupos de amigos estavam concentrados lá para conversar.

John passou os olhos pelas pessoas, selecionando qual grupo parecia menos intimidante para ele. Contudo, reparou em um rapaz sozinho, com um celular na mão, apenas observando o movimento da festa. Sem dúvida apresentava ser a melhor opção. Aproximou-se, então, do tal jovem.

– Oi, desculpa incomodar, mas você sabe onde fica o ponto de ônibus mais perto?

O rapaz de cabelos castanhos ponderou por alguns segundos e estalou os dedos quando pareceu lembrar.

– Sei sim! Fica a menos de uma quadra daqui. Espera! Não sei ao certo se é meia quadra ou duas. Calma. – refletia, parecendo calcular a distância ou caminho exatos. – Foi mal, é que eu sou péssimo em dar esse tipo de coordenadas. – soltou uma rápida risada, envergonhado. John sorriu em resposta.

– Tudo bem, eu posso pedir pra outra pessoa.

Estava prestes a se virar e se dirigir ao grupo de amigos conversando ao lado, mas foi impedido pelo rapaz:

– Não, não precisa! Eu sei onde fica! Só que é confuso pra explicar direito, sabe? – disse. Deu uma rápida olhada no celular antes de continuar. – Olha, eu já estou de saída dessa festa. Se quiser, eu posso te deixar nesse ponto de ônibus e problema resolvido!

– Pode? Porque não quero te atrapalhar com nenhum compromisso ou seja lá o que for – diz John de forma sincera.

– Não seja bobo! Vou te deixar lá num estalo de dedos, nem precisa se preocupar. Deixa eu só... – desbloqueou o celular novamente para checar suas mensagens e, eventualmente, respondendo uma delas. – Tudo certo. Vamos!

Começam a andar pelos cantos do salão a fim de chegar à entrada.

– A propósito, como se chama? – John pergunta enquanto caminha ao lado do desconhecido.

– Ainda não te falei? Meu nome é Paul. E o seu?

– Me chamo John.

– Ah, prazer em te conhecer, John!

– Digo o mesmo, Paul! – deram um aperto de mão ironicamente informal e desajeitado enquanto caminhavam.

John reparou que Paul olhava bastante para a pista de dança enquanto caminhava até, em certo momento, parar de andar para dar uma melhor analisada no lugar. Quando pareceu achar o que procurava, pediu para John o seguir. Assim, dirigiram-se a uma mesa cheia de doces com decoração ridiculamente adorável para Halloween. Foi ali que Paul puxou um garoto para perto de si, passando o braço envolta de seus ombros logo em seguida.

– Tá na hora, George. Ringo tá chegando, acabei de falar com ele.

– Mas já? – protestou usando um tom manhoso. – Agora que eu criei coragem pra ir falar com a Pattie! Me dá uns cinco minutos, vai!

– A culpa não é minha se você é um bunda mole – deu de ombros.

– Por favor! – insistiu.

Paul revirou os olhos.

– Três minutos então. Vou estar te esperando lá fora, se você ousar em passar um segundo desse prazo, eu venho te buscar te puxando pela orelha, me ouviu? – falou com certa naturalidade, soltando George, que apenas assentiu e não perdeu tempo para ir atrás da tal de Pattie. – Vem, John.

Saíram da casa e ficaram esperando por George no pequeno cercadinho branco que separava a residência da calçada. Paul se sentou onde se sustentava o pequeno portãozinho, que era a parte mais alta e menos pontuda. John ficou a sua frente, um pouco afastado, de braços cruzados. Queria puxar assunto com Paul para evitar um silêncio chato e desconfortável, mas não sabia o que dizer.

– Então, John, pra onde está indo? – pergunta. John agradeceu Paul internamente por aquilo.

– Pra casa. Nem deveria ter saído, pra ser sincero – confessou. Paul o encarava com as sobrancelhas arqueadas, como se o esperasse continuar. – Me deram um convite pra uma festa com o endereço propositalmente errado. A dona da festa fez isso.

– Nossa, que maldade, cara.

– Pois é, e não conheço nada dessa cidade, então estou perdido mesmo.

– Ah, não! Isso é maldade dupla! – Paul parecia perplexo e, ao mesmo tempo, curioso. – E o que vai fazer quando chegar em casa?

– Sei lá, vou ver tevê, ou dormir. Nada muito importante. – concluiu. Por mais que Paul parecesse interessado, John não queria começar a encher o rapaz que acabara de conhecer contando sobre a sua vida entediante. Mudou de assunto. – E você? Pra onde está indo?

– Ah, você viu aquele cabeçudo com quem eu estava falando ainda agora? Aquele lá é o George. A gente vai se encontrar com outro amigo pra, você sabe, curtir a noite de Halloween.

– Parece divertido.

– E é! A gente faz isso todos os anos. É quase como se fosse uma tradição. É bem legal.

John não deixou de sentir uma leve inveja. Afinal, Paul demonstrava ser um cara animado, com amigos que aparentavam ser legais e fiéis, do tipo que faziam planos quase todo fim de semana. Tinham até uma tradição de Halloween! Ele também tinha uma com a sua irmã, mas aquilo chegava a ser um pouco mais diferente.

John sentia alguma falta de seus companheiros de sua antiga cidade, e ver aquele tipo de amizade era quase como uma esfregada na sua cara. Não podia culpar ninguém por ter amigos, claro, mas não deixava de se sentir mal mesmo assim.

Antes que pudessem dizer qualquer outra coisa, um garoto de cabelos escuros e sobrancelhas grossas a quem John se lembrava como George aparece com um sorriso meio abobalhado e satisfeito no rosto. Paul arqueou uma das sobrancelhas, lançando-o um olhar desconfiado e malicioso.

– Como foram as coisas com a Harley Quinn lá dentro, paquerador? – Paul provavelmente se referia à fantasia que a garota usava.

– Adivinha? Consegui falar com ela sem gaguejar! Eu disse que já tinha que ir porque você tava me esperando e ela disse que ia me mandar uma mensagem mais tarde pra gente conversar. Dá pra acreditar?

– Sério? Uau! Veja esse garoto fazendo progressos aqui! – exclamou. Levantou-se para parabeniza-lo, ergueu a mão para um high-five, mas a afastou quando George se aproximava para toca-la, e, por fim, usando-a para bagunçar os cabelos do pobre garoto, coisa que o deixou irritado. – Você sempre cai nessa! – comentou entre risadas. John teve certa vontade de rir.

– Larga de ser chato, Paul!

– Tá bem, tá bem – respondeu, embora ainda risse um pouco.  – Vamos embora logo ou o Ringo vai reclamar por uns dez minutos sobre a nossa falta de pontualidade de novo.

Paul fez um sinal para que John o acompanhasse, mas George o chamou antes que o outro pudesse reagir.

– Ei! Espera, o Ringo disse pra gente aguardar ele aqui, não foi? E quem é esse aí?

– Ora bolas, que grande idiota eu sou! Esqueci de apresentar vocês dois! George, esse aqui é o John. John, esse é o George, o cara que eu tava te falando. – respondia pacificamente, ignorando o semblante confuso de George que ansiava por uma explicação. – A gente vai dar uma mãozinha pro John e deixar ele no ponto de ônibus aqui perto, daí eu marquei de encontrar o Ringo lá também.

– Saquei – disse George, semicerrando os olhos de modo desconfiado, porém sorriu logo em seguida. – Mas e aí? O que estamos esperando? Vamos logo!

Começa-se então uma pequena caminhada até o ponto de ônibus. John se sentia agradecido por ter tido a sorte de ter encontrado dois caras legais que estavam dispostos a ajuda-lo daquela forma.

Não sabendo o que dizer ou fazer além de caminhar ao lado de George e Paul, optou por ficar calado, apenas escutando o diálogo ora tranquilo ora confuso da dupla, já que estava no meio. Também parecia um bom momento para pensar no que fazer ao chegar a casa. Não estava tão tarde assim, ainda poderia encontrar a sua irmãzinha acordada, provavelmente daria tempo de fazer alguma coisa juntos.

Fora acordado de seus pensamentos, porém, por um animado George, que puxou de leve o tecido da manga de seu blazer laranja.

– Roupa maneira. O que é você?

– Hum, acho que sou meio que um Chapeleiro Maluco... só que sem o chapéu. – sendo franco consigo mesmo, John não tinha decido sobre o que era exatamente. Só vestiu uma roupa estampada com uma jaqueta e chamou aquilo de fantasia. – E você? Do que está vestido?

George arqueou as sobrancelhas, parecia quase que ofendido.

– Não é óbvio?

John olhou de cima a baixo para tentar descobrir o que era George. Ele usava uma camisa de manga longa branca, uma gravata cor de vinho que tinha parte dela escondida por um colete social preto. Depois de longos segundos ponderando, concluiu:

- Um garçom morto?

Paul explodiu na gargalhada com a dedução. George rolou os olhos com o escândalo que Paul tinha feito.

– Boa, cara! – Ergueu sua mão a John para que pudessem dar um high-five. Logo após o fizerem, Paul tornou sua atenção a George. – Eu te falei! Ninguém vai achar que você é um vampiro sem a capa!

– A culpa não é minha! – virou-se para John. – E, pra sua informação, um Chapeleiro Maluco sem o chapéu não é um Chapeleiro Maluco!

– A diferença é que o John tá legal do mesmo jeito, e você tá parecendo que vai servir um jantar ao Frankenstein às dez! – riu da própria piada.

– Idiota. – murmurou ao sorrir de leve. Não parecia tão ofendido com o comentário do amigo, o que deixava John aliviado de certo modo. George voltou a se direcionar a ele. – Foi mal, John. Como deu pra perceber, meu amigo ali é um mala metido a comediante. Não liga, não. – falava enquanto fingia que Paul não estava escutando. John deu uma risada.

– Ele não parece ser tão ruim assim, sabe? – comentou entrando na brincadeira de George. Não se sentia íntimo o suficiente para responder de forma sarcástica. Olhou para Paul rapidamente e viu que ele sorria de forma ironicamente convencida. John considerou aquilo como um agradecimento de forma discreta.

– Isso porque você não convive com ele! – suspirou. – Esse aí deve me amar demais, isso sim.

– Tá bom, nervosinho. – Foi a última coisa que Paul respondera antes de mudarem de assunto.

Não demoraram muito até chegarem ao ponto de ônibus. John ainda tinha que se preocupar com o fato de não saber qual deles pegar, mas isso deixaria pra perguntar ao motorista. Porém, com o passar de poucos minutos e provocações entre Paul e George, viu que nenhum ônibus passava. Tentava se manter paciente, e dizia a si mesmo para não ser tão afobado, afinal, transportes não aparecem assim que uma pessoa brota no ponto.

No entanto, não pôde deixar de mostrar uma pitada de mau humor por ter que aguardar. Só queria ir pra casa e esquecer aquela noite. George e Paul notaram. Trocaram um rápido olhar e George decidiu falar algo.

– Você tá indo pra casa? Está perdido, certo?

– Sim. Vim até aqui por engano. Uma garota me deu um endereço errado só pra eu não aparecer na festa dela, pois é.

– E o John ainda é novo na cidade! Não conhece nada daqui, e ela ainda aprontou essa com ele. Dá pra acreditar? – Paul completou.

– Nossa, que garota ridícula. Pra que colocar um lugar tão longe? Poderia ter colocado o endereço de uma lanchonete, porque aí pelo menos você poderia se entupir de milkshake até se sentir melhor.

– Ou ela poderia simplesmente ter dito não. – Sentou-se no banquinho gelado do ponto de ônibus, não deixando de encarar o chão. Por mais que não quisesse demonstrar, ele se sentia muito decepcionado. Disse por fim: – Mas que seja. Só quero chegar em casa e nada mais.

George se sentiu mal pelo rapaz. Conseguia ver o quão humilhado estava. Se estivesse no lugar dele, provavelmente chutaria alguma parede e pediria satisfações à garota, mas John aparentava ser um cara reservado demais para tal coisa, e guardaria tudo para si mesmo de forma que sua noite de Halloween seria arruinada completamente. George não poderia permitir aquilo.

– Nada mais? Nada mais mesmo? – perguntou. John estranhou a maneira como o fez.

– Eu acho. Por que a pergunta?

George sorriu amigavelmente.

– Bem, é que eu, o Paul e mais um amigo nosso vamos sair pra dar uma curtida hoje. É uma coisa que a gente faz todo ano no Halloween, daí eu tava pensando que poderia ser legal se você fosse também!

– George! – Paul exclamou e deu um leve empurrão de lado no amigo. – Seu pequeno malandro! Como ousa falar as minhas ideias antes de mim? É uma ótima ideia! O que acha, John?

Ele olha para cima, encontrando um esperançoso George e um sorridente Paul. Havia sido pego de surpresa.

– Está falando sério? – George confirmou com a cabeça. – Bem, isso... isso é um pouco inesperado. Eu não sei.

Com a resposta incerta, ele estava apenas sendo educado, porque, naquele momento, estava exausto demais pra qualquer aventura com dois ou três caras aparentemente legais. E o fato de o convite vir de pessoas estranhas era mais um ponto que o fazia querer negar de uma vez, afinal, sua família sempre o alertara sobre desconhecidos e aceitar qualquer coisa deles. Ou seja, aquilo era quase um gigante não.

Por outro lado, Paul e George não tinham cara de ameaça ou de sujeitos que deveria manter distância, basicamente nada do que havia sido alertado sobre. De fato, aquela dupla o tinha ajudado bastante, além de serem carismáticos e bem humorados o tempo todo. Se ele aceitasse, seria provável que se divertiria pelo menos um pouco, afinal de contas, qualquer coisa comparada com o que passara a noite toda parecia divertido. Mas isso, certamente, era apenas uma parte de si que tentava convencê-lo.

Ao responder daquela forma, porém, vira que os dois amigos a sua frente estavam dispostos a insistir.

– Ah, vamos! Vai ser divertido! George pode ser um pouquinho irritante, mas você se acostuma depois de uns quinze minutos. – o outro deu um soco fraco no ombro de Paul, que riu em resposta.

– Mas por que querem que eu vá? Vocês mal me conhecem! E essa parada que vocês fazem todos os anos parece ser uma coisa de vocês e só entre vocês. É uma tradição, não é?

– É quase isso, mas quem liga? – Paul se senta ao lado do rapaz de óculos. – Você parece ser legal, John, então por que não fazer um convite desses, não é, George? – diz e o amigo assente; John ainda demonstrava estar em dúvidas. Paul consegue entender o que se passava. – Olha, você não precisa aceitar, tá? A gente não quer pôr pressão nem nada.

– Pois é! Não precisa se preocupar. Podemos te dar espaço se quiser – Deu uns passos pra trás e se virou para onde se encontrava a rua. Paul, por sua vez, afastou-se de John, pulando para a cadeira ao lado, não deixando de dar um sorrisinho amigável após fazê-lo. John sorriu de volta antes de começar a pensar.

Achou realmente confortante o fato de George e Paul quererem a presença dele pela noite e ainda serem gente boa o suficiente pra dar um tempo pra se decidir. Não era sempre que uma coisa dessas acontecia. Por certo, era a primeira vez. Entretanto, não tinha certeza se iria mesmo se ficaria com eles durante o Halloween.

Ao reconsiderar os fatos, chegou à conclusão de que aqueles dois rapazes não estavam mentindo pra ele, e agora sua única preocupação era pra saber se o que eles faziam todo ano na data se tratavam coisas consideradas ilegais ou não, o que era quase improvável, mas podia ser uma possibilidade. De qualquer forma, John não deixava de se motivar cada vez mais com o convite.

 Foi interrompido com o barulho de uma buzina estrondosa, considerando o quão silenciosa a rua estava até então. John, espantado, olhou para frente e viu um George alternando o olhar entre ele e Paul.

– Cara, foi mal ter que te apressar, mas a carona tá se aproximando.

Mesmo ainda não tendo tomado uma decisão fixa, visto o pouco tempo que restava, resolveu:

– Quer saber? Espero que tenham espaço pra mim no carro, porque eu topo! – afirmou. A frase tinha saído melhor na sua cabeça, mas não se importou. Paul sorriu.

– É isso aí, John! – o outro comemorou.

Uma picape parou em frente do ponto de ônibus. A porta deste foi aberta, permitindo John de ver uma nova figura a sua frente com as mãos no volante. George fez questão de apresenta-los logo após cumprimentar seu amigo.

– Ringo, esse aqui é o John. Ele é gente boa e vem com a gente hoje.

– Ah, então quer dizer que temos... carne fresca? – Ringo colocou rapidamente uns dentes de vampiro que já estavam em sua mão e imitou uma risada maligna. Com uma voz estranhamente formal, prosseguiu: – Por favor, entre, jovem.

George rolou os olhos.

– Não liga, ele é assim mesmo. – disse enquanto se acomodava no banco do passageiro.

– Parece até que você e o George estão competindo pra ver quem é o pior vampiro. – Paul comentou. Abriu a porta traseira da picape e entrou lá; John foi logo em seguida.

– Estou tentando dar uma boa e bem humorada impressão, tá legal? – retrucou e olhou para o banco de trás, direcionando-se a John. – Fala aí, cara? Eu sou o Ringo e pode ficar tranquilo que eu não vou morder seu pescoço... provavelmente. – brincou. – Mas pode ficar a vontade! Mi coche es tu coche!

– Valeu, Ringo. – sorriu amigavelmente.

John se encontrava um pouco animado, e, julgando a si mesmo, nem mesmo deveria estar. Apenas pelo fato de sua mãe não ter ideia do que estava fazendo já o fazia sentir um rebelde, algo que não sentia desde que era menor. Aquilo era bom e ruim. Bom, porque finalmente alguma coisa interessante acontecia com ele, e ruim porque ele estava violando uma regra de sua mãe ou de qualquer responsável ao aceitar passear com estranhos.

O carro começa a andar e uma conversa se inicia sobre para onde iriam, assunto que interessava a John, pois precisava saber dessa informação. Podia ser qualquer coisa entre assistir um filme de terror ou assustar as crianças pegando doces, embora houvesse uma parte dele que torcia para que não estivessem planejando algo além do que seu estômago pudesse aguentar.

– Você tem certeza de que sabe onde é? Tipo, certeza mesmo? – Paul questiona Ringo.

– Claro! Dei uma passada lá perto só pra confirmar. Tem uma pizzaria lá perto, não tem como se perder dessa vez! Só que é um pouco longe.

– Onde, exatamente?

– Sabe a estrada que a gente pega pra sair da cidade? Pois é, você segue por uns quatro quilômetros, daí você dobra em uma estradinha meio escondida e você chega lá.

O coração de John acelera. Por que eles iam querer pegar uma estrada praticamente oculta naquela hora da noite de Halloween? Coisa boa não podia ser. Pra acalmar sua cabeça, que não parava de criar cenários absurdos, achou melhor perguntar.

– Pera aí, pra onde estamos indo?

– Ainda não te falamos? Vamos a uma casa abandonada! – Paul responde animadamente. – É a nossa tradição, todos os anos vamos a uma diferente, daí a gente dá uma olhadinha aqui, uma zoada ali, você sabe.

John engole em seco.

– Ninguém me falou sobre essa parte.

– Você tem com medo? – indaga George, entrando na conversa.

– Pra ser sincero, tenho sim. – respondeu. Disse a verdade, já que não vira motivos para dizer o contrário.

– Ah! Tudo bem. Não precisa ter medo. A gente faz isso há uns quatro anos seguidos, e ainda estamos vivos aqui. É só relaxar, cara. – O conselho não fora muito útil, mas John procurou se acalmar de qualquer forma.

– Não assustem o pobre rapaz. – Ringo se interfere. – A gente não vai ficar lá muito tempo, geralmente é só uma vasculhada básica e depois de uns dez minutos a gente se manda pra comer em alguma lanchonete. Esse ano vai ser pizza! Mas você quem sabe, campeão. Se quiser eu posso te levar pra casa.

Aquela foi uma oferta tentadora, porém John pensou que talvez pudesse atrapalhar e atrasar um evento tão importante quanto a tradição dos três amigos. Além disso, perderia a oportunidade de fazer parte de uma aventura.

– Não, não precisa. Eu vou com vocês! Essa história de visitar casas abandonadas é interessante.

– E é! Você vai gostar, John!

– Eu espero, Paul! – imitou a animação do outro.

– Estamos todos combinados, certo? Então acho que devemos começar a nos aquecer com uma trilha sonora!

Ringo declara e liga o som do carro, onde se inicia as batidas da melodia de Take on Me, do A-ha, fazendo Paul e George grunhirem em protesto. John não entende bem o motivo da revolta dos dois.

– Ei! Eu gosto dessa musica! – comenta meio confuso.

– É porque você não a ouviu umas duzentas vezes em um dia por causa do seu amigo cabeçudo. – responde George. – Não é mesmo, Ringo?

– Pois é – Paul concorda. – Não aguento mais, cara!

– Ei, ei! Fiquem quietinhos aí! – Ringo os repreendeu pacificamente, mas ainda autoritário. – Meu carro, minhas regras, rapazes.

Afirma por fim antes de aumentar o volume da musica. A dupla sabia que seria inútil falar mais alguma coisa, então se recostaram em seus respectivos assentos, sem ter outra escolha se não ouvir a bendita musica. Contudo, mesmo com o som relativamente alto, John ouvira uma última frase de Paul naquele momento:

– Pelo menos não é Evanescence dessa vez.

John riu. O outro, ao notar, riu de leve em resposta.

Ao longo do caminho, os quatro rapazes dialogavam ao som de musicas dos anos 80. O clima ficava cada vez mais descontraído para John, que aos poucos passava a se soltar. Ringo, George e Paul eram ótimas companhias para longas viagens, porque era quase impossível a coisa ficar entediante.

Entre os diversos assuntos variados, o grupo saia de Liverpool, introduzindo a uma estrada deserta. O rapaz de óculos se lembrou da última vez que passara por lá – quando chegou à cidade, em uma manhã de sábado. Ficou impressionado ao ver o quanto uma pista poderia ficar tão sombria à noite, assim como parecia piorar à medida que Ringo dirigia, principalmente depois de dobrar na tal estradinha discreta.

A mata era alta, da mesma maneira que era o som dos grilos lá escondidos, até, em certo ponto, serem substituídas por alguns postes de luzes, junto de casas, algumas praticamente grudadas, outras afastadas. Os moradores não aparentavam estar em clima de Halloween, uma vez que o local estava praticamente deserto.

Enquanto discutiam sobre o que viam ao seu redor, os jovens se depararam com uma pizzaria bem iluminada. Estavam próximos.

Não demoraram até pararem em frente a uma casa consideravelmente grande, com dois andares e um grande quintal. O poste que havia em frente permitia mostrar que as janelas e portas tinham sido tapadas por pedaços de madeira, além de várias árvores médias espalhadas pelo terreno. A moradia era protegida por um pequeno cercado já descuidado e desbotado, de mesma maneira que a própria casa. Pelo visto, tinha sido abandonada há muito tempo.

Após analisarem o estado do local, o grupo saiu do carro e passou a se organizar. Ringo distribuiu lanternas – John teria ficado sem uma, já que não tinha uma sobrando pra ele, mas George fez questão de oferecer a dele. Afinal, ele ficaria com o machado de qualquer maneira.

Como o portãozinho estava aberto, não tiveram dificuldades em entrar no terreno e chegarem até a entrada da casa. Pararam, porém, pelo fato de a porta estar bloqueada. Aquela seria a hora de George entrar em ação com o seu machado.

– Certeza que consegue arrebentar isso aí? – John o questiona. O outro começa a bater no seu alvo em resposta.

– Se tem uma coisa que eu tenho certeza... – bate mais três ou quatro vezes até a madeira ceder. Seu trabalho fora facilitado por não haver mais porta ali. – Tá vendo? – sorriu orgulhoso, largando o machado ali mesmo.

Ao adentarem, encontraram uma sala de estar com móveis empoeirados e, pelo visto, de luxo. Notaram um grande lustre no teto que, se não estivesse abandonado, daria uma boa grana. Concluíram que as pessoas que moravam ali deviam ser ricas. As luzes de suas lanternas revelavam cada vez mais do cômodo que uma vez fora de dar inveja.

– Essa é a primeira vez que a gente entra em uma casa que têm móveis – diz Ringo impressionado.

– Porque essa é a primeira que a casa não é no... – Paul não termina a frase por ouvir um som desagradável. Aponta a lanterna na direção do tal ruído e encontra um rato no outro canto da sala. Assustado, esconde-se atrás de John e, usando aquele objeto em mãos, observa o animal fugir em direção do que parecia ser a cozinha. Saiu de seu esconderijo, frustrado. – Merda! Vocês viram aquele desgraçado?! Puta que pariu, odeio esses bichos. Pragas do caralho. – Como reação, seus amigos riram de sua reação exagerada, menos John, que se segurou. – Seus ridículos.

George e Ringo deram de ombros e tornaram a explorar o local.

– Relaxa, Paul. Eles não vão te atacar enquanto você tiver com essa paradinha em mãos – John se referiu a lanterna. – Ratos detestam esse tipo de claridade.

– Sério? Legal! Então quer dizer que posso chegar perto deles que eles vão fugir?

– Exatamente!

– Então, é melhor que esses otários estejam preparados, porque eu tenho a força da lanterna comigo! – brincava.

George revira os olhos. Paul era muito dramático.

– Ei, Paul. Vamos dar um pulo lá na cozinha pra ver o que tem lá dentro! – sugere já sabendo qual seria a reação do amigo.

– Nem sonhando que eu vou chegar perto desse lugar! E muito menos você, Harrison!

– Falei que esse aí me ama. – ele fala para John, rindo, e se dirige para a parte da sala onde Ringo não estava examinando, mesmo não tendo nenhum meio de iluminação. Paul decidiu ajudar e dividiu sua lanterna com ele.

John estava surpreso. De primeira, ficou um pouco assustado ao saber que teria de ir a uma casa abandonada, mas aquilo acabou se tornando algo realmente interessante. Estava rodeado de objetos antigos irresistivelmente perfeitos para se investigar. Poderia tentar descobrir coisas sobre quem morava ali. Ele adorava aquilo, adorava todos aqueles detalhes. Apenas desejava poder ver aquilo com mais clareza.

Por um instante, achou engraçado pensar que pareciam uma equipe de detetives procurando por informações na cena do crime, uma vez que estavam concentrados no que faziam. No entanto, ficaram daquele jeito por pouco tempo, porque Ringo chamou atenção de todos com a sua descoberta.

– Ei! Pessoal, olhem isso!

Ele segurava algo comparável a um papel. Aguardou seus amigos se reunirem para revelar o que tinha em mãos: uma foto.

A imagem parcialmente nítida mostrava um retrato de uma jovem moça de cabelos castanhos e um vestido aparentemente chique. Tinha um sorriso reservado no rosto. De fato, uma bela mulher.

Mais um componente interessante para os olhos de John. A foto de uma possível ex-moradora era um fato que revelava uma pontinha sobre a história da casa. Queria pegar na foto para uma melhor visão dela, mas teve certo receio de tocar em algo que pertencia a uma casa abandonada e sombria.

– Achei gata. Onde você achou isso? – indaga George.

– Encontrei jogada no chão ali. É realmente incrível como... – Ringo vira a foto e nota que há alguma coisa escrita na parte de trás. Os amigos se entreolharam, curiosos e surpresos. Sem nenhuma dificuldade para decifrar o que dizia, o rapaz mais velho leu em voz alta: – “Minha amada Emillie”. Daí, mais embaixo tá escrito “Amo-te com todo vigor”.

Mais uma novidade.

– Isso é sinistro... e legal – afirma Paul. – Onde você achou isso? Tem mais?

– Achei em cima daquele gaveteiro – aponta para trás com o polegar. – Mas só tinha isso. Deve ter mais em alguma dessas gavetas. Só que eu gostaria de deixar claro que eu não estou afim abri-las. – acrescentou, pois sabia muito bem que Paul diria insistiria.

– Qual é, Ringo! Vamos ver o que tem lá! – o amigo negou com a cabeça. Paul olhou para a sua segunda opção. – Geo?

– Ah, não! Nem vem com essa sua carinha. Sempre me ferro quando você pede pra eu fazer as coisas no seu lugar. Vai você meter a mãozona aí.

Paul olhou para John e pensou que poderia pedir pra ele, mas achou melhor não. O que fez, então, foi ele mesmo se aproximar lentamente do móvel. Abriu a primeira gaveta aos poucos utilizando a ponta do polegar e dedo indicador. Tinha que se prevenir de qualquer imprevisto desagradável que poderia sair de lá de dentro, como insetos. Por sorte, nada daquilo acontecera, e finalmente tomou coragem para ver a gaveta por dentro mais de perto. Encontrou um caderno junto de uma tesoura de modelo antigo.

– Vejam só! – ergueu o caderno para que todos pudessem vê-lo. Aproximaram-se de Paul para ter uma visão mais detalhada do objeto. – Vamos dar uma olhada pra ver o que tem nessa belezinha.

– Aposto cinco libras que é um livro de culinária.

Paul ignorou a proposta de Ringo e não perdeu tempo em abrir o caderno. Tinha expectativas de que aquilo poderia ser uma espécie de diário, embora tenha achado estranho que alguém escolheria uma gaveta na sala de estar como lugar para guarda-lo. Entretanto, os resultados foram um tanto decepcionantes. As folhas de papel eram preenchidas com cálculos matemáticos, químicos e físicos que, apesar de organizados, mais pareciam um rascunho. Cálculos demais para a sua compreensão.

– Que merda.

– Odeio química – George diz com desdém. – Coloca de volta.

Apesar de estar prestes a atender ao pedido de George de guardar o objeto, Paul continuava folheando. Queria ir até o final para ter certeza de que não tinha nenhuma informação que pudesse aproveitar. John, por sua vez, percebeu algo que o outro não tinha, e impediu-o de fechar o caderno.

– Espera! – passou a voltar algumas folhas, e apontou para uma palavra escrita em uma delas. – Tem algo escrito aqui! Como se fosse um título.

– Verdade! Aqui diz “Experimento 16”! – Ringo se pronuncia, pegando o caderno das mãos de Paul e passou a folhear as páginas, onde encontrou vários cálculos de possíveis experimentos intitulados de forma crescente. – Olha! A partir daqui só aparecem contas de um “Experimento E-34”. É como se tivesse empacado nesse aqui.

– Devia ser alguém bem insistente, pelo visto.

John afirma. Afinal, Ringo já tinha passado mais de dez folhas e ainda tinha coisas a respeito do Experimento E-34. Também achou interessante que, logo no início do caderno, os cálculos eram organizados, obedecendo cada linha e margem. Contudo, ficavam mais tortas, desleixadas e mais complicadas de entender no tal experimento. Além disso, era o único que continha uma letra no nome. Era fascinante.

– Isso tá cada vez mais sinistro.

– Pois é. O que vamos fazer com isso? – pergunta Ringo.

– Temos que colocar de volta – o semblante de Paul se ilumina com a ideia que passou por sua cabeça. – ... ou não.

– Aí vem coisa. O que quer fazer?

– Vamos fazer uma brincadeira: eu arranco três folhas daqui, amasso e um de nós vai ter que as esconder lá fora, naquele jardim, aí, o resto vai procurar. O objetivo é achar uma bolinha pra si e o jogo só acaba quando todo mundo estiver com uma em mãos. Quem ganhar, não vai pagar a pizza de mais tarde. Quem topa?

– Eu topo! – George responde animadamente.

– Que seja, vamos fazer isso. – Ringo aceita com menos entusiasmo que o amigo, mas ainda bem-humorado. – E você, John?

Ele realmente não estava com muita vontade de procurar uma bolinha de papel em um jardim escuro cheio de árvores que podia ser comparado a uma minifloresta. Porém, mais uma vez, não queria atrapalhar a vida de ninguém e arruinar uma brincadeira na qual todos tinham topado.

– Claro. Por que não?

Assim, Paul arranca e amassa três folhas em branco do caderno. George fora o escolhido para escondê-los depois de algumas rodadas de Pedra, Papel e Tesoura. Entregaram-no uma lanterna e rapaz foi em direção ao medonho jardim, enquanto John, Ringo e Paul foram aguardar no carro, mais especificamente, recostados na traseira para que não pudessem ver onde o amigo esconderia as bolinhas.

George começara a escondê-las, e resto dos amigos o aguardava para que terminasse o serviço e partissem para a rodada. Estariam em silêncio, mas Paul tinha um questionamento na cabeça:

– Por que eu não tenho um apelido?

Ringo parecia confuso com a pergunta inesperada.

– O quê?

– Veja bem, a gente te chama de Ringo. O George é chamado de Geo às vezes. Por que eu não tenho um apelido? Eu quero um!

– Cara, só por você não ser chamado pelo primeiro nome já é um apelido.

– Mas não conta! Isso é o meu nome de qualquer forma, não é como se fosse uma abreviação ou algo legalzinho que foi determinado por causa de alguma característica minha. Como Ringo. Você é chamado assim por causa dos anéis, isso é legal. Ringo é bacaninha.

– E qual é o seu primeiro nome, Paul? – John decide entrar na conversa.

– É James, mas eu prefiro ser chamado de Paul.

– Isso é um apelido. – Ringo argumenta.

– Claro que não!

– Que tal Paulie? – o rapaz de óculos redondos sugere, interrompendo a pequena discussão. – Tinha um garoto na minha sala da antiga escola que era chamado assim.

Paul ponderou.

– Não gostei. Muito comum.

– Qual é o seu sobrenome?

– McCartney.

– Então, hum... – ficou alguns segundos em silêncio pensando em um apelido para Paul; este, por sua vez, o aguardava pacientemente. – O que acha de Macca?

– Macca? – sorriu satisfeito. – Gostei, gostei mesmo. Esse vai ser o meu novo apelido. Macca! Quero dizer, ainda podem me chamar de Paul, óbvio, mas Macca também pode! – o outro ria de seu entusiasmo. – Valeu, John. John... Johnny!

John sorriu com o apelido. Paul sorri de volta.

– Não há de quê, Macca!

Ringo, que ouvia tudo, virou-se para os dois.

– É sério mesmo que vocês estão...

Não conseguiu terminar a frase, pois começou a ouvir uns passos apressados vindo em sua direção. Era George. Ele corria e olhava para trás, parecendo aterrorizado. Seja lá o que tinha visto, não era nada bonito.

Os três amigos até então recostados na traseira da picape se entreolharam, confusos e preocupados com o amigo. O coração de John acelerou. O que aconteceu? Ele tinha se machucado? Sem querer achou um cadáver? Ou era apenas algum tipo de inseto que ele tinha medo? Havia muitas possibilidades.

George recuperava o fôlego por ter corrido rápido demais, ao mesmo tempo em que queria dizer tudo o que tinha visto de uma vez. Era uma sensação agoniante. Depois de ter se recuperado um pouco, Ringo pôs as mãos nos ombros do amigo, pediu para que relaxasse e calmamente perguntou o que tinha acontecido.

– Vamos embora daqui! – tentou caminhar em direção a picape, mas foi impedido por Ringo. A tranquilidade do amigo chegava a irrita-lo naquele momento.

– Não, não. Conta o que aconteceu antes. A gente só vai entender se você falar.

Suspirou profundamente à procura de calma para conseguir explicar. Optou, então, por resumir:

– Eu acabei de ver alguém. Nós... nós não estamos sozinho aqui.


Notas Finais


*SUSPENSE*

agora uma curiosidade: se a história se passasse no brasil, ringo claramente seria muito fã de roupa nova.
(nossa eu queria falar mais coisa aqui mas acho que já falei tudo nas notas iniciais)
mas e aí? o que vcs acharam até agora?? s2s2
FELIZ HALLOWEEN E ATÉ A PARTE FINAL
BJSS <3


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