História Cos I am a fool for you - First day in Sheffield

Abri a melhor garrafa de vodka que tinha no meu estoque de bebidas e coloquei um CD do Motorhead para tocar. Enquanto dançava Orgasmatron, acendi um cigarro e sentei no pequeno sofá que estava abaixo da gigante janela do meu quarto. A vista que a minha janela proporcionava era maravilhosa; não era uma vista de Sheffield. Era a vista de Sheffield. Minha vontade era pintar aquela vista em uma tela, mas eu tinha deixado os meus talentos artísticos de lado desde alguns anos atrás. Resolvi descansar um pouco enquanto apreciava o meu apartamento novo, então deixei a vista para lá e rumei para a sala. Sentei-me no sofá, um dos presentes que minha avó me deu para o meu “primeiro” lar e uma das minhas únicas lembranças de casa. Casa. Claro que eu sentiria muita falta da pequena cidade onde eu nasci e fui criada, mas eu precisava começar a viver de verdade.

Como eu sou uma pessoa de sorte, consegui achar um apartamento bem do jeito que eu sempre sonhei. Eu nunca gostei de morar em lugares muito grandes, então comprei um apartamento pequeno, com dois quartos, um banheiro, cozinha e sala. Ele era o suficiente para mim e, quem sabe, algum animal que eu adotasse para ser o meu bichinho de estimação. A minha sala não era muito espaçosa, tinha apenas um grande sofá branco, uma mesa ao centro sob um tapete preto peludo e um painel preto de madeira fixado na parede, onde estava a televisão e alguns porta-retratos e, na outra parede, estava uma grande estante preta recheada de livros. A cozinha era a típica americana, com os móveis e as paredes claras, as pedras pretas e as cadeiras vermelhas. Entre a cozinha e a sala de estar continha um corredor, com três portas. As duas portas da esquerda davam para o simples banheiro e o pequeno quarto de hóspedes. A porta da direita dava para o meu quarto. Ao lado da porta estava o guarda-roupa, com um gigante espelho colado. A cama era branca, mas com as roupas em um verde claro. Aos lados da cama, estavam tapetes peludos da cor verde esmeralda e um criado-mudo, com um relógio e um livro que eu estava lendo pousados sob ele. Em uma das paredes, uma janela gigante estava contida, coberta por uma cortina branca. Aquela com certeza era a melhor parte do apartamento. Na outra parede estava um painel branco, com uma pequena televisão e um aparelho de som fixados. Eu estava reorganizando os meus CDs, que ficavam em uma gaveta do painel, quando o meu celular começou a tocar.

- Alô? – atendi.

- Oi, Liza! Como você está, gatinha? – pela voz consegui perceber ser Candice, minha melhor amiga.

- Estou óoootima e você? – dei ênfase no “ótima”.

- Bem. Ai, Alyssa, abaixa essa porra de música! – revirei os olhos e fui para o meu quarto desligar o aparelho. – ótimo, agora posso te contar as novidades. Achei um emprego para você, bem como você me pediu!

- Sério?! Detalhes, por favor.

- Então, tem uma banda chamada Arctic Monkeys que está procurando um roadie, na verdade não é bem um roadie, eles estão procurando alguém de confiança e organizado pra ser o braço direito da banda, dai eu pensei...

- Nossa! – Cortei-a – Isso parece ser incrível. Imagina eu, Alyssa Morgan, sendo o braço direito de uma banda! Mas como você conseguiu?

- Sou amiga do baterista, gata – ela riu – Eu sabia que você adoraria. Quando o cara me disse que estava atrás de um roadie, eu automaticamente pensei em você. Mudando de assunto, você também poderia virar modelo, né? Esse teu corpinho não pode ser desperdiçado não, viu? Dai a gente seria colegas de trabalho! Dai a gente faria muitos ensaios juntas! Dai a gente seria melhores amigas modelos! – ela se entusiasmava a cada “dai”.

- Tá bom, acho que vou pensar no seu caso. – eu ri – obrigada por achar o trabalho, eu amei. Você é a melhor, Candice.

- Eu sei. Dei o teu telefone para eles, tá? Argh, estão mandando eu desligar a ligação – eu conseguia ouvir alguém falando “vamos, Candice, não temos o dia todo! Desliga e vem acabar o ensaio” – Que tal a gente sair um dia desses? Eu te ligo mais tarde para marcar e para saber se os caras da banda te ligaram, ok?  Preciso ir, tchau. – ela desligou apressada, sem nem sequer ter deixado eu responde-la.

Wow. Roadie de uma banda. Isso iria ser incrível! Eu só duvidava muito que eles fossem ligar para mim, o certo seria eu ligar para eles, não ao contrário. Caso eles não ligassem eu ainda tinha a opção de modelo, assim como Candice. Levantei meio cambaleando, por causa dos efeitos da vodka, e parei diante do espelho do meu quarto. Apesar de eu não ser magricela, provável que eu conseguiria algo no ramo de modelo. Meu cabelo castanho escuro caia em um liso perfeito até a cintura, meus olhos eram verdes e minha boca bem carnuda. Analisando isso, sim, eu conseguiria ser modelo. Mas mesmo assim modelo continuaria sendo minha segunda opção. Trabalhar para uma banda parecia ser bem mais emocionante.

Como minha cabeça estava girando, deitei na cama e liguei a televisão. Por coincidência estava passando uma entrevista com essa banda, o Arctic Monkeys. Fiquei assistindo enquanto tomava a minha vodka, que já estava pela metade. Entendi algumas coisas vendo a entrevista: eles estavam em uma turnê, tinham lançado um álbum, eles eram muito engraçados e lindos, é claro, a banda era muito popular, o nome do vocalista era Alex Turner e eu gamei no guitarrista. A banda começou a tocar algumas músicas e eu achei elas incríveis. Se eu trabalhasse para eles, seria mais incrível ainda. E se eles não demorassem para me ligar seria duplamente incrível. A única coisa que eu posso fazer é esperar. Quando a entrevista acabou, eu virei para o lado e caí no sono.

Eu cheguei a três conclusões após assistir a entrevista. Primeira é que eles tocam bem, tipo, muito bem. Segunda é que eles eram muito gostosos, gostosos pra caralho. E a terceira é que, bem, eu preciso ser roadie deles.