História Fada Por Acaso - Jeon Jungkook - O mais puro egoísmo

JUNGKOOK

Há momentos em nossa vida tão surreais que custamos a acreditar que realmente aconteceu. Assim que vislumbrei Taehyung sentado a aquela cadeira, soube que eu me encontrava no estado de não aceitação do que meus olhos viam. Ele sorria como um verdadeiro rei naquele trono, de repente entendi o que ele havia planejado todos esses dias em que se trancou na biblioteca.

-O que? Isso...

-Não é possível. - Completei a fala de _____ totalmente embasbacado. Tae riu.

-Eu surpreendo a cada minuto.

-Taezinho, você está incrível!- Mavis saiu se algum lugar da multidão, enquanto eu nem sequer conseguir mover um músculo.

-Eu sei, eu sempre sou. Aliás, jovem Mavis, você foi a primeira pessoa desde o início que viu todo o meu potencial de realeza. Não a culpo por se apaixonar por mim. Pois, pelo poder em mim investido, está condecorada ao cargo de rainha.- Taehyung aponta o cetro para Mavis que teve que ser segurada por _____ para não acabar no chão depois de um desmaio. Aquilo tudo parecia um circo.

-Esse cargo de rainha não existe.- _____ disse.

-Calada, plebéia. Eu faço esse cargo existir. Vocês dois aí!- Aponta para Hoseok e Clayton que vão a frente dos alunos. Os dois ainda parecem desconfortáveis na presença um do outro, mas Tae não se importa.

-Serão agora os melhores espadachins desse colégio e cuidarão da minha guarda pessoal.- Falava convicto. Até onde aquele teatro todo iria?

-Vai condecorar o Hoseok que nos largou na primeira oportunidade pra ser seu guarda pessoal?- Cruzei os braços e indaguei. Taehyung me ignorou.

-E-Eu nem sei o que dizer...- Clayton gagueja.

-Aceito a proposta.- Hoseok diz. Mavis ainda está desmaiada nos braços de _____.

-Perfeito. Clayton está permanentemente proibido de sair desta escola, esse é o meu novo decreto.- Tae diz para todos, Clayton arregala os olhos.

-Mas...

-E quem mexer com o meu espadachim pessoal, terá que se ver comigo e sofrerá durante todos os dias de sua insignificante existência.- Taehyung fala mais alto essa última parte. Os cochichos entre nos alunos se iniciam com fervor. Ainda acho que acordarei desse pesadelo a qualquer segundo. A única vantagem de estar invisível, é que ele não vai me enfiar em nenhum desses cargos ridículos.

-Qual é o barraco?- De repente, Jin brota no meio da sala, perdido.

-Taehyung virou presidente do grêmio. - _____ disse incrédula ainda segurando sua amiga.

-Prefiro que me chamem de Rei.- Tae se intrometeu.

-Minha nossa, a escola pública tem até Rei. Isso é tão legal!- Jin dizia admirado. Se ele soubesse que um rei as vezes consegue ser pior que presidente...

-Colocou meu nome no trabalho?- O justiceiro pergunta para o garoto.

-É claro.

-Então, parabéns meu caro Jin. Você agora é meu secretário.- Sorri vitorioso quando o ingênuo Jin fica feliz.

-Minha nossa, nunca tive um cargo tão importante.

-Pode começar tirando toda essa gente daqui e deixando só _____ para conversamos.- O novo "rei" diz. Entendi que ele queria conversar a sós conosco.

Os alunos começam a sair sozinhos falando ao mesmo tempo, não consigo entender uma só palavra do que falam. Contudo, sei que alguns estão satisfeitos e outros não com esse novo presidente. Hoseok pega o corpo de Mavis e Jin expulsa o resto de alunos curiosos. Finalmente, restam somente nós três.

-Quer explicar como raios isso aconteceu?- _____ pergunta. Tae sorri de lado com malicia.

-Há mais coisas nas escrituras antigas da escola do que vocês imaginam.- Ele diz como se fosse algo óbvio.

-Fale alguma coisa que faça sentido. -Foi minha vez de falar.

-Fiquei esses dias na biblioteca estudando sobre as leis mais antigas desse colégio, desde que ele existe. No meio das minhas buscas, encontrei uma lei assinada pelo primeiro diretor daqui. Que diz que em cada ano letivo, um presidente diferente deve ser escolhido. Nate já está na presidência tem três anos.- Tae limpa sua coroa para que fique mais brilhante. Não sei se devo temer Taehyung ou achar ele um gênio.

-E o que fez?- _____ pergunta.

-Fui na diretora Park, obviamente. Falei que iria ao ministério público se Nate continuasse no poder, ela gentilmente me ofereceu a cadeira em troca do meu silêncio. Humanos são tão previsíveis e movidos pela ganância. - Diz com sarcasmo. Suspirei profundamente.

-Quer dizer, que a escola vai ter que te aguentar pelo resto do ano?- Falei incrédulo, Tae faz uma expressão de ofendido.

-Mas eu sou um rei do povo. O bem estar deles é o meu. Este será um período... glorioso.- Ele ri maleficamente. _____ chega a tremer ao meu lado.

-Cruzes, parece a rainha má dos contos de fada.- Ela diz, Taehyung bufa.

O celular de _____ toca em seu bolso, assustando todos nós depois dess momento tenebroso com Taehyung. Eu até temeria ele, mas seu poder se limita apenas ao alunos.

-Droga, tenho que atender.- Ela diz saindo da sala. Assim que eu ia seguir minha cliente, senti uma mão segurar meu ombro fazendo meu coração disparar de medo. Mas é somente Tae que, não sei como, conseguiu se levantar rapidamente e vir até mim. Ele me encara de forma séria.

-Nós dois precisamos conversar. - Fala sem a voz brincalhona de segundos atrás. Entendo onde ele quer chegar, contudo tento fugir do inevitável.

-Quer falar sobre a delegacia?

-Você sabe bem o que é. - Cruza os braços, vejo que estou encurralado. Respiro fundo porque tenho que contar, essa decisão pode ser um erro. Mesmo assim farei.

-Esse amuleto me dá poderes.- É a única coisa que falo, porém Tae mantem a mesma expressão.

-Isso é evidente, quero que me conte algo que eu não sei.

-Por que?- O desafio, ele ergue a sobrancelha.

-Porque nunca vi ou ouvi falar nessa coisa. Sabia que se o Conselho de Criaturas mágicas souber que as fadas estão escondendo jóias que armazenam poder isso não vai acabar bem?

-Isso é uma chantagem?- Perguntei incrédulo mesmo sabendo do que ele era capaz.

-Não, mas se continuar escondendo o que quer que seja essa coisa de mim, terei que recorrer a chantagem. - Diz parecendo irritado. Está aí um lado seu que eu desconhecia.

-O nome é Amuleto de Geno. Foi criado por Geno Cordova, um aluno híbrido igual eu, há anos para que ele pudesse trabalhar no mundo humano.- Expliquei o pouco que eu sabia sobre, Tae parece esperar mais.

-O Amuleto é o que tem feito eu conseguir usar mágica por aqui.

-E esse tal de Geno? O que aconteceu com ele?- Tae pergunta mais relaxado. Fico surpreso porque não sei a resposta dessa pergunta.

-Não sei, não tem registros dele.

-Isso não é estranho para você?- O justiceiro diz pensativo. Meu nervosismo enfim para.

-O que é estranho?

-Um aluno cria um amuleto que armazena magia, porém ele dá a jóia para a escola, não fabrica nenhuma outra e depois some do mapa. Nunca parou para pensar nisso?

Sinto me bobo pois o raciocínio de Tae faz sentindo, embora eu nunca tenha parado para pensar sobre.

-Na verdade, não. -Confessei.

-Tem algo estranho.

-Vai me denunciar ao conselho agora?- Perguntei desconfiado, porém Tae apenas relaxa a expressão e senta se sobre a mesa de reuniões.

-Pelo contrário, irei te alertar. -Ele fala mais cauteloso, novamente sinto aquela estranheza voltar a me rondar.

-Sobre o que?

-Sobre as consequências de suas ações. Sabe, existem dois tipos de karma: O automático e o provocado. O primeiro se dá sozinho, por exemplo se você desobecer a ordem de alguém e subir em uma árvore com galhos podres caindo de lá. O último é o Karma em que os justiceiros trabalham, que precisa de ajuda.

-O que está tentando dizer?- Fico mais nervoso a cada minuto que Taehyung conduz aquela conversa.

-Que suas mentiras e esse amuleto terão um preço a pagar, Jungkook. Sabe muito bem que mesmo que _____ o ame de volta, não podem ficar juntos. Assim como deveria saber que Geno Cordova conheceu as consequências desse amuleto e se distanciou dele.

-E-Eu não gosto da minha cliente desse jeito.- Foi a primeira coisa que pensei em desmentir, mas Tae apenas bufou irritado e voltou seu olhar para a janela da sala.

-Continue mentindo para si mesmo. Não sei qual tipo de karma poderá vir sobre você, se eu tiver oportunidade irei lhe poupar. Porém outro Justiceiro não será tão benevolente. - Sua voz dizia com firmeza. Mordi os lábios encurralado. Sempre soube que minha vinda ao mundo humano teria consequências, mas não esperava tantas. Minha opção mais viável no momento é encerrar esse caso de vez antes que o karma chegue em mim. O maior problema é o fato de eu não querer abrir mão da nova vida que tenho aqui.

Antes que eu pudesse responder a Tae, _____ entra na sala com uma expressão de desespero terrível.

-Jungkook! Eu devia te matar, juro!

-Calma aí, eu nem sei o que fiz. - Quero primeiro saber qual foi a merda da vez para ver se sou digno ou não da morte. Agora ela está irritada.

-O Merdolino prometeu ao pessoal do grupo de apoio que eu viria hoje de novo! Minha mãe está achando que fui eu, preciso saber o que mais a sua criatura andou falando por lá. - Ela dizia furiosa querendo me matar de novo. Será que é esse o meu karma?

-Quer que eu crie outra cópia sua?- Perguntei para tentar aliviar a barra, mas ganhei um belo tapa no ombro.

-Uma ova. Enquanto eu estiver na reunião, você vai caçar e desfazer o feitiço do Merdolino!

-Mas como eu vou saber onde ele está?- Falei frustrado, o que enfureceu ainda mais _____.

-Se vire! Aquele bicho vai fazer mais merda se estiver a solta, devia se preocupar ainda mais porque ele tem o seu rosto agora.

-Minha nossa, é verdade.- Disse chocado lembrando que aquela coisa quase me fez ganhar uma passagem pela polícia.

-Vou atrás dele essa noite mesmo.- Respondi agora de prontidão. Tae ria e batia palmas.

-Hilário! Vocês serão meus bobos da corte.

-Não.- Falamos em uníssono desfazendo a cara de alegria do mesmo.

-Querem saber ao menos como eu sai da delegacia?

-Não!- Respondemos novamente enquanto saíamos da sala deixando o novo "Rei" sozinho.

[...]

Fiquei o dia todo ouvindo sermão da minha própria cliente, como se ter recebido avisos de Taehyung não tivessem sido castigo o bastante. Minha mente estava tão embriagada em várias coisas, que acabei nem prestando muita atenção. Assim que a noite chegou e pude enfim ir atrás de Merdolino foi quase um alívio.

Divaguei sobre diversas questões enquanto ia atrás da minha criança maluca que tinha meu rosto. Obviamente, encontrar Merdolino seria uma missão complicada, estava quase recorrendo a outros metodos. Se eu tivesse algum objeto de posse do Merdolino, seria bem mais fácil rastrear ele, porém o destino insiste em me complicar.

Não sei se fiquei horas andando sem rumo e minha distração fez com que não visse aquela coisa ou eu de fato o perdi, mas estava tão cansado e sem rumo que resolvi fazer uma pausa. Para minha grande surpresa, notei que meus pés haviam me levado para um lugar que pensei que nunca mais iria: A frente da casa do meu pai. Ainda era doloroso e difícil estar ali, mesmo assim não consegui mexer os pés. Derrotado, resolvi sentar no gramado em frente a casa e ficar observando apenas.

Algum tempo depois, senti uma presença próxima a mim que achei ser Jimin, porém assim que a voz chegou aos meus ouvidos, eu soube que não era ele.

-Olá.

-O que veio fazer aqui?- Perguntei irritado para Namjoon que estava com as mãos no bolso me olhando normalmente. Era só o que faltava mesmo para piorar essa noite.

-Está me seguindo?- Fiquei preocupado dele ter visto _____ comigo, mas ele não aparentava sinais disso.

-Calma aí, não vim aqui gritar se é isso que está imaginando e sim te vi passando e resolvi vim atrás de você.

-Vai embora.- Disse com a voz firme. Namjoon não moveu um músculo, continuou da mesma forma olhando para a casa do meu pai comigo.

-Não me ouviu? Vai fazer mal pra uma fada de alta classe igual você ficar perto de mim.- Falei irritado. Juro que jogaria um feitiço no mesmo se ele não saísse.

-Aquela é a casa do seu pai, não?- Namjoon perguntou. Bufei. Apesar de tudo, eu ainda era incapaz de lançar uma praga sobre ele.

Me mantive quieto.

-Melhorou da surra?- Perguntou sem deboche, contudo também não respondi. Estar ali com Namjoon era torturante.

-Vou aceitar isso como um sim.

-Fale logo o que quer.- Não aguentei mais aquele karma terrível. Para a minha surpresa, Namjoon se senta ao meu lado no chão. Não posso deixar de ficar na defensiva.

-Vim ver como você está.- Respondeu de modo calmo sem olhar para mim.

-Ótimo. - Foi só o que falei. Continuamos em silêncio por um bom tempo, apenas olhando as janelas da casa que se mantinham quietas e sem ninguém a amostra.

-Por que eu deixei de ser seu amigo?- Namjoon indaga de repente de deixando assustado. Essa com certeza era a última coisa que eu teria me perguntado essa noite.

-Você sabe a resposta.

-É, fui um imaturo e invejoso. - Nem posso acreditar no que ele acabou de dizer. Me viro em sua direção incrédulo.

-O que disse? Que tinha inveja de mim?- Perguntei para ver se não estou delirando. Namjoon assente.

-As amizades mudam, mas as boas se fortalecem com as mudanças. Fui eu quem mudei para pior, entre nós dois.

-Ainda não entendo o que tem inveja em mim. Sou um híbrido idiota, incapaz e fraco.- Derramei minhas lamúrias sobre o garoto.

-Eu quase nunca vejo minha mãe porque ela vive trabalhando, é algo bem raro na verdade. Essa era a coisa mais valiosa que sempre quis ter, mas você tinha. Deixei de te defender do bullying e virei um dos seus agressores.

Era tão estranho ter Namjoon ao meu lado não me xingando e falando coisas bacanas. Quase acreditei que era apenas um sonho. Ri sem humor.

-E por que mudou de pensamento tão de repente? Algumas semanas atrás você estava me xingando.- Relembrei o mesmo que deu de ombros.

-Não foi exatamente do nada. Passei por algumas experiências, vi que as coisas que falavam a você no colégio te afetaram mais do que imaginei.

-Eu nem poderia imaginar que bullying me faria ter muitos traumas, como chegou a essa conclusão tão esperta?- Ironizei e ele bufou.

-Ah cale a boca, você sempre retrucava com uma piadinha, achei que levasse na esportiva.

-Ironia é o meu escape para as minhas dores. Rio para não chorar.- Falei sem tirar os olhos da janela que ainda não apresentava nenhuma movimentação.

-Eu devia saber disso. Sabe, ando passando por momentos péssimos na minha vida, acho que isso também me ajudou a ter mais empatia e ser menos babaca.- Confessou para mim. Franzi a testa curioso. Namjoom fazia sua vida parecer tão fácil no colégio, que era até estranho dizer o contrário.

-Meu desenvolvimento nos casos estão péssimos. Por ser filho de uma fada famosa, recebo alguns casos antes da temporada de trabalho estudantil. Meu penúltimo consegui concluir por muito pouco, mas o meu último foi um total fracasso. -Dizia entristecido. Não sei bem o que dizer para consolar, nunca nem pensei que consolaria Namjoon.

-Isso é uma merda, cara.- Foi o que pude expressar.

-Sim. Tenho que reparar esse meu erro dessa vez, todos eles.- Namjoon de vira para mim e estende a mão.

-Vamos dar uma trégua um ao outro. Fechado?

-Tudo bem, mas isso não nós torna melhores amigos.- Deixei bem claro me certificando que na sua mão não tinha nem um espinho para eu me furar e cair em um sono eterno.

-Somente uma trégua basta.- Ele ri.

Voltamos a encarar a casa em silêncio, porém não estava constrangedor. Acabei esquecendo que minha principal missão ali era apagar Merdolino, e me concentrei apenas nas duas pessoas menos prováveis: Namjoon e meu pai. A vida é bem mais irônica do que imaginei.

-Namjoon, acha que é egoísmo quando queremos que uma certa pessoa fique somente conosco e não abrir mão dela?- Me arrisquei a perguntar, pensando em minha cliente e no fato de que comecei a gostar menos do Nate nesse instante. Beijar _____ é bom, porém ver ela com outra pessoa não é uma visão futurista muito agradável.

Achei que Namjoon mandaria eu me lascar ou falaria alguma baboseira, mas para minha surpresa ele responde:

-O amor é o egoísmo mais genuíno que existe. - Responde soltando uma risada nasal.

-Não, não é amor. Não pode ser.- Repreendi a mim mesmo em voz alta.

-Amar é complicado, mas vale a pena...- Ele ia dizer mais coisas, quando enfim o rosto de meu pai aparece na janela. Ele se senta em uma poltrona e liga a Tv, nenhum de nós dois fala nada nesse momento. Encaro meu pai com um aperto no coração, Namjoon entende a situação.

-Devia falar com ele.

-Por que eu faria isso?- Perguntei desanimado. - Ele nem sabe que eu existo.

-No fundo, ele deve sentir que sim. Quando era menor, você vivia enchendo o saco falando do seu pai.

-Minha mentalidade era outra.- Retruquei.

-Olha, parece complicado e difícil, mas falar por uma primeira e última vez com o seu pai não fará mal. Mesmo que ele não saiba sobre você ainda.- Respondeu.

Cogitei a idéia realmente, o que me surpreendeu porque não esperava pensar em nenhum plano de Namjoon que não houvesse violência no meio. Continuamos olhando para a casa sem trocar outras palavras, contudo me senti mais leve.

Era inegável que minha mágoa com as coisas que Namjoon fez ainda existia, porém eu me sentia bem mais leve. E pela primeira vez em muito tempo, imaginei se poderíamos voltar a ser amigos mesmo.

[...]

YOU

Quero sair, correr daqui agora mesmo se possível. Nem sequer quis ter vindo se aquela coisa não tivesse me metido nisso. Sério, se eu soubesse que Merdolino traria tantos problemas, teria pensado duas vezes antes de embarcar nas idéias de Jungkook.

Mas era tarde demais para voltar atrás, principalmente porque eu já estava aqui na reunião do grupo de apoio ouvindo as lamúrias individuais de todos. Chase nunca gostou e nem teve interesse em aderir a esse tipo de programa, mesmo assim minha mãe acha que isso é algo que ele gostaria que fizessemos. Parece uma piada. Estou no meio de um monte de pessoas tão machucadas e atormentadas quanto eu, não me sinto bem. Finjo prestar atenção no que dizem, ao menos minha mãe não veio comigo para me obrigar a falar com todos.

É controverso uma conselheira escolar estar fugindo de seus próprios pesadelos, porém ainda não tenho coragem de encara a morte de Chase.

Assim que a reunião termina, é um grande alívio quando pego minhas coisas para ir embora. Espero que a noite de Jungkook tenha sido mais promissora que a minha. Me despeço de alguns conhecidos e depois fico esperando na recepção. Ligo para Jin.

-Jin? Pode vir me buscar no grupo de apoio? Estou sozinha hoje.

-Sua mãe te obrigou a ir de novo?- Jin também se chateava com aquilo. Não o culpava.

-Você sabe como ela é.

-Até queria ir aí, mas meu pai me arrastou para mais um daqueles jantares chatos. Vou mandar o meu motorista ir te buscar. Aguente firme.- Desligou me deixando a sós.

Suspirei profundamente quase discando o número de Jungkook e perguntando por sua busca. Algo em mim gostaria que ele estivesse aqui esta noite. Com Jungkook posso me sentir como na época em que Chase ainda estava comigo: Segura e feliz. Me pergunto se meu irmão gostaria de Jungkook ou se ele sequer acreditaria que agora tenho uma fada que vai me ajudar a amar. Ri quando pensei nisso. Porque preciso de ajuda para amar.

No meio dos meus pensamentos malucos, o motorista de Jin chegou e fiquei feliz em ir embora antes que alguém me abordasse. Entrei no carro com certa pressa e o motorista não tardou em acelerar. Fiquei pensativa olhando pela janela, divagando sobre como havia um abismo invisível entre a pessoa que eu achei que era Nate da que ele é de verdade. No fundo, estou tentando sustentar um sentimento mentiroso por causa de Jungkook, porque quero que ele seja feliz. Mesmo que eu precise sacrificar a mim mesma. Começo a entender um pouco do que Chase devia estar pensando quando tentou salvar Noemi, porque agora eu faria a mesma coisa. Mordi meus lábios para conter o choro, até que reparei em algo peculiar. Estávamos andando pelas ruas erradas da cidade.

Quando me viro para avisar o motorista, ele se lança sobre mim pressionando um lenço umedecido em meu nariz. Tento me debater em vão, fito seus olhos enquanto sinto meu corpo enfraquecer. Perco o fôlego assim que o mesmo ri e o reconheço.

-Durma bem, Querida. Vamos ver se o bruxinho virá salvar você. -Vernon fala com ironia.

Quero gritar e correr, mas ao invés disso o mundo ao meu redor fica escuro.