História Fallen Angel - Vulnerável

O técnico Mason estava em pé em frente ao quadro-negro falando sobre algo que eu nem me dei o trabalho de prestar atenção, já que meus pensamentos estavam em outro lugar.

Eu estava ocupada pensando em motivos que justificassem por que Cameron e eu não deveríamos mais sentar juntos e os anotava em uma lista no meu caderno. Quando a aula acabasse, mostraria meus argumentos ao técnico. Não coopera para a realização dos deveres, escrevi. Demonstra pouco interesse no trabalho de grupo.

Porém eram as razões que não estavam na lista que mais me incomodavam. Achei o local da marca de nascença de Cameron assustador e estava completamente apavorada com o incidente da janela na noite anterior. Não tinha certeza que Cameron estava me espionando, mas não podia ignorar a coincidência. Tinha praticamente certeza de que alguém ficara me olhando pela janela horas depois de termos nos encontrado.

Ao pensar na possibilidade de Cameron andar me espionando, retirei dois comprimidos de suplemento de ferro de um frasco dentro do bolso da minha mochila e os engoli a seco. Eles ficaram presos na minha garganta por um momento, mas acabaram descendo.

Pelo canto do olho, percebi que Cameron erguia as sobrancelhas.

Pensei em explicar a ele que eu era anêmica e tinha que tomar os comprimidos à base de ferro algumas vezes por dia, especialmente quando estava sob pressão, mas mudei de ideia. Ele não precisa saber mais sobre minha vida do que já sabe, e pelo visto é muita coisa.

- Claire? – a voz do técnico me tirou dos meus pensamentos, fazendo eu levantar a cabeça para encará-lo. Pela expressão no rosto dele, vi que ele esperava minha resposta.

- O senhor poderia repetir a pergunta? – perguntei e ouvi a turma rir.

- Que qualidades atraem você em um possível parceiro? – ele repetiu irritado.

- Possível parceiro? - franzi a testa.

- Vamos logo, eu não tenho a tarde toda.

Dava para ouvir Victoria gargalhando do fundo da sala.

Sem querer, olhei para o lado na direção de Cameron. Ele estava recostado na cadeira, quase jogado, me encarando com um ar de satisfação. Abriu aquele sorriso de cafajeste e balbuciou: Estamos esperando.

- Nunca parei para pensar no assunto – falei colocando as mãos em cima da mesa.

- Então pense rápido.

- Será que poderia ouvir primeiro outra pessoa?

Mason fez gestos impacientes para a minha esquerda.

- Você, Cameron.

Ao contrário de mim, Cameron respondeu com confiança. Na posição que eu estava, seu corpo ficava ligeiramente virado na minha direção, nossos joelhos separados por alguns sentímetros.

- Inteligente, Atraente, Vulnerável.

O técnico virou-se de costas para escrever os adjetivos no quadro.

- Vulnerável? –perguntou – Por que?

- Isso tem relação com a matéria? – perguntou Victoria – Porque não consigo encontrar nada sobre as qualidades desejadas em um parceiro no livro.

Mason parou de escrever apenas para encarar Vic por cima do ombro.

- A atração é o primeiro elemento de toda a reprodução animal, inclusive da humana. Por que não nos apresenta sua lista, Victoria?

Vic mostrou os cinco dedos na mão.

- Deslumbrante, rico, generoso, altamente protetor e só um pouquinho perigoso. – a cada adjetivo, ela abaixava um dedo. Cameron soltou uma risada.

- O problema com a atração humana é você não saber se será correspondido.

- Muito bem pensado – disse o técnico.

- Os seres humanos são vulneráveis – prosseguiu Cameron – porque são capazes de sofrer.

Nesse momento o joelho de Cameron esbarrou no meu. Afastei-me sem ousar pensar no que ele queria dizer com esse gesto. O técnico assentiu com a cabeça.

Passaram-se quase 10 minutos e o técnico continuava falando do mesmo assunto, e eu já estava entediada demais para prestar atenção na aula, até que a voz de Victoria me tira dos meus pensamentos.

- Acho que finalmente chegamos perto do assunto do dia. Sexo – ela sorriu maliciosa.

-Quase – respondeu o técnico – Antes do sexo vem a atração, mas antes da atração vem a linguagem corporal. É preciso comunicar ao possível parceiro que existe interesse sem usar palavras.

 O técnico apontou pro meu lado – Muito bem, Cameron. Digamos que você esteja em uma festa. O lugar está cheia de garotas de todos os tipos. Você encontrou uma garota que se encaixa em seu perfil: atraente, inteligente e vulnerável. Como mostra a ela que está interessado.

- Eu a escolho. Vou falar com ela – ele eu de ombros.

- Agora é a hora da pergunta mais importante: como é que você sabe que ela está a fim ou se quer que você dê o fora?

- Eu a observo – disse Cameron. – Descubro o que ela está pensando ou sentindo. Ela não vai ser direta e me dizer, por isso preciso prestar atenção. Ela vira o corpo na minha direção? Olha nos meus olhos e desvia o olhar? Morde o lábio e brinca com o cabelo como Claire está fazendo agora?

A turma toda gargalhou e eu lancei um olhar incrédulo para ele, que retribuiu com um sorriso convencido. Deixei minhas mãos caírem no colo.

- Se é assim, está no papo – ele disse esbarrando de novo na minha perna. E eu ainda fiquei vermelha. - Os vasos capilares de Claire estão se dilatando e a pele dela se aquece. Ela sabe que está sendo avaliada. Gosta da atenção, mas não sabe lidar com isso. – Oi?

- Não estou corando!

-Está nervosa – deu de ombros – Passa a mão no braço a fim de desviar a atenção de seu rosto para o corpo, ou talvez para sua pele, ambos são atrativos.

Quase engasguei. Ele está de gozação, só pode. Não, ele é doido. Eu não tinha experiência alguma em lidar com lunáticos, e isso estava na minha cara. Apoiei as mãos na mesa, levantei o queixo e tentei demonstrar que ainda tinha alguma dignidade.

- Que ridículo!

Vulnerável, ele fez com os lábios e esticou os braços para as costas da minha cadeira. Prendi meus tornozelos nos pés da cadeira e me inclinei para a frente, sentindo o peso do braço dele despencar no encosto. Eu não sou vulnerável.

- E aí está! – exclamou o técnico – A biologia em ação.

O resto da aula passou normalmente, pelo menos para mim, já que não prestei atenção em nenhuma palavra que Mason disse. Durante o tempo todo eu sentia o olhar de Cameron sobre mim, quando eu virava para o encarar de volta ele apenas sorria para mim e voltava a prestar atenção na aula. Já estava decidida a conversar com o professor e tentar convencê-lo a me trocar de lugar, não vou conseguir sentar ao lado de Cameron o ano inteiro se tiver que passar por momentos como esse todos os dias.

O sinal finalmente tocou, fazendo os alunos levantarem de suas carteiras apressados e saírem da sala. Levantei sem pressa nenhuma e comecei a arrumar meu material. Olhei para cima e vi que Cameron estava em pé na minha frente me encarando, sem tirar o maldito sorriso da boca.

- O que foi? – perguntei impaciente.

- Foi divertido. Vamos repetir a dose um dia desses.

- Vai à merda garoto – murmurei e ele apenas riu e foi embora.