História Fake War - Encostos e vômitos roxos.

A partir daquele infame dia que tudo começou a ficar estranho e sem sentido, ao menos na minha cabeça. Naquela época da minha vida eu até consideraria aquilo como mais desgraças acontecendo e que poderiam ser adicionadas à sequência, porém agora enxergo que foi só um momento em que eu ME estranhei e estranhei o que estava acontecendo à minha volta.

“Ah mas, Seungkwan, o que você fez naquele dia? Com relação a Hansol?”

Nada. É tudo questão de lógica, ele havia ganhado um ponto comigo por me mandar o vídeo, mas perdeu esse ponto assim que eu soube que ele havia me denunciado, ou seja, ele estava no número 0 novamente, logo nada devia ser feito.

Voltando ao dia em que eu nomeei “infame”, que seria o dia seguinte ao acontecido do relato anterior, eu tinha ido dormir na casa de Jeonghan por motivos de: os pais deles tinham levado a irmã dele num passeio divertido em outra cidade e iriam dormir fora; ele até contou que a irmã dele ficou o provocando sobre o fato de que ele não iria no passeio, porém Jeonghan estava dando zero fodas pra aquilo porque seus interesses eram outros.

É ele poderia sair com Seungcheol para um encontro romântico ou algo assim, mas ele preferiu chamar os encostos de seus amigos e embebedá-los. E eu não tô falando de encosto espiritual, não, porque até eles são mais úteis que nós.

Só sei que Seokmin por alguma razão levou pipoca doce e eu juro que até o final daquela noite eu me enchi até o cu de pipoca doce com corante comestível roxo pra disfarçar o gosto da bebida ruim. Soonyoung já estava vendo Zeus e eu rindo pro pote de pipoca doce quando Jeonghan resolveu por seu plano – até então desconhecido por mim, pobre inocente – em ação.

“— Seungcheol chamou a gente pra sair amanhã.”

“— ‘A gente’?”; e eu tive um déjà vu.

“— Sim, é que ele vai chamar alguns amigos também, aí ele disse pra eu chamar vocês.”

“— Que horas?”

“— Umas 13...por isso pedi pra vocês trazerem roupa de sair.”

Não me leve a mal, eu estava ouvindo, mas meu maior interesse ainda era comer a pipoca doce e rir pro pote, eu não estava muito bem. Só sei que quando começou ‘Mrs All American’ eu abandonei o pobre pote e comecei a “cantar”. Eu não queria admitir, mas aquela música me lembrava de alguém, e eu tinha certeza de quem era. Só pra constar, eu apaguei no meio da música.

Foi cruel a forma como eu acordei no pulo no outro dia, mais perdido que surdo em bingo e filho de puta em dia dos pais lá estava eu sentado no sofá estranhando onde eu estava; lógico que segundos depois eu me lembrei. Não havia ninguém além de mim e o potinho vazio da pipoca doce no meu colo naquele cômodo, porém eu ouvia vozes pela casa e pude ter total certeza de que vinham da cozinha e que haviam mais de três pessoas.

Eu não perdi tempo em me levantar com o potinho e ir para a cozinha, e quando eu cheguei lá eu cheguei a conclusão de que eu devia ter fingido um desmaio e ter ficado dormindo no sofá mesmo. Eu sabia que tinha mais de três pessoas, mas não esperava que teriam SETE! Além dos meus três icônicos amigos, lá estavam também Seungcheol, Hansol e mais dois outros garotos desconhecidos por mim. Eu quis morrer.

Sabe aquele momento que você entra em um lugar e as pessoas presentes olham pra saber quem estava entrando? É, foi exatamente o que aconteceu, o lindo foi que todo mundo calou a boca quando eu cheguei e eu fiquei lá com cara de taxo olhando pro chão. Foi então que eu ouvi a risada de Seokmin e eu cometi o erro de olhar pra ele, porque ele tava apontando pro pote na minha mão, coisa que chamou a atenção de todo mundo pra aquilo. Então, como num passe de mágica, Soonyoung e Jeonghan pareceram achar graça naquilo também e começaram a rir junto.

“— Não vi graça, seus palhaços.”

“— Mal posso esperar pra você vomitar roxo.”; desta vez foi Soonyoung.

Eu estava pouco me importando se ririam ainda mais de mim, porém eu apenas encostei minha cabeça e meu corpo no armário enquanto abraçava o potinho. Eu estava com uma dor de cabeça insuportável e uma dor de estômago fodida graças ao álcool da noite passada.

Não deu outra, não foram só os três que tornaram a rir, os outros também, inclusive os desconhecidos.

“— Quem é essa gente toda aqui?”

Eu acho que devo ter soado indelicado, porém de forma alguma era minha intenção; tanto que eles riram novamente.

“— Lembra que eu falei que o Cheol tinha chamado a gente pra sair?”

Olhei confuso para Jeonghan.

“— Como é? Não lembro disso não.”

“— Claro que não, você tava namorando o pote de pipoca.”; e lá estava Seokmin novamente.

“— Ih, se liga palhaço.”; eu não devia, mas eu lancei o pote no meu amigo, não foi grave se bateu na barriga.

“— Então...acho que os únicos que você não conhecem são os dois.”; Jeonghan apontou pros desconhecidos.

“— Kim Mingyu, prazer.”; o mais alto cumprimentou sorridente.

“— Jeon Wonwoo.”; o outro deu um sorrisinho.

“— Boo Seungkwan.”; tentei sorrir também, mesmo com a dor no estômago e na cabeça.

“— Enfim, vai se vestir pra gente ir.”

“— Sabe o que é...eu acho que eu não vou não.”

“— O que? Por que?”; impressionantemente quem falou isso não foi nenhum dos meus amigos, e sim o derrubador de vitamina; aka Hansol.

Ignorei a pequena surpresa e reprimi alguma frase de deboche.

“— Acontece que eu to morrendo de dor de estômago e de dor de cabeça, sem falar que eu acho que tô pra vomitar o pote inteiro de pipoca que eu comi ontem.”

Ignorei Soonyoung completando com um “Sozinho”.

“— Toma um remédio que passa, colega.”; Seokmin ataca novamente.

“— Verdade Kwan, eu tenho remédio aqui, agora vai trocar de roupa.”

Bufei e resmunguei algo antes de dar a volta e procurar minha mochila, mas não a achei sem antes fazer o que eu já esperava que aconteceria, vomitar até as tripas. Impressionantemente eu me troquei rápido e eu saí da casa de Jeonghan com a famosa sensação de ter esquecido algo. Bom...não demorou muito pra eu descobrir o que era, foi o tempo de eu entrar no carro de Seungcheol que, assim que o fiz, eu soltei um pequeno grito.

“— O que foi?”; Jeonghan se virou do banco passageiro da frente com os olhos arregalados.

“— Eu esqueci de pentear o cabelo. Por que ninguém me avisou!?”; tentava desesperadamente arrumá-lo com as mãos enquanto olhava no retrovisor.

“— Talvez porque não está ruim?”; ouvi a voz de Soonyoung e por instinto virei o rosto.

 Eu não estava esperando por aquilo, então assim que eu dei de cara com Hansol me encarando ao lado e dei um pequeno pulo. É obvio que eu tentei disfarçar e não perguntar o que ele tava fazendo ali, porque a resposta era óbvia; ele iria com a gente. Então, pleno como sou, apenas soltei um:

“— Criatura, não faz isso não.”

 “— Mingyu e Wonwoo vão a onde?”; Seokmin curioso como sempre.

“— Eles vão de moto.”; Seungcheol respondeu dando partida no carro.

“— Onde vamos?”

“— Pro lugar mais clichê que você conseguir imaginar.”; Jeonghan tinha um sorriso que chegava a ser maligno. Juro que aquele sorriso chegou a me dar vontade de vomitar novamente.

“— Se for pro parque de diversões eu juro que eu pulo dessa janela agora mesmo.”; abri o vidro elétrico lentamente.

Só o pensamento daquele lugar me fazia querer vomitar.

ALERTA DE SPOILER: não era pra lá, não.

“— O vômito foi roxo?”

“— Vai pra puta que pariu, Seokmin.”