História Faces De Um Anjo (SasuSaku - ItaSaku) - Between Heaven and Hell

Sakura despertou, mas não quis abrir os olhos. Ela estava aninhada ao corpo dele, e era tão quente e delicioso. Suas pernas se enroscavam junto as pernas dele, e o braço forte abraçava sua cintura com propriedade. Sentia o calor dos raios de sol esquentando algumas regiões desnudas, e ouvia o barulho de alguns pássaros cantando. O cheiro da vegetação invadia seu olfato, tal como o cheiro do próprio anjo que ela podia jurar que estava impregnado por cada pedacinho de seu corpo.

Pela primeira vez Sakura havia feito amor de verdade, sem que alguma divindade estranha se apossasse de sua mente, levando embora sua consciência, e se aproveitando dela. Pela primeira vez era ela ali, seu verdadeiro eu, se entregando por livre e espontânea vontade, sentindo o calor, os toques prazerosos e delicados. Se derramando por completo naquele homem, como se cada célula de seu corpo dependesse daquilo. Pela primeira vez não era uma devota, mas sim a criatura a quem Itachi depositava sua devoção. Ele havia contrariado tudo e ido contra todos os seus iguais, apenas para protegê-la, e Sakura era tão grata. Não foi nada difícil se apaixonar por aqueles olhos negros e acalentadores, seu jeito gentil e protetor, suas palavras de fé e esperança. Ele era de fato um anjo, e saber que estaria sempre ao seu lado, lhe deixava confortada.

- Eu daria um doce por seus pensamentos. - Ouviu a voz rouca sussurrar ao pé de seu ouvido, e sorriu. Ele sabia que ela estava acordada, pois sua inquietude era quase palpável. Os olhos verdes se abriram, e fitaram o rosto masculino lhe encarando com uma admiração explícita. Itachi estava completamente nú, com o cotovelo apoiado no chão, enquanto a observava. Os cabelos negros recaíam como um manto. - Bom dia, minha jóia.

- Bom dia, meu amor… - ela percorreu os dedos pelo rosto iluminado, e deu um longo suspiro. - Não tem nada demais neles, fora o fato de que estou perdidamente apaixonada por um anjo. Eu acho que nunca fui tão feliz nesse lugar, sabia? Desde que chegou as coisas tem sido tão difentes. - Itachi a puxou mais para perto. Não se arrependia nem por um momento de ter renunciado ao seu lugar no céu, para estar com Sakura ali. Vê-la tão bem e protegida lhe satisfazia de tal modo, que até mesmo o fato de estar sem suas asas, era completamente ofuscado.

- Não é a única que está feliz. - Ele sorriu também. - Eu devia ter tomado antes a decisão de largar tudo por você, Sakura. Foi a melhor coisa que eu já fiz, e estou tão contente com minha escolha. Por favor, me perdoe por ter demorado tanto, princesa. - Ela ergueu o corpo para lhe dar um beijo, e ele soube que estava tudo bem quando os lábios macios entraram em contato com os seus.

- Não tenho o que desculpar, sei que deve ter sido uma decisão difícil. - A mão pequena percorreu os músculos de seus braços. - Doeu quando suas asas foram retiradas? - Ele negou com a cabeça.

- Apenas desapareceram, deixando as duas cicatrizes que você viu. De repente eu acordei em terra firme, com as vestes sujas e uma dor de cabeça terrível. Então eu soube que tinha sido expulso do céu, assim como Sasuke, a milênios de anos atrás. - Os olhos de Sakura se arregalaram com a mensão ao demônio que a tanto tempo não via.

- Nunca me contou a real história de vocês… ele também era um anjo? Sasuke é o Lúcifer da bíblia? - Itachi deitou, colocando as duas mãos atrás da cabeça, enquanto fitava a copa das árvores, e Sakura aproveitou para se debruçar em seu peito e escutar com atenção.

- A bíblia de vocês humanos é bem distorcida, mas tem um fundo verdadeiro. Sasuke era um arcanjo, muito poderoso e respeitado no reino de Deus. Nós dois tínhamos funções diferentes, e enquanto eu era um anjo da guarda, meu irmão era aquele que liderava exércitos celestiais em lutas contra potestades malignas. - Doía ao moreno relembrar-se dos tempos em que o irmão era alguém que lutava pelo certo. Nunca iria entender quando foi que se tornara uma cobra tão perversa. - Mas o poder lhe subiu a cabeça. Alguns dizem que Deus sempre soube da índole de seu filho, e que também sabia que era questão de tempo até rebelar-se, pois foi ele mesmo quem escreveu a história. Mas eu duvido muito que ele acreditava que Sasuke um dia viraria as costas para ele, e tentaria usurpar o seu trono.

- Ele realmente tentou tomar o lugar de Deus? - Itachi acenou positivamente.

- Junto com alguns outros anjos que lhe seguiam, meu irmão planejava um golpe. Mas eu descobri tudo e o entreguei… - riu pelo nariz em melancolia. - Sasuke foi expulso, junto com os outros. Condenado a viver no submundo, e ser odiado por toda a humanidade. Conhecido como aquele que vem para atormentar. O rei do inferno, deixava sua capa de anjo para se tornar um demônio frívolo e cruel. Sua face tornou-se medonha, e suas asas também foram retiradas.

- É horrível… - apertou os olhos tentando esquecer aquela imagem. - Ele é o ser mais horrendo que meus olhos já viram, e eu desejo nunca mais ter que vê-lo novamente. - Segurando o corpo da garota, Itachi inverteu as posições, a deixando embaixo dele, e beijou sua boca com ternura.

- Enquanto estivermos juntos, Sasuke não encostará em você, meu amor. Eu nunca vou permitir. - Ela percorreu as mãos pelas costas largas e nuas, sentindo o roçar de sua ereção já pronta para ela. - Por que eu te amo… - sussurrou em seu ouvido, antes de morder sutilmente o lóbulo de sua orelha, e aos pouquinhos invadí-la novamente, devagar, a fazendo gemer e revirar os olhos.

- Eu também te amo… anjo.

[…]

Alguns Dias Depois

O corpo ainda repousava dolorido sobre o leito, quando seus olhos verdes se abriram repentinamente. O cabelo brilhava em um tom rosáceo como nunca esteve antes, e os lábios adquiriram um vermelho natural. Sua mão instintivamente foi até o pescoço, em busca do colar que sempre usava, e um sorriso quase diabólico se abriu em seu rosto quando os dígitos tatearam a pequena esfera. Um sorriso que aumentou quando virou o rosto para a porta e viu a sombra dos pés pelo vão. Ele estava lá, outra vez a vigiando porque não poderia tocá-la, nem sequer se aproximar dela.

Seus pés tocaram o chão gelado, e lentamente ela caminhou até lá. A cada passo que dava, a figura recuava dois, por conta do poder absurdo que provinha daquele amuleto. O colar de um anjo era o talismã mais sagrado que um humano poderia receber de um anjo. Quando o mesmo caía, levava consigo o colar que pertencia a si mesmo, e fora exatamente aquele que Itachi havia entregado a Sakura. Tão poderoso quanto a espada que um arcanjo empunhava em batalha, afastava qualquer tipo de entidade maligna que ousava se aproximar. A maior fonte de proteção, depois do próprio anjo.

Quando abriu a porta, a figura já estava na outra ponta do corredor, dessa vez em sua imagem real. Encoberto pelo negrume da noite, apenas suas silhueta ficava visível. Era duas vezes maior quando assumia sua forma natural, e causaria arrepios se ela já não estivesse acostumada. O olhar curioso da garota foi até o chão, onde encontrou um segundo objeto. De repente uma gargalhada alta e estridente escapou de sua garganta, fazendo o demônio rir também, pois embora estivesse de pé, Sakura estava completamente adormecida.

[…]

Acordou cedo na manhã seguinte, sentindo os braços fortes em torno de seu corpo. Ele lhe fazia carinho na cabeça, e seu cheiro estava por toda a sua cama. Sakura já não conseguia se ver longe de Itachi, e quando abriu os olhos mal acreditou que ele estava realmente ali. Não dormiram juntos a noite anterior, então era de fato uma surpresa para ela. Se ajoelhou no leito, e após se espeguiçar, os braços afoitos trataram de rodear o pescoço do moreno, e ela tratou de enterrar seu rosto bem ali na curva entre ele e o seu ombro.

- É tão bom acordar e vê-lo aqui… - sussurrou próximo ao seu ouvido, sentindo os braços de Itachi lhe apertarem ainda mais. - Você passou a noite, ou simplesmente voltou antes que eu acordasse?

- Eu voltei cedinho, minha princesa. - Disse depositando um beijo em seus lábios. - Tenho algo importante para tratar com você, mas não quis te acordar porque dormia tão bem, que seria praticamente um pecado. - Sakura sentou-se em seu colo, com as pernas abertas uma de cada lado de seu corpo, e as mãos de Itachi percorreram suas coxas desnudas com uma luxúria quase incomum em seus olhos. - Mesmo com a vontade de ouví-la gemer o meu nome sendo enorme.

- Itachi… - lhe deu um tapa no braço, enquanto ria e suas bochechas ganhavam tons vermelhos gradativamente, com a vergonha tomando conta de si. - Não diga coisas tão indecentes assim, eu fico com vergonha… - ele sorriu com perversidade, puxando sua cintura, e fazendo com que o corpo se chocasse contra o seu peitoral. Afastou os cabelos fartos, e cheirou o pescoço alvo. Sakura sentiu cada pelo se eriçar, ainda mais quando seu sexo coberto apenas por uma calcinha, fez atrito com a ereção de Itachi. - O q-que está f-fazendo? … - murmurou aos surrurros, com o coração disparado, mas logo retomou o fôlego quando o Uchiha a soltou.

- Estou te mostrando que tem vontade, assim como eu, minha flor. - Depositou mais um selo nos lábios rosados, divertindo-se com a expressão de incredulidade no rosto da garota. Mas logo seu rosto voltou a assumir uma expressão séria. - Contudo, não temos tempo para isso, Sakura. Precisa me ouvir com atenção.

- Tudo bem, pode falar. - Os olhos negros pareciam opacos demais, e ela sentiu algo muito ruim quando o Uchiha esticou a mão para pegar uma adaga sobre a cômoda. Era dourada, pequena, e havia pedras preciosas incrustradas pela extensão de seu cabo. A lâmina pontiaguda e forte chegavam a brilhar. - Para que isso?

- É para você. - Sua testa se enrugou, e vendo que a garota estava com receio, o anjo tratou de explicar. - Para que nós dois possamos sair desse lugar, precisamos matar o Sasuke. - Sakura arregalou os olhos em puro espanto.

- Por que não podemos simplesmente partir? - Seus lábios tremularam, e a voz começou a ficar embargada. - Nossa felicidade depende mesmo de matar o Sasuke?

- É a única forma de silenciar complamente Hécate dentro de você. Ela só existe em função do Sasuke, e quando ele morrer, ela não terá mais nenhuma influência em sua alma. - Sakura estremeceu apenas de se lembrar daquela mulher, e dos flashes horríveis que tinha de sua vida passada, sempre que era dominada por ela. - Eu não posso fazer isso, Sakura. Nós dois, eu e Sasuke, já não podemos dividir o mesmo espaço, é praticamente impossível para mim. Mas você pode.

- E-eu terei que matá-lo? - O moreno concordou com a cabeça. - Como vou fazer isso, se o Sasuke não consegue mais se aproximar de mim? E como é possível que alguém tão poderoso quanto ele, morra para uma simples adaga, Itachi? Eu não compreendo.

- Calma, minha flor. - Tocou seu rosto afim de fazê-la se acalmar. Podia sentir o coração da garota disparado. - Essa noite, Sasuke poderá chegar até você, porque eu retirei os poderes do colar. - Ela abriu a boca para falar algo, mas ele não deixou que prosseguisse… - Mas não fique assustada, basta uma apunhalada com essa adaga e ele padecerá. É uma arma poderosa, e seu único intuito é matar demônios. Cada uma dessas jóias provém das moradas celestiais, e o seu poder equivale a milhares de amuletos, como o que eu te dei.

- Verdade? - Analisou o objeto que Itachi lhe entregou, ele era pesado, claramente feito do mais puro ouro. - Estou com medo... e se der errado?

- Você não confia em mim, querida? - Ergueu o olhar incerto para encará-lo, e sorriu fraco.

- Com a minha vida, anjo.

- Então acredite, você conseguirá. - Piscou para ela, voltando a abraçá-la. Era extretamente acolhedor, e naquele momento qualquer dúvida ou receio que a garota tivesse, caíram por terra. Ela estava certa de que conseguiria.

[…]

Ao cair da noite, já sozinha em seu quarto, Sakura observava, em pé ao lado da janela, a penumbra que banhava os jardins do manicômio. Eram protegidas com grades, como em uma prisão, mas não imaginava que tipo de pessoa por mais insana que fosse, gostaria de sair de seus aposentos aquele horário da noite, e se aventurar sozinha pelos domínios da propriedade que mais parecia uma mansão de horrores. É claro que se estivesse com Itachi seria completamente diferente, mas ao contrário disso, aquela noite estava sozinha.

Sentia a adaga pesar no bolso falso de sua calça, que o próprio lhe entregou para que usasse. A antiga sensação, a qual não sentia a muito tempo, mais uma vez chegava e aos pouquinhos ia tomando conta de si. Os calafrios que iam desde a ponta de seus dedos dos pés, até a sua nuca, eriçando cada um de seus pelos. O pavor gradual, a sensação de suar frio, as palpitações horríveis que a faziam acreditar que morreria de falta de ar a qualquer momento. Ele estava ali, ela sabia que Sasuke havia chegado, porque seus corpo todo reagia de forma negativa a ele. Sabia que ele estaria ali, assim que tivesse ciência do fato de que o poder do amuleto não lhe protegia mais. E suas convições só foram confirmadas quando a porta do quarto se abriu.

Uma ventania invadiu o lugar, assim que o demônio passou por ela. Sakura estremeceu, mordendo o lábio inferior com força. Não podia fracassar, Itachi fora muito claro quando disse que aquela era a única maneira de sair dali em segurança, e silenciar Hécate para todo o sempre. Então tudo dependia da forma como ela conduziria as coisas, se seria uma mulher forte ou se agiria como um ratinho que foge para se esconder quando o felino chega. Suspirando fundo, engoliu seu medo, e o encarou com determinação. Sasuke sorria para ela, um sorriso que parecia até puro, para alguém tão sujo e perverso como ele.

- Senti sua falta, meu amor. - Os olhos por algum motivo em seu tom escarlate, brilhavam como as chamas flamejantes de uma fogueira. A cada passo que ele dava em sua direção, a sua vontade de sair correndo dali aumentava. Contudo, se manteve bem onde estava, até que as mãos de Sasuke encontrassem sua nuca, e a puxassem para um beijo intenso. Um beijo que ela não correspondeu, nem mesmo quando sentiu a língua afoita buscar a sua.

- O que há com você? - Se apartou dela, segurando o seu queixo, e viu o ódio por trás dos olhos verdes. - Parece brava… - riu da expressão da garota, passando os braços em torno de sua cintura, e isso só a fez sentir mais raiva. Como conseguia ser tão cínico, e agir como se fosse normal voltar depois de tanto tempo, e achar que tinha poder sobre si? Ela o detestava com todas as suas forças. - Me diga, como foi o seu dia?

- Certamente muito melhor que a sua noite. - O demônio franziu o cenho sem etender o que estava acontecendo, e Sakura deslizando a mão para dentro do bolso, sorriu falsamente, enquanto retirava de maneira quase imperceptível a adaga do bolso. - Me abrace, querido… - ele fez, sem questionar, o que ela acharia esquisito se não estivesse cega de cólera pela imagem da criatura que a fez a sofrer por tantos anos. - É bom te ver de volta, mais ainda porque é a última vez que nos vemos… Sasuke.

- Sasuke?! - Não teve tempo para processar o que tinha acabado de ouvir, pois uma dor aguda lhe atingiu em cheio. Um sorriso de prazer se abriu nos lábios de Sakura, quando ela viu o rosto do demônio se contorcer em uma expressão de dor. Ele a encarou, com o pavor estampado em sua face. O corpo todo estremecia, e um ardor terrível lhe consumia por dentro, como se etivesse em chamas. - Por que acreditou nele, Sakura? - Ela não compreendeu de primeira as palavras do homem. - Sou eu… Itachi… S-sakura p-por que...? - caiu no chão soltando um grito estridente de dor, e perplexa a garota levou as mãos a boca ao ver a imagem de Sasuke se transformar, revelando o seu pior pesadelo.

- I-itachi! - Gritou desesperada ao identificar o corpo do anjo no chão, já sem vida. Ele tinha os olhos abertos, e a adaga ainda fincada em suas costas.

Sakura caiu de joelhos, os olhos cheios de lágrimas, sua mãos foram de encontro ao corpo. A poça de sangue espesso anunciava uma tragédia. Gritou alto de forma desesperadora quando se deu conta do que havia feito. Se deixou ser enganada. De alguma maneira Sasuke a fizera acreditar que era ele mesmo ali e não Itachi. O choro banhava sua face, e os soluços pareciam intermináveis. Sua visão estava turva por conta do pranto, mas não o suficiente para olhar mais adiante, e não enxergar o par de pernas caminhando em sua direção.

- Não… - sussurrou baixinho balançando a cabeça em negação. - Não… não… não… não por favor não… não pode ser real.

- Mas é real, querida… - ergueu os olhar se deparando com a figura de Sasuke, a fitando cínico, com as mãos nos bolsos da calça. - Ou deveria chamá-la de vadia burra?

- O que você fez?! - Exclamou, abraçando o corpo de Itachi, enquanto chorava copiosamente.

- O que eu fiz? Ah, Sakura… eu não fiz nada, foi você quem fez. Matou o meu irmão sem piedade nenhuma, por que achou que fosse eu, não é? - Sasuke riu alto, um riso diabólico e irritante, que fez a garota se sentir pior do que já estava. Mas logo voltou a ficar sério, e chutando o rosto do irmão com fúria, exclamou: - EU DISSE QUE VOLTARIA! - pegando Sakura pelo braço, a ergueu do chão como se não fosse nada, e a prensou contra a parede. Ali ela via como nunca antes, a face explícita do diabo. Aquela que carregava toda a maldade, e perversão. - Achou mesmo que ia me passar para trás, e viver feliz com o meu irmãozinho patético? Você é minha, Sakura. Sua alma é minha, e eu jamais permitiria perder para o Itachi. Havia uma razão pela qual eu era arcanjo que comandava os exércitos celestiais e não ele. - Voltou a rir, puxando o amuleto se seu pescoço com brusquidão, e o segurando na altura do rosto de Sakura. - Hécate sempre me servirá, e bastou um descuido seu, para que ela assumisse o controle, e trocasse os colares, por um que te faz ter ilusões.

- Você é nojento… - tentou proferir com a voz embargada, mas logo a mão de Sasuke atacou seu pescoço a privando de ar.

- Eu te entreguei a adaga, que na verdade mata anjos, e bastou uma palavrinha do seu suposto e aclamado Itachi, para que fizesse qualquer coisa. - Sasuke percorreu a língua pelo lábio de Sakura. - Agora que a tenho de volta, vou sentar ali e assistir enquanto sofre por ele, porque assistir seu sofrimento é tão delicioso quando fodê-la, Sakura. A proprósito, vou adorar torturar meu irmãozinho em minhas moradas… - os olhos se Sakura se arregalaram. - Graças a você, ele vai arder no mármore do inferno, porque afinal, esse é o destino de um anjo caído. Eu sou a prova disso, baby… - soltou seu pescoço, a fazendo cair sentada no chão, colocando as mãos na garganta enquanto recuperava o fôlego. - A diferença é que no inferno eu sou rei!

- Eu odeio você… - sussurrou na primeira vez, mas depois deixou que a ira viesse com força total. - EU ODEIO VOCÊ!!! SAI DAQUI… ME DEIXA EM PAZ… SAI… MALDITO DEMÔNIO! - Gritava puxando os próprios fios de cabelo, enquanto Sasuke gargalhava alto da situação.

Seus gritos de horror acordaram as freiras, que não tardaram em vir com sedativos, e uma camisa de força. Sakura ainda se debatia quando o grupo de cinco mulheres tentou detê-la, até que uma aplicou a injeção, e aos poucos a garota foi perdendo os sentidos. De repente, tudo era a mais completa escuridão.

[…]

Dias de mais profunda angústia, presa a uma corrente fixada no pé de sua cama, a duas semanas Sakura não sabia mais o que era viver. Comia pouco, e de forma forçada. O banho eram as freiras que lhe davam, e a quantidade de sedativos que tomava a faziam dormir mais do que ela gostaria. A cada segundo o remorso lhe torturava, e a cada noite em que Sasuke aparecia em sua real forma para atribular sua mente, ela desejava estar morta. O Uchiha entrava em sua cabeça, e compartilhava consigo cenas de Itachi sendo torturado no inferno. Arrancavam sua pele de tanto chicotear, e seus gritos eram a coisa mais triste que ela ja ouvira em toda sua vida. Dormir era um verdadeiro inferno, pois sabia o que encontraria em seus pesadelos, e nem era capaz de distinguir o tamanho da dor que era vê-lo naquela situação por sua culpa.

Sasuke tinha razão, ela era um caso perdido. Sua alma certamente era suja, e pertencia a ele, pois para ser esquecida por Deus daquela forma, só sendo muito diabólica. Não via mais alegria em viver, o homem que amava estava morto por conta de sua tolice. Estava morto por suas mãos, e Sakura sabia que era questão de tempo, até o demônio dentro de si despertar e querer Sasuke novamente, a possuíndo como se fosse sua propriedade.

As freiras a tratavam como a pior das loucas, e não acreditavam em uma só palavra que saía de sua boca. Fora esquecida pelos pais, e pelo Pai. Nunca se sentiu tão vazia e triste em toda a sua vida miserável, ainda mais depois de ter provado por um curto espaço de tempo da felicidade, do amor, do carinho e do prazer real e genuíno, e depois vê-lo escapar por suas mãos como areia. Já não aguentava mais aquela dor, que ardia em seu peito, e levava sua esperança embora.

No fim, quando escondia os remédio embaixo da língua, apenas para poder estocá-los, ela já sabia que tudo estava acabado. Na verdade, para Sakura, tudo acabou quando Itachi morreu, e mais uma vez ela ficou a mercê daquele demônio sujo. Não havia mais razão para perpetuar aquele sofrimento corrosivo, que já fazia parte de suas veias e artérias. Sasuke nunca mais a tocaria de novo, e era o mínimo que ela poderia fazer por Itachi. Morrer junto com ele.

E foi em uma noite tempestuosa, onde os trovões ecoavam tão alto que pareciam formar uma orquestra, que a garota retirou todas as medicações escondidas embaixo do travesseiro, e as engoliu de uma vez só como se fossem sua salvação. Queria estar na companhia de Itachi, independentemente do lugar.

- Espero que você possa me perdoar, anjo... - foram as últimas palavras de Sakura Haruno.

Aos poucos foi sentindo o sono pesado lhe embalar, juntamente ao ar que ia se esvaindo, levando consigo seu último suspiro, e também a maldição de uma vida fadada ao pior fim.

Anjos e demônios sempre brigam por mim

Me leve para o paraíso, me acorde deste sonho

Mesmo com a luz do Sol, nuvens sombrias estão sobre mim

É agora ou nunca, me acorde deste sonho

[…]

Paris, França - Dias Atuais

A garoa fina caía persistente lá fora, decorando junto a neve, e as folhas secas das árvores, o cenário invernoso da capital francesa. O café em que se encontrava, era um dos mais tradicionais da cidade, e sua decoração e estilo parisiense o tornava ainda mais adorável. Estava cheio, pois com um clima tão propício, qualquer pessoa, fosse turista ou não, procurava se abrigar no famoso estabelecimento com vista para a Torre Eiffel.

No rádio tocava "La Vie En Rose" e o homem se deliciava com a agradável melodia da canção, enquanto tomava seu cappuccino, e lia as atualidades em seu jornal. Gostava do clima daquela capital, e estava feliz que a nova encarnação de sua fiel serva estivesse em um lugar tão agradável.

Atrás do balcão, a loira observava o homem misterioso de sobretudo, que chegara usando chapéu e óculos escuros, desviar-lhe o olhar negro e penetrante, sempre que tinha oportunidade. Algo dentro de si parecia clamar por ele, como se tivesse um magnetismo que a puxasse. Não foi surpresa quando uma repentina animação tomou conta de si, ao saber que teria de entregar mais um café na mesa em que o estranho ocupava.

Ajeitando o vestido e o avental no corpo bem desenhado, Ino caminhou até lá, exalando sensualidade. Era uma mulher bonita, de lindos olhos azuis, e sorriso tão radiante que deixava qualquer um de joelhos aos seus pés. Uma verdadeira perdição, e tudo aquilo que Sasuke desejava provar.

- Bonjour, monsieur. - Disse lhe servindo o café.

- Bonjour, mon cher. - Seus olhos negros a fitaram de cima abaixo, demonstrando uma explícita segunda intenção por trás do bom dia ofertado tão educadamente. - Você retornou rápido dessa vez, Hécate. - Sorriu exibindo os dentes brancos, e riu ainda mais quando viu um vinco se formar entre as sobrancelhas da garota.

- Desolé? (Perdão?) - Questionou, se empertigando para ouvir melhor o que o homem dizia.

- Ah, não é nada, mon cherie. Apenas tive a impressão de que já te conhecia de algum lugar. - Segurou sua mão depositando um beijo nela, e as pernas de Ino chega bambearam com o contato tão repentino. Mas seu encanto desapareceu quando viu os olhos negros, se transformarem em um vermelho sangue, completamente diabólico. - Diga-me, você acredita em vidas passadas?

Fim