História Blessing or Curse? - 21

              Com esse calafrio dou um gole na minha bebida e fico encarando, com a mente distante, meu reflexo no espelho sujo da estante de whiskies dessa espelunca de bar.
            Noto que Sam está me mirando, sua expressão está indicifrável. Olho fundo em seus maravilhosos olhos em busca do que ele poderia estar pensando. Antes que eu pudesse perguntar o que tinha de errado, Dean pega em nossos ombros e murmura discretamente:
              -Vamos cair fora, esse bar é furada!
              Olho para sua face afim de checar se era uma brincadeira dele, pois dificilmente ele vai embora de um bar logo que chegamos, mas sua expressão estava séria, muito séria. Sam e eu nos entreolhamos e então seguimos Dean para a porta.
               Tenho a sensação de estar sendo observada. Olho ao redor a procura de quem poderia estar nos encarando. Na mesa de sinuca tem vários motoqueiros entretidos em seu jogo, na mesa ao lado garotas rindo com hienas, e em outras alguns casais distraídos e em outra mesa, no fundo do bar próximo ao banheiro masculino, dois estranhos senhores tentando disfarçar que estavam bebendo, mas dava para notar que era eles quem estavam nos observando.
              Então entramos no Impala e Dean rapidamente deu a partida e percorremos a estrada saindo dessa cidade.
             -O que tinha de errado Dean? -pergunta Sam.
             -Dois caras ao fundo do bar... demônios.
             -Como que você descobriu isso? -pergunto curiosamente. Se ele estiver se referindo a aqueles caras esquisitos sentados perto do banheiro, eu os achei muito suspeitos, mas eu não posso afirmar que são demônios.
            -Eu fui ao banheiro e quando me aproximei deles senti cheiro de enxofre.
            -Por que eles não nos atacaram? -indaga Sam.
            -Não sei...só sei que eles estavam de olho na gente.
             -O que vocês sabem sobre eclipses solares? -pergunto com a voz trêmula. (Que droga! Quando eu quero disfarçar o nervosismo, isso sempre acontece.)
             -Bem... a lua entra na frente do sol e tudo fica escuro. -debocha Dean.
             -Nossa, disso eu não sabia. -digo ironicamente, Dean revira os olhos.
             -Por que? -pergunta ele.
             -É...hã...nada não.
             Sam força garganta fazendo um som e me mira.
             -O que foi? -me faço de desentendida. Ele me olha dentro de meus olhos. -Não é nada. -desvio o olhar. Eles se entreolham.
             Ficamos pensativos em silêncio por alguns minutos, até que Dean começa a falar de assuntos banais, nos distraindo e fazendo conversar como pessoas normais fazem.
             Já era madrugada quando Dean para no estacionamento de um hotel na cidade próxima da que estávamos. Nós todos estávamos muito cansados, Dean e Sam logo desmaiam em suas camas, dá até para se ouvir seus eles roncos de exaustão.  Eu permaneço deitada com meus pensamentos loucos sobre tudo o que eu havia passado e feito os Winchester passar, e sobre as minhas paranóias de achar que eu não mereço nada que fazem por mim e também de achar que nada nunca vão dar certo, até que o cansaço também me acolhe e eu cedo a ele fechando meus olhos.
             

                                             P O V  SAM

           Não posso negar que não estou preocupado com Jen. Ela não me diz nada, mas dá para perceber em seus belos olhos que algo a incomoda. Eu não entendo o motivo de não falar o que está acontecendo. Nessa parte ela se parece com Dean, tentando esconder o jogo.
               Tudo o que eu gostaria era ajuda-la, é vê-la sorrindo e sem esse mistério que ela vive tentando esconder.
               Desde que Cas falou que Crowley está preparando algo grande, eu não consegui tirar da minha cabeça por ao menos um segundo e aposto que ela também não.
               Agora que já usei o banheiro para minhas devidas necessidades eu me jogo na cama, estou muito exausto. Dean faz o mesmo, ele parece não se importar com a situação que arrodeia a nós mas como eu o conheço (e muito bem, digamos uma vida inteira) percebo que eleita uma pilha de preocupações assim como eu. Ele já encapotou em sua cama. Antes que meus olhos se fechem de exaustão vejo que Jen está deitada olhando aflita para o teto do quarto. Eu queria tanto saber o que ela pensa, o que ela sente e poder a consolar do jeito certo.
                Abro os olhos e estou na casa do Bobby, mas ela está diferente. Parece menos velha, os papéis de parede estão quase novos, e o sofá não tem aquele rasgo que eu e Dean fizemos há um tempo atrás quando brincávamos de lutinha. A casa está igual quando eu e meu irmão éramos pequenos. Isso confirma a minha suspeita de eu estar sonhando. Chamo pelo Bobby, pelo Dean e pela Jen, mas ninguém responde, isso porque não tem ninguém concluo examinando a extensão dos cômodos.
             Vou para fora na esperança de encontrar alguém. Ando entro os carros velhos, mas aqui eles não se parecem tão velhos de como me lembro da casa do Bobby de agora.
            Está um repleto silêncio, a não ser pelo cantos dos pássaros. Não espere! Escuto alguém cantando.
             "Baby por que você não vem me encontrar no inferno?
              Estou louca para te sentir queimar.
              Me encontre no inferno.
              Eu quero te amar.
              Me dê sua alma para me alegrar..."
               A voz é feminina e maravilhosamente doce, a única coisa que me estremece e a letra da canção. Eu sigo a bela voz que continua a cantar essa mesmas frases acompanhando o som dos pássaros que cantavam junto a ela.
              Chego a uma árvore. Tem um belo carro ao lado, eu não sei qual modelo é, Dean saberia dizer. Sei que é um carro clássico. Sentada encostada na roda do carro está Jen. É ela que está cantando. Ela está vestida com um vestido decotado vermelho, seu cabelo preso todo para trás da maneira que seus olhos ainda brilhavam mais do que normal. Ela está divinamente linda.
             Eu me aproximo dela e assim que me vê um sorriso maravilhoso aparece em sua face. Ela me abraça forte e em seguida me beija. Seus lábios, como sempre macios e quentinhos.
             -Por que você demorou tanto Sam? -ela pergunta ainda com aquele sorriso. Ah que sorriso! Eu não respondo, pois eu nem sei o que responder. Me sinto um tanto confuso. -Ah não importa meu anjinho! Venha comigo tenho um coisa para te mostrar. -ela diz enquanto seu belo sorriso desaparece por completo.
              Ela pega na minha mão e me leva através de uma floresta. Inicialmente ela é clara e com um ar pacifico, a brisa é refrescante e tem o incrível cheiro do perfume de Jen. Conforme passamos pelas árvores, a floresta escurece e fica úmida e tem um cheiro estranho, cheiro de morte. (Não sei o motivo eu saber o cheiro que a morte tem). Jen começa a correr e consequentemente corro também. As árvores se parecem sombrias e seus galhos pontuados passam rasgando o vestido de Jen, e atravessando sua pele, fazendo muitos arranhões. Ela não reclama e nem demonstra dor alguma. Miro o céu e o sol parece estar sendo coberto pela lua, num eclipse total.
             Ela para e solta minha mão. Paramos, aparentemente, no centro da floresta, não tem nenhuma árvore ou planta formando um círculo na grama enlamaçada. Na continuação da floresta, numa das árvores próxima ao centro da floresta, parece que há duas pessoas encostadas. Eu olho para Jen, ela está prestes a chorar (odeio a ver assim) e ela afirma com a cabeça. Eu vou até as duas pessoas e me ajoelho ao lado deles. Meu coração dispara e meu sangue percorre frio em minha veias, em minha garganta se forma um nó de tristeza e agonia. É Dean e Bobby! Eles estão pálidos e suas pálpebras arregaladas, seus peitos muito ensanguentado. Lágrimas percorrem meu rosto. Sinto a presença de alguém as minhas costas, Jen. Isso deve ter sido por culpa dela! Me levanto e avanço para segurar seus braços e a chacolhar. Mas quando a toco, minha mãos passam sobre ela, como se Jennifer fosse  uma miragem, um fantasma. Muitas lágrimas percorrem seu rosto.
             -Que droga aconteceu aqui?!?
             Ela não me responde, ela levanta seu braço e aponta para trás de mim. Eu olho diretamente para onde ela está apontado e ao outro fundo do centro da floresta vejo uma pessoa. Corro até ela, e vejo que é a Jen. Em seu peito há uma faca encravada a prendendo árvore. Ela está morta. Mais de minhas lágrimas caem. Olho para o lado e vejo a miragem, quero dizer o confirmado então fantasma de Jen me encarando. Ela passa a sua macia mão em minha face.
             -Winchester! -alguém chama. Se parece com a voz de Jen. Me viro e é ela mesma! Seus olhos completamente  cinzas e sua boca escorrendo sangue, vestida com um vestido preto sombrio. Sinistro! Mas ao meu lado continua aquela outra Jen, a de cabelos presos e vestido vermelho e olhos azuis como a água. Ela estremece a vendo. Isso é realmente muito confuso. -Quer dizer que chegou para a minha festinha particular...Se quiser pode correr,  mas eu te alcanço a tempo.
              -CAS! CAS! PRECISO DE VOCÊ. -grito chamado ajuda.
              -Ah meu amor, não seja tolo...ele se foi há muito tempo. -ela responde alegremente enquanto limpa o sangue de sua boca.
              -Quem é você? -pergunto confuso.
            -Não vê? Eu sou a sua amada Jen.
            Olho para o lado, para a outra Jen e ela estava chorando, quando olho para frente a Jen de olhos cinzas estende uma de suas mãos e um buraco se abre em meu tórax.
             -Nos vemos no inferno meu queridinho...-escuto ela gargalhar antes de ficar tudo escuro.
               Abro os olhos e me desperto angustiado. Estou ofegante, tento normalizar a minha respiração me virando de lado. Esse pesadelo não para de rondar minha mente. E a dor de perder as pessoas que amo permanece devastando em meu peito, fazendo meus olhos se encherem de lágrimas. Olho para a cômoda que separa a minha cama da outra, e no relógio mostra que já são 10 e meia da manhã. Me sinto tão cansado que parece que nem dormi e que esse sonho foi vida real.
            Miro a cama onde dorme Jen, e fico a observando. Eu não sabia se era possível ela ficar mais bonita, mas agora que a vejo dormindo sei que é possível sim. Seus lábios levemente avermelhados dando um contraste em sua pela clara como a neve e seus cabelos desarrumados sobre seu rosto a deixando com um ar mais sexy do que o normal. Tudo que eu precisava agora para me sentir melhor era do toque de seu caloroso abraço. Me lembro das coisas sinistras que ela já fez, da frieza em que ela me olhava quando as fazia, de quando depois de faze-las a tristeza tomando conta de seus preciosos olhos. Eu já mencionei que estou preocupado com ela? Provavelmente já. Depois desse sonho, ou melhor, depois desse pesadelo fico ainda mais. E também sem querer eu escutei a conversa dela com Cas fora do convento, ela dizia que não merecia ser salva. Isso me deixou sem reação, por isso preferi fingir que nem escutei. Ela não deveria ser tão dura consigo mesma, eu não acho que seja uma pessoa tão ruim a ponto de não merecer uma segunda chance, pelo contrário, ela tem um ótimo coração e uma grande alma, porém esse negócio dela ser filha de Lúcifer a afeta. 
             Olho para o relógio novamente e já são quase meio dia. O tempo passa muito rápido quando eu penso nesses assuntos. Continuo a observando, eu perdi completamente meu sono. de repente ela abre seus olhos assustada.
               -Que droga Sam! Há quanto tempo você estava me olhando? Isso é um pouco sinistro sabia? -ela murmura. Forço um sorriso. -Você está bem?
              -Sim. -murmuro mesmo não tendo certeza.
             -Quer conversar? 
             Eu não a respondo. Sento na minha cama me encostando na cabeceira. Ela sai de sua cama e senta ao meu lado. Mesmo eu não querendo contar o que vi naquele atormentante pesadelo, seus olhos não me deixam mentir, nem ao menos ocultar. Começo a dizer o que tanto me incomodava, Dean logo acorda e ouve em silêncio o que eu mencionava.